Dose dupla de amor.
Dose dupla de amor.
Por: San Athayde
Capítulo 1

Manhã de domingo - Nênaly

Naquela manhã, o dia amanheceu nublado e frio… eu não estava nem um pouco a fim de levantar da cama e além do mais não dormi a noite inteira, mas eu não podia continuar em meu quarto remoendo essa tristeza dentro de mim.


Eu estava muito mal, pois o meu relacionamento de 1 ano havia terminado, e eu está a pensando, o que fiz de errado? Porque ele me traiu? Porque fez isso comigo que nunca dei motivos? Eu me senti a pior pessoa do mundo, sendo trocada, sendo enganada e iludida… Meu coração estava em pedaços, eu só queria chorar e chorar, de raiva e de tristeza.


– Querida! Diz minha mãe batendo a porta do meu quarto.

– Sim mãe… respondo.

– O café já está servido, desça… disse ela.

– Já estou indo… eu digo me levantando.


Eu tinha que ser forte na frente da minha família, eu não podia me mostrar como eu realmente estava senão causaria um problema para todos e eu não queria isso.


Então eu me levantei da cama e fui tomar um banho quente, pois o dia estava frio… depois me vesti, coloquei uma calça jeans, blusa de crochê branca e um casaco cinza por cima e desci para o café da manhã.


– Bom dia… digo entrando na cozinha onde estão minha mãe e meu irmão mais velho Leandro.

– Bom dia querida, dormiu bem? Pergunta minha mãe.

E eu parei para pensar… será que devo responder que sim só pra ela não se preocupar, ou devo responder que nem consegui pregar os olhos essa noite?

– Parece que você não dormiu nada Nena, está com os olhos inchados e sua expressão é de pura tristeza… disse Leandro e eu nem tive como rebater, pois era isso mesmo, eu estava exatamente como ele descreveu.

– Eu vou ficar bem… digo me sentando a mesma e me servindo de chocolate quente.

– Quer ir comigo ao clube de mães hoje? Podemos fazer crochê e aprender artesanatos… disse minha mãe.

Ótimo, iria me ajudar muito, só que não.

– Acho que não mãe, vou caminhar um pouco, vai me fazer bem, vou com a Helô.


Heloísa era a minha melhor amiga, nos conhecemos desde o jardim de infância… ela tem uma quedinha pelo meu irmão e eu sempre torci pra que eles ficassem, mas meu irmão sempre dá a desculpa de que ela é novinha demais, coisa que a gente sabe que não tem nada a ver… enfim… eu não iria sair com ela, foi só uma desculpa mesmo, eu precisava era ficar sozinha agora e sabia que Helô poderia me cobrir.


– Vá sim minha querida, você precisa se distrair e não pensar mais no Fernando, esqueça que ele existiu! Disse minha mãe.


Mas, era um pouco difícil esquecer de um dia pro outro de alguém que você dedicou 1 ano da sua vida, sem reservas e sem mentiras, mas que mentiu pra você, mesmo que não tenha sido todo esse tempo, mas mentiu e não importa quando, mas isso num relacionamento é inaceitável, mentira e traição é inaceitável.


– Bom, eu já vou… eu disse me levantando.

– Onde vai com Heloísa?

– Por aí, sei lá, nós vamos ver… eu disse e dei um beijo em cada um antes de sair.

– Se cuida filha, se precisar liga… disse minha mãe antes que eu fechasse a porta atrás de mim.


Saindo do condomínio eu fui caminhando até o calçadão, as nuvens escuras deixavam o céu triste, e eu queria ir até o mar, pois com certeza as ondas estão bem grandes e violentas e eu me identificaria com o que está  acontecendo lá, pois era isso que estava acontecendo dentro de mim, eu estava feito aquelas ondas, querendo destruir todo o sentimento que eu tinha pelo Fernando.


Chegando a praia eu desci para as areias e fui caminhando até a beira, mas não cheguei muito perto pra não molhar os pés pois as ondas estavam mesmo muito fortes… então procurei um lugar onde eu pudesse ver bem a vista do céu escuro e do mar violento e me sentei pra admirar… as lembranças me vinham a mente, e eu não pude conter as lágrimas, eu estava chorando novamente e de raiva pois eu fui uma boba, eu fiquei o tempo todo tentando salvar uma relação que só eu amava, só eu me importava, só eu queria pois ele não queria mais e por isso me traiu, me trocou por uma bem melhor, mais velha, mais madura e muito mais bonita.


Abaixei a cabeça entre minhas pernas e as abracei chorando, eu só queria chorar e desabafar e deixar toda essa tristeza e raiva saírem de dentro de mim, eu não queria mais sentir isso.

De repente ouvi um barulho ao meu lado, como se fosse alguém pigarriando para chamar a minha atenção, levantei o rosto e olhei, era um homem meio loiro, alto, forte, vestia uma roupa de surfista e estava todo molhado, havia uma prancha ao seu lado também, ele estava me olhando fixo e pude ver que seus olhos eram verdes e bem claros.


– Sei o que está acontecendo com você… disse ele desviando o olhar para o mar.

– Sabe? Perguntei curiosa.

– Sei… é como o mar… revoltado, violento, querendo levar tudo que vê pela frente, mas ao mesmo tempo triste, desapontado, querendo conter sua força mas não consegue… disse ele e eu fiquei impressionada.


Como ele sabia se nem me conhecia? Da onde ele surgiu? Eu tô sonhando ou isso é de verdade?


– Sou Cadu… disse ele voltando a olhar pra mim.

– Da onde você surgiu? Perguntei.

– Acredita em anjo? Pois é, sou o seu… disse ele sorrindo e eu sorri de lado, em tom de deboche.

– Consegui… disse ele.

– Conseguiu o que? Perguntei.

– Que você desse um sorriso, nem que fosse pequeno e debochado, mas deu… disse ele.

– Como você sabe o que eu tô sentindo? Perguntei.

– Eu não sei... Mas posso te dizer que vai passar, seja o que for, tudo na vida passa… disse ele.

– Eu espero… e também é o que eu quero, que passe, que eu esqueça e que nunca mais pense nisso.

– Só depende de você… disse ele e eu olhei pro mar novamente… – E o seu nome?

– Ah… é Nênaly, mas me chamam mais de Nena.

– Nênaly… a primeira vez que ouço esse nome… mas é um nome muito bonito, combina com você… disse ele e sorriu.

– Aposto que seu nome é Ricardo… eu disse.

– Acertou… todo Ricardo tem o apelido de Cadu não é? Disse ele rindo, e dessa vez eu reparei em seu sorriso, era espontâneo e dava vontade de rir junto de tão contagiante.

– Pois é… eu disse… enfim, obrigada Cadu, pela força.

– Anjos são pra essas coisas… disse ele se levantando… – Eu já volto, me espera aqui?

– Está bem… eu disse e ele pegou sua prancha e correu até o mar se jogando na água.


Nossa, ele era bom, pegou várias ondas e quase não caiu, devia ser um surfista profissional… não sei da onde ele surgiu, mas… ele me fez esquecer por uns minutos da raiva, dá tristeza, me distraiu e ainda me disse coisas boas, até arrancou um leve sorriso de mim, mesmo que fosse de deboche por ele ter dito que era o "meu anjo"... como pode um cara que nunca vi, fazer isso em meio a tanto caos? Não sei, só sei que foi isso que ele fez.

Depois de alguns minutos ele voltou até onde eu estava e se sentou novamente.


– Você manda bem… eu disse.

– Valeu, são anos de prática, eu sou um peixe… disse ele sorrindo.

– Até pouco tempo era um anjo e agora já é um peixe… eu disse e ele gargalhou.

Era tão engraçado, ele ria de tudo, era espontâneo, nada forçado.

– Bom… digamos que sou um anjo que gosta de água… disse ele.

– Entendi… eu disse.

– Eu adoro surfar… e você, o que gosta de fazer?

– Escreve… eu amo escrever, é minha paixão e espero um dia ser a minha profissão… eu disse.

– Uau, que maneiro… disse ele… aposto que você escreve romances.

– É, eu escrevo, mas gosto de tudo um pouco, sempre tento colocar muitas coisas nas minhas histórias… eu disse.

– Hum… legal… uma futura escritora… disse ele.

– É… meu sonho é ir para Nova York, trabalhar na escritora mais famosa de lá e publicar meus livros um dia… eu disse.

– Nova York… disse ele pensativo… eu tenho um irmão gêmeo que mora lá.

– Irmão gêmeo? Jura que tem um irmão gêmeo? Perguntei curiosa.

– Tenho… se chama Henrique, ele e eu somos idênticos, mas… só na aparência mesmo, pois… não nos damos muito bem.

– Nossa… que chato… irmãos gêmeos não devem ser ligados e tals, sentir o que o outro senti, essas coisas…

– Até sentíamos, mas de uns tempos pra cá não seguimos uma mesma linha de opiniões e ele decidiu ir embora.

– Que pena… deve ser ruim ficar longe de um irmão, ainda mais gêmeo.

– É, mas… eu já me acostumei… enfim…


Cadu e eu ficamos conversando e conversando e nem percebemos a hora passar, ele era muito legal, eu nunca imaginaria que ele tivesse um irmão gêmeo, coisa de louco mesmo, ele me contou que mora com sua mãe e que seu pai faleceu, e que depois que isso aconteceu as coisas nunca mais foram as mesma entre ele e seu irmão, e então ele decidiu ir embora… Ele me disse que tinha 22 anos, que trabalhava na empresa que seu pai deixou e estudava também, estava na faculdade, fazendo administração, para um dia poder cuidar 100% de tudo que foi do seu pai, seu irmão cuidava da parte dele pela internet e também estudava lá em Nova York… e eu também contei que estava cursando Letras, pra poder ser escritora um dia… eu até quis contar sobre o que estava acontecendo comigo, mas achei que era cedo demais, eu não conseguiria falar.

Depois de muito conversarmos, tivemos que nos despedir pois o céu já estava carregado e viria uma chuva daquelas pela frente.


– Eu já vou antes que a chuva caia Cadu… eu disse me levantando.

– Está bem… mas antes, anota meu número? Caso você precise falar com um anjo essa noite… disse ele.

– Bom… é sempre bom ter um disk anjo… eu disse pegando meu celular em meu bolso e lhe dando, ele anotou seu número e me devolveu.

– Pronto, disk anjo anotado.

– Obrigada… então… até mais Cadu… eu disse.

– Até mais Nena… disse ele sorrindo.


Continua…

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