Quase uma Família
Quase uma Família
Por: Mahy França
Prólogo

Cecília

            A luz branca florescente daquela sala me cegava, eu conseguia sentir cada gota de suor escorrendo pela minha testa. A dor era dilacerante, meus sentidos já não respondiam, minha respiração era controlada pela enfermeira que segurava firme a minha mão. Ela falava alguma coisa pra mim, mas eu não conseguia ouvir. Juntei toda a força que restava dentro de mim até que por fim escutei aquele sonzinho que tanto esperava há nove meses. O chorinho do meu bebê invadiu meus ouvidos e eu pude enfim respirar aliviada.

            O médico trouxe aquele bebezinho lindo até mim, minhas lagrimas rolavam incansavelmente enquanto eu beijava e acariciava sua cabecinha com todo cuidado do mundo. Aquela princesinha agora era a minha única família, minha vida e todo o meu amor. Eu a olhava como se quisesse decorar cada centímetro daquele serzinho em minha mente. O médico sorriu pra nós e pegou-a do meu colo dizendo que precisava levá-la para alguns exames iniciais de rotina, mas que em breve a veria novamente para amamentá-la pela primeira vez. Me dei ao luxo de finalmente descansar e não sei por quanto tempo dormi, mas quando acordei, parecia que aquilo tudo tinha sido um sonho e o que eu viveria em seguida seria o pior dos pesadelos.

            Uma enfermeira estava parada ao lado da minha cama, e parecia aflita esperando que eu acordasse. Quando a olhei, sua expressão era de um pesar insuportável e eu sabia que a notícia não era boa. Só consegui proferir algumas miseras palavras.

            — Cadê a minha filha? — meus olhos já marejados esperavam pela pior das notícias.

            — Cecília, por favor, fique calma. Você acabou de sair de um parto normal, precisa descansar. - Ela tentou segurar minha mão, mas eu a empurrei.

            — Eu quero a minha filha! — minha voz começava a sair como um grito. — Cadê ela? Cadê a minha menina? — minha respiração já não saia normalmente e meu coração parecia estar sendo esmagado por um trator que logo sairia pela boca.

            — Um rapaz… — ela só conseguiu dizer isso pois em um sobressalto levantei da cama cambaleando aos prantos com a voz embargada. A pobre enfermeira já chorava junto comigo tentando me segurar em pé. — Cecília, por favor. Fique calma, os seguranças já estão atrás dele. Ele não pode ter ido longe.

            Eu agora já me encontrava de joelhos no chão, com a enfermeira agachada ao meu lado me consolando. E com as mãos no rosto tentando insignificantemente segurar todo choro e dor que saia de mim naquele momento, eu sacudia a cabeça em negativa. Já sabia quem era o homem que ela mencionara e só consegui olhar pra mulher do meu lado em um pedido de súplica que entendeu e começou a explicar.

            — Ele entrou aqui muito emocionado e nervoso, dizendo o seu nome, falando que era o pai da Giovanna, então deixamos ele ir vê-la na maternidade e os deixamos à vontade. Quando demos por nós, eles não estavam mais lá. — Ela levou uma das mãos no meu rosto secando algumas lagrimas e me apoiando para levantar, mas eu não queria. Eu só queria morrer. Minha cabeça girava com um milhão de teorias macabras do que aquele cara seria capaz de fazer com a minha Gio.

Ele não podia ter feito isso. Ele tinha me prometido, tínhamos um acordo. Eu não precisava dele pra criar minha filha, eu ia tê-la e sair da cidade e nunca mais nos veríamos. Por que ele fez isso? Por que?

            Com minhas ultimas forças me coloquei de pé, ignorando qualquer dor pós parto, afinal, nenhuma superaria aquela que sentia agora no meu coração. E respirando profundamente sequei as últimas lagrimas remanescentes, olhei para a enfermeira com a cabeça erguida determinada a encontrar minha filha ou mataria aquele demônio que tinha nome, sobrenome e endereço que por sinal, eu conhecia muito bem. Leonardo Almeida não sairia vivo e eu garantiria aquilo até o meu último suspiro.

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