Capítulo 2

Lívia 

Passei dois dias sufocada em lágrimas e falta de ar. Um desespero louco que me faz sentir vontade de sair correndo. Se isso continuar eu sou capaz de me suicidar. Eu juro. Mas, não. Eu preciso sair desse lugar que me atormenta por anos. Preciso sair. Vou sair. 

Fiquei o dia todo pensando em uma forma de fugir daqui, e cheguei em uma conclusão, no dia da feira para arrecadações, isso. E para a minha sorte, faltam apenas três dias.

Sinto muito meu pai e minha mãe, mas, terei de lhes provar que eu consigo muito bem sobreviver ao mundo fora desses muros.

Não posso mais ficar aqui, morrerei de desgosto. Estou muito frustrada em saber que fiquei anos esperando pelo dia de sair dessa prisão, e quando esse dia chega eu descubro que terei de ficar mais um ano. Esse um ano irá me parecer uma década!

– Essa sua expressão está me assustando. –Raquel diz em minha frente.

Minha amiga albina.

– Rachel, eu me decidi, irei embora daqui. – Afirmo.

Raquel me abraça forte. Ela sabe o quanto eu não gosto daqui.

– Desejo-lhe sorte, querida amiga. – Me aperta contra si.

– Você sabe que eu terei... Você é a única parte daqui que eu sentirei saudades.

Pegamos papel, lápis e fomos jogar um jogo que achamos divertido. O jogo da forca. Óbvio que as irmãs não podem nos ver, ou, seríamos castigadas.

Passei os meus últimos dias aqui aproveitando cada momento ao lado de Raquel, sabendo que eu sairia não foi uma tortura.

E finalmente o dia chegou. É hoje, o grande dia.

Acordei antes do sol nascer, preciso me vestir e ir me esconder dentre as tralhas da carroça que sairá daqui a pouco.

Estou nervosa. Sinto borboletas saltitantes em todo o meu corpo.

Me visto. 

– Vai dar tudo certo. – Rachel sussurra cruzando os dedos.

Abraço-a.

– Obrigada por tudo. – Digo deixando uma lágrima escapar.

Afinal, ela foi minha companheira por anos.

– Venha me visitar, quando puder.

– Virei.

Sem mais tardar, caminho pelas escuras até fora do mosteiro, em direção à ala das carroças.

Ótimo, terei de ficar aqui por um longo tempo. Por sorte as coisas já estão preparadas desde ontem, hoje é só ir e fazer a feira.

O plano é esse: fugir daqui, e o resto vamos ver como vai ser, vamos ver o que o destino tem reservado para mim.

Deito na carroça, em baixo de um móvel fixo e me cubro com um pano. 

(...) 

Abro os meus olhos quando sinto que estamos nos movendo. 

Eu dormi de esperar, finalmente estamos indo. 

– Com a bondade dos céus iremos arrecadar muitos fundos, precisamos construir uma ala para as novas moças que estão chegando, as irmãs estão muito apertadas. 

– Tudo será providenciado, creio que o rei doará uma quantidade bem maior no mês que vem, pois a irmã Trindade lhe reclamou em sua última visita. 

– Que os céus digam amém, nós merecemos viu, não foi fácil educar a princesa Lívia, aquela moça nos deu muito trabalho. 

Ouço risos das irmãs. 

Eu sei que não é maldade delas, mas, me sinto mal. 

Eu só queria ser tratada com carinho, talvez se as irmãs fossem mais carinhosas comigo eu não teria sonhado com o momento em que eu iria embora daqui. 

Enfim. Tudo vai dar certo. 

Viajamos por quase uma hora, e então comecei a ouvir sons de pessoas. 

Estamos em uma cidade, pelas minhas contas é Dhiferis, a cidade mais próxima do mosteiro. E provavelmente é aqui que as irmãs vão fazer a feira. 

Meu coração palpita forte. Estou com muita vontade de me levantar daqui e olhar tudo e todos. Sair correndo. Mas preciso esperar o momento certo se não quero colocar tudo à perder. 

Ouço cães, ouço crianças, ouço carroças, ouço risos de mulheres, ouço música, ouço a vida. 

É isso que eu quero pra mim. 

E está quase! 

(...) 

As irmãs pararam e estão retirando as coisas da carroça, vieram mais três carroças junto com a que viemos. A feira vai ser grande. 

Quando percebo que estou sozinha eu finalmente levanto o pano para sondar à minha volta. Não tenho muita visão, precisarei sair daqui o mais rápido possível para aproveitar que as irmãs estão distraídas. 

Quando eu me levanto em pé sinto uma leve tontura e me seguro nas madeiras da carroça para não cair. Sinto dores nas costas, estoico os braços para me espreguiçar. 

– Lívia? – Quando olho para o lado vejo que uma das irmãs me viu. 

Tão rápido um homem sobe na carroça e açoita os cavalos e então saímos em disparada. 

– LÍVIAAAAAAA! – Ouço a outra irmã gritar já há uma boa distância. 

Adeus irmã, seguirei meu caminho, e quis o destino que fosse assim, ao lado de um desconhecido ladrão. 

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