O Culto

Tinha chegado o domingo, o dia do primeiro e maldito culto de Hyldon Wolfgang como pastor daquela igreja no fim do mundo. Depois de uma longa oração e uns dez minutos de hinos, o então presidente da igreja Rhodolfo Hubner chama Hyldon Wolfgang a frente no púlpito e apresenta, ele, sua mulher e seus filhos aqueles fiéis que lotavam aquele templo.

- Irmãos esse é o nosso novo pastor, o irmão Hyldon Wolfgang de Caxias do Sul. – Disse. – E também tem a sua esposa a irmã Rebeca e seus filhos Kimberley e Celso. – Apresentou eles a frente.

As pessoas ali dentro se levantaram. Hyldon nem podia crer que tinham tantos fiéis naquele lugar. Era se como toda a cidade fosse membro daquela igreja. Será que não haviam outros grupos religiosos naquele lugar? Eles o saldavam com alegria. Ele estava feliz, eram os seus fiéis. Suas ovelhas, nada de outro pastor para lhe dar ordem. O que ele quisesse fazer naquele lugar ele faria. Sem ninguém pra lhe encher o saco e podar suas leis. Ele era o pastor principal agora.  De pé ali parado com a sua bíblia embaixo do braço, ele curtia aquele momento com um sorriso no rosto. Era um sentimento muito bom. 

Rebeca por sua vez ali parada de pé, vendo aquele mar de gente batendo palmas para eles, não conseguia ter o mesmo sentimento do marido. Ela [Rebeca] sabia quem Hyldon Wolfgang era realmente. O quão egoísta, egocêntrico e mesquinho, aquele homem era. Os vinte e dois anos de casado haviam lhe dado a verdadeira face de seu marido. Hyldon usava uma mascara de boa pessoa, só que para ela, não era bem assim. Ele [Hyldon] era um lixo de pessoa. Violento e mentiroso. Um ser humano da pior espécie.  Ele fingia ser bom; ele fingia ser serio; ele fingia ser um exemplo de marido; fingia ser um pai legal e ele fingia ser um pastor! Para ela, se seu marido tirasse a mascara as pessoas iriam ver o verdadeiro monstro que ele era. 

Kimberley sorrindo, apenas queria poder fumar um “baseado” e sair logo dali. Odiava a religião! Odiava a seu pai! Vivia sendo forçada a viver uma vida que não era dela. Ela odiava ter que cantar nos cultos! Odiava ter que ensaiar para cantar nos cultos! Preferia mesmo uma boa noitada regada a sexo e drogas. Sem o compromisso de ser a bosta da filha do pastor. O tempo que foi obrigada a passar na clinica de recuperação tinha apenas feito aumentar esse ódio! Por que ela não mandava todos ali a “merda”? Ela [Kimberley] não sabia responder. Só sabia que naquele domingo de manha, o que menos queria era estar ali bancando a palhaça na frente daqueles hipócritas religiosos.

- Seja bem vindo pastor Wolfgang! – Exclamou o velho apertando a mão de Hyldon.

- Obrigado irmão Hubner. – Disse Hyldon sorridente. – É um prazer para mim e minha família assumir esse trabalho na obra de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo na cidade de Galpões! – Argumenta fitando aquelas pessoas de pé ainda. – Eu trago uma saudação da primeira igreja batista alemã de Caxias do Sul, para todos os irmãos aqui! – Continuou. – E meu coração está regozijado na graça de nosso deus, para assumir de acordo com sua vontade essa obra magnifica! – Era habitual essa puxada de saco para ele. – E como eu disse minha família e eu estamos contentes de estar aqui convosco. – Completou.

Rebeca discordava do marido. Ela não estava contente de estar ali naquele fim de mundo. Não tinha nada para fazer naquele maldito lugar. As pessoas pareciam ter parado no tempo, não havia onde ir e ainda por cima ainda tinham aqueles corvos do inferno. Eles [os corvos] lhe assustavam. Aquela semana ela tinha passado toda assustada com aquelas aves voando por cima de sua casa. Isso verdadeiramente a deixava assustada.

- Realmente estamos felizes pastor com a sua chegada! – Disse o velho fitando aquela família ao seu lado. – Foi uma perda muito grande para a nossa igreja a morte de nosso querido pastor Marcos Rodduit, mas agora nossa alegria voltou com a sua presença pastor Wolfgang! – Argumentou. – Esperamos que o senhor se adapte rápido e que goste de nossa pequena e aconchegante cidade! – Concluiu.

- Obrigado irmão, estamos orando para isso! – Retribuiu Hyldon, com seu terno bege e sua bíblia em baixo do braço.

- Amém! – Concorda o velho.

O culto logo segue seu cronograma normal. naquele culto Kimberley não foi obrigada a cantar, mas teve de ouvir outros cantarem. E aquela meia hora de pé cantando aqueles corinhos chatos! Ela morria de tédio naquela hora. Queria na verdade era mexer em seu celular e não cantar aquelas musicas depressivas e chatas. Deus devia dormir ouvindo aquelas musicas! Se ela fosse deus se matava de depressão ouvindo aquelas musicas tristes! Só depressão! Depois de meia hora de tortura com aqueles cânticos, seu pai sobe ao púlpito para torturar mais com suas pregações hipócritas sobre o amor de deus.

- Irmãos estou muito feliz de estar aqui hoje e gostaria de pedir para os irmãos abrirem suas bíblias em Josué capitulo 24 e versículo 15 onde está escrito: “...porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor. ” – Disse Hyldon lendo o versículo em questão apoiando a bíblia sobre um púlpito que tinha a imagem de uma cruz de vidro no centro. Era um púlpito de madeira rustica e pintado com verniz. – Irmãos hoje em dia passamos por um tempo em que as pessoas tendem a ser mais incrédulas, elas parecem que não querem nada com a santa palavra de deus! – Argumentou. – Essas pessoas constroem famílias sobre a mentira, sobre o desamor e sobre a falta de deus em suas vidas. Elas não amam a suas famílias...

- “Que hipocrisia”! – Pensou Kimberley. Seu pai era o menos instruído a falar  sobre amor familiar. Se ela bem se lembrasse, ele a tinha mandado pelo menos duas vezes para a emergência do hospital quando era criança por surras que ele [Hyldon] deu nela. Uma vez ele chegou a quebrar a perna direita dela com um cabo de vassoura. Ele não poderia estar falando em amor familiar.

-... Quem ama a sua família, leva ela para perto de deus. Temos que poder dizer o que Josué disse: “...eu e a minha casa serviremos ao Senhor”! – Pregoava Hyldon com ênfase. 

Rebeca também não conseguia sentir verdade nas palavras daquele homem. Ela [Rebeca] já tinha se arrependido mil vezes por ter casado com ele. Ainda mais depois das surras que tomou dele e as surras nas crianças, essas eram piores. 

- “Desgraçado”! – Pensou ela.

Não tinha explicação dele agir daquele jeito com eles.  Hyldon só podia ser louco, ele não podia ser normal. Parecia sentir prazer em surrar ela e os filhos quando estava estressado. 


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