Capítulo 3

Isabela Thorne, ou apenas Bela, completou 18 anos e se viu sozinha e desamparada em um mundo cruel e injusto. Ao completar a maior idade ela se viu do lado de fora dos altos muros do Orfanato Saint Joseph. 

Abandonada na instituição desde os seus quinze dias de vida, Bela não conhece absolutamente nada do mundo. Ao longo dos seus dezoito anos, ela viu crianças brancas, loiras e de olhos azuis serem adotadas por casais que não podiam ter filhos. Crianças mais velhas do que ela.

Bela ganhava alguns olhares curiosos e seu coraçãozinho se enchia de esperança. Mas com lágrimas nos olhos, ela via garotas e garotos brancos irem para um novo lar com seus pais adotivos. 

A Madre Superiora dizia apenas que Bela não preenchia os requisitos. Bela não sabia o que essa palavra significava até os seus nove anos de idade. Em uma discussão entre crianças maldosas ela foi chamada de "Preta". Eis o que significava não preencher os requisitos. 

Ela não tinha cabelos loiros, olhos azuis e muito menos a pele clara. A partir deste dia, Bela deixou de sonhar com um quarto rosa só para ela, lindas bonecas, vestidos rodados e pais amorosos que a beijariam ao anoitecer. 

Porém, tinha um requisito que Bela parecia preencher muito bem. Limpar, lavar e cozinhar. E assim, os anos se passaram. Crianças chegaram, crianças partiram. Bela dividia o tempo entre os estudos e ajudar na cozinha. 

Em alguns dias ela sentia gratidão por ter um teto sobre a sua cabeça e comida no seu estômago. Em outros, a revolta era inevitável. Se a sua própria mãe não a quis, o que as outras pessoas teriam para ela? Flores? Dificilmente.

Vestindo sua melhor roupa, camiseta branca, calça jeans escuro, sapatilhas pretas e com o cabelo castanho escuro amarrado em um rabo de cavalo, Bela foi colocada em um táxi e a Madre Superiora entregou para o motorista um papel com um endereço e dinheiro suficiente para pagar a corrida.

- Boa sorte, Bela. - A Madre Superiora tentou sorrir. - Venha nos visitar.

Bela sorriu.

- Obrigada por tudo Madre. Eu sentirei saudades. - "Quando começou a mentir com tanta facilidade?"

No banco do passageiro, Bela estava deslumbrada com Los Angeles. A cidade dos anjos. Apesar do dia frio e chuvoso, ela não deixou de observar as ruas amplas, bem sinalizadas, com palmeiras e poucos prédios. Para ela que só conhecia os muros cinzentos do orfanato, e o uniforme na cor verde claro, tudo era um show de cores, vida e beleza sem igual.

O motorista do táxi de origem latina, apontou para a direita.

- O famoso letreiro de HOLLYWOOD.

Bela quase colou o nariz no vidro do carro.

- É incrível. Nem parece que eu morei aqui a minha vida toda.

O motorista riu.

- Você morou no orfanato. Agora vamos entrar em Beverly Hills. Só quem caga dinheiro mora aqui.

Bela achou o comentário extremamente rude. No entanto, ela logo se viu transportada para outro mundo. Propriedades imponentes, hotéis, limusines, galerias, cafés, vitrines e pessoas elegantes formavam uma luxuosa obra de arte a céu aberto.

Michael não acordou de bom humor. A cabeça doía e o estômago embrulhava. Dominic entrou no quarto. O segurança estava sério.

- Bom dia.

- Bom dia uma porra. - Michael pegou o box de Marlboro e enquanto acendia o primeiro cigarro do dia, recostou na cabeceira da cama. - O que fizeram com a garota?

Dominic suspirou.

- Ela teve o mesmo destino que John. Seus corpos foram concretados na fundação do Edifício Walli. Aliás, o mestre de obras pediu mais material.

Sonolento, Michael tragou o cigarro e soltou a fumaça lentamente.

- Dessa vez o delegado vem. Um capitão e uma puta desaparecidos.

- O porto não estava movimentado por causa da chuva, mas a sua presença com certeza foi notada. Chloe Sullivan saiu para fazer um programa na sua casa e não retornou para a agência. E ainda temos Gael.

Michael fechou os olhos.

- Isso é um pesadelo. Me acorda, Dominic.

O segurança se manteve impassível.

- O que vai dizer ao delegado ?

Michael abriu os olhos verdes e sorriu de forma inocente.

- Eu não sai de casa ontem e não recebi nenhuma prostituta.

Dominic não riu da piada ruim.

- Eu não sei se você percebeu Michael, mas você está perdendo o controle. E isso não é bom para você, para os negócios e muito menos para mim.

Michael esboçou um pequeno sorriso angelical.

- Às vezes eu não consigo controlar as trevas em que habito. É mais forte do que eu, Dom.

- Os homens estão apreensivos.

- Eu acho que essa não seria a palavra correta. Eu diria que estão se cagando de medo.

Dominic endureceu o olhar.

- Eu diria que estamos de saco cheio de você deliberadamente se colocar em perigo. Nós sabemos qual é o nosso trabalho. Proteger você. Mas isso é loucura.

Pensativo, Michael terminou de fumar e apagou a bituca no cinzeiro.

- Você acha que eu sou louco, Dominic?

- Eu acho que você deixou fama e dinheiro subirem para a sua cabeça. Você não é intocável, Michael. Você está cavando a própria sepultura, e eu diria que ela já está bem funda.

Michael teve o seu momento de dúvida e fraqueza. Porém, ele não teve tempo de clarear os pensamentos. Dominic deu o ultimato.

- Vista-se e desça. Uma das candidatas a vaga de empregada te espera no escritório. É melhor você causar uma boa impressão se não quiser comer pizza de novo.

Michael fechou os olhos. Era só o que faltava, outra empregada incompetente.


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