Para todo o sempre, serei seu
Para todo o sempre, serei seu
Por: Debby Scar
Capítulo 1

Quando tudo aconteceu, eu não esperava que aquilo me abalasse tanto. Eu continuei trabalhando, seguindo a minha vida e tentando esquecer o que havia ocorrido. Deixei de ir à Universidade para ficar atrás de um balcão servindo café e recebendo gorjetas de alguns clientes, alguns não tão simpáticos.

Não era fácil, mas eu tentava. Tentava mesmo.

Mas aí ele apareceu. Por um instante, eu achei que não seria possível um homem como ele olhar para mim. Não que eu fosse feia, ou boba, nada disso. Eu tinha minha autoestima elevada e sempre me achei muita areia para o caminhão de qualquer homem de Harlingen, uma bela cidade do Texas, de onde vi todos saírem e somente eu ficar para trás. Ele também se foi, assim como os outros; não Blaine, ele. Aquele que era para me apoiar, mas nada fez no momento mais difícil da minha vida. Por isso, eu tinha um problema, ou melhor, três problemas.

Quais eram os meus problemas? Primeiro: não acreditava em nada que eu não pudesse provar. Segundo: ele, o primeiro cara, tinha ido embora. Terceiro: Blaine entrou na minha vida.

Copyright © 2018 Debby Scar

1ª Edição - 2018

Capa e Diagramação: Debby Scar

Revisão: Angélica Podda

Registrado em Avctoris

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança é mera coincidência.

Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da autora. Todos os direitos reservados

“E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram.

Gênesis 6:1,2”.

O dia estava perfeito para deitar na grama verde e ficar observando o céu, mas não era isso que eu faria. A caminho do café onde eu trabalhava, me perdi em pensamentos lembrando dos meus amigos e dele. Dois anos tinham se passado, mas eu ainda não havia me recuperado por completo. Não do jeito que deveria ser. Apenas pensava em como tudo teria sido diferente se ele não tivesse tomado a decisão de partir. Eu sabia que tinha sido um castigo por eu ser diferente das outras pessoas. Sempre buscando mais que todos e querendo o melhor para mim. Não tinha pretensão de ser melhor que eles, mas eu era ambiciosa o suficiente para conseguir seguir meus sonhos. O problema era que os meus sonhos haviam sido adiados para que eu pudesse dar conta de outra coisa, talvez a mais importante da minha vida. No final, tudo desmoronou bem na minha frente. Desde então, perdi a fé que possuía e resolvi seguir atrás de um balcão, servindo café durante seis dias na semana, trabalhando meio período pelo resto da minha vida.

O relacionamento com a minha família mudou. Já não conseguia mais olhar na cara dos meus pais da mesma maneira. Tudo ficou mais difícil e eles sempre davam um jeito de colocar a culpa em mim, mesmo eu não tendo. Meus pais não entendiam que a minha vida era diferente da deles, que sempre foram evangélicos, tementes a Deus. Então, resolvi que era hora de mudar da casa deles, por isso o emprego. Aluguei uma pequena casa, bem distante de Noah e Gracy Chandler. Não pensava mais nele – não como antes –, e nem em como ele me deixara.

Todos os dias eu me levantava, tomava meu banho, vestia o uniforme cor de abóbora e seguia para o trabalho. Nada mudava minha rotina. O céu poderia pegar fogo e eu ainda estaria a caminho do meu trabalho. Mas não havia um dia sequer em que eu não desejasse que algo diferente acontecesse em minha vida. Eu já estava perto de completar vinte e um anos, e não é que eu quisesse um príncipe montado em cavalo-branco e sua armadura reluzente, me pegando e me levando para o seu castelo... Não, eu não queria isso. Eu queria alguém diferente dele. Um amor que não machucasse minha alma e que não tomasse a última gota de alegria que eu ainda possuía. Um amor que me completasse tanto por fora quanto por dentro. Meu pobre coração já havia se despedaçado o suficiente e precisava que alguém que colasse os pedaços.

Kate e Joe eram os donos do café. Eram pessoas muito simpáticas e um dos motivos pelos quais eu ainda estava naquele lugar. Ela e o seu marido Joe não tinham culpa pelo que me acontecera. Não tinham culpa pelo erro cometido pelo filho deles. Por isso, ainda os amava. Sabia que, lá no fundo, Kate e Joe sentiam que me deviam algo. E eu não me cansava de afirmar, sempre que possível, que eles não me haviam feito mal algum. E que não me deviam nada.

— Bom dia, Lili. — Kate me cumprimentou quando entrei no café.

— Bom dia, Kate. — sorri para ela. — Joe já recebeu o leite?

— Já sim, querida. — ela veio até mim e me abraçou carinhosamente, como todos os dias. — Por que não começa a servir o café para os clientes e eu vou adiantando as tortas?

— Ótima ideia. — disse-lhe. Sabendo que eu era uma negação na cozinha, Kate não tinha outra opção além de preparar as tortas.

— Eu sei, querida. — balançou a cabeça, sorrindo, e entrou para a cozinha.

Eu estava começando a servir os clientes quando ele entrou.

Não sei explicar o que aconteceu realmente, mas sabia que era ele, o meu príncipe. Só existia um problema: ele tinha cara de quem gostava de uma confusão. Bem no estilo bad boy. Não sei se foi pela altura, ou pelos músculos cobertos pela jaqueta de couro surrada preta, ou por tudo que tinha nele. O homem que havia acabado de entrar possuía traços rudes, que me fizeram ficar hipnotizada, a ponto de esquecer que estava servindo café.

— Lili! — reclamou Peter, que todos os dias sentava na mesma mesa para tomar café antes de começar seu dia na loja de ferragens.

— Desculpe, Peter. — pedi sem graça, entregando a ele um guardanapo para que pudesse se limpar. — Não sei onde eu estava com a cabeça.

— Tudo bem. — disse ele irritado, voltando a tomar seu café da manhã enquanto tentava diminuir meu estrago. Seria um milagre Peter acordar de bom humor todos os dias...

O moreno alto seguiu caminhando até o balcão e sentou em uma das cadeiras. Eu sabia que tinha que me mexer para ir atendê-lo, mas minhas pernas petrificaram. Eu só precisava lembrar ao meu cérebro que o meu corpo ainda tinha coordenação motora e que sabia andar. E o mais rápido possível.

Não eram todos os dias que aparecia um cara tão perfeito em Harlingen. Óbvio que tinha homens bonitos na cidade, com quem valeria muito a pena sair algumas vezes. No entanto, aquele... Aquele era diferente de tudo que eu já havia visto na minha vida. E não estava falando dos ombros largos e bíceps claramente bem definidos. Existia algo diferente, eu só não sabia o que era.

Aos poucos, meu cérebro foi se lembrando de que eu precisava andar e ir até lá atendê-lo. Dei duas alisadas básicas na saia do meu vestido e no avental, dando uma caprichada no cabelo, quando passei pelo espelho, e respirei fundo. Com sorte, eu conseguiria o telefone dele, transaríamos como dois loucos e depois cada um seguiria o seu caminho.

— Bom dia. — desejei toda sorridente quando assumi o meu lado no balcão para atendê-lo. — Seja bem-vindo. O que vai querer?

— Café. — se existia algo mais sexy que uma voz grossa em uma boca perfeita como aquela, eu queria ser apresentada. E urgente! Certo que ele não tinha sido gentil e nem me cumprimentado de volta, mas aquela boca... Boca de quem sabia fazer um oral divino.... E me deixou completamente louca. — Você escutou?

— Ah... Sim. Claro. Café. — eu estava mais parecendo uma colegial que não sabia o que fazer perto de um homem bonito. — Com açúcar?

— Pode ser. — disse ele apenas. Seja lá o que fosse, ele tinha um mau humor do caralho.

— Notei que você nunca tinha vindo aqui. É novo na cidade? — perguntei enquanto adoçava seu café.

— Vai demorar? — qual era o problema dele? Normalmente, quando uma mulher bonita como eu dava em cima de um cara como ele, a química logo aparecia.

— Não. — sorri, tentando disfarçar. Eu tinha que tentar de novo, já que ele era uma espécie rara. — Já sei... — sorri novamente, dando uma boa olhada em seu rosto.

Aquele rosto parecia ter sido moldado com o que existia de melhor na Terra. Olhos amendoados, só que mais voltado para o castanho, boca perfeita, linha do maxilar de traços firmes e levemente quadrados, e aquela barba, que parecia não ser feita há dias, e mesmo assim estava divinamente desenhada.  Cabelo um pouco comprido e sobrancelhas grossas, porém perfeitas.

— Negócios?

— Qual é o seu problema? — perguntou ele do nada. O meu coração gelou, porque ele falou um pouco mais alto do que deveria, fazendo os outros clientes olharem em nossa direção.

— P-p-erdão? — gaguejei pateticamente, olhando para ele, que tinha o semblante sério.

— Além de burra é surda? — droga! O meu plano não tinha saído como eu queria. — Eu estou tentando tomar o meu café em paz, e você fica flertando comigo?

— Ora... Ora... E-eu não estava flertando com você. — menti, ou tentei mentir. E não funcionou muito.

— Olha, eu sei muito bem quando uma mulher flerta comigo. — disse ele claramente irritado. Eu não entendia o motivo daquela irritação toda. — Apenas sirva a porra do café e saia da minha frente. — eu queria tanto um buraco para enfiar a minha cabeça, e só tirá-la de lá quando o apocalipse acontecesse...

De repente, eu não me sentia muito bem. Queria chorar, mas não daria o gosto para aquele brutamontes gostoso.

Eu tinha o meu orgulho, ou parte dele, preservado em alguma parte do meu cérebro.

— Me desculpe pelo incômodo senhor. Não foi minha intenção ser inconveniente. Aceite um pedaço da nossa torta como forma de desculpas. — respirei fundo antes de fechar a cara completamente para ele, e sair com a última gota de dignidade que ainda me restava.

— Tudo bem, querida? — perguntou Kate, quando passei apressada pelo corredor, indo em direção à porta dos fundos.

— Sim. — menti. — Acho que estou começando a ficar doente...

— Se quiser, pode tirar o resto da manhã para cuidar disso. — sugeriu Kate daquela forma tão doce que apenas ela possuía. — Posso ficar aqui com Joe...

— De modo algum. — jamais deixaria Kate na mão apenas porque um cara não gostava de receber cantadas de garotas bonitas. — Vou apenas tomar um ar e já volto para trabalhar.

Kate pareceu acreditar no que eu dissera.

Segui para os fundos do café, ainda me perguntando que diabos tinha acontecido com aquele cara. Ou poderia ter sido uma má ideia flertar com alguém que eu não conhecia... O que eu tinha na cabeça? No que eu estava pensando? A resposta para a última pergunta era: idiota. Era óbvio que eu estava pensando em como a boca dele se encaixava perfeitamente na minha, ou no que as mãos grandes, e possivelmente ásperas do trabalho duro, faria com o meu corpo.

Ao meio-dia o café fechou, já que Kate tinha que resolver algo sobre a hipoteca da casa. Caminhei tranquilamente até a minha casa, feliz por ter conseguido amenizar dentro de mim todo aquele sentimento de que perdera algo. E eu realmente tinha perdido algo, o amor próprio, no momento em que não me toquei que aquele cara não era nenhum príncipe encantado.

De resto, estava tudo perfeito. Eu nunca mais o veria. Não teria o desprazer de ver aquele rosto perfeito, nem aquela boca maravilhosa de homem que sabia chupar bem uma boceta na seca, deixando-a saciada. Eu tinha que parar de pensar, e conseguiria.

— Gregg! — atendi o meu celular, quando já estava a poucos metros da minha casa. — Sair? — Gregg era o meu amigo gay, que tinha a vida perfeita com o seu namorado gostoso perfeito, em uma casa perfeita. Não, eu não tinha inveja dele, mas, às vezes, eu mesma lhe falava que chegava a ser irritante tanta coisa perfeita em um só lugar. É que não bastava ele ter tudo isso; Gregg ainda era um negro lindo, que fazia a cabeça das mulheres girarem em uma rotação completa por pura contemplação. Corpo definido e a bunda maior que a minha, e até que eu tinha uma bunda bonita, só que a dele deixava qualquer mulher louca de raiva.

Não tive muito tempo para pensar no que fazer. Em questão de segundos, eu estava sendo assaltada, o ladrão queria a minha bolsa. Minha reação inicial foi pensar em correr o mais rápido que podia, porém, seria muito arriscado. Eu até tinha spray de pimenta na bolsa, só não tive a oportunidade de pegar. Quando você é assaltada, o coração acelera, suas mãos ficam trêmulas e a única coisa que você pensa é que se reagir ou tentar algo, a qualquer momento a sua cara vai ser estourada por uma bala. Segundos se passam em sua cabeça até que se tenha uma reação.

Eu fiquei assistindo, paralisada, quando o homem da cafeteria apareceu do nada, socando o ladrão, se esquivando e desarmando o assaltante com um golpe eficiente. Não demorou muito para que o cara do café enchesse a cara do assaltante com uma sequência de socos poderosos.

— Liliiiii! — eu escutava de longe a voz do meu amigo. O celular ainda estava grudado na minha orelha, no entanto, eu não ouvia Gregg gritando, apenas o som baixo de sua voz.

Pouco tempo depois, o rosto do assaltante já estava ensanguentado. Eu tinha que fazê-lo parar, e, por mais que eu quisesse que o bandido levasse a pior, eu não queria ser responsável por não impedir que o cara fosse morto. Saí do meu transe e tentei segurar os braços do grandão, porém, eu era bem menor e não tinha forças para impedir que ele continuasse batendo. Batendo muito forte.

— Pare! Pare! — eu gritava como uma louca. — Assim você vai matá-lo!

Eu podia ver o quão furioso ele ficava a cada soco. Eu estava grata por ele ter me salvado, só não queria que aquela selvageria toda terminasse em desgraça. A forma como ele não conseguia se controlar já estava me assustando de verdade. Ainda descontrolada, com o celular na mão, desliguei a chamada de Gregg e liguei para a polícia. Eu estava tão nervosa que mal conseguia ficar em pé. Por fim, o grandão se cansou de socar o assaltante e veio na minha direção, transtornado. Suas mãos estavam manchadas com o sangue daquele homem, e a sua respiração irregular me deixou ainda mais assustada.

— Você está bem? — realmente tinha um lado do meu cérebro havia ficado adormecido, de verdade. O homem parado de frente para mim e me olhando com o semblante aflito me livrara de um assalto, e não era em nada igual ao homem com que tentei conversar na cafeteria. Aos poucos, o rosto dele foi ficando com uma expressão mais preocupada, eu só não conseguia entender o motivo.

— Sim. — foi o que eu consegui responder. Eu ainda estava tentando entender tudo o que acabara de acontecer.

— Está machucada?

— Olha, eu estou bem. Obrigada por me salvar. — não queria mais ficar perto dele. Não que eu não o achasse um herói naquele momento, no entanto, o problema era que ele tinha me assustado muito mais do que o assaltante.

— Tudo bem, então. — ele disse, de repente ficando mais sério. Sua postura já era outra, completamente diferente da anterior. Ele tinha passado de príncipe salvador para um bruto, comigo. Da mesma forma que havia sido ignorante quando o atendi no café. — Vê se não se mete mais em confusão. — eu tinha me metido em confusão? Ser quase assaltada era se meter em confusão? Que merda ele estava pensando?

— Que eu saiba, não pedi a sua ajuda. — se ele queria uma Lili furiosa, ele teria uma Lili furiosa. — E sabe de uma coisa, já chamei a polícia!

— Se eu não estivesse aqui, — disse ele com ironia — você não teria como ligar para a polícia, meu anjo. — meu anjo?

— Certo. — falei irritada. — Você já salvou o dia, Clark Kent, agora pode ir embora... — o que me fez pensar que, se ele estava perto, poderia ser que ele estivesse me perseguindo — Espere um pouco... — comecei a falar devagar. — O que você estava fazendo? Me seguindo, seu maluco?

— Você adoraria que eu estivesse. — falou esboçando um sorriso de deboche no canto da boca. — Mas, para sua tristeza, estou morando do outro lado da rua.

Certo, eu bem que queria ter ele me seguindo, mas de outra maneira.

— Você ainda está me olhando como se eu fosse um pedaço de carne. — que inferno! Eu mal conseguia olhá-lo sem imaginar ele me comendo. Tinha algo muito errado comigo. Muito mesmo.

— Eu não estou olhando dessa forma. — ainda bem que eu fui interrompida pelo barulho da sirene do carro da polícia, ou teria ficado o resto do dia discutindo com ele.

Quando a polícia chegou, finalmente, ele não ficou lá para contar o que ocorreu. Simplesmente foi embora, como se nada tivesse acontecido. Eu contei quase toda a verdade, omitindo apenas a parte onde ele tinha deixado um homem de mais de oitenta quilos desmaiado no chão. Não dava para saber como era o rosto do homem que me assaltou, já que, no momento em que os policias o levaram, ele estava completamente roxo e inchado, com o supercílio sangrando devido ao enorme corte que tinha. Falei que não fazia a mínima ideia de quem tinha me defendido, pois tudo fora rápido demais e não deu tempo de registrar nada.

Para todos os efeitos, eu não sabia o nome do meu herói, apenas que ele tinha me livrado do perigo. E ocultei também a parte onde o salvador do dia era meu novo vizinho.

Fui para a delegacia prestar depoimento e horas depois cheguei em casa, esgotada.

As quase quatro semanas seguintes foram um completo inferno. Ele tinha uma motocicleta Harley Davidson preta com detalhes cromados no guidão e correntes adornando as laterais da moto, e fazia questão de lavá-la nos horários em que eu estava perto de chegar em casa. Se não era a moto, eram os exercícios físicos, sem camisa, que deixavam à mostra a sua tatuagem no estilo tribal, perto do caminho para a felicidade; sem falar nas dos ombros, que eram enormes asas de anjo.

A pior parte era que eu estava começando a sonhar com ele, e com muita frequência. Por várias noites acordava suada, com a respiração acelerada. Tudo porque eu tinha sonhado com ele me beijando, tomando o meu corpo com aqueles braços fortes. No meu sonho ele metia em mim com tanta força que eu chacoalhava na cama, seguindo o seu ritmo. Eu podia sentir tudo que estava acontecendo naquele sonho, e tive alguns orgasmos depois usando a minha mão para acalmar a sede que começava a brotar de forma inexplicável dentro de mim.

— Minha querida... — murmurou Gregg, olhando através da janela, sem se preocupar se ele o veria ou não. — Se ele fosse gay, eu já pediria o número dele.

— E como você sabe que ele não é gay? — perguntei com ironia e ele olhou para mim com descrença.

— Ele é tão gay quanto eu gosto de mulher. — Gregg deu mais uma olhadela pela janela e suspirou, voltando a sentar no sofá.

Havia sido um dia difícil para mim, e não tinha outra pessoa com quem eu pudesse conversar sobre os meus problemas. Gregg era o único que estava ali comigo, sempre ao meu lado.

— Sonhei com ele. — confessei, sentando ao seu lado no sofá e lhe entregando uma xícara de café. — Desde o dia em que ele chegou não durmo direito...

— Eu também não dormiria direito com um gato desses, seminu, todos os dias bem na frente da minha casa. — ele disse revirando os olhos e respirando fundo.

— Eu nunca mais tinha sonhado, Gregg. —  suspirei, fechando os olhos e tentando esquecer ele, não Blaine, o outro. — Não, desde que ele se foi.

— Lili, não sei você, — começou — mas acho que ficar pensando nele não vai ajudar muito. Já se passaram dois anos e nada de ele ligar, m****r uma mensagem de texto ou até mesmo enviar uma carta.

— Não que eu tenha esperanças...

— A quem você quer enganar? — Gregg arqueou a sua sobrancelha grossa e bem desenhada para mim, questionando tudo que estava me acontecendo. — Porque a mim, você não engana. Por que você não tenta falar com o senhor gostosão aí da frente?

— E o quê? Ser pisada novamente? — fechei a cara para Gregg. Ele só podia estar de brincadeira comigo. — Não obrigada. Já fui pisada o suficiente por ele... para querer outro que seja igual, ou até pior.

— Besteira. — suspirou Gregg. — Nem todos os homens são iguais, minha flor...

— Como não? — olhei para ele, cética.

— Veja o meu exemplo. — deu de ombros. — Eu sou gay... — não segurei o riso e gargalhei alto. Era óbvio que Gregg não era como os outros homens. Se ele gostasse de mulher, eu mesma já o teria assediado. — Então... O que você vai fazer sábado à noite?

— Não sei...

— Como assim não sabe? — me questionou.

— Acho que vou ficar em casa curtindo um pouco de The Walking Dead e dormir depois...

— Não... Você não vai assistir isso — falou Gregg fazendo cara de nojo. — Tem que ser muito doente para conseguir dormir depois de assistir àquilo...

— Você que não entende o que é arte, meu querido. — brinquei. — Não fale mal do meu seriado favorito que eu não falo dos filmes que você gosta.

— Bom, eu tenho que ir.

— Mas já? — gemi fazendo cara de choro para ele. Era tão bom quando Gregg vinha na minha casa, que eu me sentia órfã assim que ele saía.

— Tenho, minha flor. Hoje Mike quer conversar comigo...

— Será? — perguntei esperançosa.

— Espero que seja. — vi em seus olhos o desejo de seu maior sonho se tornar realidade.

— Vou ficar na torcida. — me levantei para ir até a porta acompanhar Gregg, deixando nossas xícaras de lado.

— Não sei você, mas eu iria até lá e puxaria conversa com ele.

— Sem chance de eu ir falar com aquele brutamonte, gostoso, sarado e com cara de mau.

— Garota, você precisa é de sexo, pois já está até cheirando a mofo.

— Já disse que não vou...

— Foca no gato. — disse assim que abri a porta. Ele ainda estava lá, perfeitamente incrível. — Vá até lá, e agradeça novamente por ter salvo a sua vida. Chegue na humildade que você consegue tirar as teias de aranha.

— Ei. — sussurrei olhando feio para meu amigo. — Eu não preciso tirar as teias de aranha...

— E eu sou hetero, minha flor. — debochou. — Beijos. Ligo para saber como foi com o senhor gostosão. Foca no gato.

Fiquei em pé, olhando Gregg partir, e analisando se ia ou não falar com o meu vizinho. Seria muita loucura, depois de tudo, eu ainda ir lá oferecendo a bandeira da paz. Será que eu era o tipo de mulher que gostava de ser pisada? Ele tinha feito isso comigo, antes do senhor gostosão aparecer. Mas ainda assim, eu queria ir até lá e falar com ele. Seria a última tentativa de me aproximar. Depois, eu não iria mais perturbar a vida dele.

Respirei fundo, dei uma olhada no meu reflexo no vidro da janelinha da porta, e estufei os peitos, como sinal de que aquilo fosse me dar mais segurança. Ele estava de costas, quando atravessei a rua até chegar em frente à sua casa.

— Oi, vizinho. — certo, eu estava sendo apenas simpática. Nada mais. Apenas falando normalmente com ele. — Bom, eu queria me desculpar pelo outro dia... E sei lá, quem sabe possamos nos tornar amigos. — simpática. Seja simpática, Lili. Foco no gato.      O problema era que ele não estava me dando bola. Se ele estava me irritando com o seu comportamento? Sim, ele estava. Mas, aquela era a minha última tentativa. — Moto legal... — comecei a falar parecendo uma matraca. E mesmo eu falando pelos cotovelos, ele mantinha sua concentração em passar um líquido preto nos pneus. — Que marca é? — de repente, ele se levantou, se virou e ficou parado bem na minha frente. Se eu não tivesse puxado um pouco de ar para controlar meu equilíbrio, teria ficado com as pernas moles.

— O que você realmente quer? — perguntou me olhando duro. Tudo nele era duro. Até a sua voz rouca tinha um toque de aspereza no timbre, o que me deixou ainda mais desconcertada.

— É-é-é... — maldita hora para gaguejar. — Vim em missão de paz. Bom, não começamos bem e queria agradecer por ter me salvo no outro dia.

— De nada. — mantenha a simpatia, Lili. Eu tinha que ficar repetindo aquilo na minha cabeça, mas ainda não entendera o porquê de querer que ele falasse comigo. Talvez fosse pelos inúmeros sonhos que tive com ele, ou talvez pelo fato de querer ter algo com ele. Nem eu sabia ao certo o que queria, só sabia que ele tinha algo diferente. — Agora me diga, o que você quer?

— Que nos tornemos amigos... — minha voz saiu um pouco fraca.

— Amigos... — o meu cérebro fritou quando ele sorriu. Eu sabia que era um sorriso de deboche, no entanto, era um sorriso lindo. O rosto dele ficava ainda mais iluminado quando sorria, não que eu tivesse tido muitas oportunidades de vê-lo sorrindo, porque eu não tive. — Só por isso que você saiu da sua casa e veio até aqui?

— Sim, e agradecer por ter me salvo no outro dia. — falei mais firme.

— A parte de ter salvo eu já entendi. Já faz semanas isso, e agora que você veio falar comigo? — arqueou uma das sobrancelhas. — Existe algo a mais aí...

— Desisto. — resmunguei, revirando os olhos. — Não tem algo a mais. Eu apenas quero ser simpática. Eu agradeci, ofereci a bandeira branca e pronto. Se você não quer, problema seu. — quando me virei para ir embora, ele segurou meu braço. Se escutou o gemido que saiu da minha garganta eu não sei, mas seria a vergonha da minha vida gemer por apenas sentir o toque da mão dele no meu braço.

— Não sou muito fã de ser amigo de uma mulher, já que sempre acabo trepando com ela... — falou com sarcasmo. — Porém, posso tentar não comer você.

— Nem em seus sonhos eu treparia com você. O seu ego só não é maior porque não tem como aumentar mais. — eu deveria ter ficado de bico calado, ou ter dado uma de burra e achado graça no que ele dissera, porque eu sabia que não iria me recuperar do que vinha a seguir.

— Só não mostro o tamanho do meu ego agora porque tenho que te mostrar que consigo ficar comportado no meu canto. — certo, ele estava próximo demais e dava para sentir o calor do corpo dele. E eu não estava preparada para isso. Tremi, e não foi de frio. — Acho que vai ser divertido ter uma... amiga. — sorriu daquele jeito debochado, que me fez respirar fundo.

— Tenho que ir. — como eu ia rebater algo, se não tinha nem forças para isso? Era óbvio que eu queria ver o tamanho do ego dele. E era óbvio, também, que seria uma tortura ser amiga dele, enquanto eu sonhava com ele me colocando em todas as posições possíveis. — Acho que deixei algo no fogo...

— Foi um prazer, vizinha...

— C-c-certo. — que merda, eu ia ficar gaguejando todas as vezes que fosse falar com ele? Quando ele se afastou, não tive tempo de apreciar mais um pouco da bela montanha de músculos que estava próxima demais do meu corpo. Queria sair dali o mais rápido possível.

— Vizinha... — eu fiquei arrepiada quando ele me chamou. — Blaine.

— C-c-certo. — de novo. Que merda. — Lilith ou Lili... — topei no degrau da entrada da minha casa, e jurei a mim mesma que jamais passaria uma vergonha como aquela. Corri para dentro da minha casa, para tentar me manter em segurança e me manter longe dos desastres como o que tinha acabado de acontecer. Ainda pude ver o canto de sua boca formar um sorriso quando fechei a porta.

Depois daquilo, não tive uma boa noite de sono. Não quando Blaine tinha ido me visitar e me esquentado com o calor do seu corpo.

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