Olá, inocência!

Kate, com lágrimas nos olhos levanta a saia, e tentando ignorar todos os comentários ofensivos abaixa a cabeça e ruma para sua casa. Mas antes ela sente um par de olhos lhe observando, quando ela olha vê Liza a encarando com um olhar culpado e um pouco envergonhado.

No Caminha para casa, Kate reflete sobre tudo o que aconteceu. Ela não consegue entender o porquê de sua irmã não a ter defendido, ela é sua irmã mais nova, por mais que Liza tivesse aquele jeito grosso com ela em casa, Kate continuava sendo sua irmã, e como tal, não merecia a proteção dela?

— Kate, já chegou? — sua mãe pergunta ao perceber que alguém adentrou pela porta.

— Sim, mãe. — a menina responde ainda chateada.

— Vem aqui me ajudar com Bernardo enquanto eu termino o almoço. — Amália pede já agoniada por o almoço estar atrasado e o seu filho mais novo estava muito traquino naquele dia.

— Vem Ber. — A menina chama sem ânimo, Bernardo olha para ela e sai correndo em sua direção. Kate observa que ele está com um roxo em um lado da bochecha e um "galo" na testa, consequência da queda do dia anterior. Ela se sente mal pelo que aconteceu com o irmãozinho, e se culpa por não ter prestado mais atenção.

— O que houve filha, porque está com essa carinha desanimada? — Amália pergunta, mas quando Kate lhe encara ela está de costa mexendo uma panela.

— Nada não mãe, só não gosto de ver esse machucado no rostinho do Bernardo. — falou a verdade, mas não era só por isso sua chateação.

— Daqui a pouco melhora filha, só tente cuidar melhor do seu irmão na próxima vez. — Amália diz de modo carinhoso. Mas o coração de Kate se aperta ao lembrar que sua irmã raramente cuida dela, e hoje viu todos os outros alunos rirem dela e não fez nada.

— Mãe, porque a Liza foi para escola hoje cedo? Ela não estuda só a tarde? — Kate pergunta ao lembrar que sua irmã nem sequer estuda na parte da manhã.

— Ela tinha trabalho para fazer, foi estudar com a Carol, acharam melhor se encontrarem na escola.

Kate estranhou, pois, não viu a prima na escola, mas achou melhor ficar calada, talvez Carol estivesse em alguma sala quando ela saiu por isso não a viu. Carol era irmã de Lorena, ela gostava da prima apesar de ser mais nova. Carol sempre bagunçava os cabelos dela e a chamava de pirralha, mas Kate sabia que ela falava com carinho então não ficava chateada.

— João, João. — Kate desperta dos seus devaneios quando Bernardo sai correndo ao ver João chegando.

— Boa tarde, gente! — João fala pegando Ber no colo.

— Boa tarde, sumido. O que aconteceu por não ter aparecido nunca mais? — Amália pergunta ao amigo.

João tem por volta de 50 anos é amigo da família desde antes de Kate nascer, todos gostam muito dele e quando ele passa dois dias sem aparecer todos falam que ele sumiu e nunca mais apareceu. É considerado como um membro da família, muito querido pelos pais e principalmente por Bernardo e Kate.

Amália terminou o almoço e colocou a comida dos pequenos, todos almoçaram felizes. Liza não voltou para o almoço e Maurício foi sozinho para a escola. Adolfo voltou para seus afazeres e quando João disse que iria embora Bernado disse que também queria ir, após uma grande discussão que acontecia sempre quando ele vinha visitar aquela família, foi decidido que Kate e Bernardo iriam passar a tarde na casa do amigo. Os três montaram na moto velha da cor azul, e foram felizes e barulhentos para o sítio que não ficava muito longe dali. João morava sozinho, não tinha mulher nem filhos, ele dizia que sua família era seus amigos, e ele era muito bem-vindo nessa família!

— Chegamos. — ele fala e os sapequinhas descem fazendo a festa brincando com o cachorro que o amigo criava.

Bernardo se envolveu com o papagaio que eles carinhosamente chamavam de Loro, entrou em um espaço cercado por tela e ficou conversando com o papagaio que repetia tudo o que o menino falava. Kate foi para o quarto de João ligar um rádio que tinha em cima de uma estante. Quando ela se virou João estava olhando para ela, a menina não se importou e continuou mudando a faixa, de repente ela estranhou quando o homem chegou mais perto se encostando nela.

— Não está encontrando a rádio Kate? — ele pergunta alisando o braço dela.

— Hoje está falhando. — responde tímida.

— É porque está chovendo muito ultimamente. — ele fala levando a mão nos peitos dela. Kate se contorceu desconfortável, mas ele passou as mãos carinhosamente fazendo um "xiii" baixinho e descendo as mãos cada vez mais para baixo.

A menina não entendia o porquê dele a tocar, apesar de ela ainda não ter seios grandes ela sabia que não podia ficar sem blusa, e se não podia ficar era porque ninguém podia olhar, e se não podiam olhar então não podiam tocar. Ela se assusta quando João enfia a mão por dentro de sua saia, e massageia por cima de sua calcinha em um ponto onde ninguém nunca tocou. O homem a massageia e aproxima sua bunda ainda mais perto dele, quando ela sente ele afastando sua calcinha, escuta a porta da cozinha batendo, ele retira a mão e se afasta rápido antes de Bernardo entrar no quarto chamando a menina para ver algo no quintal. Kate está assustada, mas João a pede para não contar nada para ninguém, fala que como ele é amigo de seus pais ele não fez nada de errado. Kate assente e sai correndo indo ao encontro de seu irmão.

Os garotos brincam o resto da tarde toda, em um certo momento João os chamam para lanchar e apesar das desconfianças de Kate, ele não a tocou mais. Pelo contrário, os trataram bem, colocou um filme para os meninos assistirem e assistiu com eles, dando risada e comentando sobre algumas partes. Kate, com o passar das horas foi esquecendo o desconforto que sentiu naquela outra situação, e feliz já brincava com João como se nada tivesse acontecido, como ele mesmo falara eles eram amigos desde sempre, ela não iria ficar com raiva dele por algo que ela nem mesmo entendeu.

Kate chegou em casa e foi direto para o banho, João ficou mais um pouco e depois se despediu dizendo ter que dar comida aos seus animais antes de a noite chegar. Quando saiu a mãe lhe perguntou como foi sua tarde, ela disse que foi muito boa, brincou bastante com Totó, o cachorro de João, e assistiu a um filme muito bom que ele colocou na TV. A mãe observou que a menina estava indecisa em dizer algo a mais, porém nesse momento seu filho mais novo entrou chorando dizendo que caiu e fez dodói na perna, Amália então foi ajudar seu filho e depois pôr a comida na mesa para a família.

Após todos jantarem Kate se retirou para seu quarto dizendo estar cansada da tarde, ela se deitou e alguns minutos depois percebera que a porta se abriu, ela então ficou quieta e mudou a respiração para a mãe acreditar que ela já estava dormindo, Amália entrou, cobriu a filha com a coberta, lhe deu um beijo no topo de sua cabeça, e falou baixinho.

— Dorme com Deus, meu anjinho. Sonhe com flores e todas as coisas lindas do paraíso. — E saiu fechando a porta.

Mas Kate não sonhou com flores e todas as coisas lindas do paraíso, ela sonhou com o inferno e todas as coisas feias que ele poderia proporcionar a uma criança de sete anos prestes a perder sua inocência.

                          🌺

No outro dia Kate acordou cedo, assustada com os pesadelos da noite anterior ela pulou da cama, Amália acabara de acordar e se assustou quando a filha a abraçou pela cintura.

— O que houve, meu amor? — Amália diz a abraçando.

— Benção, mãe! — a menina diz ainda abraçada a mãe.

— Deus te abençoe, minha filha! — Amália responde. — porque já está acordada?

— Um sonho ruim. — ela diz se assentando na mesa do café da manhã.

— Sonhos ruins só são isso meu docinho, sonhos ruins. — Amália diz confortando a menina, e Kate se anima com a resposta da mãe. — agora vá escovar porque você está bafante. — Amália fala fazendo cócegas na filha. Kate se esquiva rindo e sai correndo para o banheiro.

Após fazer sua higiene matinal, tomar seu café da manhã e se arrumar, Kate pega sua mochila e parte mais um dia para sua escola. A menina como sempre vai distraída brincando com todo tipo de bichinho que encontra pelo caminho. Corre atrás das borboletas, colhe flores, desvia de vacas, e cantarola, e pula até chegar na velha escolinha que já está cheia de alunos.

Kate sempre gostou de sua escola, a garota ama as aulas de artes, português e ensino religioso, mas a matéria que mais gosta mesmo é história, ela é apaixonada nessa matéria, ama descobrir sobre possíveis teorias e estudar sobre os antepassados. Apesar de estar na terceira série sempre foi muito desenvolvida, sua professora já até falou sobre a possibilidade de passar ela para uma série mais avançada. Porém, enquanto isso não acontece, a garota vai continuar na sua turma.

— Bom dia, Kate! — a professora a cumprimenta.

— Bom dia, Dona Rosa! — ela responde sorridente. E entra para sua sala, sentando na sua carteira preferida, a da primeira fileira. Gostava de se sentar na frente, pois assim fugia da zoada que os coleguinhas faziam no fundo da sala, e conseguia prestar mais atenção nas aulas. Amava conhecimento, sempre tirava dez nas provas, e os coleguinhas sempre brigavam com ela porque pediam cola e ela não passava. Explicava que não fazia por maldade, mas, porque não conseguia fazer, porém, eles nunca entendiam e acabavam por excluí-la.

— Oi! Kate — Luiza fala ao adentrar a sala.

— Oi! Lu — ela responde animada.

— Você está tão bonita hoje. — a outra menina fala olhando para o vestidinho rodado que a amiguinha usava.

Kate sempre gostou de vestido, e a mãe dela comprava vários para ela, fazendo com que se parecesse com uma bonequinha.

— Você também está linda. — ela diz fazendo a garotinha banguela sorrir. — porque não veio ontem?

— Meus pais foram à cidade, me levaram junto. — diz se sentindo orgulhosa por ter ido a cidade. — veja — aponta para o próprio sapato. — é novo, minha mãe comprou para mim.

— Que lindo Luiza. — Kate responde admirada.

— Oi! Meninas — Bia fala entrando serelepe na sala.

— Oi! Bia — às duas cumprimentam juntas.

— Gente, peguei uma carreira de uma vaca ali, estou assustada até agora. Pega aqui no meu coração para você ver Kate. — ela diz direcionando a mão de Kate ao seu peito.

— Nossa, está bem acelerado. — Kate fiz surpresa.

— Vocês não têm ideia, quase morri de medo, era uma vaca muito grande. — a menina conta.

— Mas o que você foi fazer perto de uma vaca Bia? Não tem uma cerca na beira da estrada? — Luiza questiona.

— Ela pariu um bezerrinho tão lindo, eu não resisti, fui dar uma olhada. Mas não tinha visto que a mãe dele estava por perto, quando me assustei ela vinha correndo e mugindo. — Bia diz, e quando Kate ia falar algo Lorena a interrompe.

— Bia, venha aqui preciso te contar um negócio.

— Só um minuto que vou... — é interrompida.

— Agora Bia. — Lorena diz irritada, e Kate que não era besta nem nada já sabia que a prima só queria tirar a outra de perto dela. Beatriz dar um sorrisinho para as outras duas e sai em direção a prima e melhor amiga.

Dona Rosa entra na sala e começa a passar as atividades, chama a tenção de alguns alunos por estarem falando demais e depois falam de uma comemoração para o próximo dia das mães. A criançada que gosta sempre de uma folia ficam logo animados, e com uma ideia aqui e outra ali as coisas vão entrando nos trilhos, a primeira parte da aula passa e a professora libera os alunos para o intervalo.

— Venha Kate, vamos brincar. — Luiza chama a puxando pela mão.

As meninas brincam bastante, se divertem com uma nova brincadeira que a turma criou, a brincadeira da melancia. Depois partem para brincar de roda. Ciranda cirandinha não pode faltar em seus dias. Pouco antes do intervalo acabar ela para de brincar e vai comer o seu lanche. Ela para em pé perto de uma parede e de repente se assusta ao receber uma bolada na cabeça, Kate não desmaia, mas sente sua cabeça girar, a arrumadeira que vê tudo corre para dar água para a menina que não chora apesar de sentir seus olhos arderem. Depois para a agradar mais, Joana, que além de limpar a escola ainda leva coisas para vender, entrega um pacote de pipoca para ela e algumas balinhas. A menina pega, ainda um pouco sem ação, e volta para a sala.

— Kate, como você está? — Luiza pergunta prestativa.

— Estou bem, não se preocupe. — responde e volta a sentar em sua carteira. Ela nunca gostou de chorar, mas nesse momento em especial ela está se segurando para não desabar na frente de uma turma inteira, turma essa que se vissem uma cena, Kate sabia, não esqueceriam nunca mais da garota magricela e chorona.

A segunda parte da aula termina e a professora libera os alunos. Como sempre, fica na porta dando um beijinho no topo das cabeças de cada aluno. Na vez de Kate ela pergunta.

— Você está bem Kate? — sim, dona Rosa, só estou com vontade de almoçar.

— Ah! Então vai direto para casa. Sua mãe uma hora dessas já deve ter feito o almoço. — Ela assente e sai, indo para casa com o coração um pouco mais apertado.

Quando ela chega em casa, se  surpreende por um Bernardo todo lambuzado de terra molhada.

— Ber, você está brincando com lama. — comenta pegando o irmãozinho nos braços quase sem aguentar.

— Fazendo comidinha Kate. — diz, a melando com suas mãozinhas.

— Você sabe que a mamãe não gosta de te ver assim. — ela adverte ligando o chuveiro e vendo ele fazer a maior bagunça no boxe, lhe molhando toda no processo.

Kate sempre gostou de cuidar do irmão mais novo, ele sempre a alegra quando ela está triste ou quando pega uma bronca, e ela sempre se senti melhor estando perto dele do que dos outros irmãos.

— Kate, saia desse banheiro que preciso tomar banho. — Maurício fala batendo na porta.

— Calma, estou terminado de limpar o Bernardo. — Ela responde apressada.

— Ou você sai agora, ou vou derrubar essa porta. — ele responde irritado. Maurício é muito estressado, está no último ano de seus estudos, mas nunca aprendeu ter uma boa convivência com sua família, principalmente com seus irmãos menores.

— E, porque não derrubou? — ela diz saindo com o Bernardo enrolado em uma toalha.

— Fala mais que quebro os teus dentes. — responde batendo a porta.

Kate respira fundo e vai vestir o irmão para irem almoçar. Quando estão sentados à mesa Amália coloca os pratos em suas frentes e os dois devoram animadamente. Quando está na última garfada ela ouve a frase que não queria ouvir tão cedo.

— Boa tarde, Amália! Vim buscar os meninos para passar a tarde lá em casa. — João fala, Amália rir, Bernardo bate palminhas e Kate se encolhe na cadeira.

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