Capítulo 02

Lorenzo Rivera 

Quando você tem tudo, ou, pelo menos, quase tudo, ser só mais um homem legal não faz diferença alguma, lá estava eu mais uma vez, sendo pressionado pelo meu pai, ele não era a melhor pessoa do mundo, e adorava se intrometer na minha vida. 

— Filho, assuma suas responsabilidades! — meu pai disse furioso socando a mesa, eu quase cuspi o café que estava tomando, foi um erro ter ido visitá-lo naquela manhã, estava arrependido, sabia como tudo acabaria e mesmo assim fui. 

— Não quero sua empresa! Por que não coloca a sua filha? Tudo que ela mais deseja é passar horas dentro daquele escritório. — ele sabia bem o quanto a empresa era importante para minha irmã mais nova, Sarah. 

— Ela é mulher! Você é meu filho, Lorenzo, não é porque não mora nesse teto que não deve me obedecer! — levantei na mesma hora e encarei seus olhos cansados pela idade, ele era um homem amargo que só pensava maneiras novas de lucrar mais. 

— Sente tanta vergonha de mim assim? Sou um chef de cozinha, e não um engravatado de escritório! — derrubei a cadeira com força no chão, às vezes não conseguia controlar minha raiva. — Essa conversa termina aqui!

Não cederia às vontades do meu pai, jamais sacrificaria o que conquistei para ficar preso em um escritório. Minha vida não poderia acabar igual a dele, não deixaria isso acontecer comigo. 

— Moleque, como ousa me tratar assim? Não terminamos essa conversa! — ignorei seus gritos e fui embora o mais rápido que pude. 

As discussões com meu velho estavam ficando frequentes, sempre que nos encontrávamos acabava mal, e eu já não estava de bom humor porque no dia anterior fui informado que seria punido. Acredita? Uma maldita punição.

Passei a mão atrás da minha nuca lembrando daquela situação tensa que entrei… 

— O senhor está brincando? — perguntei ao meu patrão Gerard, de jeito nenhum aceitaria o que ele ordenou. 

— Lorenzo, você é como um filho, mas estou perdendo funcionários por sua causa. Por favor, olhe o currículo da moça. 

Não peguei o maldito currículo, eu estava sendo punido porque mais um funcionário incompetente tinha fofocado de mim. Por que me punir? Eu estava ali para dar o melhor de mim, não estava incluso passar a mão na cabeça de gente folgada. 

— Não vou ser uma babá de uma garçonete, pode esquecer! — acabei me exaltando um pouco. 

— Você é um dos melhores, Lorenzo, mas não é insubstituível. Não me obrigue a fazer o que não quero. — ele estava falando sério e eu me senti intimidado. 

Trabalhava há alguns anos naquele restaurante, e aquela era a primeira vez que ouvi o senhor Gerard falar daquele jeito comigo, porém, o que ele queria de mim era absurdo, eu teria que supervisionar uma garçonete, isso mesmo, ser uma babá de uma insignificante. 

Estar no restaurante era uma das melhores coisas da minha vida, me sentia bem ao estar na cozinha preparando aqueles pratos todos. Não trabalhava devido ao dinheiro, e sim por me sentir feliz ao fazer isso. 

— Tudo bem, eu vou ficar de olho nela… — falei quase cuspindo nele, claro que ajudaria a garçonete nova, ajudaria me livrando dela, ela pediria demissão em menos de uma semana, quase não contive meu sorriso debochado. 

Após encerrar aquele assunto com meu patrão, fui em direção a saída, até que um inconveniente aconteceu, uma maluca se jogou em cima de mim.

— Tá cego, seu merda!? — ela resmungou, até pensei que fosse me bater. 

Ela não era ninguém, só de ver o jeito como ela estava vestida percebi isso, talvez fosse uma pedinte tentando invadir o restaurante para pedir esmolas, então a ignorei e continuei caminhando pela calçada. 

— Volta aqui! Seu poste ambulante! Me peça, desculpas! — ouvi seus escândalos e aumentei os passos até meu carro, aquela mulher além de louca era barraqueira!

Depois que fiquei seguro dentro do meu carro, ainda olhei pelo retrovisor, com receio de ser atacado pela mulher pequena de vestido laranja, sério nunca vi ninguém igual a ela, louca claro! Balancei a cabeça e liguei o carro, não ficaria esperando que algo acontecesse. Quando voltei para o trabalho um tempo depois, estava bem irritado. 

— Não é assim que se corta os legumes! — falei rosnando para um dos funcionários, tomei a faca da mão dele, e descarreguei minha fúria enquanto cortava os legumes. 

Eu sentia os olhares na minha direção, que eram desviados sempre que olhava pra eles. As fofocas espalhavam rápido, minha punição deveria ser o assunto do momento, com certeza ficaram rindo pelas minhas costas. No trabalho não aceitava erros, não quando a cozinha estava em minhas mãos, porém, nada poderia fazer em relação aos fofoqueiros de plantão. 

Depois que terminei o expediente naquele dia, saí sem destino certo e só retornei na madrugada para casa, não vi ninguém além dos seguranças que ficavam de vigilância. 

Já dentro do meu carro, liguei o som no último volume, precisava esquecer toda aquela tensão, só de lembrar tudo que passei no dia anterior me deixava com muita raiva, e o encontro com meu pai naquela manhã não ajudou em nada. 

[...] 

Passei a manhã inteira dirigindo sem rumo até chegar meu horário de ir trabalhar, estacionei e sai em direção ao restaurante, algumas pessoas me cumprimentaram durante o trajeto. 

— Rivera chegou! — ouvi alguém gritar, era normal aquilo todos os dias. 

Adentrei a cozinha e todos estavam em silêncio, segui para o trocador, coloquei meu uniforme e quando saí os cochichos pararam, estavam falando mal de mim outra vez, disso não tinha dúvidas. 

— Voltem ao trabalho! Minha vida pessoal não é da conta de ninguém! — dei meu recado e apertei mais o avental na minha cintura. 

Olhei para o relógio na parede e estreitei os olhos. Onde estava a garçonete nova? Resolvi sair para esperá-la do lado de fora, assim que empurrei a porta bati em alguém, era uma mulher, fiquei aguardando qualquer reação sua. 

— Tô sangrando! Qual é, não viu que tinha gente aqui? — sua voz saiu abafada por estar segurando o nariz com uma das mãos. 

— É você a novata? — perguntei esperando que ela negasse, mas quando levantou o rosto me encarando enxerguei em seus olhos fúria. 

— Eu te conheço, é o mal-educado de ontem! — olhei bem pra ela e só então a reconheci, era a maluca barraqueira do dia anterior. 

— O que aconteceu? — o gerente perguntou se aproximando de nós. 

— Essa daí é a nova garçonete? — perguntei apontando o dedo indicador para ela. 

— Sim, é ela! A senhorita Garcia ficará aos seus cuidados. Lorenzo, ajude ela a se limpar, o senhor Gerard não gostará nada de vê-la assim. 

Meu sangue começou a ferver naquela hora, só poderia ser castigo, eu teria que cuidar logo dela, não que eu esperasse algo melhor, porém, já sabia que não seria fácil, no caso para ela. 

— Vamos. — eu disse forçando um sorriso, enquanto puxava ela pelo braço para dentro da cozinha. 

Caminhamos até o banheiro e ela não parou um segundo de reclamar. Ela era uma abusada que não sabia respeitar.

— Você me deve desculpas! — balancei a cabeça em negativa e bufei, que mulherzinha irritante. 

— Tira essa mão do nariz! Deixa-me ver isso! — falei autoritário, toquei seu maxilar, enquanto analisava o estrago acidental que causei. 

Ela estava horrível, sua camisa estava manchada de sangue, mas aparentava não ser nada grave, respirei aliviado. 

— Porra isso dói pra caralho! — estávamos no trabalho e não na ralé de onde ela havia saído, no local de trabalho deveríamos manter a postura e jamais dizer palavrões, alguém poderia ouvir e reclamar para o dono do restaurante. 

— Deixa que eu limpo isso! — peguei bastante papel higiênico e comecei a limpá-la, logo em seguida ajudei a lavar seu rosto na pia. 

Me sentia desconfortável segurando os cabelos dela para não serem molhados pela água. Quando fechei a torneira e soltei seus cabelos que mais pareciam arame farpado, cheirei minhas mãos fazendo cara de nojo em seguida, precisava desinfetar minhas mãos com álcool gel antes de fazer qualquer coisa na cozinha. 

— Para com isso seu fresco! Não sou fedorenta, tomo banho todos os dias! — falou rosnando como uma leoa feroz prestes a me atacar. 

— Nunca mais fale desse jeito comigo! Me chame de senhor Rivera. Não tolerarei mau comportamento! A senhorita chegou atrasada hoje, espero que isso não se repita! — falei esperando que ela tivesse entendido que o seu lugar era inferior ao meu. 

— Ok, senhor, mas me deve desculpas por tudo que me fez! — ela era teimosa, entretanto, não aguentaria muito tempo trabalhando ao meu lado. 

Deixei ela terminar de se limpar no banheiro, e pedi para uma das garçonetes ajudá-la, tínhamos que trabalhar e eu testaria sua capacidade, na prática, em breve. Eu não seria bonzinho, pelo contrário, domaria aquela fera a qualquer custo, com objetivo de tê-la fora da minha vida. 

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