Sangue Real

I'm giving up the ghost of love

Into the shadows cast on devotion

She is the one that I adore

Creed of my silent suffocation

( Bittersweet — Apocalyptica)

600 A.C

Eu nasci, saí daquela quentura para a frieza da escuridão... A escuridão que seria meu lar por uma vida inteira... Uma vida que era eterna. Eu e minha irmã... Não era maior do que ela, apenas eu vi primeiro os borrões, tão complicados e anuviados para meus olhos. Tão estranho quanto sentir a presença dela do meu lado por tanto tempo, e agora o vazio. Era injusto, mas nada, nada acontece por acaso. Eu ia aprender isso quando aqueles borrões se tornassem mais nítidos e conhecesse minha verdadeira natureza... Uma imortal.

Nada de banhos de sol e roupinhas fresquinhas, mas a companhia de mamãe e papai era uma constante, acho que disso eu não posso reclamar. Nisso, os imortais são muito parecidos com os humanos; ao menos meus pais eram assim. E havia ainda um rapaz de intensos olhos amarelados e cabelos ruivos que me pegava no colo, mas do qual eu sempre arrumava um jeito de sair com um choro agudo... É, aquilo dava certo. Afinal, gêmeas nunca são calmas, principalmente numa família como a nossa... Onde nós duas nascemos rompendo tabus.

Tabus... Sempre há vários quando você está na camada de cima da pirâmide. E nós estávamos lá, ao lado dos Ernöyi... Na sombra deles, talvez seja mais correto. Minha mãe era uma Ernöyi, mas imortais, como nós, tendem a se unir entre irmãos para manter a hegemonia do sangue e poder. Minha mãe não foi uma exceção à regra, acho que tenho muito dela em mim, além do sangue dos Ernöyi, é claro. Sangue Real. O sangue dos reis que ela honrou, como mandam as leis. Assim como o amor, ao qual ela sempre foi fiel. O amor pelo meu pai.

Eu não posso dizer que não cresci feliz, que era uma criança diferente ou enjeitada, muito pelo contrário, o amor de meus pais e minha irmã era tudo na minha vida, e ainda é nas minhas lembranças. Mas Victor, ele não amava, nunca amou, mesmo que Inês tentasse me convencer do contrário. Eu ainda posso ouvir as histórias que papai contava, naquele tom melodioso que ia ao encontro da frieza dos amarelos, que sempre me fitavam escondidos. Era tão bom sentar em seu colo e ouvi-lo divagar por horas sobre as histórias de nossa família, ou até mesmo no convívio com os humanos, que eu passei a conhecer tão bem. Histórias que não me levariam a lugar nenhum, porque eu ainda era muito nova para entender o que elas significavam, era o que meu irmão me segredava pelos cantos da casa... Longe dos olhos de todos. Victor era meu prometido e meu ódio sobre a Terra.

Mas essas lembranças eram, agora, apenas rabiscos em preto e branco na minha mente. Havia coisas mais vivas que afloraram com intensidade conforme os anos se seguiram uns aos outros e ganhavam contornos de séculos. As lembranças do menino de cabelos castanhos, meu primo ainda adormecido, com quem eu costumava brincar nos invernos passados em família, quando os Ernöyis se reuniam no castelo de nossos ancestrais. Era tão bom me livrar daquela presença maléfica, do olhar amarelado que me remetia aos Fejéryis. Era bom ver o sorriso da Sophie e do Edmund, fazer bolos de neve e comer. Era bom sentir o vento frio no rosto quando eu e Inês brincávamos sobre o lago gelado. Aquela fina camada de gelo, delicada, que um dia partiria... Assim como todo encanto de estar ali, naquele lugar.

Eu ainda me lembro de como fui erguida do chão por aquelas mãos em meus ombros, apertadas... e os olhos vermelhos como sangue vibravam nos meus castanhos.

Solte-me, Victor! — eu esbravejei, socando-o, mas isso é completamente inútil quando seu irmão tem dez vezes a sua idade e duas vezes o seu tamanho e força.

Ninguém está em casa hoje, princesa... — ele sussurrou junto ao meu rosto. — Ninguém virá em seu auxílio. Além do que, eu não vou pegar nada mais do que você irá me dar um dia. — O polegar escorregou pela minha boca até segurar meu queixo entre os dedos e inclinar minha cabeça para o lado, dando-lhe acesso ao meu pescoço.

Eu juro que um dia te mato! — Rangi entre os dentes, o maxilar apertado pela mão dele, impotente.

Acho-a mais encantadora quando me provoca assim... Felina. — Ele passou a língua pelo meu pescoço enquanto eu fechava os olhos para tentar esquecer o que viria. Meu corpo de uma menina de doze anos espremido entre aquelas mãos.

Se ela não o fizer, eu faço questão de manter suas palavras... Agora, solte-a — a voz preencheu o ar tão segura no que dizia que a tensão dos dedos dele se desfez, me soltando no chão frio.

Não foi passear alteza? — Ele apenas se virou para encará-lo, sem receio, medindo-o com o olhar.

Eu conheço a extensão da propriedade em cada detalhe, Victor. Não vi necessidade de olhá-la de novo — manteve o semblante impassível —, o que me parece ter sido uma atitude correta.

Não pense que só porque é um Ernöyi, pode dizer como devo agir com minha noiva.

Eu me encolhi diante das palavras dele. Noiva, nome odioso! Eu jamais serei isso dele!

Não pense você que pode fazer o que quiser na minha casa — ele entrou definitivamente no quarto. — Mesmo sendo noivo de Elise.

Pirralho arrogante!

Eu já solicitei que saia, Victor — indicou a porta. — Por favor... Não quero fazer isso de novo.

Em passos firmes e contrafeitos, eu vi meu irmão se afastar, mas não sem antes se abaixar ao meu lado e sugerir:

Nós não terminamos nossa conversa. — Sorriu. — Ele não vai estar sempre por perto para te proteger.

Eu me encolhi mais ainda sob aquele sibilo frio, nos olhos amarelados. Como alguém pode querer casar com um sádico desses? Eu tremia, mesmo com o grosso casaco de pele sobre meus ombros.

Você está bem, Elise? — Edmund me fitou com seus olhos doces. — Ele a machucou?

Obrigada — eu murmurei ao abraçá-lo e deixar meu rosto molhado em lágrimas sobre o peito dele. Eu não queria falar daquilo, meu sangue pulsava de ódio e medo.

Não chore. Eu estou aqui. — Ele me apertou forte contra si, passando as mãos nos meus cabelos. — Nunca deixarei que ele lhe faça mal, acalme-se.

Aquela foi a primeira vez que eu vi e senti o carinho dele... Mas o castelo Ernöyi nunca mais teve a mesma cor para mim. O sangue dentro de mim começava a me enojar e eu me questionava, constantemente, por que teria que casar com o Victor somente por carregá-lo. Que maldição era essa que eu devia acatar sem questionar? Por que meu irmão não podia ser doce como o Edmund?

A cada inverno que íamos a Pest, a cada olhar dos castanhos para mim, um sentimento novo gritava para sair. E o menino de quinze anos já não parecia tão criança aos meus olhos, e nem eu, aos dele... Não pelo menos quando nossas mãos se tocavam, displicentemente... ou por que não dizer que conscientemente? Os bolos de neve que fazíamos com Sophie, então com oito anos, já não era nossa brincadeira predileta. Preferíamos ficar sobre as copas das árvores, sempre nuas naquela época do ano, imaginando-as floridas sobre nós, com as estrelas servindo de flores aos galhos sob os quais deitávamos e nos abrigávamos de todos, em meio aos canteiros de Lis. Os que ele dizia terem meu cheiro.

Eu ainda me lembro dos braços dele ao meu entorno, sem que nada fosse mencionado entre nós, apenas o silêncio e a compreensão de que era bom estar ali, um com o outro. Então, veio o inverno tingido pela guerra, que se prolongou até a primavera, e foi a única vez que, juntos, vimos os canteiros de Lis florirem. Em seu tom azul púrpura, sob a luz fraca do sol que nos esquentava levemente a pele clara. O mundo se tornara um lugar instável, e mesmo ali, em meio àquela felicidade latente, tudo era efêmero.

Elise — ele me sussurrou ao ouvido. — Prometa-me que mesmo que tenhamos que nos afastar, nos veremos de novo.

E o fitei assustada, meu pé deixou de tocar o espelho d'água do Danúbio e me virei para ele, receosa:

Por que me pede isso? — lutei contra o medo, que naqueles dias tomava meu coração.

Porque há um movimento grande do Conselho para impedir que nós, a segunda geração, sobreviva. E eu queria ter a certeza de que você vai ficar bem no final de tudo. — Ele se aproximou de mim, tocando meu rosto levemente. — Se você me prometer que nos veremos de novo quando tudo isso tiver chegado ao fim, eu sei que vai se manter viva...

Eu ruborizei sob os dedos dele enquanto o ouvi completar, baixo:

Como eu...

Aquela promessa era mais forte que qualquer beijo que pudéssemos ter dado, ou mesmo um toque mais ousado... Era tão somente o que precisávamos ouvir um do outro.

Apenas prometa-me...

Eu prometo Edmund. — Entrelacei meus dedos pequeninos aos dele ainda sobre meu rosto.

Quando a noite daquele dia caiu, tudo o que havia no ar era o cheiro de sangue e morte. Pela primeira vez em minha vida eu havia matado e o sangue ainda manchava minhas mãos, ainda que eu não conseguisse bebê-lo. Eu estava estática diante do corpo do homem que tentara me atacar. O castelo dos Ernöyi fora invadido e eu havia me perdido dos meus pais, porque simplesmente eu não queria lutar contra os renegados. Então era isso... Eles haviam reunido um exército de renegados às nossas costas e os incitaram a nos atacar. Malditos! Eu ainda estava paralisada com os vermelhos intensos sobre minha vítima quando ele pegou minha mão e me tirou dali.

Você tem que sair daqui, Elise.

Edmund — eu balbuciei. A mente confusa. — Isso é um ataque ordenado pelo Conselho?

Não há tempo para eu lhe explicar... Venha — a mão dele na minha e nós corríamos em meio aos corpos mutilados de rostos conhecidos.

Edmund — fechei os olhos registrando apenas o rosto dele, esquecendo o caos e o cheiro de sangue a minha volta.

O nome que seria minha melhor lembrança nesses dois mil anos de sono... Minhas memórias roubadas pela guerra, minha vida interrompida. Eu havia acordado há duzentos anos, já que todos os sangue puros seriam despertados cada um em sua hora apropriada. Os Ernöyi, entretanto, foram os últimos a acordarem, como reis que eram e, por proteção, seu paradeiro não era do conhecimento de todos, nem mesmo do conselho. Em momento algum eu acreditava que eles tivessem deixado Pest, o lugar que abandonamos às pressas naquele dia horroroso. Eu me lembro das mãos do Edmund nas minhas, dizendo-me que não iria se esquecer de me e que voltaríamos a nos ver...

1780 — Hungria

Uma promessa feita entre nós dois fazia meu coração se comprimir no peito conforme a carruagem se aproximava da construção imponente de pedra polida; eu, afinal, iria revê-lo depois de tanto tempo.

Havia tantos anos nos separando daquele inverno em que ele me salvou de Victor, quando pela primeira vez me olhou diferente... Momento que nos tornou mais próximos, dependentes daquela amizade, da necessidade de se ver. Tudo florescera ali, entre as cerejeiras daquele jardim. Eu estava de volta ao pesadelo que ainda era recente na minha mente, assim como o cheiro de sangue que havia por todo lugar quando eu deixei minhas melhores lembranças com ele. No carinho que os castanhos deixaram nos meus naquela noite em que tudo era tão triste... Em que o medo me agitava as veias como gelo enquanto ele me puxava pelas mãos dizendo: “Venha, Elise... Por aqui é seguro”, e me arrastava pelos corredores escuros do castelo, descendo cada vez mais... Levando-me a uma porta que eu nunca vira antes. Ele apertou minhas mãos nas dele e tentou me acalmar: “Não se preocupe, tudo vai ficar bem.” “Eu não quero ir, Edmund”, eu rebati enquanto ele me guiava pelo cômodo escuro e fazia a parede ao meu lado correr, e colocando as mãos ao redor do meu rosto, segredou: “Você precisa ir para eu saber que vai estar tudo bem contigo. Você me prometeu, lembra?” Me abraçou com força, arrancando de meus lábios um som baixo: “Edmund.” “Seus pais e seus irmãos estão no fim desse corredor...”— ele me disse assim que indicou o túnel escuro e me deu o archote que carregava consigo. “Eu vou vê-lo de novo?”, eu perguntei entre lágrimas que não cessavam. “Claro, Elise. Eu prometo”, e me deu um beijo na testa, fechando a passagem. A partir daquele momento só houve escuridão.

Eu senti a falta dele naqueles últimos anos, desde que fôramos despertados, mas nunca me questionei por que demorávamos tanto para ver os Ernöyi. Eu já havia escapado muitas vezes do assédio de Victor, que não desistira do seu intento e por várias vezes tentara tomar meu sangue, mas Inês conseguira ser providencial e surgir no momento certo para impedi-lo, coisa de gêmea. Eu acho estranho que ela sempre tenha se entendido tão bem como Augustus e Victor, mas eu sou capaz de fechar os olhos para isso quando estamos a sós, no nosso quarto, trocando confidências veladas: coisas de meninas... Meninas que agora ostentavam seus dezoito anos.

Eu andava pelos jardins da casa. Sabe, brincar à noite nem sempre é tão divertido quanto pode parecer, para nós sempre foi comum demais. Os adultos estavam reunidos na biblioteca, como de costume naquelas ocasiões. Papai me contou, uma vez, que conversavam coisas sobre nosso futuro, sobre as atitudes do Conselho. E eu imaginava que, agora mais do que nunca, havia muitas decisões a serem tomadas. Meu pai nunca me escondeu nada, era um homem simples, de ideais simples. O filho único de Iuri e Milla Fejéryi; minha avó morreu no parto. Uma saúde muito delicada para um imortal— foi o que ele me disse —, mas a vontade dela de dar um herdeiro ao marido suplantou seus medos e ela gerou a criança. Acho isso tão bonito, isso é amor. E, sinceramente, eu estou longe de um rompante desses pelo meu irmão. Eu não sinto o mínimo afeto por ele, ainda que a Inês tente me mostrar pontos bons na sua personalidade, eu não me vejo ao seu lado. Não depois das coisas que ele faz e diz, como se eu fosse sua propriedade.

Ele já é um homem. Tem a mesma cara desde que eu nasci, é verdade, mas é um imortal de 2.700 anos! E eu sou... Uma moça. Não adianta negar mais isso, já que tenho seios como a mamãe. Nada tão grande, claro, mas estão inegavelmente lá. Assim como a Inês e a Sophie. Acho que de certa forma todos mudamos. E isso, no meu caso, atrai mais ainda aqueles olhos amarelos sobre mim. O olhar de cobiça. Não se deixe enganar por nossa necessidade de sangue, imortais são belos e sedutores, sempre foram. E não há como negar o apelo sexual exibido em minhas novas formas, já que a libido é uma de nossas armas mais mortais para atrair uma caça, e eu não sou uma exceção.

Eu ainda não havia visto o Edmund, tínhamos acabado de chegar, mas eu sabiamente evitara entrar na casa. Procurara os jardins da minha infância, já saudosos na minha mente e que me guardariam, durante um tempo, dos olhos perscrutadores do Victor sobre mim, como vinha acontecendo desde que ele se entendia novamente vivo. Vivo para continuar me provocando... Dizendo-me a todo instante que eu lhe pertencia. Ao menos ali, naquela casa, ele estaria na reunião com todos os outros membros da família. Eu caminhei na direção do lago; devia estar congelado como sempre. O vento frio da noite desarrumava meus cabelos, mas quem liga para isso quando tem a liberdade nas mãos? Eu poderia me jogar na neve sem medo! Não... Eu não tava sozinha. Não mais. Eu conhecia aquele cheiro...

Elise — a voz soou atrás de mim, tão quente. — Achei que não tinha vindo, mas sua irmã me disse que você não quis entrar. Não queria me ver?

Eu estaquei por completo, não era mais o menino que falava comigo, mas, ainda assim, eu reconhecia a doçura daquele timbre. Eu tremia, tremia muito, e com cuidado eu me virei para o rapaz. Sim, o rapaz de aparentemente vinte e poucos anos que ostentava os cabelos castanhos sobre os ombros e os olhos intensos sobre mim. Aqueles castanhos ainda continham o mesmo brilho da última vez. O menino que eu deixara para trás, na forma de rapaz; as mãos nos bolsos do casaco. Ele estava lindo. Eu corei, sei que corei! Droga! E com a respiração suspensa, eu me inclinei numa curvatura.

Edmund — meus lábios se moveram por vontade própria e eu me desculpei pela minha indelicadeza. — Desculpe-me.

Você cresceu. —Ele meneou a cabeça para o lado e sorriu enquanto eu voltava a minha posição. O rosto em brasa, as pernas trêmulas. — Não é mais a menina que brincava comigo de bola de neve.

É... É... — Eu engoli o nó na minha garganta. — Você também está mais alto... Alteza.

Idiota! Burra! Que coisa mais ridícula de se dizer!

Ele se aproximou mais, parando a minha frente, e confidenciou:

Mas você ainda cora ao me chamar de alteza. — Eu arrepiei e fechei meus olhos, tentando conter o calor ainda maior que fervia minhas bochechas. Ele notou, eu sei, mas, discreto, fingiu não perceber. Aproximou-se de mim com calma e me abraçou. — Eu fico feliz que tenha cumprido sua promessa — ele deixou as palavras em meu ouvido antes de completar baixo: — Senti saudade.

Eu o encarei surpresa, refletindo as palavras dele.

Elise — ele soprou junto a minha nuca, me fazendo piscar.

Sim... — Saí do meu devaneio, apreensiva.

Eu queria passear como você. Você quer?

Eu assenti o máximo que podia com a cabeça ao enlaçar meu braço ao dele. E obtive um sorriso lindo de volta. Meu estômago revirava fortemente, minhas pernas pareciam flutuar... O que aquilo significava, eu não sei, mas durante um ano inteiro aquela foi a minha visão de paraíso, o refúgio da minha mente quando o Victor me agarrava... e sem perceber, eu estava desejando vê-lo de novo com todas as minhas forças. Eu ansiava pelo inverno, pelo frio, pelo sorriso que ele daria a me ver. Eu queria que ele sentisse a minha falta e quisesse passear comigo de novo... Segurar minha mão na dele e deixar-me deitar a cabeça no seu tórax enquanto fitávamos o céu. Passear à noite, de mãos dadas, não é tão divertido quanto fazer bolas de neve, é ainda mais maravilhoso.

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