Capítulo 2

— Solte-me. — Ordeno a ele, mas de nada adianta.

— E por que eu faria isso? Estou gostando dessa proximidade. — Ele se aproximava cada vez mais, o cheiro do seu perfume me deixa tonta, eu não consigo entender como posso me sentir atraída por alguém que ia me machucar, se é que ainda não vai me machucar. Tento recuar, mas, estava imprensada entre ele e a mesa.

— Non toccarmi! (Não me toque!)

— Sei bellissimo la mia piccola. (Você é linda minha pequena). — Ele me acha linda. De alguma forma esse pensamento me alegrou.

— Não sou tão pequena. — Não posso ser fraca e deixar esses homens fazerem o que querem comigo. Onde está o meu orgulho? — Afaste-se de mim, senhor.

— Você não manda em mim, ponha-se em seu lugar. — Ele parecia irritado com meu comportamento. — Eu não lembrava que as brasileiras eram tão difíceis. — Eu não me surpreendo de ele falar português, nem de saber que sou brasileira, faz tempo que estou falando português, mas, não tinha notado que ele me entendia. — Ainda mais uma facile donna. — Ele completa em italiano.

— Eu não sou uma mulher fácil...

— Como não? Meu primo é tão bom de cama que você me rejeita? Quanto ele te pagou? — Dessa vez ele foi longe demais. Empurro meu joelho com tudo, o fazendo recuar de dor. Quem ele pensa que é, me ofendendo dessa forma? Idiota como sou, ainda pensei em ceder as suas investidas.

— Por que fez isso?

— Porque não sou suas vagabundas. Não me toque.

— Você vai se arrepender por ter feito isso. — Senti meu corpo todo se arrepiar, mas dessa vez de medo. Ele não me parece uma pessoa que faz ameaças à toa.

— Eu quero ir embora. — Digo me sentindo cansada de repente. Seu rosto parecia uma máscara sem expressão nenhuma.

— Faça como quiser, mas, não pense que vai se livrar de mim, você agora me pertence.

— Eu não sou de ninguém, eu sou dona de mim. — Falei assustada.

— Tarde de mais. — Ele diz com ironia. — Quem mandou vir até mim?

— Não tive muita escolha...

— Isso é conversa. — Que homem arrogante, onde fui me meter meu Deus? Onde fui me meter? Que arrependimento por ter saído à noite passada, você é uma estúpida Cecile por fazer as vontades de Lívia.

Lívia é a minha melhor amiga, todos os dias conversamos pelo Skype e noite retrasada, ela me convenceu a sair. Mesmo longe, ela pode ser convincente quando quer.

— Imagine-se em meu lugar. No momento em que alguém se aproxima, flertando com você, mas, quando você menos espera esse alguém te empurra dentro de um carro e te força a entrar em um hotel, onde outro alguém te força a fazer o que você não quer.

— Eu não forcei você a nada.

— Se dizer isso o faz sentir-se bem quando deita sua cabeça no travesseiro. Você é igual a Jonas, duas pessoas aproveitadoras.

Meu Deus, o que me levou a dizer isso? Ainda em voz alta.”

Eu nem conheço esse cara.

E nem quero conhecer.”

 Tudo bem que eu queria ofendê-lo, mas, o que causou foi totalmente o contrário.

— Abbastanza (Já chega). — Ele grita em italiano me fazendo encolher e recuar de medo. — Nunca mais me compare a esse homem.

Acho que fui longe demais.”

— Mattias? — Ele chama alguém. Um homem alto e atraente, de cabelos castanho claro em um terno preto feito sob medida aparece na sala. — Mattias, leve essa mulher daqui. — Ele falava como se eu não estivesse aqui e de alguma forma aquilo me magoou.

— Para onde Andrew? — Ele falava sem formalidades, deve ser alguém bem intimo.

— Para casa dela. — Eu quase suspirei de alívio. — Agora me deixem sozinho.

Ele não precisou pedir duas vezes. Saí sem olhar para trás. Uma parte de mim quer vê-lo novamente, mas, a outra metade, quer que eu fique o mais longe possível desse homem.

— Mattias, você não parece Italiano. — Digo, já no carro, um utilitário prateado. Passo meu endereço a ele e vamos embora.

— Sou brasileiro. — Ele afirma me deixando surpresa.

— Eu também sou. — Respondo a ele em português.

— O que me denunciou? — Ele pergunta com um sorriso descontraído.

— Seu sotaque. — Digo retribuindo o sorriso. — De qual parte do Brasil você é?

— Do Nordeste da Bahia, um interior chamado Retirolândia.

— Eu sou de Salvador, moro em Brotas. Fico feliz por conhecer alguém do meu estado.

— Eu também. — Ele afirma.

— Como você veio morar na Itália, Mattias?

— Um homem foi até Ritirolândia e atraiu vários jovens, alegando ser de uma agência de moda, eu nem estava presente no dia. Mas, esse homem me viu na rua e disse que eu tinha o perfil e convenceu minha família. Eu nem queria vim, só tinha 16 anos na época, eu pensava em namorar, terminar os estudos e ir para a faculdade. Mas era tudo mentira da parte dele, no momento em que chegamos aqui, ele nos forçou a se prostituir. — Fiquei abismada com o que ele disse.

— Sinto muito Mattias...

— Tudo bem, já é passado. — Ele diz com uma facilidade. — Fiquei nessa vida por seis meses, consegui fugir e comecei a passar fome, foi quando conheci Andrew, eu tentei roubá-lo. — Ele diz com um sorriso nos lábios. — Eu contei tudo a ele, ele me ajudou e ajudou a todos os outros jovens também, viramos amigos.

— Meu Deus, você passou por tanta coisa. Por que não voltou ao Brasil depois que ele te ajudou?

— Ele me fez uma proposta.

— Qual?

— Ele me ajudaria a terminar meus estudos e fazer minha faculdade de administração, em troca trabalharia para ele.

— Como motorista? — Pergunto incrédula.

— Não, sou seu braço direito, assistente executivo, a única pessoa que ele confia. — Ele completa com orgulho.

— Você falando assim parece até que esse homem é uma boa pessoa.

Aquele idiota mandão, delicioso.”

Que pensamento foi esse? Pare de pensar nesse cara Cecile, esse homem a humilhou, te tratou mal.

— Ele não é ruim depois que você o conhece.

— Sei. — Digo não acreditando no que ele diz.

— Ele só está com raiva. — E o que eu tenho a ver com isso? — Você estava com Jonas, eles dois são inimigos. — Ele faz uma expressão estranha, acho que ele falou demais.

— Eu não estava com Jonas, não no sentido que ele imagina, Jonas me sequestrou. Mas nem sequer aquele homem escutou o que eu disse, aquele troglodita. — Ele apenas sorrir para mim. — Por que o senhor Castillo é inimigo de Jonas? — Por um instante ele me pareceu desconfortável mais uma vez.

— Isso você terá que perguntar a ele.

— E a sua família Mattias? — Decido voltar ao nosso assunto de antes.

— Eu nunca contei a eles o que se passou comigo, eles iriam sentir-se culpado. Todo mês mando dinheiro para eles.

— Moram em Retirolândia ainda?

— Sim, não querem sair de lá por nada. — Ele diz sorrindo e eu retribuo o sorriso. — E você?

— O que tem eu?

— Eu falei muito sobre mim, mas não sei nada sobre você.

— Verdade, agora nem dá mais.

— Por quê? — Ele pergunta não entendo nada.

— Já chegamos.

— Verdade.

— Tome meu w******p, vai ser bom ter um amigo aqui. — Tiro um pedaço de papel e uma caneta dentro de minha bolsa e escrevo meu número, em seguida entrego a ele. — Agradeço a carona, Mattias. Ele sai, faz à volta no carro e abre a porta para mim. Dou dois beijos, um de cada lado de sua face e saio.

Mattias até que é bonito e atraente, mas, aquele homem não sai da minha mente, me sinto uma idiota.

— Quem ele pensa que é? — Digo em voz alta, entrando e batendo a porta com força. — Espero nunca mais vê-lo.

Vou até meu quarto, coloco minha bolsa no guarda roupas, meus saltos no sapateiro e vou até o banheiro, me despindo. Tiro a roupa e jogo no cesto de roupas sujas. Tomo um banho frio, me sinto cansada, já passa das oito da manhã e ainda não dormi, daqui a pouco tenho que ir para a faculdade.

Vou estudar um pouco. Assim que termino o banho vou até a sala, ligo meu notebook, caminho até a cozinha para pegar uma maçã na fruteira e volto para a sala e começo a estudar.

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