O Ceifador de Anjos - Antes da Coleção
O Ceifador de Anjos - Antes da Coleção
Por: JulieteVasconcelos
Capítulo 1

Muita coisa mudou na vida de Jenna Hughes desde a morte de seu marido Victor Hughes. Embora o tivesse perdido de forma trágica em um acidente de carro há um ano, a dor que sentia por sua perda se fazia presente todos os dias. Assim, de família sempre feliz, com saídas frequentes para restaurantes e reuniões com alguns casais amigos da família, Jenna se isolou da sociedade como se as responsabilidades que lhe foram deixadas não permitissem que tivesse tempo para ter a vida social a qual  era acostumada.

Victor era um bancário bem-sucedido, amava a esposa, quem ele namorou anos antes de finalmente decidir casar. Foram muito felizes, até que infelizmente, ao retornar para a casa numa segunda-feira à tarde, o motorista de um pequeno ônibus se perdeu e atingiu seu veículo de frente, matando-o instantaneamente e deixando sua jovem esposa e um filho de apenas dois meses.

O filho Vincent era o único consolo que Jenna tinha. Agora com pouco mais de um ano de idade, ele nem sequer teve tempo para desfrutar do amor paterno que Victor tinha a oferecer. De qualquer forma, Jenna reconhecia em seu pequeno algumas semelhanças com o pai, como se seu amado marido ainda vivesse através do filho.

Por vezes, Jenna lamentava não somente sua perda como esposa, mas também a do filho que cresceria sem um pai, o homem que sempre fora tão maravilhoso para com ela. Juntos, eles planejaram e ansiaram pela chegada do bebê, onde o pequeno Vincent era a realização de um sonho para ambos, mas infelizmente, Victor não pôde vivê-lo tão plenamente, deixando para a esposa o encargo de educar sozinha o filho e administrar seu patrimônio.

Assim como Victor, Jenna era de uma família nova iorquina abastada, e tendo ela herdado os muitos bens conquistados por seu falecido marido, poderia viver confortavelmente pelo resto da vida sem que precisasse trabalhar, de forma que poderia se dedicar exclusivamente aos cuidados do seu filho.

Fora a casa em que residiam em Nova Iorque, eles possuíam outros imóveis, até mesmo no Estado da Califórnia, mais especificamente, na cidade de Los Angeles, para onde costumavam sempre viajar.

Em nenhum momento a jovem viúva pensou em ter um novo relacionamento, e apesar de imaginar o quão difícil seria criar uma criança sozinha, não tinha nenhuma vontade de ter outro homem em sua vida. Jenna não se fechou para o amor, simplesmente não acreditava que poderia amar outro homem como amou Victor.

O garoto era, com certeza, o bem mais precioso que Jenna possuía, alguém por quem ela faria qualquer coisa para que fosse sempre feliz, pois o amava acima de tudo. Assim, vivia exclusivamente para ele. Após a morte do marido se afastou dos amigos e dos parentes com quem antes mantinha contato, usando a desculpa de que Vincent precisava da sua atenção, tomando todo seu tempo.

Quanto ao pequeno, sempre foi bastante esperto, andou e pronunciou suas primeiras palavras muito cedo, dada dedicação da sua mãe para o seu desenvolvimento. Logo ele já corria desenvolto pela casa, apesar dos tropeços diários, algo bastante comum para uma criança saudável.

Vince não possuía qualquer traço marcante excepcional, nada que chamasse demasiada atenção, como cabelos louros ou em cachos ou olhos claros, pelo contrário, apesar da pele clara, seus cabelos lisos, assim como os olhos, eram pretos. Em seu rosto se fazia presente sempre uma expressão serena ou alegre, em que seu sorriso, por vezes arteiro, era encantador, parecia iluminar a sua face, cujos olhos pareciam sempre brilhar. Vincent sempre fora um menino feliz.

Toda e qualquer alegria que Jenna desfrutava em seu dia a dia vinha do pequeno, fosse por suas inúmeras artes, por seu pequeno e engraçado vocabulário ou mesmo por suas várias demonstrações de afeto e carinho. A senhora Hughes não dispensava cuidados e mimos ao filho que lhe retribuía sempre com muitos sorrisos.

— Obrigada. Tenha um bom dia, James! — disse Jenna para o caixa enquanto apanhava as sacolas e as colocava no carrinho do mercado, no qual Vincent estava acomodado no suporte infantil que imitava um bebê conforto.

— Eu quem agradeço, senhora. Bom dia para vocês também! — falou com um sorriso, e voltando sua atenção para o menino: — Até mais, garotão!

O menino pareceu não ouvir, pois estava entretido tentando alcançar as alças das sacolas plásticas.

Jenna seguiu para o estacionamento, ao chegar no carro abriu o porta-malas e depositou nele as compras que tinha acabado de fazer.

— Vamos para a cadeirinha, meu amor — disse tirando o menino do carrinho e colocando-o dentro do seu carro, ajustando os cintos da sua cadeirinha. — Tome, querido! — falou entregando para Vincent um pequeno cubo colorido de brinquedo que imediatamente ganhou a atenção do menino.

— Vamos para casa, vou preparar aquela sopa que você adora — disse enquanto fechava o próprio cinto de segurança, ligando o carro em seguida.

Jenna seguiu em direção à sua casa, a umas oito quadras do pequeno mercado que frequentava, já estava na metade do caminho quando algo inesperado aconteceu. Ao passar o cruzamento, cujo sinal estava aberto para ela, o motorista de uma van se precipitou na passagem, e mesmo tentando frear, atingiu a lateral do seu carro, empurrando-o por mais de um metro.

O impacto a assustou, pois nem sequer o viu acontecer, simplesmente ouviu o estrondo quando a van já estava sobre ela.

Jenna tremia enquanto soltava o seu cinto e tentava acalmar o filho, que chorava desesperado e assustado. Assim que conseguiu sair, abriu a porta de trás e tirou seu filho de dentro do veículo, abraçando-o preocupada, ao mesmo tempo em que lágrimas escorriam de seus olhos, lembrando que seu marido morrera em um acidente daqueles, uma bobeira e praticamente no centro da cidade. Tal lembrança pareceu sufocá-la.

Logo o susto deu espaço para sua raiva, sentindo-se uma vítima de um motorista estúpido e inconsequente. O sentimento aumentou quando olhou na direção da van e viu um rapaz falando no celular. Com a criança no colo foi na sua direção e bateu na porta da van, mandando-o abrir, totalmente transtornada, pisoteando a variedade de flores que se espalhara pelo chão.

— Abra, seu idiota, irresponsável! — gritou, enquanto o rapaz, nitidamente assustado, fez gestos indicando que ia abrir a porta.

— S-senhora, eu sinto... — gaguejou o rapaz.

— Você quer nos matar? — esbravejou ela com o menino mais calmo em seus braços.

— Não, não foi a intenção — respondeu o motorista.

— Olha o que você fez no meu carro! E quase matou a mim e meu bebê... — Apontou Jenna, histérica.

— Me desculpe, por favor, me desculpe — disse ele, nervoso.

— Te desculpar? Tenta nos matar enquanto fala no celular e ainda tem coragem de pedir para te desculpar? Você é retardado, por acaso?

— Senhora... E-eu sinto muito, eu me descuidei, não vi o sinal fechar... — tentou se explicar.

— Claro, é cego ainda por cima.

— Senhora, vocês estão bem? — indagou um policial se aproximando.

— Sim, mas esse babaca tentou nos matar — respondeu apontando para o motorista.

— Sinto muito, policial. Juro que não foi minha intenção.

— Quero ver seus documentos, e nos diga, o que aconteceu, rapaz? — questionou outro policial.

— Bem, eu faço entrega de flores... — respondeu tirando a carteira do bolso e procurando pelos seus documentos, entregando-os logo.

— Nem imaginamos — falou o policial com ironia, olhando para a van personalizada em que se via flores estampando todo o veículo, fora que, o impacto fez as portas traseiras se abrirem, arremessando para fora alguns buquês e arranjos florais que se espatifaram, mesclando botões e pétalas de rosas, com orquídeas, margaridas e outras flores, formando um tapete colorido no chão.

— Eu tava confirmando o endereço para a próxima entrega, não vi o sinal fechar e então... foi tão rápido!

Jenna parecia cega, tamanha sua indignação e raiva, pareceu não perceber que alguns veículos pararam devido o acontecido e que alguns curiosos se aproximavam. Também não tinha visto a viatura chegar.

— Esse idiota deve ter comprado a carteira! — Jenna falou alto. — Vou te processar por esse "descuido"! E processar essa floricultura, que contratou um aprendiz de motorista, um "moleque" para trabalhar! — fuzilou o rapaz com o olhar.

— Não, por favor! Senhora, lamento o que aconteceu, mas podemos resolver tudo aqui, sem mais delongas — constatou num tom firme uma voz masculina, fazendo Jenna e os dois policiais se viraram para ver o homem que se intrometia na conversa.

Ele era alto e usava um terno escuro, cabelos castanhos com corte militar, pele branca e porte atlético, os olhos verdes atraíam toda atenção. Apesar da seriedade com a qual falava, mostrava-se calmo e sustentava um sorriso simpático para os presentes.

— Quem é o senhor? — perguntou um dos policiais.

— Desculpem-me por chegar assim, vim apressado assim que esse... garoto — apontou para o motorista da van — me ligou contando o ocorrido. Sou Richard Wilson, proprietário da floricultura e do veículo! — declarou entregando seu documento para o policial.

— Você é quem vai se responsabilizar por esse irresponsável!? — indagou Jenna, mais calma.

— Eu mesmo, senhora...?

— Hughes, Jenna Hughes!

— Muito prazer, senhora Jenna! Realmente lamento o que aconteceu e pelo que você e seu filho acabaram de passar. Garanto que vou tomar providências. Quanto ao prejuízo com seu carro, não vou fugir da responsabilidade. Peço que não nos processe, foi um terrível acidente, mas não temos porque nos desgastar ainda mais por isso — falou com sinceridade.

— Ok, tudo bem — respondeu Jenna.

— Se estão entendidos, troquem logo as informações necessárias e sigam seus caminhos — ordenou o policial após registrar o ocorrido e devolver os documentos do rapaz e de Richard, retornando para a viatura, seguido por seu parceiro.

Enquanto o rapaz saía com a van, Jenna foi até seu carro com Vincent a tiracolo, pegou sua bolsa, e dela, retirou um cartão com seu número de telefone, retornando até Richard, que naquele momento, segurava um botão de rosa que apanhara do chão.

— Aqui está — falou estendendo-lhe o cartão, ao que ele pegou imediatamente, pondo-o no bolso do paletó, em seguida, ofereceu-lhe também seu cartão, o que Jenna apanhou.

— Olhe, é para você! — falou ele, estendendo-lhe o botão de rosas, o que Vincent tentou apanhar, mas ela se afastou, impedindo-o.

— Sério? Está me oferecendo uma flor, depois de tudo isso? — questionou indignada.

— Sinceramente, te ofereceria um buquê, mas como pode ver... — falou apontando para as flores espatifadas no chão.

— Meu Deus! Precisamos sair daqui, pois isso pode ser contagioso! — falou irritada e dando as costas para Richard, indo na direção do seu carro.

— Senhora, assim que eu resolver tudo com o seguro, eu te ligo — Richard falou alto, ainda com a flor nas mãos, vendo-a se afastar.

Jenna não respondeu, abriu a porta do carro ignorando a lataria amassada, pôs o seu filho na cadeirinha, entrou em seguida e saiu acelerando.

Aquela manhã fora estressante demais, Jenna sabia que os próximos dias também seriam, já que teria que falar com aquele homem até que ele arcasse com todos os prejuízos que lhe eram devidos.

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