Capítulo 1. Mudança

Minha mãe me olhava com o semblante triste enquanto dirigia o carro com as janelas abertas. Fazia 18 graus em Lisboa, um clima frio e agradável para quem gostava. Eu estava com minhas roupas favoritas — Uma blusa branca canelada de mangas, uma calça preta e uma boina, uma mistura das duas cores, sem falar do meu velho all-star branco.

E aqui estava eu, voltando para o meu lugar de origem, voltando para Viseu, o lugar que eu sempre evitei nas minhas férias, diferente da minha irmã. Eram 2 horas e 54 minutos de viagem, mas o meu pai estará me esperando em Coimbra, então minha mãe não terá tanto contato com o meu pai. Eles se separaram no auge dos meus nove anos de idade, depois de 15 anos de casamento, ele acabou se desgastando, o que me deixou bastante triste, e desacreditada no amor, até conhecer ele, mas tudo mudou novamente.

— Ester, Você tem certeza? — Perguntou minha mãe pela milésima vez. Eu nunca voltava atrás com minhas palavras, não era do meu feitio, e ainda mais pelas coisas que passei, e como a minha vida mudou em 72 horas.

— Nunca tive tanta certeza, mãe. Não se preocupe, quando eu me recuperar, eu voltarei para casa  — Disse como se fosse uma promessa. 

Minha irmã voltou de viagem a três meses atrás, ela estava passando o seu recesso na casa do meu pai, na nossa antiga cidade. Eu namorava a quase onze meses, e um belo dia, ou há exatamente três dias atrás, quando cheguei em casa depois de um passeio com minha mãe encontrei a minha doce irmã na cama com o meu namorado, atualmente ex. 

Eles ficavam a um ano, e eu simplesmente não sabia, eu sempre o via passar e quando nos aproximamos, foi uma enorme felicidade, minha irmã ainda teve a audácia de anunciar que estava grávida, o que fez minha mãe se irritar e dar uma bela de uma tapa em seu rosto, eu ri, admito, mas por dentro eu estava chorando. 

— Eu sei que o que sua irmã fez com você foi super errado — falou me despertando do transe — Mas você deve encarar tudo de cabeça erguida — Continuou.

— Mãe, tá tudo bem. Eu realmente queria voltar para Viseu — Menti, eu era uma péssima mentirosa.

— Caso queira voltar, me avise, buscarei você imediatamente. — Falou alisando meu rosto

— Não se preocupe comigo, mas se cuide, eu estarei sempre ligando para você.

Minha mãe sempre foi uma boa amiga para mim e uma ótima mãe, sempre me incentivou a passar férias com o meu pai por mais que ela soubesse o quanto eu odiava aquele lugar ela nunca me forçou ou me proibiu de ir, mas agora realmente eu precisava descansar e esquecer de tudo que aconteceu nesses últimos três dias. Não somos tão parecidas em questão de aparência, mas somos na maturidade e na hora de tomar as decisões, que eram sempre com cautela, sem falar na forma de perdoar o próximo, por mais que ele tenha me machucado.

— Então diga ao seu pai que mandei beijo.

— Eu direi, mas a senhora bem que poderia fazer isso, já que também verá ele.

— É, talvez eu diga.

Foi combinado que meu pai me pegaria na estação de Coimbra, de Coimbra até a cidade em que ele mora são menos de uma hora de viagem, o que me preocupava, já que meu pai é um homem muito tagarela e que não gostava de manter a boca fechada, vai ver essa foi a razão da separação dos meus pais, ou talvez minha mãe só estava cansada da vida monótona de uma esposa de um policial e mãe de duas filhas. 

Pude perceber a felicidade na voz do meu pai ao saber que eu iria voltar a morar com ele mesmo que por um pequeno período de tempo, até matriculada na nova escola eu já fui. Eu não era a pessoa mais falante do mundo, pelo menos não com o meu pai, eu não sabia qual assunto conversar com ele, talvez sobre a cidade ou talvez sobre o porquê da minha mudança repentina de morar com ele, é, ele ainda não sabia o motivo.

Assim que chegamos na estação, meu pai já se encontrava em sua rádio patrulha com bastante tédio, era visível pelo seu olhar e as batidas que ele dava no volante do carro, eu ri daquela cena, ele sempre foi um homem animado e agitado, e vê-lo no tédio era algo novo.

— Provavelmente não irei falar com ele, mande lembranças por mim. — Pediu à minha mãe.

— Tudo bem, eu mandarei.

Eu não tinha malas pesadas, apenas uma de mão e uma mochila que continha os meus materiais escolares, que se encontravam ambas no banco traseiro do carro. Após tirar as bolsas do banco traseiro e com toda a dor do mundo me despedir da minha mãe, finalmente tomei coragem e caminhei até o carro de Aldo Benjamin, ou melhor, o meu pai.

Bati em seu vidro por pelo menos quase um minuto e quando finalmente percebeu a minha presença saiu apressadamente do carro para me ajudar com a bagagem. Não havia necessidade de colocar as bolsas no porta malas, então novamente elas foram no banco traseiro.

— É bom te ver novamente tete! — disse ele, me dando um abraço apertado e um tanto desajeitado — Você não vem aqui desde os seus 10 anos, senti saudades. — Me apertou ainda mais, eu não deveria ter feito isso, há quase sete anos que eu não visito o meu pai, mas sempre nos falávamos por chamada de vídeo, ou pelo menos quando dava.

— Também estava com saudades, papai. — retribui da mesma forma.

— Como está a Miriam e a sua irmã?

— Estão bem, e a mamãe te mandou lembranças.

Já estávamos no carro e um enorme silêncio nos acompanhava naquela pequena viagem até Viseu. Era óbvio que nenhum dos dois tinham o que falar, até que o meu pai me surpreendeu quebrando o clima que reinava no lugar.

— A cidade mudou bastante nesses seis, quase sete últimos anos. — Falou enquanto ainda estava atento ao trânsito.

— E o que mudou exatamente? — Ele havia atiçado a minha curiosidade, e eu não deixaria passar.

— O assassinato da família Williams há três anos atrás — Disse tranquilo.

Eu já ouvi falar daquele sobrenome em algum lugar, porém não me recordava de onde, talvez de Lisboa, ou talvez não.

— E quem são exatamente? — Perguntei, e algo me dizia que eu conhecia alguém dessa família.

— Sabia que você talvez não se lembrasse, você costumava brincar com a Amora Williams, a filha mais nova do casal Alberto e Marília Williams.

Eu finalmente me lembrei da família, morava na última casa perto da floresta que ficava na rua de trás da casa do meu pai, a menina tinha dois irmãos, no qual eu nunca tive muito contato, diferente da Elisa que vivia em cima do irmão mais velho.

— Lembrei, é uma pena que isso tenha acontecido com eles, eram um casal legal. — Falei — E alguém foi culpado pelo assassinato deles? — Perguntei, em que cidade eu tinha me metido.

— O filho do meio foi o único sobrevivente, mas por falta de provas de que ele tenha matado a sua família, ele está solto, mas a polícia observa cada movimento dele. 

Choque. O garoto sempre fora calado, e era super protetor com a sua irmã mais nova, uma pessoa dessa não poderia matar a sua própria família, poderia? 

— Mas tem alguma prova que indique que foi ele?

— Não, há três anos que a polícia investiga, mas nada que ligue ao garoto.

Fiquei pensativa, ou ele era bom em esconder provas, ou ele não era o culpado do assassinato dos pais.

— Ele é um ano mais velho do que eu, né?

— Sim, e estuda no mesmo ano e na mesma escola que você. Não se aproxime dele, é a única coisa que vou pedir. Peço que me prometa. — Insistiu parecendo preocupado.

Era provável que o garoto sofresse algum tipo de bullying pelas pessoas da cidade, e pelo modo que o meu pai falou dele, parecia que ele é uma pessoa que ninguém ousa se aproximar e que só está na cidade porque ninguém teve coragem o suficiente de prender ou expulsar ele. Eu não poderia prometer uma coisa desse tipo, eu nem sequer conhecia o garoto, e eu também não o julgaria antes de ouvir a sua versão da história.

— Eu prometo. — Menti, era algo que eu estava me acostumando a fazer, e com o meu pai não seria diferente.

— Espero que cumpra a única coisa que te pedi. — Falou um pouco triste.

— Mas alguma coisa?

— Sim, evite sair à noite, a cidade se tornou um lugar perigoso agora. 

— Tudo bem. Eu não sairei se não for com você.

— Muito bem, e a propósito, gostei da nova cor do seu cabelo. — elogiou e eu apenas sorri.

Eu tinha mudado a cor do meu cabelo no mesmo dia em que descobri a traição, uma coisa que eu e minha irmã herdamos do nosso pai foi o cabelo ruivo ondulado, era chamativo, e muitas vezes já me ocorreu de me apelidar de ruivinha e vários outros nomes no qual eu odiava, eu não gostaria que acontecesse nesse novo local, embora que eu nem sequer sabia que do nada eu viria para cá, então coloquei um azul escuro, e combinou bastante, mesmo as minhas sobrancelhas estando em um tom ruivo.

Trocamos algumas palavras, mas depois de um tempo o silêncio novamente havia voltado, nossa conversa foi sobre o clima, descobri que o verão era curto, morno e seco, e que sua temperatura máxima chegava a 29° graus celsius, o que era bom, já que eu gostava bastante de sol.

O lugar era realmente lindo, indo em direção a cidade pude vislumbrar as árvores, um lugar bastante verde, o que o tornava diferente de Lisboa. Troncos cobertos de ervas daninhas, galhos com bastante folhas, um lugar para se apaixonar, e com certeza eu me daria bem nele.

Depois de quase uma hora torturante, finalmente chegamos na casa do meu pai. O lugar era exatamente as minhas lembranças, exceto os móveis e as cores das paredes que estavam entre um tom de amarelo areia e um branco neve. O que tinha mudado era uma garagem, que antes não tinha, e um banheiro a mais.

Foi necessário apenas uma viagem para levar as minhas bolsas até o meu antigo quarto, o que gostei bastante, já que a visão dava para as flores que existiam no pequeno jardim do meu pai. O quarto não tinha mudado muita coisa, o guarda roupa de madeira antiga continuava o mesmo, a cama que antes era infantil foi trocada por uma box de casal, o piso de madeira continuava o mesmo, até as paredes rosa bebê, céus, a Ester atual odiava rosa, mas pelo menos agora tinha um banheiro no meu quarto.

Passei a mão lentamente pela cômoda empoeirada que existia no quarto, automaticamente sorri, uma vez quando criança, eu subi em cima da cômoda para me fingir de abajur, e se não fosse a minha mãe, hoje eu teria uma cicatriz enorme no braço.

— Toc toc — Disse meu pai batendo na porta semi-aberta

— Pode entrar, pai. — Autorizei a sua entrada

— As coisas estão um pouco empoeiradas, não tive tempo de limpar, mas se precisar de ajuda pode me chamar. — Falou sorrindo e fazendo um legal.

— Tudo bem, pai, acho que consigo sozinha.

— Quando terminar, desça para jantar. — Disse e eu apenas concordei com a cabeça.

Assim que o meu pai saiu do meu quarto, peguei uma flanela que estava em cima da minha antiga cômoda e comecei a passar nos móveis e assim que terminei, apenas guardei as roupas que já estavam dobradas, eu odiava desorganização, porém minhas coisas viviam bagunçadas. Tomei um breve banho quando acabei de guardar as roupas e desci ao encontro do meu pai. Ele havia pedido pizza assim que havíamos chegado de viagem, ele era péssimo na cozinha, e eu sabia que era provável dele pedir alguma coisa para gente comer, mas eu sabia cozinhar, então ele não iria precisar mais gastar dinheiro com comidas nada saudáveis.

Assistimos a um filme e logo quando acabamos subi direto para o meu quarto, eu precisava descansar e dormir um pouco, talvez eu conseguisse, talvez eu chorasse, apenas talvez.. Essa seria a minha primeira noite longe da minha mãe.

***

Amanhã começará o meu primeiro dia na escola nova, um pouco de nervosismo apareceu em mim por não conhecer ninguém e ser quase metade do ano, e provavelmente ficar sozinha em uma escola totalmente desconhecida.

Ainda estava muito cedo, o relógio marcava 06:30 da manhã — normalmente eu me acordava depois das oito, mas aparentemente isso mudou. Meu pai ainda se encontrava em casa, o que significa que eu não iria tomar café da manhã sozinha — Isso era um verdadeiro alívio para mim.

O céu estava nublado, as cores cinzas e falta de nuvens marcavam presença no lugar, a rua estava vazia, não era mais movimentada como um dia já foi, o que me causava medo, calafrios e pensamentos involuntários sobre o porquê de ser tão calma agora. Além do jardim, meu quarto dava visão para uma pequena parte da floresta, onde eu costumava brincar um dia.

Meus olhos estavam parados em um ponto fixo da mata, algo me dizia que tinha alguma coisa naquele lugar, um pouco a fundo talvez. Eu estava fixada na parte mais escura da floresta, como se eu soubesse que algo fosse entrar ou sair de lá, e bingo, eu estava certa — Um garoto branco, aparentemente mais velho do que eu tinha acabado de entrar na floresta, como se estivesse fugindo e desconfiado de alguma coisa, suas vestes eram escuras, o que poderia camuflar fácil na escuridão da floresta — Involuntariamente, um sorriso travesso foi dado da minha parte, assim que o meu pai saísse, eu reuniria toda a minha coragem e iria atrás do garoto.

Ao descer as escadas o meu pai já se encontrava arrumando a mesa para o nosso breve café da manhã, a mesa continha — Pão, café, chocolate e um pedaço de bolo, que pelo cheiro eu diria que era de laranja, eu amava bolo de laranja.

— Caprichou na mesa hein, pai — Chamei a sua atenção e o mesmo desviou a atenção da mesa para mim.

— Não é todo dia que recebo uma convidada especial, isso era o mínimo que eu poderia fazer. — Disse vindo em minha direção e me dando um beijo na testa, como ele sempre fazia.

— Eu adorei papai, principalmente o bolo de laranja.

— Sempre foi o seu preferido quando criança, que bom que ainda gosta — Falou se sentando na mesa e eu o acompanhei

O nosso café foi silencioso, o que eu gostava, só assim evitava engasgos desnecessários, o que sempre acontecia quando ainda estava com a minha mãe. Eu ainda estava de pijama, mas logo depois do café, tomaria um banho e partiria para a minha aventura depois que o papai saísse.

— Voltarei cedo — Falou meu pai enquanto pegava as suas chaves — Evite ir para a floresta, não é segura mais.

Parecia que ele tinha lido a minha mente, mas era só uma coincidência, o que tanto estava acontecendo nessa cidade para as pessoas estarem desse jeito?

— Eu não irei. Mas porque exatamente eu não posso ir? — Minha curiosidade só aumentava em relação à floresta e à cidade.

— Corpos sem vida são encontrados diariamente na floresta, por isso quase ninguém anda saindo de casa nesses últimos três anos. — Ele girava a chave freneticamente como se tivesse apressado para partir para o trabalho.

— Eu não vou tomar o seu tempo, mas há três anos não foi o assassinato da família? — Perguntei, isso estava muito esquisito.

— Sim, desde então, mas os corpos são de pessoas que não estão ligadas à família são encontrados lá, algumas pessoas da cidade dizem que é a família que voltou do mundo dos mortos para fazer o filho pagar — Meu pai riu ao contar os rumores, mas quem estava morto não voltava mais.

— Compreendo, não se preocupe, ficarei no meu quarto assistindo o dia todo — O que na verdade era uma grande mentira.

— Então mais tarde eu irei te encontrar aqui, prometo voltar cedo. — Disse me abraçando.

— Não precisa pai, eu me viro sozinha, boa sorte no trabalho — Desejei e ele sorriu.

Assim que fechei a porta corri rapidamente para o quarto e separei uma roupa ideal para o clima — Uma blusa de manga cor de zebra, com uma calça moletom preta, apropriada para minha pequena investigação. A água estava numa temperatura agradável para o clima que fazia, não demorei muito no banho e nem para colocar as roupas, peguei a chave da casa que eu havia ganhado, coloquei minhas botas e rapidamente fui caminhando em direção a floresta.

Pisei em uma poça de água, na qual eu não tinha visto, e logo soltei um belo de um palavrão enquanto chacoalhava o pé, mas desde quando choveu e eu não percebi?

Continuei a andar, as casas eram velhas e desgastadas, o que não viam uma reforma a anos, talvez pelo medo que tinham pela cidade agora. As ruas vazias me traziam desconforto, como se as pessoas que ainda habitam naquele lugar não vivessem mais.

Mas a frente, a umas cinco casas depois da minha, havia uma senhora pendurada na sua janela gradeada olhando com um semblante assustado e desaprovado para mim, e assim que cheguei perto da sua casa, ela rapidamente fechou as janelas, qual era o problema dessa senhora?

Eu me aproximava cada vez mais da floresta, e a cada segundo que andava um frio diferente surgia na minha barriga, avistei uma placa de aviso coberta de lama logo a frente, assim que cheguei na floresta. Se fosse a Ester medrosa de alguns anos atrás, eu jamais teria feito isso, mas a curiosa que habitava em mim agora gritava mais alto. 

Eu me sentia uma super heroína a cada passo em que eu dava para dentro da floresta. Continuei a andar e a cada metro eu sempre me deparava com algumas flores, ervas medicinais e até mesmo árvores enormes, o que me chamou a atenção foi uma em que as flores eram brancas, pareciam mais de algodão.

Deixei-me levar pela curiosidade e quando percebi, já estava mais longe do que devia estar de casa e do começo da floresta, mas era só voltar reto, que eu achava o caminho, não era? O desespero tomou conta de mim, o céu se fechava ainda mais indicando que a chuva brevemente ia cair. Eu só via árvores, nem mesmo as flores eu estava vendo, até que um barulho me chamou a atenção e o desespero tomou conta do meu corpo.

Escutei folhas e galhos sendo pisados um pouco atrás de mim, era verdade o que meu pai havia dito, e por minha teimosia e curiosidade eu seria a próxima a ser encontrada morta na floresta. Me virei rapidamente e gritei assim que percebi que havia um rapaz logo atrás de mim, e o mesmo me olhou confuso.

— O que está fazendo aqui? — Perguntou rude ao mesmo tempo que sussurrava.

— É, eu vim pegar algumas ervas que faltavam na minha casa — Minha voz tinha um pouco de medo misturado com uma vontade enorme de chorar.

— As ervas ficam logo no começo, e por incrível que pareça, não estou te vendo com nenhuma. — Ele sorriu de lado enquanto se aproximava de mim, me fazendo dar um passo para trás.

— É que eu tive que deixar perto das árvores para pegar flores aqui perto. — Disse apontando em uma direção que eu nem sequer sabia se realmente tinha flores.

— Acho que você não vai gostar das coisas que tem naquela direção, não é tão interessante, mas se quiser, posso te acompanhar. — Sugeriu mesmo sabendo que eu estava mentindo.

— Não precisa, graças a Deus tenho um par de pernas e posso andar sozinha, mas agradeço — Sorri nervosa.

O garoto apenas me olhava como se quisesse descobrir o que eu estava fazendo na floresta, e realmente, eu estava aqui por pura teimosia. Eu estava com medo, mas eu jurava conhecer ele, ele não iria me machucar e isso eu sabia.

— Vem, vou te levar de volta para fora daqui. É perigoso, sua família não te avisou não? — Disse agarrando o meu braço e olhando atentamente para os lados, como se estivesse com medo de alguma coisa, mas também me puxando forte.

— Me solta, você está me puxando forte! — Tentei soltar o braço, mas foi em vão. Assim que os seus olhos encontraram os meus, senti um pequeno conforto e soube que ele não iria me machucar.

Ele continuava a me puxar rápido, o que me fazia dar leves tropeços, com certeza eu iria ficar com a perna machucada. A cada passo longo que dávamos, pude ver o final da rua se aproximando, eu estava finalmente saindo da floresta.

— Não entre mais na floresta, ela não é para garotas como você! — Soltou meu braço bruscamente e ia seguindo pelo beco para a rua que tinha atrás da minha e também a última.

Minha vontade era de bater nele até ele perder a consciência, mas ele havia me ajudado e o mínimo que poderia fazer era agradecer e perguntar o seu nome, mas antes que pudesse, ele já tinha feito.

— Qual é o seu nome? — Ele perguntou enquanto parava no meio do caminho.

— Ester — Falei olhando para as minhas botas — E o seu? 

— Davy, Davy Williams — Ele me olhou nos olhos ao falar o seu nome, e eu sabia que já o conhecia, ele era o principal suspeito pelo o assassinato da família, e o irmão da menina que eu mais brinquei um dia. — Volta para casa, ficar aqui não é seguro para nós. — Continuou depois de me olhar e desapareceu em seguida.

Corri pela rua em direção a minha casa, da próxima vez, irei escutar tudo o que meu pai falará, eu sabia que a minha curiosidade um dia me levaria a perdição, mas seus olhos pareciam esconder algo e eu faço questão de descobrir o que é.

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