"as pedras'' (Seu Ribamar)

- Dias atuais

(Seu Ribamar)

                Seu Ribamar, morador da capital – tem uma casa na rua 1º. De maio, no bairro da Fé em Deus, bem próximo do centro da cidade e que fica a poucos metros da Igreja de Nossa Senhora da Conceição. ele é um homem de 33 anos de idade, vive solteiro e sozinho em sua casa por opção, pois depois de três relacionamentos não tão felizes, prometeu a si mesmo que jamais se relacionaria ao ponto de casar-se outra vez em sua vida e que iria apenas curtir a vida em noitadas e bebedeiras. Aos Domingos ele ia sempre às missas, pois sempre foi católico e vinha de uma família católica rígida, ia se consultar com o Padre, porém, apenas o ouvia e logo corria para o cabaré mais próximo que houvera.

                Já por um bom tempo, esse passou a ser o seu ritual semanal, ele havia adquirido uma aposentadoria forçada por causa de um acidente de trabalho e seus pais o lhe deixara relativos bens, dos quais, lhe rendiam uma ótima grana todo fim de mês. Seu Ribamar nunca havia curtido a vida deste jeito antes, ele sempre foi uma pessoa caseira e vivia para seus pais por ser filho único.

               Essa nova vida enchia os seus olhos, mas sua alma lhe cobrara algo que, quando ele se via só, com seu silêncio e as estrelas, ele sempre ouvia a mesma pergunta: - Quem eu sou? -    Era como um martelo em sua cabeça cutucando a sua mente, que batia e doía bem mais que os dias de ressacas da vida. Seu Ribamar era sempre sério e impecavelmente aprumado, ele tinha uma estatura mediana, era esbelto e sua feição um pouco angelical, de pele parda e ele sempre sabia se comportar em quaisquer ambientes.

              Por ter sido uma pessoa bem polida e ter tido uma vivência militar aos seus dezoito anos, Seu Ribamar tornou-se um homem educado em palavras e ações. Raramente alguém o observava rancoroso ou agindo de forma rude com outrem. Para muitos, Seu Ribamar, era o ser mais plácido que houvera na redondeza.  

              Mas quando bebia, ele era “o Riba! ‘’ – o homem que mais ousava nos bares e bordéis da cidade, por isso, cobrava muito das moças; tanto que certas vezes ele usava da força física e agredia uma ou outra depois do coito. Talvez por se lembrar dos velhos relacionamentos, onde ele apostara sua felicidade e amor sob juras de fidelidades nas núpcias, sei lá! - vai se saber o que lhe passa na cabeça nestes momentos insanos de coito!

              (...) certa vez, ao despertar do sono de quase 12 horas, onde ele havia gastado a bagatela de uma barra de ouro – isto mesmo, uma barra de ouro! - havia um cofre em sua casa, que ficava sobre o espelho de sua cama e lá tinham quinze barras de ouro. O seu pai (Arlindo) sempre foi um homem de posses e ele dizia sempre que: - Um homem deve ter terreno e ouro, e que, tendo isso o homem era “homem de verdade...’’

               E isso Seu Arlindo, tinha de sobra em sua vida, mas foi se perdendo ao longo dos tempos, entre apostas, jogatinas, rinhas e mulheres da vida que ele também tinha aos montes; mas deixara o bastante ainda para seu único filho registrado e reconhecido em vida (Ribamar), que teve com uma tal rapariga de nome Martha, com esta se apaixonou e perdidamente em uma noite de verão a pediu em casamento. Foi uma semana de festa e muitos apostavam que não duraria tanto e outros apaixonados ainda depositavam no casamento, toda uma fábula romântica, e, assim temos a árvore genealógica de nosso amigo Seu Ribamar.

               (...) retrocedendo ao nosso amigo Ribamar, neste advento surtou, abriu o cofre, olhou o ouro e quase que em um sentimento de culpa, ele meio que furtou aquela pedra e foi curtir a noite. Horas depois acordou sobre a cama desarrumada daquele quarto que tanto usara, o de cortinas de cetim azul, com violetas pintadas e que ficara sempre no final do corredor iluminado por luzes vermelhas; era um espaço reservado por trás de um pequeno palco onde pouquíssimas apresentações eram desferidas ali e isso em ocasiões especiais; olhou para seu colo onde ele ainda sob o sono sentira um certo peso de um corpo sobre ele, havia uma das garotas que ainda dormira pesadamente e ele notou em seu rosto umas lesões e algumas bem roxas já ( pensou com ele mesmo e assustado ) – fui eu o monstro disto , meu Deus o que me tornei agora.

              Tentou ali ser o mais plausível possível com a garota que ele mal sabia seu nome direito, a afastou um pouco de seu colo e a deixou descansar um tanto mais, vestiu-se o mais rápido que pudesse naquele instante, talvez por vergonha de olhar no rosto da garota, saiu do quarto como se quisesse sair dali apagando qualquer culpa. Já no hall principal do cabaré, viu a proprietária (Madame Suze) e a chamou de canto perguntando-lhe: - qual o nome da garota que passara a noite comigo? - a Madame do tipo feliz e satisfeita com a barra de ouro que recebera de Seu Ribamar, logo lhe respondeu e achando que iria se repetir a tal noitada, lhe respondeu: - a docinho se chama Martine, mas para os mais próximos, ela prefere ser chamada de “Lírio da noite’’.

             Ribamar apenas balançou a cabeça, sem aparentar nenhum sinal em seu rosto, enfiou a mão em seu bolso esquerdo da calça, sacudindo e retirando de lá tudo o que ainda lhe havia em dinheiro, colocou nas mãos da proprietária e lhe disse:

          - Tome isto e entregue a ela, por favor, diga a ela que amanhã sem falta eu retornarei aqui e a recompensarei bem mais! (Suze) ouvindo tudo e achando que sim, que n’outra noite será outra rodada, pega o valor e retruca ao Seu Ribamar: - Nossa, Lírio da noite deve valer muito mais do que ouro, não é mesmo e ela vai gostar de saber! (Ribamar, mal deu atenção ao que lhe falava aquela meretriz e já próximo da saída fugiu dali e foi para sua casa) ...

            No caminho até sua casa, ele tem que passar pela igreja, não há como não topar com o templo e vendo a construção imponente ficando maior em sua frente, ele surta ainda mais com tudo, tonteia um pouco, corre para sua casa, trancando-se por horas em silêncio. Entrou naquela casa um homem cansado, sujo e desajustado de alma – disse o Padre amigo (padre Victor) que o conhece como ninguém, pois eram amigos de infância, ao ver os passos e a feição daquele homem que se escondia de tudo, o Padre se volta para dentro da Igreja e ascende uma vela aos pés da Santa, ajoelha-se e em oração se põe em amor fraterno ao seu amigo ...

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