Capítulo 04

MARIANA

Sete meses, foram esses meses que se passaram desde que conheci o amor, foi com ele que beijei pela primeira vez, foi com ele que descobri o que era ciúmes, mesmo que Letícia desistiu de atacá-lo, e tornou-se a melhor amiga dele. foi ele quem me ensinou o valor da palavra amor. Sim, eu o amo e desde que me entreguei ao sentimento arrebatador que senti só crescemos juntos.

Foi por mim que ele resolveu não ir embora, por nosso namoro ele ficou. Minha tia tem sido só sorrisos, já que ela não cozinha mais na pensão. É o Luiz quem cozinha sempre, ele se tornou uma das pessoas mais importantes para mim e não digo por amá-lo, falo por descobrir o ser humano que ele é. 

Sempre saíamos, cinema, museu, circo, parques, ele me levou em um zoológico e todos esses programas acrescentaram a minha vida um montante de recordações lindas. E minha primeira experiência no sexo foi perfeita, porque não foi algo rápido, não foi apenas por desejo, foi porque nós nos amamos. 

Luiz me respeitou, resistiu aos próprios desejos por quatro meses, somente no dia em que completamos cinco meses de namoro rolou nossa primeira vez. Posso dizer que fui ao céu e voltei, e sinto isso todas as vezes. 

― Essa rotina de ver o sol nascer ao seu lado aqui nesse telhado, me faz muito bem. ― disse Luiz em meu ouvido.

Me soltei de seus braços, fitando seus olhos, olhos negros e expressivos que diziam tudo que se passava em seu coração.

― Eu te amo e a melhor coisa que fazemos juntos é ver o nascer e o pôr do sol juntos.

Recebi um beijo casto em agradecimento e não conseguia evitar o sorriso bobo surgir em meu rosto.

― Eu também te amo, e você é a melhor coisa que já aconteceu em minha vida! ― todas as vezes que ele dizia isso, meu coração se perdia em meu peito, de tantas batidas frenéticas.

― Agora vamos descer, precisamos arrumar o café da manhã para os pensionistas. ― falei fugindo de seu charme

Seu sorriso bobo me dizia que ele ia fazer o mesmo de sempre, suas mãos me puxaram para perto, mas levantei rapidamente e sai correndo fugindo, minha gargalhada ecoava pela escadaria enquanto tentava chegar à cozinha primeiro, e quando cheguei logo vesti o avental. Luiz chegou depois, me puxando pela cintura e me envolvendo em seu abraço e beijo, aqueles beijos que me deixava aérea e sorridente. Mas um arranhar de garganta nos assustou e Luiz me soltou sorridente.

― Bom dia casal. ― Tia Maria disse

― Bom dia, quer café tia sogra?

Era assim que ele se referiu a ela, porque ela é como uma mãe pra mim. Com um sorriso de satisfação e orgulho pelo apelido, minha tia sentou-se em uma banqueta, para aguardar o café.

― Sabe eu tenho pensado muito em vocês, estão dormindo no mesmo quarto e temo que isso seja muito mais que um namoro convencional. ― disse como quem não queria nada, olhando para as unhas fingindo naturalidade.

Engoli seco, sabia exatamente o que ela queria dizer, tinha alguns dias que ela insistia que eu deveria noivar em vez de ficar apenas no namoro, mas não queria que isso acontecesse por imposição de alguém, queria que fosse natural e devagar assim como tudo vinha acontecendo desde o início.

― Tia! ― resmunguei reprovando aquela abordagem.

― Mari, eu converso com a Tia pode deixar.― disse Luiz servindo o café para ela. ― Tia Sogra, se acha melhor eu pedir sua sobrinha em casamento, saiba que isso já passou pela minha cabeça, inclusive já falei com a Mari sobre isso, mas ela é teimosa e diz ser muito cedo.

Minha tia lançou-me um olhar que causava frio na espinha, sabia bem que devia ter contado que ele já me pediu em casamento, mas também sabia que era por pressão, por minha tia ficar sempre nos repreendendo por dormir sempre no mesmo quarto.

― Tia, não vou noivar porque outra pessoa quer, quero que seja por desejo de passar a vida toda juntos, por amor. Sei que o Fer me ama, mas não sinto firmeza no pedido que recebi, não foi espontâneo!

― Mari, não diga isso. Sabe que te amo e que casaria agora mesmo! ― sua voz dizia que havia o magoado

― Eu sei, não disse que não ama. Mas não sinto que é o momento.

― Tudo bem, me perdoe por exigir algo assim. Desculpe, não sou sua mãe e…― as vezes minha tia usava o tom de voz afetado, e nesses momentos eu sabia que ela estava magoada, triste.

Abracei minha tia, impedindo que continuasse a dizer asneiras. Ela tinha todos os motivos do mundo para me querer casada, e tinha todo o direito de opinar sobre tudo que acontece em minha vida. Ela era minha segunda mãe, e nunca a faria pensar menos que isso. Segurei firme em suas mãos, e olhando dentro de seus olhos verdes falei de todo meu coração...

― Tia, não repita isso, a senhora é como uma segunda mãe. Tem todo direito de dizer o que quiser para mim sobre minha vida. Eu amo muito a senhora.

O sorriso contido surgiu em seus lábios, acompanhado de uma lagrima, pois ela era esse ser humano, que se emociona com tudo, chora por tudo e me amava como se realmente fosse minha mãe. Sorri, e limpei sua lagrima, ela não deveria chorar por culpa minha, nunca!

― Então Mariana da Silva, aceita se casar comigo? 

Girei nos calcanhares, me deparando com o amor da minha vida ajoelhado, sorrindo e com seus olhos inundados... em suas mãos uma caixinha aveludada vermelha tinha um anel lindo, com uma pedrinha rosa em forma de coração delicada.

Não sei o que dizer, o que senti... mas minhas mãos estavam frias, as pernas tremulas... pela primeira vez, eu realmente senti que era verdadeiro e genuíno o pedido.

― Luiz Fernando! Isso é… tão lindo. ― me aproximei me ajoelhando também.― Aceito, mas saiba que quero um casamento de princesa e para isso precisamos trabalhar muito. ― falei sentindo as lágrimas escorrer em minha bochecha.

Luiz sem nenhuma cerimônia me puxou para um beijo, nossas lagrimas se misturaram... eu estava tão apaixonada. Quando ele se afastou pegou minha mão e colocou o anel.

― Esse anel foi feito sob medida, ele foi desenhado para que combinasse com você...

― Então foi caro! Não precisa gastar seu dinheiro que já e pouco comigo

― Não foi caro, foi um favor de um amigo.

O sorriso voltou em meus lábios.

― Não iremos casar agora. ― Sussurrei em seu ouvido.

Fiquei absorta, leve, sem lembrar que tinha mais alguém ali. Só me dei conta de sua presença quando ouvi os aplausos da minha tia. Em seus olhos tinham mais lagrimas e um sorriso lindo.

Eu estava falando sério quando sussurrei que não me casaria naquele momento, amava Luiz mais que tudo, mais que a mim mesma, só que existia outros planos a seguir, juntar dinheiro, conseguir um lugar para morar. Ele iria entender, sabia que sim.

Luiz Fernando

Namorar! Essa foi uma palavra que nunca me passou pela cabeça, realmente não era como pensei. Na minha mente pessoas em um relacionamento passavam por muitas mudanças, sim isso realmente acontece, mas são mudanças mais no modo de viver do que em si na pessoa. 

Antes eu passava mais tempo em feiras, festas raves no meio das viagens, agora era cozinheiro, apaixonado, amigo e morava na pensão! Não era ruim, muito pelo contrário amava tudo que estava vivendo, amava mais ainda minha noiva. Foi pensando em comemorar nosso noivado que resolvi levá-la para jantar, mas queria que fosse especial e resolvi pedir ajuda do meu padrinho.

Meu padrinho era um amigo dos meus pais, eles são muito amigos, mas pela ambição dos meus pais ele se afastou. Meus pais são pessoas mesquinhas e queriam me controlar, e que eu trabalhasse com algo que não gostava e esse foi o motivo por ter fugido por nove anos. 

Sete meses atrás vim para o brasil pois meu avô estava doente, mas já estava melhor e estava de complô com meu pai e minha mãe para que eu assumisse os negócios da família, não sou o filho único, tenho minha irmã Sara, ela é dois anos mais nova, mas por algum motivo me odeia. 

Mas mantive o contato com meu padrinho Jorge quando fui embora, foi por causa do orgulho que sinto dele que decidi ser chefe, cozinhar é uma paixão e tudo por causa dele. É um coroa solteirão, em seus plenos cinquenta e cinco anos com aparência de trinta. Sempre fugindo de relacionamentos e também acho que segui a linha solteiro convicto por herança moral dele.

Liguei mais cedo e pedi uma mesa e um jantar especial, pois queria que minha noiva Mariana tivesse uma noite de princesa, porque em meio tanto caos, ela é a mulher que eu mais amo, a mulher que me fez mudar o modo de enxergar a vida, porque com ela tudo parece ser mais suave e mais doce. 

Estava em frente um espelho conferindo meu visual, mas como não gostava de nada muito sério, apenas usava uma calça jeans preta com um camisão e tênis esportivos. Minha jaqueta preferida de couro e meus cordões no pescoço e algumas pulseiras de couro no braço. Respirei fundo, era hora de esperar minha princesa na recepção da pensão, encontrei alguns pensionistas e minha Tia sogra, ela sorria vindo em minha direção para me abraçar.

― Prometa que vai cuidar da minha menina! ― disse em meu ouvido

― Claro, ela agora também é minha menina. 

Quando nos separamos vi a visão mais linda, que faz meu coração dar saltos em meu peito. Mari estava descendo as escadas lentamente, com um vestido lindo. O vestido ia até os joelhos, ele era rosê soltinho, justo no busto e saltos nos pés, seus cabelos com uma trança embutida lateral e um sorriso perfeito no rosto.

― Ual!― Maria disse ― Está deslumbrante, minha querida.

― Obrigado tia.

Meus olhos não desviaram dela nem por um segundo. Quando Mariana finalmente chegou até nós, peguei sua mão e a beijei. Sentindo seu perfume bom invadir meus sentidos, marcando mais um dos melhores momentos ao seu lado

― Você está linda meu amor.

― Obrigado, está um príncipe também, mesmo meio hippie, mas ainda assim, um lindo príncipe.

― Vamos, a reserva é para as oito― Falei

Mariana se despediu da tia e nó fomos para o carro que aluguei. Abri a porta para minha amada e ela entrou sorridente. Não conseguia não reparar em seu corpo perfeito, ela era toda delicada como uma princesa e ao mesmo tempo um mulherão.

No caminho todo, fomos conversando e rindo de nossas atrapalhadas na pensão, éramos sempre assim, sempre rindo, conversando cantando, por sinal Mari canta bem demais, nosso clima sempre é descontraído. Nunca brigamos, sequer uma discussão, porque estamos sempre dialogando sobre o que gostamos ou não gostamos. 

Estacionei na porta, desci e abri a porta para Mari, assim que ela desceu e eu entreguei a chave para o manobrista e um paparazzi apareceu do nada, surgindo ao nosso lado tirando uma foto nossa. Desviei do cara, odiava o fato de ser conhecido por aqueles abutres, mas não sabia como apareceram quase vinte jornalistas nos rodeando impedindo que passássemos. 

Senti no exato momento em que minha garota se sentiu exposta, sua mão apertou a minha, e ao olhar para ela vi seus olhos perdidos em meio a flashs insuportáveis.

Então as baterias de perguntas caindo sobre nós como uma tempestade.

― Ei, Luiz Fernando, porque decidiu voltar ao Brasil?

― Como está sendo estar de volta?

― Quem é a sua nova namorada Luiz Fernando?

Meu ódio por aquele tipo de coisa era tanto que passei com um pouco de brutalidade empurrando um dos idiotas, empurrei a porta, graças a Deus conseguimos chegar dentro do restaurante de meu padrinho. José, meu padrinho aparece em nossa frente, e era claro que ele também não fazia ideia de como os jornalistas de fofoca chegaram ali, ou como sabiam sobre eu ter uma reserva.

― Me perdoe, eu juro que não sei como vieram parar aqui. ― disse com pesar em seus olhos.

―  Tudo bem, o que importa é que eles ficaram para fora.

Depois do que pareceu uma eternidade eu sorri, e meu padrinho retribuiu, nos abraçamos. Aquele homem era importante demais em minha vida.

― Quanto tempo Fernandinho! ― falou dando algumas tapinhas em meu ombro

― Benção padrinho.

Assim que nos afastamos ele encara a mulher linda ao meu lado. Mariana ainda estava apreensiva, mas exibia em seu rosto um sorriso deslumbrante que derrubava qualquer má impressão.

― Essa e Mariana, minha futura mulher, ― sorri e me virei para Mari, ― Amor, esse é como um pai para mim, e dono desse espetacular restaurante.

― É um prazer te conhecer Mariana, todos os dias, ouço pelo menos uma hora esse homem falar sobre você. ― disse ele estendendo a mão para cumprimenta-la.

― Obrigada José, o prazer é meu. Fico feliz em saber que ele fala sobre nós. ― disse sorrindo enquanto apertava a mão de meu padrinho.

― Venham, a mesa está reservada no segundo andar.

Seguimos ele, e enquanto passo pelo lugar consigo notar o quanto aquele pequeno restaurante tinha se tornado um lugar extremamente requintado e luxuoso. Subimos por uma escada e logo estamos no segundo andar, onde tem mesas afastadas, meia luz um espaço mais aconchegante e reservado. 

― Aqui está, a mesa de você. Mariana espero que goste e desejo que sejam muito felizes. O maître

irá trazer a carta de vinhos e já o garçom irá vir retirar o pedido de vocês.

Nos despedimos e então ficamos só eu e Mariana. Queria que tudo fosse perfeito, era nosso jantar de noivado. Um momento tão nosso quanto nosso amor. Puxei a cadeira e ela sentou. Sentei de frente para ela que sorria de orelha a orelha.

― Ual, que vista linda― disse olhando para a vidraça que nos dava uma linda imagem da noite em São Paulo.

― Sim, muito linda. ― falei pegando em sua mão.

Mariana engoliu seco retirando sua mão da minha, meu sorriso sumiu e meu coração começou sentir um leve aperto, nunca a vi daquela forma comigo, mas talvez fosse apenas nervosismo.

― O que vai querer meu amor?

― Não sei...― disse pegando o menu e franzindo a testa. ― Como não conheço nada disso, quero esse Magret de pato.

― Tudo bem, irei pedir o mesmo. ― Sorri

Mari deu um sorriso meio frio, sabia disso pois não era o mesmo sorriso que recebia dela todos os dias.

Escolhi o vinho Saint Emilion, um tinto que harmonizava com o prato que escolhemos. Mari desviava o olhar do meu sempre que eu a encarava. Então meu cérebro despertou para algo que me fez sentir o sangue gelar...

Mari não sabia sobre minha vida, a parte podre que eu escondia a sete chaves porque era algo do qual queria distância. Talvez ver aqueles jornalistas a deixou intrigada, e aquele momento foi o primeiro que me arrependi amargamente de nunca ter falado nada sobre minha família, sobre eu ser conhecido pela mídia. Fechei as mãos em punho, talvez se eu pudesse voltar no tempo naquele segundo eu voltaria... não poderia ter feito aquilo.

― Meu amor, preciso que me escute tudo bem? ― falei sentindo meu coração se apertar mais.

―Creio que tenha muita coisa a dizer Luiz Fernando.

Suas palavras estavam carregadas de magoa, e seus olhos húmidos... ela estava segurando para não chorar, eu me odiava por tudo.

Estiquei minha mão, em uma nova tentativa de toca-la, e dessa vez Mari não puxou. Sua mão estava fria, e tremia.

Eu havia estragado tudo. Sábia disso. Estava escrito em seus olhos que a feri, talvez conseguisse reverter a situação. Mas ela havia me pedido para não mentir nunca, me pediu para ser sincero mesmo quando não a amasse mais. Mari não ia me perdoar.

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