Capítulo 7


Vicent 

– Estamos à procura de um criminoso alto e branco de aproximadamente trinta anos, ele roubou o santo mosteiro e sequestrou uma das irmãs, se alguém aqui o está escondendo, será julgado como cúmplice de roubo e sequestro. – O guarda superior diz em tom sério e acusador. 

– Aqui não tem ninguém com essa característica, somos todos homens de bem e não iríamos apoiar tamanho crime. – Digo fingindo indignação. 

– Sim, aqui não há nenhum ladrão. – Lúcio afirma. 

Os guardas entram ainda mais e começam a vasculhar por tudo. 

Eu nunca fui tão perseguido dessa forma, talvez Kahabe seja mais intolerante com ladrões. Deve ser por isso que o reino é próspero. 

– Iremos pernoitar em sua vila, nos acolham em nome do rei Garth, amanhã iremos retomar as buscas pelo criminoso, a irmã que ele sequestrou está correndo enorme perigo, ela é alguém de grande importância, o criminoso atende pelo nome de Vicent, fiquem atentos, ele está por esses lados aqui, se ainda não chegou com certeza chegará essa noite. – O guarda me olha com um olhar desconfiado. – Você, qual é o seu nome, sujeito? 

– O nome dele é Isaque, ele e a esposa são nossos amigos. – Lúcio diz antes que eu mesmo pudesse me defender. 

– Certo, guardas, não há nada aqui, vamos descansar e amanhã assim que o sol nascer iremos retomar a tarefa. – Diz aos outros e todos se retiram. 

– Aqui só há um lugar para onde eles podem ir? – Pergunto fingindo não me importar. 

– Provavelmente ficarão no salão da igreja. – Juca responde com olhos assustados pra porta. – Espero que esse Vicent fique longe de nossa vila. 

– Também espero. – Pedro. 

– Esse Vicent é um homem sem escrúpulos, roubar um mosteiro? Sequestrar uma irmã! Que tipo de criminoso sem alma é esse? Se eu o visse eu mesmo o mataria! – Lúcio diz entredentes. 

– Eu lhe ajudaria, meu amigo, eu lhe ajudaria. – Digo tomando o último gole que havia em minha caneca.

Lívia 

O campo está verde e colorido, olhando de longe nem se parece com uma prisão. As flores em cor de rosa e roxo, se misturam ao verde e azul do céu. Tudo tão lindo. Seria perfeito, se não fosse a imagem atrás de mim. 

Viro-me de costas e contemplo as estruturas de pedra, uma visão assustadora, tem até pássaros assustadores sobrevoando ao redor. 

Começo a sentir um desespero conhecido tentando me dominar. 

Preciso fugir daqui. Não aguento mais.

Corro em direção às flores, não Sei o que tem além delas, mas é para lá que eu preciso correr, não posso voltar para trás. Não posso. 

Corro. Corro. Quase tropeço. Continuo correndo. 

Por quê eu nunca chego em lugar nenhum? 

– Lívia? – Ouço alguém me chamar ao longe. – Lívia! Acorde! Precisamos ir embora! 

– Quem está aí? Apareça agora! Você precisa me ajudar! 

– Lívia! – Acordo com alguém me sacudindo. 

– O quê? Onde estou? Preciso fugir! Quero ir pra casa! – Digo me sentando na cama ainda meia confusa. 

O quarto já está escuro, a luz vem apenas da claridade da lua na janela entreaberta. 

– Levante-se em silêncio. – Vicent sussurra. 

Imediatamente percebo que ele está falando sério. Alguma coisa está acontecendo. 

– Fomos pegos? – Pergunto levantando-me e ajeitando o meu vestido. 

– Tem vários soldados aqui, amanhã de manhã irão procurar por nós, estão me acusando de sequestro, e essa parte eu não devo, estou pensando seriamente em te deixar aqui, para eles te devolverem ao mosteiro. – Vicent diz me olhando dos pés à cabeça. 

Ele não pode fazer isso. 

Eu preciso chegar até o Palácio sozinha! Se eu chegar com os soldados, então tudo estará perdido, não irei conseguir provar nada ao meu pai. 

– Por favor senhor Vicent, o senhor não pode me deixar aqui, precisa me levar até Luzem, por favor! Eu lhe imploro! Imploro! – Tento sacudir ele pelos braços, para demonstrar o tamanho do meu medo em ficar. 

Eu senti uma força nos braços dele, notei o quanto sou pequena e frágil perto dele. 

Ele me assusta quando me abraça, pondo minha cabeça em seu peito, apertando-me com seus braços. Sinto o meu corpo todo em alerta de calor e medo. Vicent abaixa seu rosto até o meu e encosta a sua boca em meu ouvido. 

– Xiihhh você está falando alto demais. – Sussurra me fazendo sentir seu hálito aquecer o meu pescoço. – Vamos então. 

Me afasto na primeira oportunidade, concordando em fazer silêncio. 

– Vamos então. – Sussurro. 

Sem mais perguntas eu o sigo em silêncio, ainda muito perturbada com esse meu nervosismo na presença de um homem bonito. 

Já do lado de fora da hospedaria, respiro com mais liberdade. A noite está bem iluminada, a lua clara nos guiará o caminho. 

– Teve informações sobre como chegaremos em Luzem? – Questiono tentando prender o meu cabelo enquanto o sigo pela estrada.

– Deixe solto, fica bem melhor. 

– Hã? 

– O seu cabelo. 

– Ah sim! Eu prefiro prendê-lo. – Paro de caminhar, realmente preciso prendê-lo. 

Vicent me fez sair às pressas, por isso estou tendo de fazer isso aqui. 

Estou me sentindo muito mal, por isso não consigo ficar de cabelo solto. Me sinto uma fugitiva, claro, eu me tornei uma. E a culpa é de meu pai, que não honra a palavra dele. 

– Chegaremos ao amanhecer, provavelmente. – Vicent diz quando chegamos ao lado de uma carroça preparada. 

– Vai roubar essa carroça? Vai roubar esses dois cavalos? – Fico indignada. – O que há por baixo desses panos? 

– Algumas peças valiosas, alguns vestidos bordados e... Salame. – Diz me ajudando a subir. 

– Salame? Vestidos? Por que você precisa disso? – É, agora estou me sentindo muito pior. 

– O salame é para comermos, os vestidos são presentes para você, e as peças são para mim negociar, sabe como é, tenho que me sustentar. 

Inacreditável. 

Vicent começa a guiar os cavalos em direção à saída do vilarejo. 

– Muito obrigada pelos vestidos, de qualquer forma. – Agradeço a gentileza. 

Esse é o modo como ele vive, e para ele deve ser normal. 

– Imagina, é para que não se esqueça de mim, porque nunca mais irá me ver. – Consigo vê-lo sorrir. 

Não sei o motivo para ele se alegrar com isso. 

Bom, eu também fico muito feliz que não o verei mais. 

Mentira, ficarei triste. Esse estranho criminoso me passa um sentimento estranho, não consigo sentir medo dele. Talvez eu seja ingênua, como ele mesmo já me disse, mas eu me afeiçoei à ele. 

Quando estamos prestes a sair do vilarejo somos surpreendidos com uma emboscada de soldados, meu coração quase sai pela boca com o tamanho do susto. 

– E agora, Vicent? – Me encolhi entre os meus braços. 

Vicent me olha tentando me confortar, me passando um olhar confiante. 

– Você não fez nada, não se preocupe. – Pisca pra mim. 

– Bem que eu desconfiei de você, seu rato. – Um soldado, provavelmente o superior. – Não se preocupe irmã, iremos te levar de volta ao mosteiro. 

Começo a chorar de desespero, meu corpo todo começa a tremer enquanto observo os soldados puxando Vicent da carroça com brutalidade. 

"Deixem-no em paz". Peço mentalmente. Mas, meus nervos não me permitem por em voz alta. 

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo