Capítulo 2

  Humilhada, ferida no orgulho. Lívia marcha firme escada acima. Se sente injustiçada, preterida. Ao bater, com toda a força, a porta do quarto atrás de si, tomada por um turbilhão de emoções, a jovem converte tudo o que sente naquele momento em um ódio mortal, pela irmã e pela mãe. No primeiro momento, claro, ela também sente raiva do pai. Com o tempo, a garota decide perdoá-lo pela omissão diante da atitude repressiva da mãe. Por ele, a menina mantém o carinho pelo pai e o desejo de “reconquistá-lo”. A partir desse episódio, toda a família muda seu comportamento em relação à Lívia. A mãe se esforça para evitar o contato visual. A irmã, cada vez mais distante, prefere a companhia de suas bonecas. O carinho do pai limita-se a um “boa noite” e um aceno displicente feito à distância.

Dias depois. É noite de plantão no hospital, a mãe trabalha e o pai toma conta das filhas, como de costume. Após o jantar, as meninas se encontram recolhidas, cada uma em seu quarto, e aguardam ansiosas a visita do pai, por motivos distintos. Primeiro, o homem, aparentemente apressado, passa pelo quarto da mais velha. com Duas batidas na porta entreaberta seguidos de um displicente desejo de boa noite, que Lívia mal consegue ouvir, ele se despede, deixando-a profundamente frustrada. Minutos depois, a adolescente ainda está remoendo o desprezo do pai quando escuta, vindo do quarto da irmã, uma conversa bem animada, descontraída. Entre gargalhadas, brincadeiras, contos infantis, canção de ninar, a interação prossegue, sem pressa alguma. A animação se estende por longos minutos causando inquietação e revoltando a irmã preterida, sozinha em seu cômodo conjurado. Por fim, quando se dá, o silêncio no outro quarto é um verdadeiro alívio para os ouvidos e para o espírito da jovem, ambos castigados pelos arroubos de felicidade alheia. A calada também é um indicativo de que a pequena, provavelmente, já estava entregue ao sono profundo.

Intrigada. A adolescente, impelida por um sentimento de maturidade precoce, decide ir até o quarto da irmã. Planeja aproveitar a ausência da mãe para ter com seu pai uma conversa franca. Com a certeza de que ele estaria inclinado a lhe explicar as causas do distanciamento, cada vez maior, entre os dois, ela segue disposta a esclarecer os fatos. Se for o caso, Lívia está preparada para pedir, se necessário, e conceder, se solicitado, o perdão. Tudo para que a relação entre eles se torne mais próxima, mais calorosa. Para ela, a situação havia chegado num ponto decisivo e carecia de uma solução imediata. A ausência da mãe, sem dúvida alguma, é um fator determinante na decisão da jovem. Sem a presença dela, a conversa se daria num tom muito mais suave.         Cinco passos curtos separam os quartos das irmãs. Sem hesitar, se valendo da pretensa permissão de filha, da intimidade de irmã, e da petulância de adolescente, a jovem escancara a porta, sem aviso, e com certa violência.

Perplexa, ela se depara com uma das maiores surpresas que tivera na vida, até então. O quarto está vazio, nem o pai e nem a irmã. O silêncio dentro do cômodo é absoluto. Os poucos ruídos que escuta tem origem no quarto em frente, o do casal. são gemidos e sussurros que compõem uma mescla de dor e prazer. Produzidos no ímpeto do desejo, mas contidos, em parte, pelo freio da razão, esses sons enigmáticos se espalham pelos ambientes vencendo a distância entre os cômodos. Quem os produz, ao mesmo tempo, se esforça para manter a discrição.

Seguindo o rastro sonoro, Lívia chega ao ponto de origem da comoção. Desta vez, ela abre a porta com a delicadeza de uma mãe que não deseja despertar o filhinho dodói. Agora sim. A jovem curiosa se depara com a maior surpresa de toda a sua vida. Atônita. Diante dela se descortina uma cena dantesca. A irmã caçula, aparentemente, se encontra dopada, perdida em uma espécie de limbo, entre o sono profundo e a rasa consciência. Indefesa, a menina recebe do pai o tipo de carícias que um homem realiza, em uma mulher, apenas em momentos de plena intimidade conjugal. O sujeito toca a menina, e a si mesmo. Próximo do clímax, ele não percebe a presença da outra filha ali, diante dele, estática, dentro do mesmo cômodo.

 Tanto o homem quanto a adolescente apresentam comportamentos definitivamente bizarros. Em vez de se virar e correr pela casa, aos berros, em busca de ajuda ou do primeiro telefone disponível, a garota se mantém inabalável, e assiste a tudo, até o fim. Um episódio aterrador que, seguramente, causaria traumas irreparáveis em qualquer pessoa, seja homem, mulher ou criança. Lívia, no entanto, observa atentamente, como se fora uma espectadora especialmente convidada. Lentamente, a garota é possuída por sentimentos conflitantes... Inveja, ódio e, por fim, excitação. O desejo insólito de estar no lugar da irmã, naquele momento, é crescente. Confusa, ela se afasta lentamente, de costas para a saída. Por razões que ainda é incapaz de compreender totalmente, ela, deliberadamente, continua a testemunhar aquele ato desprezível e alimentando um desejo sórdido. As batidas do seu coração acelerado produzem ruídos mais audíveis do que seus passos, lentos e extremamente cautelosos. Mesmo tendo plena ciência do absurdo da situação, Lívia mantém os olhos vidrados, fixados no homem que jamais deveria ser objeto do seu desejo..., mas, ele é.

Na mesma noite. De volta ao seu quarto, ainda perturbada por tudo que presenciara, a adolescente, deitada em sua cama, não é capaz de se desfazer da calorosa sensação que a persegue, tomando todo o seu corpo. Ao fechar os olhos, imediatamente, as imagens piscam, como flashes de memorias, sempre frisando as cenas mais excitantes e explicitas. Usando o poder da imaginação, a garota dominada por uma febre vulcânica, incontrolável, se coloca no lugar da irmã em cada lembrança que vem à tona. Desvairada, entregue a volúpia, envolta por uma atmosfera etérea. Impetuosa, Lívia afaga o próprio corpo idealizando objeto do seu desejo, com tanta intensidade que homem se materializa diante dela, em pensamento, e se torna palpável. Nesta noite inusitada, a garota descobre, e se entrega, ao auto prazer.

Sem pudor algum. Os gemidos, a princípio tímidos, se tornam gritos de prazer no auge do clímax. A obscenidade da adolescente, apesar de ecoar pelos corredores e por todos os cômodos da casa, não passa de uma exibição performática, feita e direcionada a um único espectador, muito especial. Ao finalizar o ato, exausta, em êxtase, Livia exibe um sorrisinho malicioso. Suspira e sussurra.

- Eu quero mesmo que ele saiba!

 Durante os meses seguintes o show da garota obscena é repetido, sistematicamente. Mas é executado apenas em noite especificas, aquelas em que a mãe não está presente na casa. Talvez por remorso, talvez por medo de uma denúncia que provocaria um tremendo escândalo e, certamente, destruiria a família, o pai deixa de fazer as visitas noturnas, rotineiras, ao quarto da filha caçula. A temida delação não acontece, também não há confronto e ne, mesmo indagações. De certa forma, o pai e a filha mais velha tornam-se cumplices. carregam segredos, um do outro. Uma incomoda relação que se arrasta, sempre na iminência de ruir. Nas poucas oportunidades em que se cruzam, de cabeças erguidas, Livia lança sobre o homem um olhar acusador, por vezes ameaçador. Ele, por sua vez, retribui com a expressão desolada de quem admite a própria culpa e, em silêncio, súplica por discrição, pois sabe que não há perdão possível para os atos que cometera. Verdadeiramente Inocentes, a mãe e a caçula seguem alheias ao pacto, tão secreto quanto frágil, firmado entre o pai e sua primogênita.

Aparentemente ilimitadas, já que são fruto da imaginação, mesmo as fantasias, de quando em quando, necessitam de novos estímulos. Involuntariamente, os delírios noturnos de Lívia passam a contar com algumas variações, muito bem vindas para ela. “No auge da sua loucura, ela imagina que o homem, objeto do seu desejo, escuta os gritos de uma menininha indefesa vindo de um dos cômodos da casa. Ele então corre até o local, mas se depara com um quarto trancado. Sem hesitar, o pai arrebenta a porta com um único ponta pé e invade o ambiente acreditando que a jovem corre grande perigo. Ao encontrar a moça estirada sobre a cama, com o ventre virado para cima, usando apenas um vestido indecente, tão curto e ajustado ao corpo que o pouco tecido é suficiente para cobrir apenas a parte superior das coxas. maliciosamente decotado, o caimento insinuante da peça salienta, intencionalmente, os atributos físicos da bela ninfa que, dissimulada, se mostra frágil e inocente. Incapaz de resistir aos encantos da gaiata, o homem se atira sobre ela, afoito, consumido pelo louco deseja de possuí-la”.

Naturalmente, a curiosidade sobre o assunto, erotismo, leva a garota a buscar maiores informações a respeito. Com facilidade, ela tem acesso a livros, revistas, fotos e vídeos. E passa a consumir grande quantidade desse tipo de material. Todo esse conhecimento adquirido é de grande valor para ela, pois impulsiona ainda mais o seu amadurecimento.

O comportamento da adolescente se altera rapidamente, dia a dia. Conforme amadurece, ela se torna cada vez mais distante da irmã menor, pois passa a considerá-la como sua rival, em vários sentidos. A garota passa a apresentar, constantemente, intensas alterações no humor. Agora, ela evita, como pode, as interações em família, inclusive se esquiva das refeições feitas em conjunto, normalmente se valendo de desculpas pouco elaboradas como falta de apetite, dores abdominais, indisposições, escassez de tempo etc. Mudanças assim, tão claras e evidentes, não passam desapercebidas no seio familiar, nem poderiam. No entanto, cada membro reage a elas de maneira distinta. A caçula, pobrezinha, durante muito tempo se humilha diante da irmã mais velha, implorando por atenção e desejando um pouco da companhia dela. Até que por fim, desiste e volata as suas atenções para os brinquedos e se dedica aos poucos amiguinhos que possui na escola. O pai, luta para convencer a si mesmo de que tudo isso é natural, apenas consequências do conturbado início da puberdade. Mas sabe que o seu próprio comportamento tem grande influência sobre a nova postura da adolescente. A mãe tenta se manter indiferente e prefere conceder algum espaço para a jovem, desde que ela não ultrapasse certos limites que, segundo ela, existem para manter o respeito que uma filha deve a sua mãe. Intimamente, ela considera a filha mais velha como um desses casos perdidos, mas prefere manter essa opinião, esse pressentimento, em sigilo.

O tempo passa... e velhos hábitos não mudam.

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