Capítulo 3

Kaeidh se despediu de todos e entrou em seu quarto, precisava pensar, tentar entender ao menos uma parte de tudo que estava acontecendo, a vinda de uma elfa, uma prometida? Uma coincidência, mero acaso? Justamente ao mesmo tempo em que ele pensava que estava pronto para receber sua âme sœur.

Sua raça não sentia nada como o amor, emoções que um parceiro deveria sentir para que não se confundissem e se unissem com pessoas erradas. As uniões eram completas, corpo e alma e o chamado era sutil e conforme convivesse iam aumentando até a conexão, que seria alcançada juntos. Kaeidh havia tido o âme sœur antes, mas sua companheira estava doente e morreu sem nem ao menos saber sobre o que ele sentia. Portanto ele nunca teve a chance de ver o sentimento crescer, mas agora, ele havia sentido o interesse pela Esquecida e estava muito preocupado pois não sabia se ela se interessaria do mesmo jeito por ele, não eram da mesma espécie, achava. Não sabia se isso seria um problema, dado que nunca havia ouvido sobre algo parecido, pelo menos não em seu reino. Não sabia como ela reagiria e talvez ele passasse o resto da vida amargo e sozinho, sofrendo por alguém que não sabia o que era isto que ele sentia ou porquê.

Precisava falar com os anciãos Etéreos. Desceu até o mais profundo local de seus jardins, até um portal de um castelo localizado em meio à floresta que saía nas bordas de um pátio lateral ao castelo real. Parando em frente ao portal chamou os anciãos Etéreos pelo seus nomes:

- Antúrio, Balery, Sucintoh e Rossin, por favor, lhes peço a palavra.

Em um reino pautado na extrema educação, respeito e cordialidade nem um rei, nascido rei, poderia abdicar à essas qualidades.

-Satharth, grande rei Kaeidh, percebemos que se iniciou o seu âme sœur. Parabéns e felicidades, o senhor o merece grandemente, depois do que ocorreu anteriormente não é?

-Satharth, anciãos.-disse Kaeidh dizendo na linguagem deles: que a mãe vida, esteja conosco - Souberam que recebo em meu reino a Esquecida?

- Vimos em nosso espelho eternal, senhor. Seria ela sua companheira âme sœur?

-Sim, por isto resolvi vir até aqui, falar com vocês, preciso saber se há a possibilidade do encontro entre nossas almas? Se há a possibilidade, de que mesmo ela sendo de outra raça consiga ser minha âme sœur. - Os olhou com esperança e medo.

Ele se voltaram um de frente pro outro formando círculo, tocando suas mãos, palma com palma, olhos nos olhos e um luminoso diamante zebelino faiscou entre seus corpos, brilhando como líquido, trazendo imagens de algum futuro sentimento, de reciprocidade entre o rei e a Esquecida. Ficaram por alguns momentos fascinados com o que viam, ouviam e sentiam e se viraram cada um a sua esquerda, rompendo o contato de suas mãos. Seus olhos perdidos com o mesmo brilho do diamante que agora havia sumido, como se fizessem parte deles, voltou ao normal, se esmaecendo em um dourado, enquanto eles o olhavam e sorriam.

- Temos a bonança de dizer que a Esquecida sentirá, mas você terá que ter cuidado, até ela perder a desconfiança. Sua tarefa é estar sempre próximo a ela, a apoiando e ajudando a executar sua missão.

Kaeidh ficou eufórico e ao mesmo tempo temeroso, tinha muitas dúvidas se conseguiria fazê-la confiar nele. Não sabia se ela confiaria nele nesse sentido, sem memórias de nada, sem pistas de onde veio ou o que faria, ainda ter que vivenciar em meio a isto tudo um âme sœur. Confiar sua vida e intimidade a alguém que nunca viu e mal conhece, sendo que não sabia nem se tinha uma família real seria muito complicado e até mesmo ele ficaria receoso.

Kaeidh agradeceu aos anciãos e se despediu. Subindo novamente, pensativo pelo jardim, caminhava e ouviu ao longe Zoltark e enfim quando ele sobrevoou o jardim e pousou a sua frente.

-Rei Kaeidh, volto com notícias não muito agradáveis, a Vila de Sesame foi atacada, sua ponte Cadmy foi desconectada do outro lado pelos têntri, eles simplesmente abriram uma cratera subterrânea e a derrubaram do lado da floresta. Cadmy está bem, só se assustou, mas estamos vendo cada vez mais a ousadia dos têntri. Dá para perceber como estão desesperados em prejudicar cada vez mais os vilarejos. Pensamos que por causa da Esquecida? Talvez a garota tenha mesmo irritado ou preocupado o Rei Borag.

-Preciso de todos os detalhes do que precisa ser feito pelo vilarejo Zolt, envie todos da guarda e ajuda para cura e suprimentos necessários.

Quanto a Esquecida, estamos ainda buscando informações, não sabemos muito desde que praticamente todos os lugares que as guardavam foram destruídos a mando de Borag há muito tempo e em meio a isso ainda descobri que ela é minha companheira âme sœur.

Zoltark o olhou surpreso e falou:

-E ela foi informada disso?

Depois do que houve com sua âme sœur, como você está se sentindo?

- Não a informei e não o farei até estarmos firmemente conectados, fui agora em busca dos anciãos Etéreos e eles me confirmaram que apesar dela ser de uma raça diferente, também sente o mesmo mas que terei que ter paciência e ajudá-la em sua missão. Tenho esperanças Zolt .

Zoltark o olhou bondosamente, pensando que ele merecia ser feliz, era a pessoa mais digna que conheceu desde que era apenas um bebê e seu pai um conselheiro real. Viajaram juntos ajudando a muitos e foi assim que Kaeidh conheceu Siara, sua âme sœur e ela estava adoecida por ter sofrido um ataque dos têntri e em menos de uma semana ela pereceu sem nem ao menos conhecer Kaeidh, que sofreu horrivelmente por sua perda. As barreiras do vilarejo foram reconstruídas e o povo foi protegido novamente, mas as perdas foram irreparáveis. Muitos familiares foram feridos pelos têntri e as feridas nunca se curavam, minando a força vital da vítima, forçando seu corpo a tentar curar, levando os feridos a morte por exaustão.Foi assim também que o âme sœur de Leigh pereceu, deixando ela e o filho de ambos sozinhos. Essa família tinha nascido na realeza mas haviam conquistado seus títulos com seu amor e respeito ao próximo.

Zoltark se despediu de Kaeidh indo providenciar ajuda ao vilarejo.

Kaeidh agradeceu Zolt e subiu rapidamente a colina arborizada e florida diretamente ao seu escritório, entrou chamando a rainha do povo Pirim por um espelho de água cristalina.

- Olá Kaeidh, soube do que houve na ponte Cadmy, hoveram muitos feridos, quanto precisa de suprimentos curativos? -disse a pequena rainha Alanda

- Olá Alanda, não sei de quanto precisamos, mas não houveram mordidas e nem arranhões. Derrubaram a ponte e Cadmy se feriu, Passarei por aí no caminho do vilarejo para buscar, por favor, me envie o tanto que cure pelo menos metade do vilarejo, se precisarmos de mais, enviarei Zolt para buscar . Obrigada

Reuniu suas coisas e saindo deu de cara com Leigh e a Esquecida.Ambas vieram saber o que houve após as notícias que ouviram pela casa.

- Kae, o que houve na ponte Cadmy? - falou Leigh se apressando ao seu lado, acompanhando suas passadas largas rapidamente, junto da Esquecida.

-Podemos ajudar em algo? Eu gostaria de ir junto, se eu puder, claro - ela disse olhando-o de lado enquanto caminhava rápido.

- Não tenho notícias de qual foi o grau de destruição ou feridos, mas já falei com a rainha Alana e passarei agora para pegar suprimentos curativos e levar comigo à vila, será muito bem vinda, se quiser Esquecida. Somente me acompanhe por favor. - virando para Leigh - Leigh, fique a postos pois se eu precisar leve mais suprimentos. Te aviso. Vamos? - disse à Esquecida.

Ela fez sinal afirmativo e se apressou ainda mais ao seu lado.

Saíram ao pátio em frente ao castelo e lá já havia uma carruagem repleta de alimentos. Ele agradeceu o homem o chamando de Siles e subiu rapidamente acima da carruagem, estendeu a mão para ela e ela o segurou e subiu.

-Se segure por favor na barra a sua frente, pode ser que se assuste com a velocidade.

Ela piscou e segurou e a próxima coisa foi que estavam voando velozmente numa carruagem puxada por nada. Deu um gritinho de surpresa e Kaeidh sorriu levemente muito agradado pelo som e pela forma como os lábios dela formavam um O.

Kaeidh a olhou e percebeu que estava um pouco apreensiva e resolveu planar na velocidade mais lenta que podia . Estendeu a mão direita e ela a tomou com força o olhando e disse.

- Achei que Zoltark era rápido no vôo mas isto, é surpreendente. - sorriu para ele e Kaeidh literalmente brilhou de felicidade de poder apreciar o sorriso mais lindo que ele já viu.

Ela o olhou ainda mais surpresa e falou, os olhos amendoados se abrindo muito:

- Meu senhor, você brilha !

Ele olhou suas mãos e ficou estarrecido por externalizar tanto o que sentia por ela.

Sem ter como explicar e não querendo assusta-la com seu sintoma de âme sœur ele disse.

-Sim, eu brilho quando experiencio emoções puras. Tal como felicidade.

Sinto felicidade por ter te conhecido e você estar aqui me acompanhando e disposta a ajudar a quem necessita. E sou Kaeidh para você não senhor.

Ela lhe sorriu timidamente e falou:

-Obrigada por me deixar ajudar de alguma forma, Kaeidh, mesmo eu não sabendo muito o que fazer e eu é que lhe agradeço e a todos por se esforçarem a me ajudar, uma simples desconhecida des memória da. - olhou nos olhos de Kaeidh meigamente - Gostaria de entender as coisas para as quais sou destinada e saber como fazer isto. Ao mesmo tempo penso que devo me dedicar a vocês todos por serem tão bons comigo e ainda fico com medo de não conseguir ajudar como vocês pensam que posso. Tenho medo de piorar as coisas ao invés de melhorar.

- Então eu estarei aqui para ajudar você, em qualquer momento. Já me decidi a ir com você aonde você for, nesta jornada, serei seu companheiro, se me quiser. - disse Kaeidh pensando que o companheirismo seria de fato real, ao menos da parte dele.

A Esquecida o olhou e sentiu algo por ele, uma sensação de querer. Inspirou seu cheiro e o olhou nos olhos - Gostaria muito Kaeidh - disse a ele. E ele suspirou soltando o ar pelos lábios separados, o hálito tocando seu rosto, dando vontade de se perder nele, naquele cheiro fresco que lhe deu água na boca. Piscou e pensou o que estava acontecendo com ela, desviou o olhar para a paisagem, disfarçando os sentimentos, que não faziam sentido algum naquele momento.

Kaeidh percebeu que sentiram o mesmo, ele preso por seu olhar, seu aroma e ela também sentira algo e disfarçava.

No momento precisavam focar na ajuda à Cadmy. Neste momento, Zoltark voou ao lado da carruagem e falou:

- Bem na hora Kae - baixou a cabeça em cumprimento, a olhou, baixando de novo - e Esquecida, venham nesta direção, estamos concentrados na ala de estudos centrais com alguns feridos. Enviei um esquadrão para a ponte para que possamos reforçar a magia.

Kaeidh a segurou e a carruagem deu uma guinada para a esquerda, descendo assim em meio a um pátio, acima de um prédio com locais de pouso demarcados tanto para carruagens mágicas quanto para seres voadores. Pousaram com leveza no pátio e logo vieram ajudar a descarregar a carruagem com os suprimentos. Pulando ao chão, Kaeidh segurou as mãos da Esquecida, e ambos puseram-se a carregar juntos, sacos pesados de comidas e frutas até a parte térrea do complexo lotado de seres. Alguns feridos outros bem graves, entre eles a que dava nome a ponte e ao vilarejo, Cadmy, que estava muito ferida. Foram em sua direção e viram como era grave seu estado. Kaeidh abriu um frasco com um pó avermelhado e rapidamente com um pano limpo, foi passando o pó e o pano nos ferimentos que logo começaram a cicatrização dos tecidos dilacerados. Formando uma casca maleável como a própria pele dourada de Cadmy . Ela deu um suspiro e abriu os olhos. - Rei Kaeidh, bem vindo, me perdoe por não conseguir prever o ataque.

- Não há com o que se preocupar, estão todos bem e se recuperando. Apenas descanse e quando estiver melhor, ficaremos todos felizes. Isto é o mais importante, você sabe o quanto a amamos e o quão forte é.

Estão todos bem.

Se os feridos tinham ferimentos leves, foram levados à suas casas, se estas eram próximas ao complexo. E logo anoiteceu e todos estavam servindo ou chegando com alimentos cozidos e caldos maravilhosamente cheirosos. Eu olhei em volta a procura de Kaeidh e o vi cansado, com algumas manchas em suas vestes claras, me olhava preocupado, veio em minha direção.

- Obrigado pela ajuda, vamos descansar, nos limpar e comer e amanhã voltamos ao complexo e visitamos os outros feridos. Por hoje terminamos. Os médicos irão ficar à noite com eles. Venha.- Pegou minha mão e senti novamente algo no toque como eletricidade percorrendo meu corpo. O segui e saímos do complexo para uma rua toda arborizada e com perfume de flores. O local era muito bem cuidado, e dava vontade de passear mesmo cansada.

Haviam fontes e árvores frutíferas das quais alguns passavam e pegavam uma para comer. Kaeidh levantou os braços e pegou duas frutas rosadas e lhe deu uma, mordeu a olhando e acenou para que eu fizesse o mesmo. Mordi e foi a coisa mais deliciosa que já comi. Era doce mas não tanto que enjoasse o paladar. Eu fechei os olhos e saboreei a fruta, quando os abri Kaeidh estava me olhando encantado e me senti emocionada e envergonhada. Enrubesci

- Desculpe por não perceber antes que você estava com fome, ou suas outras necessidades "tarine".

-Não, nem mesmo eu percebi, estava concentrada no trabalho, além do mais você também estava . E o que é tarine?

-Ele piscou e desviou o olhar - desculpe, é uma palavra antiga para designar alguém que gostamos. Algo como querida.

-Eu sou tarine? - falei um pouco ousada-

-Sim, está se tornando muito tarine...Não só para mim, é claro, para todos.

- Mas para você também? Assim como todos?

-Acho que não, não como todos. Penso que mais. - disse me olhando enquanto caminhava. Sorriu

Continuamos a caminhar e Zoltark veio ao nosso encontro.

-Estão todos atendidos Kae, os levarei as suas acomodações. Espero que esteja do agrado de vocês. - Descemos uma pequena rua e entramos em uma cabana que parecia de fada.- A comida está na cozinha, sirvam-se, tomem banho e descansem. Se quiserem tem livros e jogos à disposição na sala. Tenham uma boa noite.

-Boa noite e obrigada Zoltark. Até amanhã.

-Boa noite, Zolt, amanhã nos falamos, mas se necessário venha e me chame. Descanse e libere os soldados. Todos precisamos dormir. A barreira está refeita, maior e mais forte do que antes.- Zoltark fez que sim e levantou vôo. Ficaram sozinhos e entraram na cabana.

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