Capítulo 3 - Angústia

É tanta tristeza, incomodando minha alma cansada de correr atrás de paz e descanso. São tantas desilusões, fracassos, resultados negativos de uma busca sem êxito. Meus dias são eternas horas de sofrimentos e descontentamentos, me sinto sem forças de acreditar num futuro melhor.

Pareço como quem a muito tempo já está morto, mas insiste em andar meio aos viventes, mesmo sem vida. Sou igual a uma árvore seca, sem raízes, folhas e frutos. Sou semelhante a uma palha que queima e em cinzas se transforma, soprada em seguida pelos fortes ventos que surgem dos quatro cantos da terra.

Lançando ao ar todas as minhas pequenas partículas quase imperceptíveis. Sinto um nó na garganta, um aperto no peito e um gosto amargo na boca. Esse jeito solitário de viver está me matando aos poucos como se fosse um câncer nos meus ossos. Meu sangue circula através de minhas veias frio.

Ele é impulsionado lentamente pelo meu corpo como se estivesse desistindo de me manter vivo.  Queima em mim uma profunda revolta que desfaz as poucas perspectivas que ainda me restam de ver mudar a sorte maldita que trago comigo desde o dia que nasci.

Odeio o mundo onde hábito, as pessoas ao meu redor, as coisas que me cercam, até o ar que respiro. Os sons que ouço me incomodam, parecem potentes buzinas que estouram meus ouvidos com suas notas agudas demais para suportar. Detesto todas as vozes que escuto, saindo de bocas perversas. As falsas delicadezas dos hipócritas, as propostas maliciosas de pessoas interesseiras e enganosas.  Até mesmo o falar das pessoas mais sinceras e humildes eu desprezo.

Detesto as promessas feitas pelos poderosos, a tolice dos que nelas ainda acreditam...Essa angústia maldita continua a me sugar a fé que já tive de crer no amanhã, de acreditar ser capaz de mudar tudo à minha frente. Da certeza de que Deus existe e em breve tomará alguma providência quanto a decadência dessa geração corrompida colocar fim a essa maldade que se espalha mundo à fora. Eu detesto o amor e a esperança. Sinto-me enojado com aqueles que ainda sonham em ser felizes pois só o que vejo crescer é a destruição.

Cresce demasiadamente e sem controle, destruindo tudo a sua frente. Me transformou nesse homem sem crença, sem esperança, sem amor próprio. Talvez todos estejam certos ao afirmar que sou um caso perdido. Um saco de fracasso e acovardado aos pés do destino que escolheu me sacanear com tantos desenganos.

Talvez seja correto me taxarem de fraco e insignificante, de um traste qualquer que baixou a cabeça no primeiro sinal de provação. Que não foi capaz de lutar para se manter de pé perante meus adversários. Um medroso que se assusta com a própria sombra, fugitivo das provas que fui convocado a passar.

 Mas, em minha defesa posso afirmar que se me encontro caído e ferido, jogado ao chão, é porque tropecei na minha ingenuidade de achar que amar alguém de todo coração levaria qualquer um a ser feliz. Estava desavisado quanto ao fato de que não devemos entregar nossos sentimentos nas mãos de quem pouco ou quase nada sabemos.

 Que o amor pode se tornar uma bomba atómica que implodirá dentro de nós caso não saibamos escolher a quem amar.  Eu não passava de um lerdo, um demente diante da possibilidade de me ferir nas aventuras amorosas que vivia ao lado de mulheres cujas intenções eram malignas. Completamente impiedosas. Meu erro foi acreditar na ideia absurda de amor perfeito, confiar cegamente no sonho de uma união duradoura.

 Foi ser um completo idiota que amou com toda a força existente em seu ser sem avaliar os riscos e as consequências dessa decisão absurda. E como resultado acabei jogado na sarjeta com profundas cicatrizes. Amar é bom, nos faz se sentir mais fortes, mais valiosos como pessoa, mais completos.  Porém, se amarmos de forma errada poderemos acabar com o coração ferido e estendido na primeira vala da esquina mais próxima. O meu mais parece uma peneira de tantas furadas dadas por quem não soube me valorizar.

Tenho a incapacidade de saber escolher corretamente meus amores e acabo levando na cara, sou esbofeteado continuamente sem poder reagir, pois abro a aguarda e me permito ser humilhado. Recentemente levei aquele fora daquela moleca vulgar, sem ao menos me declarar formalmente — Égua do vacilo que dei! É isso o que dá abrir a guarda para essas desprezíveis, elas se acham!

Logo que são desejadas dão coices iguais jumentas bravas. Certa ocasião alguém citou a seguinte frase: "Aquele que muito se abaixa deixa aparecer suas vergonhas". Aliás, esse sempre foi meu maior defeito, querer dá valor a quem não merecia sequer minha atenção. Mas estou aprendendo a lição, essas vagabundas não encontrarão mais espaço na minha vida, as portas do meu coração estarão fechadas para elas de agora em diante.

  Ao invés de amor e paixão irei lhes ofertar ódio e desprezo, serei seu pior inimigo, desejarei que o pior mal lhes sobre caia. Tentei amá-las no mais íntimo do meu ser, quis lhes entregar minha vida, e elas apenas me desprezaram. Odeio cada uma delas!!! Observo por entre as largas brechas existentes nas paredes do barraco de madeira que mais um dia se passou. Outra noite se aproxima, estou a várias semanas aprisionado nesse vazio imenso.

Sem disposição para nada, nem mesmo para sair desse barraco nojento. Ou pelo menos ficar alguns minutos sentado na cadeira de ferro, revestida de couro. A mesma que comprei de um ambulante qualquer ou para observar as pessoas que passam rotineiramente de um lado para o outro.

 Vindo ou indo sempre para os mesmos lugares. Seus passos apressados mostram o quanto levam uma vida repleta de ansiedades. O ser humano é insatisfeito consigo mesmo e com tudo aquilo que já conquistou até agora, sempre quer mais, nunca se farta. 

Dessa forma, tornam-se escravos do trabalho por causa de suas próprias ambições materialistas, por darem mais importância aos bens de consumo do que seu mundo interior. Ao crescimento espiritual necessário para encontrarem a verdadeira paz que precisam, mas que buscam de forma errada. O homem moderno busca riquezas com um único propósito, sustentar a luxúria e os prazeres que alimentam seu ego.

Posso até ser citado como um clássico exemplo disso, afinal, segui este mesmo raciocínio consumista. E olhem só como me encontro, seco de sentimentos, frio, morto emocionalmente, semelhante a uma coluna de concreto. Esse foi o resultado final diante de tantas frustrações, pelas incontáveis vezes que me permitir acreditar no que não passava de pura ilusão.

 Já é tarde, passou da meia noite e somente o orvalho cai suavemente sobre as plantas nos jardins dos pobres da favela, feito de um pequeno cercado de paus. Nele, algumas margaridas vermelhas, rodeadas de capim, ocupando o lugar da grama verde. Junto se vê a brisa faceira que, lançando-se sobre o telhado, rompe o silêncio junto a uma forte ventania que repentinamente decidiu me incomodar. Juntas batem de encontro as laterais do barraco velho onde moro.

 Daqui a pouco o os raios da estrela de quinta grandeza expulsarão a escuridão da fria madrugada. Iluminarão com toda a sua autoridade de astro supremo a superfície terrestre e esse canto esquecido onde me escondo. Puxa vida, dormir que é bom, nada! Estou mesmo condenado a viver jogado num canto qualquer desse monturo dos infernos — Diabos! — usando uma bermuda de cor escura, semelhante a solidão que me envolve dos pés à cabeça.

 Sinto-me constrangido a admitir que sou mesmo essa praga de homem sem qualquer chance de ver as coisas mudarem de rumo, seguir numa direção onde seja possível encontrar a mulher dos meus sonhos. Me tornei um verdadeiro pessimista em relação a isso. Desacredito que possa existir para mim uma mulher que compreenda meus erros, me ajude a consertar minhas falhas, seguir em frente lado a lado comigo.

 Que me ensine a fazer escolhas corretas a fim de que possamos realizar juntos o impossível. De todas as paixões vividas a última foi a pior. Me entreguei de tal maneira que ao cair a máscara da pilantra a dor sentida foi tão imensa que se tornou a mais profunda do meu ser. Sim, me conscientizar disso não foi nada fácil, definhei ao ver morrendo aos poucos todos os projetos feitos para aquela vida à dois.

  Ficar ciente da traição por parte de quem amamos é o mesmo que sentir uma espada bem afiada penetrar impiedosamente no âmago do coração. Dilacerando-o em várias partes tão minúsculas que se torna impossível restaurá-lo.

O amor que sentia por ela de imediato se transformou numa revolta jamais superada. Fiquei amargo por dentro.  E essa amargura tremenda me levou a decidir nunca mais acreditar no amor, fosse ele do tamanho que fosse, viesse de onde viesse, saísse de onde saísse. Para mim seria falso e eternamente impuro. Escolhi passar o resto de minha maldita existência sozinho, sem qualquer pretensão de uma entrega completa e definitiva.

O sexo oposto passou a ser visto por mim apenas como diversão, eu cuspiria no chão sempre que uma desgraça de saia cruzasse meu caminho. Abri mão do respeito para com esses demônios, afinal, preciso delas apenas para aliviar meus desejos carnais. Ao meu ver, não passariam de depósitos de espermas ambulantes. Me revoltei, sim.

Odiei todas elas igualmente, pois amarguei a maior de todas as decepções, mas não escolhi seguir o péssimo exemplo de alguns que decidiram cometer assassinatos contra aquelas que lhes foram infiéis. Tão pouco cometi suicídio, aniquilando a mim mesmo, pois apesar de toda essa sorte maldita ainda assim amo o dom de viver — Viva a vida! Como produto desse total fracasso nas minhas tentativas de conquistar a felicidade decidi castigar a mim mesmo por tantas escolhas erradas.

 Afinal, de quem foi a culpa por tantos desacertos senão minha? A punição contra tamanha idiotice foi o cárcere privado. Hoje sou um prisioneiro, trancado dentro desse cubículo por um tempo indeterminado. Talvez até que eu me sinta quites comigo mesmo. Entregar o coração numa relação amorosa é um erro tremendo. Eu sempre soube disso, porém teimei em não levar a sério.

Mas, finalmente parece que tenho aprendido. E se não aprendi pior para mim, porque continuarei sofrendo desenganos cada vez piores que as anteriores. A mulher tem sido nossa destruição desde do começo da criação, por causa delas reis e impérios caíram, toda a humanidade se vê hoje condenada à morte.

Devido seus atos de desobediência. O que podemos esperar delas a não ser isso mesmo, vergonha e tristeza? — Que peste! — Eu apanhei demais na cara e feri além da conta meu peito ao me relacionar com essas cretinas. Todas servas do demônio. Sou uma testemunha viva do quanto são venenosas. Por sorte escapei com vida do laço que elas lançaram em volta do meu pescoço. Sim, eu sobrevivi, mas com graves sequelas.

 Me tornei incrédulo, incapaz de acreditar que delas um homem possa extrair algo que mereça atenção. Me deu fome, irei preparar   algo para me alimentar, afinal, saco vazio não se põe de pé.   Que droga, na geladeira só encontro garrafas com água e alguns restos de comidas que sobraram de dias anteriores, cheios de fungos e apodrecidas. Isso aqui está um verdadeiro lixão, qualquer pessoa normal não suportaria sequer chegar perto.

Será que casa de homem é assim mesmo, essa sujeira toda? Acho que não, tem uns caras bem jeitosos com esse negócio de afazeres domésticos. Já eu não dou para esse tipo de coisa, na minha opinião homem que é macho não tem paixão por panelas, isso é para as mulheres — E esses afeminados, fãs de gastronomia! Agora não tem jeito, tenho que sair desse buraco imundo e colocar minha cara feia lá fora.

E depois de várias semanas trancafiado nesse cubículo vou circular novamente pelas ruelas deste bairro miserável. E infestado de ratos que correm de um lado para o outro, vindo dos esgotos imundos, quase tropeçando em nossos pés e cobertos de lama podre. Isso, sem considerar as ruas estreitas, as dezenas de vilas que mais parece um cortiço interminável.

Todas feitas de madeira que sob o sol e a chuva apodreceram e nos permitem ver seus interiores. Fico parado na saída da estreita porta, olhando o perigo que ronda pelos quatros cantos do beco que vai se afunilando sentido à fora. Isso ocorre devido a construção desordenada dos barracos. Após passar a chave na fechadura saio à passos largos em direção a taberna de Seu Vicente para comprar algumas guloseimas.

Para mim, um homem vítima da falta de apetite crónica por causa das inúmeras decepções que a vida me causou, é o bastante. É mais prático me alimentar com coisas que possam ser facilmente digeridas. Já no pequeno, porém bastante movimentado comércio, decido parar em frente a uma geladeira. Daquelas onde se guardam sorvetes e outros alimentos do gênero, de onde retiro minha feira semanal. Nada de carnes.

Tão pouco qualquer tipo de cereais que seja necessário levar ao fogo — ah, o vinho! — Como poderia esquecer a única coisa que me mantém vivo, o álcool? Sem esse veneno nas minhas veias para entorpecer meu cérebro e apagar, pelo menos por um tempo, as dolorosas lembranças do amargo passado vivido outrora, como sobreviveria?

A muito tempo já teria colocado fim a tamanho desgosto. Talvez tenha sido por permanecer como um ébrio e porque meu mundo parou, tudo em volta nunca mais mudou e tenho a nítida impressão de que tudo vai bem, assim, consigo sobreviver a tamanha desventura. Se olhasse de frente a realidade que me cerca, a pobreza e a miséria que rondam em derredor, o poço de fracassos onde me encontro caído, ferido pela desilusão de amores não correspondidos.

De sonhos jamais vividos e projetos que nunca saíram do rascunho mental, já teria enlouquecido na certa. Então prefiro a bebida forte, a embriaguez por completa, ficar jogado ao chão, entorpecendo minha alma para não encarar as frustrações. Elas que como pedras se puseram em meu caminho e fizeram tropeçar os meus vacilantes passos. Eles que guiados por um desejo descontrolado, seguiram em direção a um abismo de paixão sem fim.

Bem, melhor deixar de lado estes devaneios sem futuro e ir ao caixa pagar essa pilha de guloseimas — Caracas, quanta gente! — A fila está enorme e fiquei por último. Quantos devem estar aqui, cinquenta ou mais clientes? Quem se dá bem é o comerciante que por vender tudo mais barato do que os grandes supermercados faturam bastante.

Mas nada disso é à toa, o papo que rola por aqui é que ele trabalha para o tráfico. Eles lavam o dinheiro sujo adquirido através da venda de drogas em comércios como este, espalhados no bairro. Além do fato de que estes produtos alimentícios vendidos abaixo do custo de mercado são provenientes do roubo de carregamentos das transportadoras.

 Pelas quadrilhas. Mas quem é que se importa com isso? Afinal, num país onde as autoridades são corruptas e quem devia dar bons exemplos são os primeiros a roubar a nação, porque também não tirar proveito da situação, visto que todos fazem o mesmo? O Brasil se tornou uma das maiores referências em violência, corrupção e impunidade no mundo inteiro.

Somente aqui se mata, rouba, se apodera ilicitamente do dinheiro público e sai ileso dos crimes praticados. Desde que tenha poder econômico o bastante para subornar juízes e bancar honorários de bons advogados para lhes defender das acusações, acaba tudo em pizzas. Os três poderes que governam este país estão sendo dirigido por políticos e juízes corruptos, que se venderam ao tráfico.

  Se corromperam na troca de influências, no único objetivo de manter suas contas bancárias sempre cheias de propinas. Essa é a triste realidade em que nos encontramos. Sem considerar que dentro do coração de cada brasileiro a dor é maior, porque não há paz para quem vive sem esperança

 — O próximo da fila, por favor! 

Caramba, me perdi nos meus pensamentos que acabei esquecendo onde estou, numa imensa fila de um caixa. São poucas as vezes que apareço em público que os outros moradores do bairro têm a impressão de que sou de outra área, que não faço parte da comunidade. Isso na verdade pode se tornar muito arriscado, porque os traficantes aqui da favela não gostam de pessoas estranhas circulando pelo bairro, eles metem ficha mesmo. 

A malandragem por aqui tem um certo código de conduta que proíbe roubar a vizinhança. Quando há roubos ou crimes por aqui, com certeza trata-se daquela galera de outros locais. E se são pegos pagam com a vida pelo desaforo. Então, se me confundem com um estranho podem me assaltar ou me mandarem para sete palmos. As coisas em locais como esse não são fáceis, devemos ser em tudo bastante cautelosos

— Cinquenta reais, senhor!

  É a mulher do caixa que tem um vozeirão de lascar qualquer ouvido ue absurdo, mais de cinquenta reais por umas poucas coisas. E olhem que aqui as coisas são bem mais baratas que em outros locais. Onde vamos parar com a inflação crescendo desse jeito, dia após dia. Diminuindo o poder de compra do trabalhador e empurrando o assalariado cada vez mais rumo a miséria.

Tudo por causa desses políticos ambiciosos e corruptos.  Bem, a mídia mostra que a maioria dos envolvidos estão atrás das grades. Mas sabemos que nesse país a corrupção praticada pelos poderosos acaba em nada. Neste mundo dinheiro é poder e quem dele desfruta pode tudo nessa sociedade materialista.

Onde acumular riquezas é o primordial, independentemente de quais sejam suas origens, honestas ou não. Ando a passos largos nesse valado com medo de assalto por parte dos vagabundos.  Estão sempre de plantão à espreita para levarem o pouco que temos. Mesmo com a regra de que as pessoas da comunidade não podem ser vítimas dos desocupados daqui. 

Ainda assim surgem aqui e ali os que desobedecem às normas do tráfico e partem para o roubo na cara dura. Por causa disso surgem pelas manhãs alguns presuntos jogados pelos becos com a boca cheia de formigas.

 — Ora, vejam só, até que enfim o sumido resolveu dá as caras na rua!

 — Bom dia, Dona Vera!

 Essa aí dispensa comentários, a fofoqueira número um do bairro. Dá notícia da vida alheia como ninguém! Miserável daquele homem que ela ainda insiste em chamar de esposo. Ele mais parece um cachorrinho de coleira no pescoço e tudo. Pobre diabo. Por fim em casa. Passarei mais um longo tempo no meu isolamento, este cubículo quase sem espaço algum, mas foi o que me restou.

Fui, no passado, um homem abastado financeiramente e com um futuro profissional de dá inveja, bem garantido.  Meu erro é possuir coração fraco para as mulheres, me apaixono fácil e sempre me dou mal. Depois de vários fracassos sentimentais e constantes abandonos caí em profunda depressão e revolta. Hoje, tenho ódio de tudo o que faz parte dessa maldita realidade na qual me encontro.

 Detesto as pessoas, não suporto a atenção ou simplesmente ouvir a voz delas. Não faço questão de contar com a amizade de quem quer que seja. Tão pouco se percebem ou não minha presença, quando estou no meio deles. Não gosto das músicas modernas. Principalmente as mais barulhentas e que fazem apologia ao crime ou a sensualidade, como o tal funk, que desceu dos morros cariocas e se espalhou pelo

A quatros cantos do país como se fosse uma praga ou um vírus sonoro. Essa nova onda musical polui nossos ouvidos com letras de baixo escalão e ameaçadoras. Por essa razão dispenso aparelhos de som, já me bastam as monstruosas aparelhagens que infernizam minha vida. Com tanto barulho feito nas várias festas que acontecem aos finais de semana ninguém consegue dormir direito.

 Nesse fim de mundo onde as autoridades responsáveis pelo controle de poluição sonora nem dão as caras é assim. Até é compreensivo, porque todos estes eventos são bancados pelos chefões do tráfico e ninguém é louco para enfrenta-los. E no final das contas quem se dana mesmo somos nós, pobres diabos, indignos de merecer sequer uma tranquila noite de sono.

Se alguém pudesse ouvir meus pensamentos certamente diria que que sou algum tipo de louco ou no mínimo seria taxado de revoltado. Sim, eu aceitaria tranquilamente o segundo título. Afinal, sou mesmo profundamente amargurado e avesso a tudo o que existe à minha volta. Lá tenho culpa se a vida decidiu sacanear comigo e lançou sobre mim tantos fracassos? Droga de existência sem futuro!

Desde a mais tenra idade as portas já pareciam se fecharem para mim. No colégio apanhava dos outros caras maiores e as meninas me desprezavam por ser gordo demais.  Nunca fui muito bom nos relacionamentos. E, quando inventei de experimentar o amor, acabei me apaixonando pelas mulheres erradas. Desde aquele primeiro episódio parece ter desencadeado uma sequência de fracassos sentimentais.

 Foram muitos fracassos na minha vidinha insípida. Foram mais duas decepções amorosas seguidas, uma pior que a outra. E junto do mesmo pacote veio a perda do meu ótimo emprego com um avantajado salário. Mas é assim mesmo. Tive que sofrer todas aquelas desventuras para finalmente perceber que as coisas não funcionam da maneira que queremos, é como tem que ser.

As mulheres modernas não estão à procura de homens românticos e apaixonados, deixaram de lado o romantismo e buscam relacionamentos superficiais, desprendidos de seriedade. Encaram o amor como fraqueza e dão mais importância a paixão e ao sexo. vivem o lema: “vale a pena enquanto durar”. 

A moda agora é se aventurar aqui e ali, com um e outro, totalmente desprendidos de qualquer compromisso sério. Depois de perder tudo e ter minha conta bancária cancelada por falta de fundos. Tive que correr para as áreas de invasões na esperança de adquirir um pedaço de terra. Só assim pude construir pelo menos um barraco, onde pudesse morar e evitar acabar vivendo jogado na sarjeta.

Ou, quem sabe, caído pelas ruas imundas dessa imensa cidade, como muitos outros. Até parece que tal explicação possa vir a me servir de consolo diante da atual situação em que me encontro.  Odeio essa minha vida miserável e sem qualquer perspectiva de mudança. Detesto viver num país dominado pela corrupção e a impunidade em todos os setores da sociedade. As vezes desejo que as duas bombas atômicas lançadas no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial tivesse sido aqui.

Logo, essa nação corrupta teria sido dizimada e eu pudesse ter nascido noutro lugar. Quem sabe nos Estados Unidos ou em qualquer outra parte da Europa. Penso até que nascer na África ou Etiópia seria mais futuro.  Apesar, é claro, destas nações estarem sendo consumidas pela fome. Mesmo assim seria melhor do que nesta imundície onde os direitos sociais são negados e o povo é enganado dia e noite por seus governantes — Ou talvez eu esteja exagerando ao extremo.

Enquanto isso, as autoridades que deveriam defende-las negam-lhes tal proteção. Ser brasileiro me envergonha. Claro que a terra não tem culpa alguma de seus habitantes se tornarem corruptos e injustos. Mas, lembrando do que disse Deus a Adão após sua queda no jardim do Éden, Passo a compreender melhor as coisas. Entendo que é por causa do próprio brasileiro que o Brasil se torna cada vez mais um país amaldiçoado pela corrupção e a ausência de justiça entre seus habitantes.

Afinal, colhemos o fruto do que plantamos e se semeamos o mal em nossas ações não iremos obter outro resultado que não seja mais maldade e destruição. Não seria o momento ideal para refletirmos a respeito de nossas atitudes e tentar mudar a atual realidade? Se passarmos a viver com mais dignidade, semeando mais amor e justiça, nosso amanhã não seria com menos violência e morte?

 Mas vejam só quem está aqui a refletir sobre a esperança de um futuro melhor, logo eu que perdi a fé em tudo. Talvez meu maior problema seja a frustração de não ter realizado o sonho de conquistar um grande amor. Daqueles que só existem nos contos de fadas.

 E com isso me tornei amargo, revoltado, impaciente com certas situações na vida. Talvez devesse procurar um psicólogo para desabafar minhas decepções e quem sabe aprender como sarar as feridas que deixaram profundas cicatrizes, as mesmas que começam no coração e chegam até o mais profundo do meu ser. Ou, quem sabe, deva consultar mesmo é um psiquiatra, pois ando falando comigo mesmo e pelo que sei isso já é o primeiro sinal de loucura  — Droga de enlatados! — Detesto essas chavetas colocadas na lateral dos enlatados no propósito de abri-las, causam um sacrifício enorme ao tentar girá-las.

 E muitas das vezes machucam os dedos de quem se aventura a utilizá-las. Quem será o idiota que teve a péssima ideia de criar essa droga? Para completar, acabei sangrando o dedo sem conseguir êxito algum. Todo país atrasado é assim mesmo, lascado! Dizem que durante o governo passado fomos colocados entre os países do primeiro mundo.

 Mas que mentira mais deslavada! Desde quando isso poderia ser possível diante da realidade vergonhosa que vivemos?   Somos, na atualidade, uma nação com mais de treze milhões de desempregados e com o pior índice de crescimento econômico de todos os tempos. Onde coisas básicas para a sociedade, como saúde, educação, moradia e segurança não existem.

 Como um país nessas condições poderia fazer parte do primeiro mundo? Estamos é na verdade no ponto mais baixo do subdesenvolvimento global. Somos referência mundial em corrupção, injustiça e impunidade. Uma vergonha.

Claro que bem poucos brasileiros concordariam comigo sobre este assunto, a maioria ainda ama esse país infectado pela corrupção política, fingindo-se de cegos. Subjugado por leis que defendem somente os mais poderosos. A forma injusta como nossas autoridades governam o Brasil lançam as classes sociais mais pobres no esgoto da impunidade, miséria e abandono social.

Bando de imbecis, sonhadores e idealistas! Apesar de viverem debaixo do chicote dos que lhes estripam as vísceras todos os dias ainda acreditam que eles são a única solução para todas as mazelas sociais que nos afligem. Esquecem que foram essa corja de malfeitores que afundaram economicamente o Brasil.

 Eles são os únicos responsáveis pelo caos no qual nos encontramos. Fico indignado de ver e ouvir os tais patriotas defendendo esse ou aquele partido político, alegando que ele sim, vai resolver as coisas. Desde quando algum político está bem tencionado ao ponto de se preocupar com esta nação? O que eles estão em busca é de uma oportunidade de se aproximar do baú onde se guardam o Tesouro Nacional. Pretendem roubar o máximo possível e beneficiar a si mesmo e aos familiares.

Para estes lalaus, os brasileiros que se lasquem! Para que defender esse ou aquele partido político se todos são farinha do mesmo saco? Eu que não vou perder meu tempo depositando confiança em bandidos de colarinho branco, se Deus não tiver compaixão dessa gente ninguém mais vai ter. E tenhamos cuidado, porque as religiões estão tão corrompidas quanto a política.

Quando falo que só Deus para nos prestar algum auxílio estou falando sério, a coisa está preta mesmo. E estou falando do Criador dos céus e da terra, não desses líderes religiosos e suas doutrinas da prosperidade, onde somente eles prosperam e o povo se lasca cada dia mais. Está tudo perdido mesmo neste mundo do cão.

A gente olha para a direita estão os políticos carniceiros esfolando o trabalhador e esmagando a parte pobre da sociedade. À esquerda se vê os falsos profetas enganando seus fiéis com vãs palavras de engano, vendendo os dons de Deus, suas curas e milagres. Atrás vem os poderosos cruelmente a pisar sobre a cabeça dos mais fracos.

E à frente, podemos contemplar o fim trágico dessa geração que segue às cegas em direção a lugar nenhum — Pobres diabos! Finalmente terminei de preparar essa guloseima desgraçada, agora é m****r de goela à baixo e tentar matar essa terrível fome que me rói por dentro como um câncer. Demorou, mas a fome voltou e vou aproveitar o ensejo para alimentar esse corpo que muito tem sofrido privações.

Porcaria de situação, um homem solteiro tem suas vantagens e desvantagens, se tivesse uma esposa para preparar minhas refeições seria ótimo. Pelo menos não teria que ficar aqui nessa trabalheira dos infernos. Bem, sei que essa minha visão de casamento não é a mais aceitável pelas feministas, mas para mim mulher é para cuidar dos afazeres domésticos. Enquanto isso homem vai para o batente ganhar o pão de cada dia. Estou errado?

Dane-se, sou mesmo machista, e daí? Ainda vivo e penso como diziam meu avô e papai, que lugar de mulher é na cozinha. Certamente que com toda essa modernidade viveria em conflito na relação, caso fosse casado. Pois a mulherada agora quer ter os mesmos direitos que nós, homens, e não aceitam mais rédeas curtas. Mas comigo essa de modernismo não cola, se quiser ser minha esposa vai ter que baixar a crista, obedecendo minhas ordens.

Cresci vendo minha mãe seguindo à risca as determinações de meu pai, sem discutir. E isso é o certo. Num casamento o homem fala e a mulher escuta em silêncio, ele manda e ela obedece. Numa família somos a cabeça e nossas companheiras a calda. Sem essa de feminismo. Desde os primórdios das civilizações a mulher serve o homem e não o contrário. É ridículo estes caras nas cozinhas, assumindo o papel que pertence a mulherada, preparando o almoço e o jantar.

Enquanto elas estão gastando valores altíssimos nos salões de beleza e com roupas extravagantes nos shoppings. Isso, quando elas não estão de papo na casa das amigas ou nos motéis com os amantes. Olha, eu não nasci para esse tipo de babaquice. Se for para eu viver na frente de um fogão, cozinhando feito um tremendo baitola, prefiro ficar como estou agora, sozinho.

Pelo menos não vou ser, além de capacho, um corno manso. Estou sentado outra vez nesse piso duro e sujo. — Que droga! — Ouço uma linda canção que está a tocar no boteco ao lado. É um tipo de barzinho onde os papudinhos da área se reúnem para tomar suas pingas no final do dia.

A música é boa de se ouvir e não incomoda, apesar do alto volume e de só falar em chifres. É do tipo que só serve para os que, como eu e os demais frequentadores do lugar, fomos vítimas da traição de mulheres safadas. O rei do Brega é o mais tocado, a galera adora — Principalmente agora que o cara bateu as botas! — depois vem os outros cantando as mesmas coisas. Talvez pelo fato de também terem sido vitimados pela mesma desventura ou pelo simples fato de saberem como ganhar dinheiro cantando para aliviar ou aumentar a desgraça alheia.

 A verdade é que não há nada melhor para se ouvir quando o que nos resta na vida são as saudades daquilo que perdemos. Amei demais quem não merecia e sai da relação com meu coração em farrapos. Somente quem já passou por tamanha desventura é capaz de entender tamanho sofrimento.   Pessoas que apanharam demais do maldito destino, que lhes impediu de serem felizes.

E com isso já não conseguem chorar mesmo nas horas mais tristes, pois seus olhos encontram-se secos, não há mais lágrimas para molhar seus rostos. Na minha opinião, não existe nada mais marcante do que uma música ouvida em momento oportuno. E essa que ouço agora me faz voltar ao mais longínquo da minha amargurada e vazia existência.

 Aí eu misturo bebida forte com as lembranças do meu passado e a saudade aumenta ao ponto de quase não aguentar. Meus olhos lagrimejam ao ouvir o romantismo das canções antigas e aumenta a vontade de encher a cara até cair. Essa é, sem dúvida, a primeira reação de um homem apaixonado sempre que algo lhe permite voltar no tempo.

 E relembrar o que viveu, principalmente aquilo que lhe feriu grandemente. Uma garrafa de Wodka Smirnoff original. Foi comprada no mercadinho do tráfico pela bagatela de dez reais, quando o preço real é de quinze. Está aqui de meu lado a minha disposição e nela afogo minhas mágoas nos seus quarenta por cento de teor alcóolico.

Desde que meu mundo começou a ruir que não consigo mais encarar a realidade por muito tempo. Prefiro me perder no engano proporcionado pelo álcool. Que me faz pensar que tudo vai às mil maravilhas. Gosto de ficar embriagado, entorpecido e esquecido da vida miserável que me restou.

 Outra música começa a tocar no som estridente do barzinho. As paredes feitas de tábuas vagabundas possuem brechas que permitem um camundongo dos mais gordos passar. Permitindo, também, a chegada do som vindo através do vento até aos meus ouvidos. Dessa forma me é possível ouvir daqui as vozes dos beberrões de cachaça que falam tão alto que podem ser ouvidos lá da esquina.

 Cerca de uns quinhentos metros de onde estamos. Eles são homens vindos de diferentes partes dessa favela e com as mais variadas histórias de dor e sofrimento.  A sociedade critica pessoas como eles e eu, nos condenam por nos ter tornado beberrões. Alcóolatras, nos veem como meros fracassados. Mas, o que a grande maioria não sabe é que não somos covardes, indivíduos fracos que desistiram de lutar por seus ideais, somos, sim, pessoas que lutamos até onde nos foi possível.

Insistimos o máximo para conquistar nossos sonhos. Entretanto, pela vontade ou coincidência do destino, sempre demos com os burros na água. Tudo deu errado e nunca acertamos o alvo. Não fugimos da luta, não somos medrosos e fracos. Apenas revoltados com tudo e com todos, até mesmo com Deus, quem acreditamos nos ter esquecido e abandonado à própria sorte.

Diabos, por que será que temos o hábito de apontar o dedo para as pessoas e julgá-las por suas más ações? Não deveríamos ao invés disso tentar compreender e ajuda-las? Talvez façamos isso pelo fato de nos sentirmos de certa forma superiores aos outros. Essa é falha humana que existe desde sempre. Os mais poderosos sempre pisando sobre os menos favorecidos.

Neste caso eu, assim como aqueles que igualmente foram vitimados por amar demais as pessoas erradas, somos os menos dignos de compaixão. Mas, será que somos mesmo vítimas? Existem amores errados ou são nossas escolhas que foram as piores possíveis? Lógico que sim! Sofremos por insistir numa relação completamente oposta ao que somos e buscamos nessa vida.

Então as mulheres a quem entreguei meu coração não eram, na verdade, os monstros que costumo pintar? Claro que sim, mas eu também errei em não procurar conhecer mais a fundo quem de fato elas eram. Aconteceu é que escolhi amá-las sem antes verificar se elas também estavam na mesma sintonia.

 Dispostas a viver o mesmo sentimento que por idiotice ou imaturidade criei dentro de mim. Era como se a outra pessoa por quem me apaixonei tivesse o dever de sentir e viver o mesmo sonho bobo de amor. O sentimento idiota que idealizei e transformei numa meta absurda. Afinal, só porque alguém me ama sou forçado a amá-la na mesma intensidade? — Mas que tremendo babaca poderia pensa assim? — Somente um bobo como eu para exigir isso de alguém.

Às vezes, quando paro e penso na maneira idiota como me portei nos relacionamentos que vivi anteriormente, sinto vergonha de mim mesmo. Como alguém pode ser tão inocente? Ao ponto de acreditar nesse papo de amor eterno? Tudo nessa vida é passageiro, passa tão rápido quanto começou a existir.

 Caramba, a própria existência humana é temporária e acaba num curto espaço de tempo. Pena eu ter compreendido somente agora, tão tarde demais. Bem, elas forem sem sombra de dúvida os maiores amores que pude ter. Creio que nenhuma outra mulher irá preencher o vazio que elas deixaram no meu coração, pois é um tremendo buraco.

 Um vazio imenso. Ah, mas que música maravilhosa essa que comecei a ouvir, agora mesmo é que não vou sequer pensar em dormir. Prefiro passar toda a madrugada ouvindo estas lindas canções que falam de amor e, certamente, das muitas decepções que homens como eu sofrem por amar demais. Não vou ousar sair do barraco e ir me infiltrar meio aos papudinhos que estão lá fora bebendo e jogando bilhar.

 Eles sequer me conhecem. E aparecer por lá assim de repente seria apenas mais uma grande bobeira. Melhor continuar curtindo minha fossa aqui mesmo. Vou pegar carona nas canções que eles me dão gratuitamente, sem perceber. Vou me levantar um instante para ir esvaziar a bexiga que está derramando de tão cheia. Já se passaram muitas horas desde que comecei a beber e um dia desses vi na tv que causa impotência sexual.

 Era só o que me faltava, além de solitário e azarado no amor me tornar um maldito impotente na cama. Isso que não, nem pensar. Legal, bexiga vazia. Agora é só voltar a rotina de antes, ouvindo músicas para corno e encher a cara de wodka. Interessante o que acontece depois que o coração se decepciona e perde a confiança nas pessoas. Depois que levei tantos foras desacreditei imensamente no sexo oposto.

 Para mim todas as mulheres não passam de um bando de cadelas traiçoeiras e indignas da minha atenção.  Sim, eu sei que pareço injusto ao generalizar as coisas. Nem todas as pessoas são iguais e com certeza ainda devem existir por aí algumas que se aproveite. Mas o diabo é que para encontrar uma delas se torna quase impossível.

Afinal, na minha amarga opinião é uma em mil que mereça ser vista com bons olhos. Eu mesmo não me arrisco a depositar novamente minha confiança num rabo de saia. O pior mesmo é ter que suportar o fogo queimando os meus membros. Ando na pedra, faz um tempo enorme que não vou para a cama com uma vadia — Inferno! — O jeito é improvisar.

A masturbação é a única saída disponível no momento e vai acontecer agorinha mesmo. Mania essa desde adolescente, quando não descolava uma das muitas meninas do bairro, que apesar da pouca idade já andavam viçando. Usava essa tática antiga de liberar os hormônios. Agora é que a coisa ficou feia por aqui, além de bêbado bastante excitado.

Minha afiada ferramenta de trabalhos forçados que o diga, está aqui, pegando fogo! Fico pensando se essa situação persistir pelo longo dos anos como vou terminar depois de todo este desgaste físico? Conheço alguns que por tanto se decepcionar com a mulherada acabaram invertendo os polos com outros caras — Deus que me livre!

 Talvez muitos me critiquem por me senti enojado desses homossexuais que ficam por aí se lambendo pelas esquinas das ruas, na minha opinião não passam de doentes mentais. Ora essa, onde já se viu um macho ou uma fêmea se lambendo com outros do mesmo sexo? Mas que imundície! Eu participei de muitas sacanagens com minha última noiva.

 Era uma safadeza só, nós ficávamos doidões com o uso de tanta droga. Nem sei se algum macho ousou me pegar, mas lembro de nunca ter me enrolado com outro homem de forma consciente, acho isso imundo. Pois prefiro me masturbar a ter que me agarrar com outro cara, isso é humilhante demais. Bem, mas agora que já existem até leis apoiando essa pouca vergonha, quem sou eu para julgar. Este mundo está de cabeça para baixo e não será minha opinião que vai mudar as coisas.

 Além do que existem dezenas de outras com que devo nos preocupar ao invés de ficar tentando entender certas escolhas de quem quer viver praticando imoralidades. Para estes depravados o sexo não é sinônimo de amor e sim de orgias. Não que eu seja um santinho, já até pratiquei algumas dessas loucuras sexuais. Mas não me lembro de ter invertido os papeis na cama.

Minha nossa o galo da vizinha começou a cantar, já está amanhecendo e eu permaneci aqui sentado à noite toda.  Ouvindo as canções do rei do Brega e bebendo essa peste de cachaça alemã que queima a garganta igual a pimenta. Bem, já que o dia amanheceu e nem sinal de sono vou tomar um banho e ver televisão, tentar encontrar algum programa que me interesse.

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