03. Preconceitos

O correto seria chamar a polícia, pois Luana ainda era menor, tratava-se de pedofilia, mas estava confusa, pela primeira vez na vida ficou indecisa diante de uma situação, não tinha a menor ideia do que fazer. Carlos estava em viagem e só retornaria na próxima semana, realmente ele era tão passivo na relação que quase nunca serviu sequer para dar uma simples sugestão, m as tudo bem.

 Entendia que Carla falou a verdade ao dizer que foi ela mesma a responsável por ele, um homem com alto nível de intelectualidade, capaz de assumir no governo um alto posto diplomático. E, mesmo assim, se comportar de forma medíocre diante da esposa. Agora arrepende-se grandemente, porque não tem a seu lado alguém que possa lhe dar uma ideia.

 Ou sugestão sobre o que fazer. Eduarda dirigiu-se a portaria, identificando-se como advogada, solicitando permissão para entrar no condomínio.  A desculpa dada aos atendentes foi que seu cliente a aguardava. Como não era um condomínio de luxo a segurança era debilitada e pouco de avaliava os visitantes.  Assim, ela indagou qual o exato apartamento do casal que acabou de entrar ali, pois a aguardavam, mas não esqueceu a agenda contendo a anotação.

 O homem que recebia quem ali se chegasse era um idoso de aproximadamente uns sessenta anos. Era inexperiente e iludiu-se pelo fato dela ser uma advogada. Fornecendo-lhe todas as informações que precisava e deu permissão para que entrasse. Roberto e Luana estavam namorando deitados na cama, quando batem à porta.

Quem atende é ela, e ao abrir amarela ao ficar frente a frente com a mãe. Devido ó silêncio feito na sala Roberto vai ver o que aconteceu e logo percebe a difícil situação:

 — Então é aqui, com esse vagabundo que você passa a maior parte do tempo, enquanto me engana ao pensar que estivesse fazendo alguma atividade na faculdade?

 — Mãe, por favor, evite escândalos. Entre, vamos conversar como pessoas civilizadas

— Ah, você está preocupada com escândalos? Logo você, que está escandalizando o bom nome de nossa família?

— Por favor, mãe, entre!

— Está certo, vamos resolver isso logo de uma vez. Comece me explicando o que significa tudo isso, o que você pensa que está fazendo de sua vida?

 — Mãe, primeiro quero lhe apresentar meu namorado, este é   Roberto

 — Não vim aqui conhecer o homem que fez você cometer tamanha loucura, mas para que me explique porque fez isso?

 — Mãe, nós nos amamos!

 — Não me venha com essa infantilidade de menina que decidiu se apaixonar, você mal deixou de brincar com bonecas!

 — Quer saber, a senhora como sempre não ouve as explicações de ninguém, é a dona da razão, todos a sua volta estão errados!

 — E por acaso suas atitudes estão corretas? Acha mesmo que depois de toda a educação que lhe demos e do status que herdou de mim e de seu pai é correto vir parar nesse fim de mundo e ir para a cama com um Zé ninguém como esse?

 — Espere lá dona, veja como fala, a senhora está dentro de minha casa!

 — Calma, amor, deixa que eu resolvo isso

 — Para mim pouco importa se estou nesse barraco que você chama de casa, rapaz, lembre-se que apesar de tudo ainda estou sendo bastante generosa com você, minha filha é uma menor de idade e eu poderia muito bem lhe denunciar por pedofilia e colocá-lo atrás das grades. Agradeça minha generosidade à sua namorada, é por ela que estou me esforçando para agir com cautela!

  — A senhora está é mais preocupada em não sujar o bom nome de sua família, dona, isso sim!

  — Insolente, como ainda ousa me enfrentar?

  — Olha aqui, vocês dois, já chega, parem de ficarem agindo como duas crianças! Mãe, vamos para casa, lá a gente conversa

 — É bom mesmo!

 — Chega, Roberto, por favor!

As duas saíram em silêncio e retornaram para casa. Durante toda a viagem Eduarda esbraveja e Luana apenas ouve calada, sabe da seriedade do que fez e que pode complicar seriamente a situação de Roberto.

 Principalmente se sua mãe descobrir que ele antes se chamava Pedro, foi um dos sequestradores e está usando uma falsa identidade, o que consiste em falsidade ideológica.

 Um prato cheio para que o denunciasse e não medisse esforços para vê-lo para sempre na prisão. Além de que agora pesa sobre si mais um agravante, o de pedofilia.  Luana tem apenas dezoito anos e seu namorado passa dos vinte. O estatuto do menor e adolescente considera esse tipo de envolvimento íntimo um crime grave e certamente ele seria enquadrado em mais esse delito.

Acontece que, pelo visto, nem Eduarda aceitou o genro nem ele a ela, criando um visível conflito entre os dois e isso preocupava Luana. Que via à frente um futuro cheio de muitas complicações para sua vida amorosa.   Conhecendo bem a mãe que tem, sabe que ela jamais vai concordar com aquela união. Já que não leva em consideração o tipo de sentimento que existe entre duas pessoas, mas apenas o status social.

Seu pai somente a conquistou pelo fato de que ao conhecê-lo ele já ocupava um alto cargo no governo, se ainda vivesse entre os cocais no Maranhão ela de maneira alguma o aceitaria sequer como amigo. Eduarda é fria, alheia ao amor e nunca soube o que é paixão.  De origem humilde e por ter vivido uma infância sofrida, cheia de pobreza e miséria. Não desejava ver algum de seus filhos passando pelo mesmo sofrimento pelo qual ela foi obrigada a passar até alcançar a maioridade.

 Período em que saiu da seca no sertão do Ceará e foi morar no Rio. Onde trabalhou como doméstica, estudando com muito esforço conseguiu se formar em Direito e hoje, aos mais de quarenta anos é uma das conceituadas advogadas criminais de sua região.

 Claro, que, levando em conta este particular, Luana entende perfeitamente a preocupação da mãe em querer protegê-la, Porém, discorda do visível preconceito que ela tem de qualquer um que venha de origem humilde sem antes considerar que ela da mesma maneira veio de lá e venceu. Conquistou seu espaço, os outros também podem fazer o mesmo. A adolescente apenas reflete sobre estes detalhes, nada diz durante todo o trajeto.

A mãe, no volante, contínua dando a merecida bronca, mas ela quase não ouve, pois perdeu-se nos seus pensamentos. Somente ao se aproximar do semáforo com o alerta em vermelho ela volta a si e olha para a banca de revistas enquanto o carro permanece parado por um minuto, e lembra da época em que Roberto.

 Quando ainda se chamava Pedro, e ela era apenas uma estudante sem qualquer ideia do que lhe ocorreria no futuro. Naquela época ela o observava todas as manhãs, lendo aquele jornal, fissurado nos noticiários. Finalmente em casa, as duas cuidam em tomar um banho frio e depois estão outra vez a conversar, agora no quarto da adolescente:

 — Eu sei que você desaprova todo o cuidado que sempre tive com seu futuro, minha filha, mas como sua mãe é meu dever querer sempre o melhor para sua vida

 — Me poupe de seus comentários artificiais, mamãe, eu a conheço bem para saber as verdadeiras razões de tanta preocupação.

O que a senhora não quer é que suas amigas importantes saibam que a filha da ilustre advogada Eduarda Santana Albuquerque esteja namorando um entregador de pizza que mora na periferia!

 — Ah, um entregador de pizza?

 — Sim, mãe, um trabalho digno e honesto como qualquer outro

 — Valorize o meio social que sua família e você pertence!

 — Quer saber, eu sinto nojo de todo esse rótulo social do qual fazemos parte, para mim melhor seria ter nascido lá na periferia e ter pais normais, amigos comuns e poder namorar um entregador de pizzas sem que minha mãe viesse esbravejar no meu ouvido que estou cometendo o pior crime do mundo!

 — Então você despreza a sorte que tem de pertencer a uma família importante como a sua? Pois saiba que eu e seu pai lutamos como dois condenados para sairmos daqueles dois buracos imundos, onde nascemos, para chegarmos até aqui e construímos tudo o que temos e somos hoje, a fim de podermos dar a você e a seu irmão a boa vida que tem, e agora me diz que se enoja daquilo que nos tornamos?

— Mãe, me desculpe pela sinceridade, mas os seus sonhos e objetivos não são semelhantes aos meus, se a senhora e o papai buscavam riqueza e status, então aí está, alcançaram. Mas eu não busco estas coisas para mim, só quero ser feliz. Pouco importando com quem. Se vai ser ao lado de um diplomata ou de um mero entregador de pizzas. Olhe para vocês, possuem muito dinheiro, fama são pessoas importantes na sociedade, entretanto não vejo qualquer traço de felicidade em nenhum dos dois.

 Vivem como duas almas penadas só trabalhando e conquistando posição social sem experimentar o prazer de viver plenamente um amor de verdade. Aliás, dona Eduarda, alguma vez na vida a senhora conheceu o amor ou se apaixonou perdidamente por alguém?

— Eu nunca tive tempo a perder com sentimentos mesquinhos, minha filha, desde cedo busquei alcançar o topo da vida.

 Meu único objetivo era me libertar da pobreza e da miséria na qual nasci. Na minha opinião, amar e se apaixonar são coisas de gente fraca, sem personalidade

— Não, doutora Eduarda, amar é coisa para quem quer ser feliz, viver a vida dentro dos seus mais altos limites, para aqueles que entendem ser nossa passagem por este mundo um tempo curto demais para perdê-lo com coisas supérfluas, passageiras, que não será possível levá-las conosco, quando chegar a hora de fazer aquela grande viagem em direção ao desconhecido, para onde um dia todos nós iremos, ricos ou não

— Nossos conceitos de felicidade são completamente opostos entre si, minha filha, você se sente realizada com uma simples pizza, pessoas como eu e seu pai precisamos de bem mais que isso

— E o que ganham com isso, essa vidinha amarelada que vivem? Mãe, completei dezoito anos e nunca vi uma só manifestação de carinho entre a senhora e papai, parecem dois zumbis, andando pela casa, por acaso já parou para pensar se meu pai realmente está realizado a seu lado, se sentindo completo, ou vive buscando isso noutras mulheres lá fora?

 — Mas que desrespeito é esse para com seu pai, menina;

 Por acaso está insinuando que ele tem amantes pela rua?

 — Não, mas meu pai é um homem lindo, educado, de grande importância e rico. O que impediria uma mulher mais jovem que a senhora de se interessar por ele e ser correspondida, quando a vida sentimental de vocês está esse caos? Mãe, acorda, o mundo não parou debaixo de seus pés!

A observação de Luana levou Eduarda a refletir um pouco mais na sua relação com Carlos, passou a perguntar para si mesma se a filha não estaria com razão no que disse. Ele passa maior parte do tempo viajando e, quando está em casa ela o trata com frieza.

Não existe mais qualquer afinidade entre os dois, até na cama existem discórdias, porque ela vê o sexo como um dever conjugal e não uma busca pelo prazer.  Eduarda quis dar uma lição de moral na filha e acabou recebendo dela uma grande repreensão, ela lhe fez repensar seus conceitos, sua conduta e o tipo de comportamento que estaria tendo.

 E o risco que isso poderia trazer para o seu casamento. Mas este momento de reflexão não mudou em nada sua opinião preconceituosa em relação ao namoro da filha com o entregador de pizza

— Ficou pensativa, minha mãe, percebe que estou certa?

— Não estamos tratando de minhas intimidades com seu pai

— Interessante como a doutora desce da alta postura social, quando está zangada, e pronúncia palavras chulas, não é mamãe? Onde estão aquelas expressões cheias de ética e técnicas que os advogados e as pessoas da alta sociedade adoram usar diante dos leigos?

— Menina, você me respeite! E nem tente mudar o rumo de nossa conversa

— Não estou mudando o rumo de nada, apenas tentei fazer com que a senhora compreenda que não pode controlar a vida das pessoas a seu bel prazer. E se tentar fazer isso acabará esquecendo de observar detalhes importantes de sua própria vida.

Enquanto se preocupa em preservar a felicidade de seus filhos acaba por esquecer de que seu relacionamento com papai está mal e poderá perder ele da noite para o dia

 — Deixe que disso cuido eu, agora me diga quanto tempo está junta com esse rapaz e o que já andaram aprontando nesse tempo todo?

— Está preocupada em ser avó de um neto bastardo? Não se preocupe, conhecem minha índole e jamais irei para a cama com homem nenhum, mesmo que eu o ame com toda a força do meu coração, antes de ser levada diante de um altar

— E quer mesmo que eu acredite na possibilidade de que se manteve virgem todo esse tempo que esteve visitando a casa daquele ogro?

— Pois fique sabendo que sim, e não se iluda pensando ter sido em consideração a vocês, mas porque considero o matrimônio algo sério, na minha maneira de ver toda mulher deveria se casar pura, sem nunca ter sido possuída sexualmente por homem algum

— Interessante esse raciocínio, vindo de quem agiu como uma inconsequente

— Sei que parece absurdo, pois hoje o sexo se tornou algo banal, meninas da minha idade já foram para a cama com o namorado, outras são até mães solteiras.

 Porém discordo dessa tal modernidade, onde os princípios éticos e morais foram levados para segundo plano na vida das pessoas  

— Muito bem, se é assim me tranquilizou, porque pior do que saber que minha filha está às voltas com um morto de fome é ficar sabendo que ela espera um filho bastardo

— Pois não se preocupe, isso não faz parte de meus planos

Eduarda deu a impressão de que aquela conversa ficaria esquecida, mas é incansável nos seus propósitos, não foi à toa que alcançou tudo o que tem na vida. Sabia que Luana era igualmente persistente nos seus objetivos. E jamais desistiria de viver aquele romance absurdo.

Com a chegada de Carlos Eduardo ela passou a ele as últimas novidades, incentivando-o a tomar sérias medidas para colocar um ponto final naquela relação sem futuro. E ele próprio toma partido contra o namoro da filha, visto que arde de ciúmes dela.

A solução mais viável no momento seria enviá-la para concluir seus estudos fora do país. Como um diplomata seria fácil conseguir numa faculdade dos Estados Unidos ou em qualquer outra faculdade da Europa uma vaga para início imediato. A maior dificuldade estava na escolha do curso, pois desejava se especializar em Literatura Brasileira, o que lá fora não seria possível.

Então, se m****r filha para o exterior não era uma opção viável, por esse fator, o que fazer? Eduarda era a mente e Carlos o executor, diante do perigo de ver a filha com o futuro destruído eles não iriam medir esforços para evitar tamanha tragédia, mesmo que isso significasse ir além dos limites.

Tentar persuadi-la a desistir seria perda de tempo, pois a mãe já havia experimentado mudá-la de Estado ou cidade e simplesmente não adiantou. O jeito era procurar resolver o problema diretamente com o rapaz, tentar fazê-lo desistir. Entender que aquela união não daria certo e que procurasse se envolver com uma moça do seu mesmo nível e classe social. A pergunta, seria:  "Será que ele vai concordar em se afastar dela diante de tal argumento? Claro que não!

 E Eduarda deixou logo isso bem claro ao esposo porque, pelo pouco que observou o namorado da filha, ele é do tipo duro na queda. Arrogante e prepotente, que não se rende facilmente diante de apelos ou ameaças.  Pelo pouco contato que tiveram ela soube avaliar muito bem o futuro genro, porque ele era exatamente como ela descreveu.

 Mesmo assim o pai de Luana, continuou confiante na sua capacidade de persuasão. E decidiu procurá-lo. Na companhia de alguns homens vai até o local de trabalho do rapaz e se identifica como pai de Luana. Pede que o receba para poderem conversar amigavelmente. Afim de tentarem entrar num acordo.

Após pedir que o patrão o liberasse, num restaurante ali próximo os dois homens iniciam uma conversa longa. E essa conversa termina sem proveito algum, porque Roberto é do tipo irredutível, não aceita qualquer tipo de oferta, proposta ou benefícios para desistir de seu grande amor.

 E isso selou seu destino, porque se não foi resolvido o impasse por bem, seria por mal. Ao retornar e explicar a esposa a posição tomada pelo jovem de não aceitar os acordos propostos para se desvencilhar da namorada, ela se viu obrigada a tomar medidas drásticas para conter o que via como uma "grave loucura da adolescência".

O pior em tudo isso é que mesmo sendo coagido a guardar segredo daquela abordagem feita pelo diplomata, Roberto abre o jogo para Luana, que indignada com a atitude do pai chega em casa brava e tomando satisfação:

 — Pai, o senhor não tinha o direito de ir até o local de trabalho do meu namorado para tentar convencê-lo a desistir de mim, isso é ridículo!

— Ridículo é você esconder de seus pais que está namorando, afinal somos sua família e não seus inimigos, minha filha!

— Sei bem como funciona a mente preconceituosa de vocês, jamais concordaram que eu estivesse interessada por alguém que não fizesse parte da elite social do Rio de Janeiro!

— Não precisaria ser do Rio, bastaria ser da alta sociedade, do seu nível, pois é dali que você pertence!

— Vocês não passam de dois preconceituosos, cheios de ambição e visando apenas o status social das pessoas, eu sinto vergonha de vocês!

— Pronunciadas estas palavras ásperas diante dos pais ela retira-se para o quarto

— Luana, volte aqui! — Uma forte batida na porta do quarto é a única resposta que Carlos e Eduarda recebem da adolescente furiosa

— Aquele desgraçado, eu o avisei que teria sérias consequências se revelasse a nossa filha a respeito da conversa que tivemos

— Me admiro de você, Carlos, ainda crê na descrição de um tipo de gente como aquela

— Mas deixe estar, vai ter troco!

— Gostaria que você fosse um esposo mais amigo, mais presente e pronto para interagir comigo em outras ocasiões como o vejo fazer nestas horas. É realmente incrível a forma como defende com unhas e dentes essa menina!

 — Eu defendo qualquer um de vocês, nesta casa, Eduarda, pois são minha família  

 — Deixe de cinismo, quantas vezes precisei tê-lo de meu lado numa hora decisiva e você não estava presente, e nosso filho que nunca teve um pai por perto para ajudá-lo a resolver uma questão da escola, ir com ele a jogo de futebol, na natação, numa reunião de escola. Somente eu passei todos estes anos assumindo minha vida profissional e a educação destas crianças, porque sua alegação é de ser um homem ocupado demais para nos dar um pouco de atenção. Agora está aí, falhamos com nossa filha e a perdemos!

— Não fale tolices, sabe o quanto sou um homem ocupado não tenho tempo para estas coisas! Mas nada está perdido, vou tirar esse canalha da vida de Luana, nem que seja a última coisa que eu faça!

 Carlos era um homem pacato, dominado pela mulher e completamente passivo diante das decisões tomadas por ela. Mas saia do sério, quando o assunto era Luana. Todos estavam à mesa para o jantar e aguardavam a filha mais velha, como de costume não se iniciava a refeição sem que todos estivessem presentes. Naquela noite ela se negou participar, apesar dos apelos feitos, e isso causou irritação em Carlos que foi pessoalmente convidá-la para vir se reunir com seus familiares.

 Ele bate a porta por diversas vezes e não é atendido, sendo um homem de grande porte físico e forte a contento, deu um violento chute e colocou a porta abaixo. Causando, com tal atitude, espanto em todos os presentes e enchendo de pavor a adolescente que saltou da cama tremendo, apavorada com tamanha violência, pois era a primeira vez que via seu pai naquele estado de ira

— Estamos a meia hora atrasados para o jantar, espero que agora, sem a porta, nada mais a impeça de se juntar a nós!

Ela sai lentamente do canto, onde se escondeu, e dirige-se a sala, Eduarda fica admirada da postura do marido, nunca ele tinha agido como um homem deve agir, mostrando autoridade diante dos filhos. Enfim uma atitude louvável, apesar do prejuízo na porta. O jantar foi servido pela empregada que trabalhava com eles a muitos anos, ajudou a criar os meninos, mas também nunca tinha visto o patrão tão possesso. Depois do jantar ele a chama para uma conversa definitiva sobre aquele assunto mal resolvido:

— Vamos resolver de uma vez por todos esses assuntos, vou lhe dar um ultimato: Ou você se afasta de vez desse indivíduo, ou vou tomar medidas extremas contra esse rapaz, se ele vai ou não sofrer graves prejuízos por causa dessa sua insistência só depende de você!

— Pai, isso é chantagem!

— Veja isso como achar melhor, porém é minha palavra final!

— Isso é muito grave, o senhor está ameaçando meu namorado

— Não discutirei mais isso com você, decida-se!

Devido o grande conhecimento que tem fica fácil contratar bons profissionais para fazer qualquer tipo de serviço, e pessoas ligadas a ele foram incumbidas de providenciar o que fosse necessário para afastar em definitivo Luana do entregador de pizzas, e isso deveria acontecer o quanto antes.

Na mesma noite ela informa Roberto sobre o que ouviu do pai e deixou claro ao namorado a decisão que tomou em fugirem dali para algum outro lugar.  Ela estava certa do que queria e se ele aceitasse vendia o apartamento e sumiriam mundo afora.

 Ele, então, cego de amor. Ligou na mesma hora para único que poderia ajudá-lo a colocar o plano em ação, e ao explicar a Diarubu o que se passava e as ameaças sofridas. Recebeu rápido apoio e um convite para se refugiarem no morro do querosene, ali poderiam comprar uma casa confortável e morar sem se preocuparem em ser incomodados. 

Um vizinho vinha insistindo pela compra do imóvel a algum tempo, mas ele se negava em aceitar, porém, diante da atual situação decidiu fechar o negócio às pressas e saiu perdendo com isso. Em menos de uma semana resolveu todas as pendências. Enquanto isso, Luana foi a faculdade e, após alguns acertos com o namorado, de lá mesmo seguiu para um ponto de encontro de onde partiram numa moto rumo ao morro do querosene na baixada fluminense.

  Lá era onde o amigo chefe do tráfico os aguardava e já havia providenciado uma nova casa. As horas se passam e ela não retorna para casa, nesse mesmo dia Carlos viajou. Eduarda teve que atender a um compromisso. Urgente, o que facilitou em muito para que o plano de fuga desse certo. Á noite, ao chegar e ser informada de que a filha não havia voltado para casa até aquele exato momento.

 A advogada não perde tempo e comunica o fato a Carlos que lhe aconselha a acionar a polícia.  Feito isso e repassando as informações precisas do local onde a adolescente poderia estar, fornecendo detalhes úteis que eles pudessem identificar o meliante, os policiais seguiram para elucidar a denúncia do rapto da menor. No entanto, ao chegarem no local indicado o suspeito e a adolescente já não se encontravam ali e foram informados de que teriam partido para lugar desconhecido.

Porquanto o imóvel onde moravam havia sido vendido e agora pertencia a outro proprietário.  Informada dessas coisas, Eduarda entra em desespero e mais uma vez avisa Carlos que retorna ao Rio o mais rápido possível, pegando o voo naquele mesmo dia. Sendo um funcionário do governo possui a sua disposição um jatinho para suprir tais emergências.

Juntos, tentam entender o que de fato está acontecendo e chegam a única conclusão lógica: Luana fugiu de casa com o namorado. Carlos entra novamente em contato com o secretário de segurança pública, que é um grande amigo dos tempos de faculdade.

E pede ajuda para elucidar mais este grave problema, envolvendo sua filha.  Sendo prontamente atendido, aguarda ansioso, ao lado da esposa, os resultados. No morro do querosene, estando juntos, Roberto e Luana veem nos noticiários se comentam algo à respeito do desaparecimento da filha do diplomata, mas nada é noticiado. Porém, ela sabe que seus pais não vão cruzar os braços e serão incansáveis até achá-la.  Mas ali ninguém entra para tirá-la a força, garantia Diarubu, que era o maior apoiador e defensor da causa.

E ele sabia do imenso amor que unia os dois. Como considerava demais o amigo comprou a briga, ajudando-os a ficarem juntos a qualquer preço. A polícia civil e militar, forças especiais, tática, inteligência e o próprio BOPE, todas as forças de combate ao crime no Rio de Janeiro se uniram no propósito de achar o casal fugitivo, prender o raptor da menor e devolvê-la aos pais.  Roberto não para de ir ao trabalho porque perderá o emprego, porém vivia esperto para qualquer surpresa.

 Sempre que está na pizzaria observa atentamente o movimento e se assegura de que não haja policiais investigando no local, mas no fundo sabe que isso irá acontecer em breve. Na opinião de Luana ele deveria se demitir e sair de lá o mais breve possível, o amigo também pensa de semelhante forma, mas ele se mantém firme na decisão de permanecer no local. 

Ela, entretanto, abandona a faculdade por entender que lá seria o primeiro lugar onde eles iriam procurá-la. E, quanto a esta possibilidade, não estava errada. Diariamente os policiais faziam uma checagem para ver se ela não estaria frequentando as aulas.

Entrar em qualquer um dos morros nas baixadas do Rio torna-se complicado se a pessoa não for um morador ou pertencer a polícia. Existe naquela região um muro de defesa quase que intransponível, onde nem mesmo as equipes mais bem armadas são capazes de atravessar sem que sofram muitas perdas. Todas as vezes que as forças especiais tentam invadir um daqueles morros, onde impera o poder dominador do tráfico de drogas. São recebidos com chuva de balas. Sabendo disso, nestes casos em particular de raptos ou sequestros, quando a missão é localizar e resgatar a vítima com vida.

Eles agem através da inteligência militar, usando as informações obtidas a partir de seus informantes infiltrados no meio da bandidagem. E esta foi a tática usada para tentar identificar o local.  O exato lugar em que os dois estavam, usaram de astúcia e enviaram um de seus agentes para lhes informar detalhes da localização onde o casal estaria. Depois de localizá-los toda a força militar se preparou para invadir o morro, cercando todas as entradas e saídas, formando um verdadeiro círculo em redor.

Impedindo qualquer possibilidade de fuga, porém a ordem do comando foi para que não efetuassem qualquer disparo. Assim fizeram afim de preservar a integridade física da menor, mais uma vez se repetia o mesmo dilema. Os criminosos poderiam disparar suas armas contra os policiais militares. Mas a polícia deveria seguir o protocolo e nada fazer além de aguardar inerte.

 E correr o risco de levar um tiro fatal, na finalidade de defender a filha de um desconhecido. Do morro vizinho, sendo informado do cerco militar para capturar seu amigo e a namorada, o negro do tráfico autoriza todos os integrantes de suas facções para impedir a entrada dos militares na área, exatamente onde estavam o casal. 

Ordem dada e morro blindado pelas forças do tráfico que, como se sabe, são mais bem armadas e dispostas a tudo para defender seus territórios. São dezenas de homens, portando armas de grosso calibre, espalhados por cada beco naquelas ruelas estreitas e escuras. Quem ousar entrar ali sem estar devidamente autorizado será imediatamente executado, sem a menor piedade. Naquela manhã de sábado Eduarda e Carlos acordaram com fortes batidas na porta.

Era a empregada, apavorada, que lhes falava sobre os noticiários na televisão com informações sobre o cerco dos policiais no morro do querosene. Onde a menina Luana estaria escondida com o entregador de pizza. Ainda sonolentos passaram a assistir, com imagens ao vivo a operação policial e temiam pela vida da filha. Sabiam que a denúncia que fizeram foi o que causou todo aquele transtorno.

Mas tinha sido a única solução encontrada para livrar a filha das mãos do delinquente e trazê-la para casa. Luana e Roberto estão protegidos na nova casa, homens bem armados cercam o lugar e lhes garantem a segurança. Mas passou a ter grande tensão entre os militares depois que um dos traficantes dá um disparo e atingiu mortalmente um de seus parceiros de farda, e os demais decidem revidar a altura. Iniciou-se a troca de tiros contínua entre as forças especiais e os bandidos, colocando em risco a vida de inocentes.

O comando militar condena a atitude tomada pela tropa e determina o fim imediato da troca de tiros. Mas a ordem não é obedecida, a revolta toma conta dos pelotões que atuam na ação e uma verdadeira guerra dá início. Onde a morte passou a fazer suas vítimas. Roberto percebe que acabou por colocar a namorada em perigo e começa a arrepender-se pela decisão que tomou, entretanto.

 Ela o conforta ao dizer que ele não tinha culpa de nada, pois foi ela mesma quem escolheu abrir mão de tudo para segui-lo por onde fosse. O traficante liga para algumas das facções vizinhas, elas que em outras ocasiões seriam vistas como inimigas, mas agora que a guerra travada envolve os militares elas se unem e, assim, ele pede reforços, sendo atendido o quanto antes.

Cerca de cem homens pertencentes a outras facções criminosas, ligadas diretamente ao tráfico de drogas, presentes em comunidades vizinhas, avançam em direção ao morro do querosene e os policiais recuaram. Parando o confronto que deixa vários mortos e feridos.  Considerando que a perda de homens de ambos os lados foi imensa, o comando retira as tropas militares da área. Recolhendo os corpos de seus homens que perderam a vida em combate.

As outras facções retornam a seus locais de origem. E no morro onde Luana e Roberto estão escondidos volta a reinar o silêncio, pelo menos enquanto não se ouvir mais disparos de armas de fogo e o ecoar dos gritos daqueles que morrerem em vão. A guerra entre o tráfico e a polícia é comum por ali, com isso os moradores daquelas localidades já estavam acostumados com tanta violência. As crianças crescem sob constantes chuvas de balas e desde bem cedo aprendem a lidar com o tráfico.

 Seria correto afirmar que cerca de noventa por cento dos habitantes das favelas, morros e baixadas do Rio possuem alguma ligação direta ou indireta com o tráfico de drogas. Que vai de um simples usuário ao distribuidor do produto entre os consumidores das variadas classes sociais, indo do servente de pedreiro ao político, do empresário ao artista famoso.

Depois da tentativa fracassada da polícia em tentar invadir a comunidade e resgatar a filha do diplomata, com um saldo de vários mortos. Ficou decidido evitar outro confronto com os traficantes e Carlos teve que tomar novas medidas para recuperar Luana. Usou de influência política para receber ajuda neste particular.

 Um velho amigo lhe indicou um grupo de homens que no passado pertenceram a um extinto esquadrão de elite que após ser desfeito atuam como mercenários, prestando todo tipo de serviço aos clientes. Tudo em completo segredo.  Carlos não via outra alternativa e contrata os profissionais para uma missão de resgate. A ordem determinante era trazer a jovem com vida para casa e, se caso fosse possível, manter o meliante vivo e fazê-lo sofrer duras penas para pagar a afronta feita contra aquela família.

 A atuação dos mercenários não consiste num ataque direto contra os homens do tráfico, mas pela negociação. O líder da equipe está ligado diretamente a eles, aliás, era ele quem garantia a segurança da entrada e saída das drogas e armamentos nas fronteiras. 

Ou seja, trabalhavam juntamente com os traficantes e tinham livre acesso nas comunidades. Sabiam o local exato onde o casal estava e foram na calada da noite, enquanto dormiam, e os surpreenderam. Sem qualquer chance de defesa eles foram dominados e Roberto algemado, mesmo diante dos apelos de Luana.

Ela foi conduzida para casa com parte da equipe e ele levado para rumo desconhecido, dentro de um carro preto. Dali em diante seu futuro era incerto. A separação dos dois é feita de maneira brusca e sob muitas lágrimas, Luana é levada para um lado e Roberto para o outro na companhia de quatro homens encapuzados.

 Não era possível ver seus rostos.  O local para onde o levam fica a pouca distância de onde estavam, jogam-no dentro de um quarto escuro e o trancam à chave. Algumas horas depois ouve-se vozes e passos que se aproximam, uma voz que longe era conhecida, manda que o tirem do buraco sem luz e ao estar meio aos visitantes lhe tiram a venda que tapava seus olhos.

 Para sua surpresa deparou-se com aquele mesmo homem com quem tinha conversado na pizzaria em que trabalhava a respeito de seu relacionamento com Luana, era Carlos Eduardo, o pai de sua namorada que havia lhe exigido sigilo a respeito da conversa que tiveram:

— Seu canalha, não disse que guardasse segredo sobre o que conversamos?

— Eu não tenho segredos com Luana

— Não mesmo, seu bastardo inútil?   Diz isso espancando-o 

— Para um covarde é muito fácil espancar alguém imobilizado!

— Mexeu com a família errada meu rapaz, agora vai pagar caro pelo que fez!  Deem um corretivo nele!

 Roberto foi amarrado com fortes cordas num esteio de angelim que servia como coluna de sustentação no velho barraco de madeira, onde o aprisionaram e passaram a espancá-lo violentamente. Batem-lhe tanto que sangue escorre da boca, por todas as partes do corpo haviam hematomas e manchas escuras surgiram ao redor de seus olhos, devido os muitos socos dados sobre eles. Carlos, não satisfeito, puxou-lhe os cabelos e o espanca várias vezes no rosto. Deu-lhe chutes, socando-o no estômago... O pobre rapaz foi alvo de uma sequência de pancadas que o deixam desacordado.

O diplomata mandou que o acordassem, um dos homens jogou água fria sobre ele que logo desperta. Depois de atordoado, confuso, seu agressor novamente lhe fala e faz ameaças. Roberto era teimoso, como observou Eduarda, do tipo duro na queda, não se entregava fácil nem se daria por vencido com facilidade.

Continuou firme na decisão de continuar seu namoro com Luana, caso saísse com vida dali, e isso irritou seu carrasco que ordenou aos capangas que o desamarrassem. E depois o levassem a um tanque com água.  Segurando-o pelos cabelos e estando ele com as duas mãos algemadas para trás, o afogavam e depois retirando-o repetidas vezes. Perguntando-lhe se ainda pretendia insistir naquela ideia, e a resposta era sempre a mesma.

O homem cuja função pública era a diplomacia, agora resolvia uma questão familiar à base de ameaças e espancamentos. E nem assim era capaz de convencer seu oponente a obedecer às suas reivindicações. Depois de muito insistir e nenhum resultado obter, mandou que o levassem de volta para dentro e deu carta branca para quem quisesse forçá-lo a mudar de ideia.

Os mercenários são bons nesse negócio de pressão e o amarram numa cadeira, seu aspecto está horrível, o rosto quase irreconhecível de tanto apanhar.  Um deles joga-lhe mais uma vez água fria para despertá-lo. Querem que esteja bem consciente para que seu martírio seja sentido na íntegra.

 Outro acende um fogo improvisado e coloca nele a ponta de uma faca para aquecer, estando ela bem vermelha levam-na até ele e a aproximam de seu peito. Ameaçam fazer-lhe uma marca na carne a ferro quente se não concordar em ir embora para sempre e esquecer a moça.

 Mas ele persiste em responder que prefere a morte a ter que esquecê-la. Carlos já poderia tê-lo morto, mas não queria ser responsável pela morte daquele cão sarnento, sabia que Luana não o perdoaria, por isso torcia que ele finalmente se rendesse e desistisse dela, fosse embora e nunca mais voltasse, mas que antes deixasse ela ciente de que teria desistido de lutar por seu amor.

 Era uma proposta simples, ele ligava dizia adeus e desaparecia para sempre, mas era teimosos em dizer que jamais faria isso. O carrasco encosta a faca fumegante no seu peito e dele ouve-se um brado de dor e desespero que comoveria qualquer pessoa de bem. 

Tudo é filmado através de um celular e a intenção será a de enviar o vídeo para Luana, na intenção de que ela possa se comover com o sofrimento do namorado e decida desistir daquele relacionamento para livrá-lo de tamanho castigo.

 Essa seria a segunda opção usada por Carlos caso o que estavam fazendo com ele não p convencer a desistir primeiro. E não conseguiram. Diante da dificuldade em fazer com que o bastardo voltasse atrás, abrindo mão de seus sentimentos, o amarram pelos pés. Em seguida o penduram de cabeça para baixo, com as mãos ainda algemadas para trás. 

Naquela posição não duraria muito tempo vivo, pois o sangue presente no corpo desce para a cabeça em pelo menos umas quatro horas. E com o cérebro inundado de sangue há morte instantânea. Este é o tempo que Luana terá para desistir daquela loucura. Carlos entregou o genro nas mãos dos assassinos e voltou para casa, ao chegar reúne mulher e filha para explicar a situação.

 Luana está aflita sem saber notícias de Roberto e cobra do pai uma resposta, quer saber o que fizeram com ele. Agindo friamente, Carlos a adverte que ela deverá tomar uma séria decisão.  Ou desiste em definitivo daquele inútil ou ele pagará com a vida por sua teimosia. Explica que o rapaz está entregue nas mãos de pessoas muito más e que se ela não concordar com a proposta e os carrascos não receberem uma posição ele será morto.

Não adiantou indignação, revolta, acusar o pai de ser um criminoso ou bandido, estava feito e só cabia a ela decidir se Roberto vivia ou morria.  Eduarda se mostrou neutra, não me escolheu concordar nem discordar das atitudes tomadas pelo marido. Sabe do carinho que ele sente pela filha e que faz tudo por amor, pensando na sua felicidade. Sem o apoio da mãe, sendo avisada o tempo todo que o namorado a quem tanto ama morrerá caso insista em ficarem juntos, mas por outro lado sabe que se desistir dele estará sendo covarde, afinal, ele não abriu mão do amor que sente por ela, apesar da perseguição sofrida.

Ela se vê meio a um labirinto, indecisa, perdida e se perguntando qual caminho seguir, a de continuar lutando por esse amor ou desistir para evitar mais dor e sofrimento? A resposta veio no momento em que chega o vídeo no seu celular. Foi enviado pelos mercenários, nele ela pode assistir todo o martírio pelo qual Roberto está passando, nos mínimos detalhes.

  Da sala, onde conversavam e aguardavam a decisão final da filha quanto ao que iriam fazer, eles ouvem um grito de Luana pelo terror diante das cenas vistas nas imagens, seu grande amor sendo torturado e marcado a ferro quente por sua causa. Preocupada todos correm ao seu encontro, ela enraivecida amaldiçoou o pai e a mãe pelo que estão fazendo a Roberto. Ao assistir as cenas macabras até Eduarda se comove e cobra do esposo do porquê de ele ter ido tão longe, a resposta dele é fria:

 — É como já disse, a vida desse bastardo está nas suas mãos!

 Luana passa a odiá-los com toda a força de seu coração, todo o bom sentimento que sempre teve pelos dois morria ali, junto com a decisão que teria de tomar.

Tudo bem, se o preço para salvar a vida de Roberto era jurar desistir de seu amor e nunca mais o procurar, nem o aceitar mais na sua vida, caso voltasse a procurá-la. Em nome de tudo o que sentia por ele e para que sua vida fosse poupada. Ela jurava cumprir essa exigência, mas que eles ficassem cientes de que os dois também estavam mortos para ela daquele dia em diante.  Assim que resolveu ceder aos caprichos dos pais a ordem foi dada para que parassem a sessão de tortura e o libertasse.

 Roberto foi jogado completamente despido num dos becos do morro do querosene, onde morava. Foi socorrido por populares que o conheciam e levado para casa, ficando aos cuidados de Dona Carolina. Uma boa vizinha. Levou um mês inteiro para se recuperar do espancamento, nesse ínterim tenta várias vezes manter contato com a namorada por telefone.

Mas é em vão, dá caixa postal.   Mais tarde só recebe uma mensagem, avisando que aquele número não mais existe. O mesmo acontece em relação ao velho amigo, o cara sumiu e o telefone está mudo, não entende mais nada. E todos sumiram, parece que o abandonaram.

 Mas esperem aí, ele pensou: “Porque meu melhor amigo iria simplesmente desaparecer no momento em que mais preciso dele? E onde estava, quando me levaram? Se colocou seus homens para me proteger? estavam onde, quando os mercenários invadiram minha casa e separam Luana de mim? “E ela, acabou mesmo cedendo às chantagens dos pais e decidido desistir de tudo? As dúvidas de Roberto seriam esclarecidas em breve. Aconteceria quando aos poucos tudo fosse se revelando.

Quanto a Luana, permaneceu por dias trancada em seu quarto. Ela não quereria ver a ninguém, estava odiosa e desprezava seus pais. Somente a empregada da casa, que era vista por ela como uma segunda mãe, quem tinha livre acesso ao quarto. A amiga Lorena passou um tempo em Nova Iorque e ficaram sem se falar por um ano, agora que voltou foi procurá-la e não poderia ter chegado em melhor hora. As duas conversaram bastante e Lorena fica a par de tudo pelo que passou a amiga durante sua ausência, lamentando grandemente por sua perda. 

Durante aqueles seis meses que se passam ela permanece isolada da família e não frequenta a faculdade que escolheu em trancar a matrícula até que estivesse em condições emocionais e psicológicas para dar continuidade aos estudos. Por outro lado, tremenda era a dor e o sofrimento que sentia por ter sido forçada a abrir mão de seu grande amor.

 Pensava nele o tempo todo, não o esquecia um só segundo, arrepende-se grandemente pela bobagem de ter se recusado a fazer sexo com ele, devido sua boba pretensão de ir ao altar virgem, antes tivesse aceito, dormiram juntos tantas vezes e deixou passar incontáveis oportunidades. Agora seu amado estava distante, dormia sozinha numa cama fria. Sem o calor de seu corpo, o que lhe restou foi apenas solidão e a insuportável saudade que a matava dia após dia.

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