Capítulo VI

Ramon estava apreensivo. Uma coisa estava bastante clara: alguém tinha grande interesse em que a equipe de resgate não chegasse ao seu destino. Mas quem? E por quê? Agora, mais do que nunca, o cuidado tinha que ser redobrado.

Ramon refletiu por um momento. Era necessário apressar as coisas, pois a escuridão da noite já havia se aproximado. Dirigiu-se até a mala do carro e apanhou uma lanterna.

— Carlão, disse ele, fique de olho na estrada. Eu vou dar uma checada no estrago. Willdson, continuou, dá uma geral no Monza e veja o que pode descobrir. Leve o Henrick com você. Ele precisa aprender como se trabalha.

Willdson apanhou sua lanterna e Henrick seguiu o seu exemplo. Cautelosamente atravessou a pista e se aproximou do Monza. Era um modelo quatro portas Classic, ano 89, verde metálico. Chegou mais próximo e abaixou-se até ao rés do chão. Vasculhou com a lanterna e nada constatou de especial.

— Henrick, vá pelo outro lado e vasculhe. Veja se acha alguma coisa pelo chão, mas não toque em nada!

Disse isso se encaminhando para o lado do motorista. A porta estava aberta. Dirigiu o facho de luz para o interior do veículo na tentativa de encontrar algo que pudesse lhe dar uma pista. Resolveu entrar. Porém, antes disso, era preciso algumas precauções. Colocou a mão no bolso da jaqueta e apanhou um par de luvas propositadamente colocado ali, em função do frio que normalmente assolava a região nas longas madrugadas de julho. Vestiu as luvas e, antes de entrar, deu uma minuciosa checada sob os bancos dianteiros. Nada de interessante.

Henrick, do lado de fora, vasculhou detalhadamente por debaixo do veículo e avançou mato adentro na expectativa de descobrir alguma coisa.

Willdson sentou-se no banco do motorista e abriu o porta-luvas. Lá dentro tinha pouca coisa. Na verdade, muito pouca, mesmo. Três balas de uma automática, do mesmo tipo que Ramon usava, e um maço de Hollywood com cinco cigarros. Coincidentemente, a mesma marca que ele fumava. Fechou o porta-luvas e olhou debaixo do painel.

— Como eu pensava, disse para consigo mesmo.  Ligação direta! Significa que esse carro foi roubado!...

Estava ainda refletindo sobre suas conclusões quando ouviu, do lado de fora, Henrick dizendo alguma coisa num tom de total ansiedade.

Saiu do carro e buscou a imagem do filho que do outro lado apontava agitadamente para a porta traseira direita.

— Corre aqui, pai! Parece sangue na porta!

Willdson, num salto, chegou até o lugar em que seu filho estava e procurou tranquilizá-lo.

— Henrick, disse ele sem tirar os olhos da mancha, fala pro Ramon vir até aqui. Se eu não estiver errado, aquele cara estava mesmo machucado.

Henrick atravessou a pista sem nem olhar para os lados. Afinal, nenhum veículo tinha mesmo passado por ali desde o acidente.

Ramon já havia vistoriado a perua e confabulava com Carlos a melhor maneira de tirá-la daquele buraco. Aparentemente não havia danos maiores além de uma porta e um pára-lama amassados.

A luz da lanterna que Henrick portava chamou a atenção e Ramon, imediatamente, encaminhou-se para junto de Willdson, antes que Henrick pudesse dizer alguma coisa.

— O que você descobriu, Will?

— Uma mancha de sangue aqui na porta. Acho que o cara estava mesmo machucado.

— Não pode ser, Will. Nós só vimos um sujeito correr para o Comodoro, e não sairia pela porta traseira.

— É, acho que você tem razão, pois a porta dianteira, a do motorista, estava aberta!

— Que mais você descobriu?

— Três cartuchos sem uso e um maço de cigarros no porta-luvas. Ah! continuou, foi feita ligação direta neste carro. Com certeza foi roubado.

Ramon fez uma pausa. Pensou um pouco e tentou organizar as ideias.

— Se tem sangue na porta traseira...

— É porque nesse carro teve pelo menos um passageiro, completou Willdson como se lesse os pensamentos do amigo. Mas, se isso é certo, continuou, onde ele está?

Ramon calculou passo a passo o seu raciocínio. Depois, como era de seu feitio, buscou as provas antes de apresentar a conclusão.

— San, pediu Ramon pausando cada palavra, pega a mixa no chaveiro do carro.

Mixa era uma chave estrategicamente trabalhada, capaz de abrir qualquer fechadura.

Willdson não retrucou. Correu até Carlos, que continuava em seu posto, e voltou com o chaveiro.

Ramon, com toda a tranquilidade de quem está cônscio de suas deduções, abriu o porta-malas do Monza, jogou pra dentro o facho de luz e, com a atitude de quem acertou mais uma, suspirou para o seu velho amigo:

— Aqui está o seu passageiro, San.

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