O Grande Livro das Coisas

Sabe quando você tem a impressão de que algo é maior por dentro do que por fora? Foi exatamente isso que sentimos naquele momento, mas não foi só uma impressão, aquele lugar realmente era maior por dentro do que por fora!

Ao entramos nós nos deparamos com um salão bem arrumado e decorado com alguns sofás e até mesmo uma mesinha de centro em um canto, aquilo estava se parecendo com a recepção de um hotel luxuoso, bem movimentada por sinal, tudo que faltava era uma lareira e mordomos servindo um cafezinho. Havia cerca de uns vinte jovens lá, todos pareciam ter mais ou menos a nossa idade, alguns usavam vestes estranhas, que fazia parecer que tinham acabado de sair da idade média e esqueceram de atualizar o guarda-roupas deles, mas também tinham aqueles que usavam roupas iguais às minhas. Minha teoria sobre aquele lugar ser uma recepção foi confirmada após eu ver, ao fundo do salão, uma recepcionista sentada atrás de um balcão escrevendo algo. Ao lado da recepção havia uma enorme escada que parecia dar para um segundo andar (mesmo não entendendo como um trem poderia ter um segundo andar), ao nosso lado, ou melhor, ao lado da porta, havia um homem que nos barrou assim que demos nosso primeiro passo em direção a recepção.

- Bilhetes... Por favor... - ele falou com uma voz morta. Confesso que aquele deveria ser um dos homens mais altos e musculosos que eu já havia visto, acho que deveria ter mais ou menos uns dois metros e meio, com uma pele negra cheia de escamas e uma careca que reluzia com o reflexo da luz daquele lugar. Ele usava uma camiseta branca por baixo de algo parecido com um colete de ferro, vestia uma calça de um tecido marrom e calçava grandes botas de ferro que se estendiam até os joelhos, a enorme bainha em sua cintura parecia carregar uma espada tão grande que provavelmente tinha sido comprada em uma loja de cosplay de animes, porém o que mais me chamou a atenção foi o fato de que em seu pescoço tinha algo como uma "coleira de ferro" que deixava apenas a parte da frente livre. "É grosso demais para ser um colar..." pensei comigo mesmo, porque realmente era grosso demais para ser um colar ou até mesmo uma coleira. Mas foi então que eu percebi que havia "bolas de vidro" em torno daquele colar onde parecia ter água armazenada.

- O que...? - Perguntei com os olhos fixos nas bolhas que haviam se formado nos bolsões de água quando ele falou.

- Os bilhetes... Por favor...

Aquela vista era meio estranha, mas mesmo assim não conseguia tirar os olhos das bolhas.

- Eu posso... Tocar? - Perguntei enquanto levantava a minha mão para encostar no pescoço dele, mas fui interrompido pela Elizabeth que me deu um cutucão na costela.

- Neri! Os bilhetes!

- Neri Hofirman? - O grandalhão perguntou sem mudar o tom de voz.

- Sim - respondi enquanto me recompunha - Somos Neri Hofirman e Elizabeth Neve.

- Venham comigo... - ele disse enquanto se dirigia para a recepção e fazia sinal estranho com a mão para outro cara que ia em direção à porta (pelo menos ele não parecia um guerreiro medieval que veio do fundo do mar).

Fomos juntamente com aquele homem em direção a recepção, porém tive de me esforçar para não dar meia volta e sair do trem já que quase todos lá dentro olhavam para Elizabeth e a mim, uns até disfarçavam, já outros nem mesmo escondiam a surpresa no olhar.

- Isso é meio desconcertante... – Elizabeth cochichou baixinho.

- Eu sei... Mas acho que vamos ter que nos acostumar... - respondi em mesmo tom.

- Quarto 51... - o grandão disse parando em frente ao enorme balcão da recepção, a mulher sentada atrás dele usava uma manta preta e escrevia freneticamente em um caderno.

- Neri Hofirman e Elizabeth Neve? - A mulher perguntou sem nem mesmo levantar o olhar.

- Sim – Elizabeth respondeu enquanto sorria.

- Ok - ela respondeu se levantando e pegando uma chave no painel atrás dela - Aqui está! A chave do quarto 51.

Ela estendeu a mão e colocou a chave sobre o balcão, uma chave com uma aparência tão antiga que me fez ter a impressão de que iria evaporar a qualquer momento.

- Espera - interrompi - Vai ser apenas um quarto?!

- Sim - ela respondeu com certo desinteresse.

- Apenas um quarto... - Elizabeth repetiu com uma expressão confusa - Apenas um quarto?! Para... Nós dois?! Vai ser duas camas, não é?!

Ela estava corando, pude ver o nervosismo nela quando se afastou levemente de mim, pensei rápido e tentei arrumar o problema do "quarto único".

- O quarto pago para vocês ficarem possui apenas uma cama... – a mulher respondeu estreitando os olhos.

Uau... Uma só cama... Quanta criatividade em? Não tinha como forçar um pouco mais o clichê nessa parte? (-_-)

- Não tem como arrumar outro lugar para eu dormir? - Perguntei sem graça.

- Claro! Você pode dormir no banheiro, se quiser! Podemos colocar um tapete em cima do vaso! - Ela era boa com sarcasmo.

- Deixa quieto - respondi secamente enquanto pegava a chave e me virava para ir ao quarto, mas tive que dar meia volta - Para onde fica o quarto? - Perguntei para a recepcionista.

- Suba as escadas, vire à direita e siga pelo corredor. O número do quarto vai estar na porta.

- Obrigado... - respondi enquanto me virava novamente.

Subimos as escadas sendo seguidos pelo grandalhão escamoso, "Talvez ele vá para outro lugar" pensei, mas não foi isso que aconteceu, ele nos seguiu até mesmo quando viramos o corredor.

- Será que ele vai nos seguir até o quarto? - Elizabeth me perguntou nervosa.

- Espero que não - respondi - Isso é meio sinistro...

Por fim encontramos a porta com a numeração do nosso quarto, e ao nosso lado estava o grandalhão parado nos olhando.

- Está tudo bem? – Perguntei sem graça – Podemos ajudar em algo?

- Sou pago... Para ser o guarda pessoal... De vocês dois... - ele respondeu no mesmo tom de antes. Aquela voz estava começando a me dar sono.

- Foi pago?! Por quem?! - Elizabeth perguntou surpresa.

- Senhor Jack Neve...

Elizabeth suspirou.

- Pode pelo menos nos dizer seu nome? - Ela perguntou.

Não recebemos uma resposta, ele apenas se manteve em silêncio, nos olhando com aqueles olhos escuros e grandes.

- Você tem um nome? - Perguntei.

- Acho que não... - Elizabeth respondeu.

- Ele precisa de um nome... - falei.

- Roberto? - Ela sugeriu.

- Afonso... - eu disse.

- O que?!

- O nome dele vai ser Afonso - falei o olhando de cima a baixo.

- Não me lembro de ter concordado com isso! - Elizabeth respondeu indignada.

- Vamos Afonso - falei a ignorando, o que a fez me fuzilar com o olhar - Você vai ficar com a gente no quarto!

Encaixei a chave na fechadura e girei, ao ouvir um estalo abri a porta do quarto.

Era um quarto grande, com paredes brancas e um tapete felpudo que cobria grande parte do chão, havia um guarda roupa com um enorme espelho na porta em frente a uma grande cama de casal, sua cabeceira tinham desenhos de anjinhos que pareciam ter sido entalhados a mão numa madeira escura. Uma escrivaninha estava debaixo da larga janela enfeitada com cortinas azuis que se mexiam conforme uma leve brisa entrava por ela. Ao lado da cama havia um criado mudo, e ao lado do criado mudo uma porta de madeira que deduzi ser o banheiro.

- Parece que nos demos bem... - falei olhando em volta.

- Sim - Elizabeth concordou enquanto se sentava na cama.

- Afon-

Parei, pois quando me virei para falar com ele, vi que a porta era muito pequena para que pudesse passar normalmente já que seus ombros eram tão largos quanto os umbrais. Fui ajudá-lo a entrar no quarto e com um pouco de esforço consegui fazer com que ele se abaixasse e entrasse de lado.

- Quem está pagando por esse quarto? - Perguntei curioso.

- Seu pai... - ele respondeu.

- Nossas famílias têm tanto dinheiro assim?! - Elizabeth falou as palavras presas em minha boca.

- As famílias Hofirman e Neve... São algumas das famílias... Mais ricas do mundo...

- Por que quando eu pedi um videogame novo eles não me deram?! – Perguntei indignado olhando para a Elizabeth, que deu de ombros.

- Vou deixá-los a sós... - Afonso disse enquanto se virava para sair do quarto.

- Espera - interrompi - Você vai ficar lá fora o tempo todo?!

- Sim... – ele respondeu.

- Calma, primeiro você fica aqui com a gente, na hora de dormir você pode sair, está bem? – Propus para ele. Que olhou para a Elizabeth, como se esperasse uma resposta vindo dela.

- Por mim tudo bem! – Ela falou sorridente.

- Então... Tudo bem...

Passamos os próximos 10 minutos olhando o quarto admirados, parecia que estávamos em um hotel cinco estrelas de tão chique que era. E se tornou mais chique ainda quando entramos no banheiro, um lugar tão grande quanto o próprio quarto com um chuveiro dentro de um Box e uma banheira na lateral. Em paralelo com a porta havia uma grande pia de mármore preto com um espelho que cobria quase toda a parede.

- Uau... - falei boquiaberto - Meu pai realmente tem dinheiro...

- Nem me fale... Será que ele vai ficar conosco até chegarmos em WallBright? – Elizabeth perguntou apontando para o Afonso, que parecia estar se admirando no espelho.

- Não sei. Ei Afonso! - O chamei - Você está responsável por ficar de olho em nós até quando?!

- Até vocês saírem... De WallBright...

- Que?! Como assim "até sairmos de WallBright"?! – Questionei imitando seu tom de voz. Ele ia nos seguir até dentro da escola?!

- Uma das normas de WallBright... É permitir que os pais... Dos alunos paguem... Seguranças particulares...

- Mas - interrompeu Elizabeth - A segurança da escola é tão fraca assim?

- Não...

- Então o por quê disso?

- Não entendo bem também... Mas parece que... Tem pais que preferem... Que os filhos sejam guardados... Por alguém de sua confiança...

- Se eles não têm confiança em WallBright, por quê deixam seus filhos irem para lá então? Credo, povo mimado! – reclamei cruzando os braços.

- Essa é uma pergunta... Que eu desconheço... A resposta... - Afonso respondeu.

- Por que você fala travando? - Perguntei, e como antes quando questionado sobre o nome dele, tudo que recebi como resposta foi um silêncio - Esquece...

- Como será que funciona o sistema de WallBright? - Elizabeth perguntou se sentando no vaso com a tampa fechada.

- Tem certeza que essa é uma pergunta que deve ser feita nesse momento?

- Claro! Quanto mais procuramos, mais perguntas aparecem! Se pelo menos tiv-

Ela parecia ter se lembrado de algo importante. Elizabeth se levantou rapidamente e correu em direção ao quarto.

- Está tudo bem?! - Perguntei a seguindo.

Ela foi até sua mala que estava no chão ao lado da cama e a abriu, de lá de dentro ela tirou aquele livro que minha mãe havia lhe dado. Mesmo já tendo o visto antes, sua aparência continuava meio "sinistra" para mim.

- O Grande Livro das Coisas... - ela cochichou.

- O Grande o que? - Perguntei confuso.

- Quando sua mãe e sua irmã foram falar comigo na biblioteca, elas me entregaram esse livro, disseram que o nome é Grande Livro das Coisas... - ela falou se colocando de pé - Um livro que sabe tudo, sobre tudo e todos.

"Aham... Claro..." pensei. Poderia acreditar em um mundo sobrenatural, um mundo com poderes, mas não sei se acreditaria em "um livro que sabe tudo, sobre tudo e todos". Ou talvez soubesse... Seria meio estranho se ele soubesse o que eu comi ontem antes de dormir; ou até mesmo o que estava pensando...

- O que a senhorita Neve... Deseja procurar neste livro...? - Afonso perguntou.

- Sobre WallBright - Elizabeth respondeu.

Afonso e eu ficamos em silêncio a olhando esperando ela abrir o livro, o que não aconteceu.

- Você não vai abrir? - Perguntei.

- Ei! - Ela reclamou - Sem pressão!

Ela parecia nervosa, se sentou na cama e respirou fundo.

- Pronto? - Perguntei cruzando os braços, seu olhar me fuzilou ao ponto de me causar um arrepio. Após voltar os olhos para o livro ela finalmente conseguiu dizer algo.

- Que tal saber sobre WallBright? - Ela perguntou enquanto abria o livro.

Achei que ela iria abrir o livro e procurar no sumário o tema desejado, mas não foi bem isso que aconteceu. Quando ela abriu o livro as páginas estavam completamente em branco! Pelo menos até algumas poucas palavras começarem a se formar nas páginas amareladas.

"Olá, senhorita Neve! O que deseja saber sobre WallBright?!" Ela leu em voz alta para logo em seguida voltar um olhar surpreso para mim.

- Ele tem uma consciência própria?! – Perguntei incrédulo.

- Acho... Que sim... – ela disse voltando os olhos para as palavras que haviam surgido magicamente diante de nossos olhos – É... Eu quero... Um resumo sobre como WallBright funciona!

"É para já!" ela repetiu antes de todas as palavras sumirem e darem lugar a novas imagens e alguns parágrafos maiores nas páginas amareladas do livro!

Você se lembra das letras WB que estavam nos tickets que meu pai havia me dado? Lá estavam elas mais uma vez em destaque na primeira página, as grandes letras no meio de um brasão sendo circuladas por uma coruja, um lobo e uma raposa, como se aqueles fossem as mascotes da escola.

- "WallBright" - Elizabeth começou a ler - "é uma das Sete Grandes escolas do mundo sobrenatural e foi também a responsável por formar alguns dos maiores guerreiros que já existiram, bons ou não."

- Como assim "Bons ou não"? - Questionei sem entender. Será que houve alunos de WallBright que haviam se tornado malignos?

- Houve em WallBright... Algumas pessoas... Que se tornaram más... – Afonso respondeu, o que confirmou meu pensamento.

- "Seus alunos são escolhidos após o despertar de seus poderes, sendo grande parte de famílias famosas como os Ignis, Zeus, Balbur, Excalibur, Behemoth e até mesmo os grandiosos Hofirman e o membro escolhido da família Cronos, mas isso não excluí a possibilidade de membros de famílias pequenas como os Wastly comporem o corpo estudantil dessa escola!"

- Aqueles dois que estavam conosco lá fora não tinham o sobrenome de Wastly?

- Calado! - Elizabeth me interrompeu - "WallBright é a escola responsável pelo treinamento do grupo Os Imperiais, formado por quatro dos oito jovens mais poderosos da atualidade".

- Jovens mais poderosos da atualidade? – Perguntei levantando a sobrancelha.

- Sim... - respondeu Afonso – Eles são em oito... Mas em WallBright estão quatro deles... Agnes Cronos... Azaarot Anúbis... Ruby Ignis... E Meufrin Neve...

- Meufrin... Neve? - Elizabeth parecia ter levado um choque.

Meufrin Neve, o irmão mais velho dela. Assim como a Elizabeth, ele tinha cabelos brancos e uma pele rosada, era como se fossem gêmeos na verdade. Como eu havia dito antes, ele era sempre frio e falava pouco (especialmente quando se tratava da Elizabeth). Acho que o fato de eles serem bem parecidos a fazia querer ter mais intimidade com ele, mas isso nunca aconteceu.

- Hã... Eu acho melhor pararmos por aqui, não é? - Falei enquanto me aproximava dela para tentar pegar o livro de suas mãos.

- Não! - Ela disse o afastando - Temos que saber mais... Certo?

- Está bem... Mas eu quem vou ler, ok? - Perguntei sentando ao seu lado.

- Tá bom... - ela respondeu me entregando o livro; aquele ânimo que eu havia visto em seu olhar tinha desaparecido, acho que o fato de seu irmão mais velho estar na mesma escola para onde estamos indo a tinha afetado...

Quando peguei o livro em minhas mãos ele estremeceu fortemente antes de se fechar em um baque diante dos nossos olhos.

Olhei para a Elizabeth que parecia tão confusa quanto eu naquele momento.

- Minha mãe te falou sobre isso? – Perguntei para ela enquanto tentava abrir o livro novamente, mas as folhas pareciam estar coladas umas nas outras.

- Não... – ela respondeu pegando o livro das minhas mãos – Acho que isso nunca deve ter acontecido antes, se não ela teria dito algo...

Elizabeth conseguiu abrir o livro como se nada houvesse acontecido antes, nem um mínimo esforço ela teve de fazer.

'MANTENHA ESSE GAROTO LONGE DE MIM!" ela leu assim que abriu o livro. Aquelas palavras estavam em um tamanho bem grande sobrepostas acima de todas as outras informações de WallBright nas páginas.

- Acho que ele não gosta muito de você! – Elizabeth disse rindo suavemente.

- Haha... Cheio de graça! Tudo bem! – Reclamei enquanto me colocava de pé e cruzava os braços – Não queria ler ele mesmo!

Olhei para a Elizabeth, que olhava aflita para as páginas do livro. Sabia que ela ainda estava incomodada com o fato de seu irmão também estar em WallBright.

- Você não precisa continuar lendo... Sabe disso, não é? – Falei enquanto colocava a mão sobre sua cabeça e alisava seus cabelos.

- Eu sei... – ela respondeu sorrindo para mim – Mas eu quero.

- Você é tão teimosa, sabia? – Dei um sorriso sem graça – Mas isso é bom... Pode continuar então!

Ela percorreu os olhos pelas folhas do livro buscando o parágrafo onde havia parado.

"Os alunos que acabam de entrar em WallBright são direcionados a um dos Três Clãs que formam a irmandade entre os alunos, sendo eles Whitorn, Infirt e Ghollfried..."

- Acho que vocês... Ficarão no mesmo Clã... – Afonso finalmente irrompeu o próprio silêncio.

- Mas como vamos saber qual será o Clã para onde iremos? – Questionei me deitando na cama.

- Está aqui ó... – Elizabeth falou enquanto voltava a ler - "A Cerimônia dos Clãs é um ritual feito em WallBright onde os alunos colocam as mãos sobre o Fogo da Fênix Nêmesis, o qual mostrará a qual Clã eles pertencem. Os valentes e fortes de corpo e espírito vão para Whitorn, Clã responsável por criar a grande Guerreira de Luz, Lux, que atualmente também é a professora coordenadora do Clã..."

- Lux? - Perguntei levantando a cabeça em direção ao Afonso.

- Uma grande guerreira... De asas glamorosas...

- Asas? - Perguntou Elizabeth - Ela é um anjo, então?

- Não se sabe... Um dia ela... Simplesmente apareceu em WallBright... Ainda criança...

"Acho que é órfã então", pensei enquanto tentava imaginar como ela poderia ser, até que meus pensamentos foram interrompidos com algo que a Elizabeth disse.

- Essa parte parece interessante... – ela falou - "O Clã de Infirt, Clã dos sábios e inteligentes é o responsável por formar alguns dos jovens mais brilhantes que existem, capazes de reger nações inteiras sem ter nenhum problema. Foi com grande conhecimento e sabedoria adquiridos no Clã de Infirt que o rei Dimitri chegou ao topo do poder no reino de Jefom. Os professores responsáveis por cuidar dos alunos de Infirt são o Sr. Fera, O Bestial, e a Dona Bela, a Senhora da Paz..."

- Sr. Fera? - Repeti.

- Marido da Dona Bela...

- Bela? - Elizabeth parecia estar se lembrando de algo - Bela e Fera do conto A Bela e a Fera?!

- Os contos de fadas também estão incluídos neste mundo?! - Perguntei perplexo.

- Sim... O diretor de WallBright... É o mago Merlin...

- Merlin... "Aquele" Merlin?! - Elizabeth perguntou enquanto fazia um sinal como se alisasse uma enorme barba.

- Sim... O mago Merlin...

- Esse outro Clã parece não ter uma história muito legal... – respondi apontando com o dedo as poucas informações que consegui ler mentalmente sem me aproximar tanto do livro.

- Ghollfried...?

- Esse mesmo!

"Ghollfried foi o Clã responsável por criar magos com grandes afinidades a criaturas mágicas e poderes voltados para a natureza, porém muitos se tornaram malignos... Seus alunos são conhecidos por serem astutos e capazes de fazer de tudo para atingir seus objetivos. A professora responsável por Ghollfried é Íris, a Senhora das Trapaças ''. Elizabeth fez uma pausa – Não sei você, mas eu prefiro ir para Infirt... – ela me olhou como se esperasse que eu concordasse com ela.

- É uma ótima... Escolha... – Afonso respondeu enquanto continuava em pé na nossa frente.

A coisa em torno de seu pescoço voltou a ser motivo de curiosidade para mim, iria questionar para que aquilo servia, mas a Elizabeth perguntou em meu lugar.

- Serve como... Aparelho de respiração... - Afonso respondeu colocando as duas mãos sobre o "colar".

Com um estalo ele foi removido, deixando à mostra guelras que cobriam basicamente todo o seu pescoço. Conforme ele respirava elas se mexiam, o que estava começando a me dar certa agonia.

- Você... Pode colocar de volta, por favor...?

Seus olhos brilharam como se estivesse me agradecendo. Ele colocou os "bolsões de água" no pescoço novamente e respirou fundo, fazendo com que dezenas de bolhas surgissem. Eu iria perguntar o que ele era exatamente, mas talvez aquele não fosse o momento certo, então perguntei outra coisa.

- Meu pai disse que WallBright é uma das Sete Grandes Escolas do mundo sobrenatural... - falei iniciando um novo assunto - Existem outras?

- Sim... – ele respondeu - Mas não existe lugar tão seguro... Quanto ela no mundo... Além de ter os melhores professores...

- Afonso? - Perguntei novamente - Você se lembra daqueles dois que entraram antes de nós?

- Os irmãos... do Clã Wastly?

- Sim... - respondi sem jeito - Quando eu disse o meu nome eles pareceram ficar com medo...

- Acho melhor... Pesquisar no livro...

- Concordo - respondeu Elizabeth - Acho que ele demoraria demais para contar o porquê...

Afonso dirigiu um olhar para ela que no momento eu não sabia explicar o que ele estava pensando.

- Sem ofensa... - respondeu Elizabeth, que recebeu como resposta um aceno de cabeça.

Por um segundo me veio à mente a pequena probabilidade de deixar essa história como estava, porém eu queria saber o porquê de dois adolescentes temerem o meu sobrenome, foi então que me lembrei da fala do meu pai enquanto estava tendo aquela visão em casa: "Sacrifícios são necessários para que o certo venha prevalecer..."

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