A Esquecida
A Esquecida
Por: Eder B. Jr.
Capítulo 1

Abriu os olhos. Algo calmante, úmido e maravilhoso caía com gotículas etéreas em sua face. Fitou a copa das árvores, e logo acima o azul profundo do término da noite dissipando-se no colorido da luz do dia, haviam três luas ou planetas um ao lado do outro, além de pequenas estrelas que aos poucos iam sumindo. Sentiu-se estranha, entorpecida, como se tivesse dormido um longo período de tempo. Havia dormido tanto assim? E porque estaria ali, naquele local? Baixando o olhar viu que estava em uma pequena clareira em uma floresta! Será que havia ido acampar e sofrido algum acidente? Olhou ao redor, estava em meio a uns arbustos multicoloridos, com flores desconhecidas, pelo menos pareciam flores, não tinha certeza. Nada estava certo, pensou alarmada. Tentou sentar-se e ficou aliviada por conseguir sem problemas. Mas estava um pouco dolorida, apoiou com as mãos no chão e empurrou para ficar de pé. O cheiro daquele lugar, era maravilhoso, e a terra aos seus pés era colorida, de um verde e roxo mesclados. Alguns sussurros chegaram aos seus ouvidos, procurou de onde vinham e viu algumas incríveis, vivas e encantadoras flores, que se pareciam a copos de leite mas com faces e braços e elas dançavam abaixo de uma árvores que soltava as gotículas refrescantes de água nelas. Não se lembrava de um dia ter visto algo assim. Girando, tentou visualizar algo fora da natureza exuberante com árvores de diferentes formatos e texturas. Algumas tão altas e largas que pareciam rochas, outras tão elegantes e suaves que pareciam que suas folhas eram de algodão . A única coisa que se lembrava ter achado natural eram as estrelas. Andou um pouco tentando achar algo familiar, sentiu muita sede e fome. Olhou a si mesma e viu que estava de tênis, jeans e uma jaqueta por cima de uma blusa e camiseta. Sentiu calor e retirou a jaqueta pesada, estava com alguns itens dentro da jaqueta, um jogo de canivete com outras ferramentas multiuso, algumas barras de cereais e água, todas em compartimentos especiais para isso. Tirou a jaqueta e amarrou na cintura. Tomou a água e comeu uma das barras de cereais, tinha que economizar, pensou. Suas mãos estavam um pouco raladas. Precisava descobrir onde estava e porque estava lá.E quem era? Não fazia a mínima ideia, pensou em pânico.

Andando pela floresta, assustava-se quando ouvia um barulho aqui ou ali causado por pequenos animais, voadores ou rastejante dos quais se afastava rapidamente pois não sabia se a atacariam. Animais esses que eram totalmente desconhecidos para ela. Alguns de aparência fofa, como esse pequeno, parecido com um axolotl, uma espécie de salamandra que não se desenvolve na fase de larva, permanecendo nesse estado mesmo adultos, mas com pêlos amarelos, olhos grandes e caídos como de um pequeno cão pidão e as "cristas" e patas cor de rosa, soltava um gemido fino acompanhado de um cricrilar, outros davam medo só de olhar, como um que desceu diretamente em cima de sua cabeça e se parecia um caranguejo misturado com escorpião, com garras e pinças que aparentavam cortar como faca. Outros vieram em revoada, um grupo zumbizento de mais de dez animais com asas de borboleta multicoloridas e com algumas penas e no que se supunha ser as cabeças com bicos finos encurvado que pousaram em uma pequena árvore e enfiaram seus bicos em algumas frutas para beber a goladas até que a fruta murchasse. Viu também a um outro animal redondo com pernas enormes que pulava como um sapo, mas que a cada pulo seu corpo se mexia como gelatina e fazia um barulho engraçado. Não se aproximou de nenhum por precaução. Andou enquanto o céu estava clareando e um sol apareceu para iluminar o caminho. Chegando a beira de um penhasco gigantesco e sem fim do qual sopravam ventos congelante e andando em sua beirada, encontrou uma espécie de ponte, feitas com árvores plantadas do lado que estava e do outro lado do precipício e seus galhos dourados como ouro, trançados uns aos outros, se encontravam ao meio do precipício, não sabia se naturalmente ou feito por alguma criatura. Seus galhos faziam o chão e a murada da ponte, em um lugar ou outro com folhas translúcidas que se pareciam com cristais e no meio das folhas, as nervuras douradas cintilavam tão finas quanto fios de cabelos. Quando colocou as mão para testar a segurança da ponte uma voz feminina falou:

-Quem recebo em meu tronco? Assustou-se com a potência da voz e com o idioma que mesmo não se lembrando de ter ouvido sabia entender e falar.

- Eu não sei quem sou e onde estou. Caminho por esta floresta há algum tempo desde que acordei em meio à uma clareira, apenas com minha roupa do corpo e algum alimento. Peço desculpas por lhe tocar sem sua permissão. A ponte mexeu-se e dela saiu uma linda criatura com o corpo longilíneo, todo do mesmo material da árvore, suas orelhas pontudas, os cabelos eram dourados e tão longos que se perdiam do olhar, as folhas iguais as do tronco da árvore da ponte faziam suas vestes delicadas e tão leves que quando o vento batia, flutuavam. Seus olhos tão verdes e brilhantes.Veio graciosamente caminhando em sua direção e parou.

- Desculpe pela rudeza, durmo há tantos séculos que entrei em um transe, me assustei quando me tocou. Pensei que fosse um têntri tentando chegar ao meu povoado para destruir o que sobrou dele, o têntri é um ser essencialmente mau que se alimenta de todos os seres e até Criaturs e destrói tudo que toca, transformando beleza em lodo sujo, sem vida e venenoso. Tem a aparência de uma sombra, não tem face e se arrastam velozmente pela floresta. Saem apenas na escuridão pois as árvores e plantas soltam durante o dia, pequenas gotículas das águas do rio Salutares que são mortais para eles. Sou Ciana, maga e protetora do portal do povo Criaturs. Somos seres mágicos que criam, e fazem nascer todo tipo de vida existente, que fazem o rio principal subterrâneo chamado Salutares fluir por todo o planeta Kalimares. Seja bem vinda, Esquecida, estávamos esperando por você há dez mil anos.

- Dez mil anos? Esquecida? Não entendo. Não sei o que está acontecendo. Neste instante ouviu-se um berro aterrorizante e vários animais voadores saíram fazendo alarde ao longe. Ela arregalou os olhos e se voltou para a Ciana para perguntar o que era aquilo. Não houve tempo. Ciana a agarrou com um galho dourado e a puxou rapidamente para a parte do meio da ponte. Voltando a entrada recitou algumas palavras:

- Incognis entrai! -A passagem se iluminou com uma fonte de energia esverdeada e dourada como uma água transparente e oscilante. Logo em seguida uma espécie de criatura com olhos brancos, dentes enormes e pelos cinzas enlameados apareceu rugindo e gritando do lado de fora da ponte, correndo velozmente, buscando e farejando algo em torno da entrada. Ciana se voltou para a Esquecida e explicou:

- São servos, um povo Têntri, vieram por você, mas não se preocupe, não vão nos ver e nem nos sentir. Vamos, preciso levá-la ao guardião rei. Lá, depois de cuidada e atendida por um médico, irá saber de tudo que quer e precisa saber. Foram rapidamente pela ponte, enquanto a Esquecida ouvia ao longe os gritos e rugidos dos animais desesperados em seguir seu rastro, quanto mais longe ficavam deles, mais gritavam enfurecidos. Chegando ao final da ponte, apareceram outros seres parecidos com Ciana mas diferentes nas cores, cada um com sua particularidade. Vestidos com armaduras douradas, espadas e lanças de cristais. Quando a viram falaram quase ao mesmo tempo se inclinando para frente numa reverência.

- A Esquecida! - Eles reagiam das mais diferentes e espantadas formas. Ela olhou para todos e ficou muito impressionada em como eles pareciam conhecê-la mesmo sem nunca tê-la visto. Por trás de uma cortina de flores que descia de uma montanha de granito havia uma porta enorme que media mais ou menos uns quatro metros, elegantemente ornada e esculpida assim como a ponte. Quando se abriram viu uma cidade completa com casas, prédios, castelos e fontes de água num azul celeste que brilhavam como cristal, todas as casas pareciam ser feitas por vontade das próprias árvores e seus telhados eram as suas copas coloridas, as janelas com o mesmo vidro cristalino e iridescente. Todos com suas roupas lindas a olhavam, crianças, adultos, idosos, mães com seus bebês nos braços, saíram para os ver passar pronunciando a mesma palavra: A Esquecida.

Enquanto subiam uma rua por entre as casas, surgiu na direção contrária uma espécie de cavalo com asas e garras de águia nas patas dianteiras, branco e brilhante como cetim. Ela não sabia se espantava-se com a cena ou admirava sua beleza. Os pelos que se moviam graciosamente ficavam furta-cor. O cavalo parou a frente de todos, abaixou-se e falou com uma voz grave:

- Bem-vinda, Esquecida! O Rei está a sua espera! Suba em minhas costas, por favor. Prometo levá-la em segurança até o castelo! Meu nome é Zoltark e serei seu ajudante pessoal. A esquecida ficou encantada com a beleza do ser alado, sentiu medo e se assustou ao vê-lo pousar bem em frente a ela e seus novos amigos mas o encantamento sobrepujou esses sentimentos. Virou-se para Ciana e disse:

- Estou vivendo em um sonho ou algo assim? Vocês são desconhecidos em minha mente mas sei suas línguas e meu instinto me diz que não devo temer nada que vem de vocês. Eu apenas gostaria de saber mais sobre tudo que está acontecendo. Vejo que existem famílias aqui, crianças, idosos e sinto que todos sabem quem eu sou mas não tenho um nome, que deve existir mas do qual não me lembro, por algum motivo. Não entendo o que está acontecendo. Na verdade estou muito cansada.

- Iremos responder a todas as questões que pudermos mas precisamos chegar a fonte de poder de nosso planeta, lá teremos as respostas. - disse, Ciana.

Olhou Zoltark, que se reclinou e disse para que ela subisse em suas costas. Subiu delicadamente, com medo de machucá-lo, se arrumou, segurou e neste instante ele deu um impulso e voou. Estava boquiaberta com tudo que via lá embaixo. A cidade mais encantadora que havia posto os olhos. Aos poucos começou a ver muros gigantescos mágicos cintilando em volta da cidade e de algumas partes de florestas, muitos vales negros onde não haviam árvores e uma montanha ao longe de pedra negra com fogo e lava saindo do topo. Zoltark falou que a montanha de lava era onde o Rei Borag criava o povo Têntri. Achou impossível existir vida em meio à lava, mas Zoltark assegurou que o povo têntri não tinha vida. Eram apenas maldade pura. Plainando com suas gigantes asas chegaram perto de pequenos seres voadores, cada um de uma cor e com asas que vieram voando em volta deles, acenando sorridentes viu que eram pessoas iguais a ela, só que do tamanho de sua mão. Uma delas, vestida de branco falou:

- Bem vinda, esquecida, sou Alanda, a rainha do povo Pirim. Essa é a guarda real, prepare-se para adentrar um portal, pode ser que se sinta um pouco de atordoada. Segure bem em Zoltark. - Gesticulou com a mão, mostrando à frente, e ela viu, que flutuando havia um buraco no céu, mas que se pareciam espelhos de água ondulante, e quando passaram por ele, saindo do outro lado, sentiu-se realmente tonta. Apertou as mãos fortemente na corda que havia para se segurar e com os joelhos nos ombros de Zoltark. Em menos de alguns segundos já estava se sentindo normal e suspirou profundamente. Olhando novamente à frente visualizou um local com gramas e árvores floridas que balançavam com o vento, um enorme palácio, rodeado por nuvens e pequenas estruturas arredondadas nos galhos dessas árvores e cada árvore acima da outra em uma parte diferente da terra subindo até o castelo e algumas dessas árvores também saíam das paredes das torres do castelo, como se formassem um só e estivessem felizes com isso. Zoltark aterrissou em uma varanda no topo do castelo, abaixou-se para que descesse e logo virou-se para uma porta de onde saíram pessoas como ela mas vestidas de forma diferente. Ao meio deles um homem com uma roupa parecida com armadura mas ao mesmo tempo maleável. Olhou para ela, por seus cabelos, rosto e focaram em seus olhos e disse:

- Olá, Esquecida. Sou o rei Kaeidh, filho eleito do povo ancestral. Estes - disse apontando a cada um que o acompanhava - são Leigh, minha irmã e Sorag meu sobrinho. Venha, entre e vamos nos conhecer e tentar descobrir tudo que queremos a seu respeito. Ela se abaixou automaticamente e disse:

- Majestade. - Ele a olhou novamente, caminhou em sua direção, segurou sua mão a levantou e disse:

- Não há necessidade disso. Sou rei mas sou eleito pelo povo e todas as minhas ações são votadas e apoiadas pelo bem de todos, somos educados sem soberba, orgulho ou vaidade. Todos somos iguais aqui, tudo é dividido justamente e todos trabalham por todos. - Sorriu para ela.

Sentiu-se um pouco trêmula com o toque e o sorriso. Olhando em seus olhos dourados pensou que já o conhecia. Entraram no castelo e todos os seguiram.Foram por um grande aposento com pequenos galhos floridos de árvores que passavam pelas paredes entrando e saindo e formando nichos maravilhosos com as mesmas pequenas estruturas arredondadas que via agora serem casas do povo Pirim. Alguns deles voavam em volta dela e a cumprimentavam, dando boas vindas.Passaram por um corredor e entraram em um outro local que viu ser um quarto com uma cama ao meio, uma mesa, com o que achou ser alimento pois estavam em pratos e tigelas. Havia uma pequena cascata de água que caia em uma piscina natural no canto esquerdo do aposento e sua água borbulhava alegremente. Logo ao lado uma espécie de local fechado com porta. O rei Kaeidh disse:

- Este aposento é seu e pode se alimentar, se cuidar e descansar. Minha irmã a ajudará e só precisa dizer seu nome para chamá-la . Quando quiser e estiver descansada, estaremos aqui para conversarmos.

- Obrigada - agradeceu a ambos.- Obrigada, Zoltark pela carona. - disse, voltando-se para ele.

- Por nada, Esquecida. - Respondeu Zoltark. Saíram todos e fecharam as portas.

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