Capítulo II

O dia anterior à partida foi dos mais tumultuados. A equipe de resgate, como foi chamada, tinha de conter no máximo quatro elementos no campo e um na Central. Afinal, não poderiam levantar suspeitas já que todo o Projeto INCA era extremamente confidencial. Desta forma, um carro de passeio seria o mais sensato, apesar de o menos adequado.

Ramon e Willdson tinham um currículo invejável dentro da CIFEC. Pelo menos dezessete expedições por várias partes do mundo. Carlos Von Güeler era instrutor de alpinismo e espeleologia, além de ter participado de dezenas de campanhas de treinamento nas piores simulações. Marcos Karline, irmão mais novo de Ramon, seria o contato da equipe na Central. Dele seria a responsabilidade de transmitir e receber informações e processá-las nos computadores. Conhecia bem as estratégias de campo. Hoje, estava em uma cadeira de rodas. Uma corda se rompera durante um rapel, em uma expedição no Himalaia.

Henrick Capolli era o novato da equipe. Era filho de Willdson e tinha pouca experiência. Havia participado de apenas algumas campanhas de treinamento, mas Willdson achou que, apesar de perigosa, era sua grande chance em mostrar do que era capaz.

O carro devorava a estrada onde o barulho do motor só era superado pelo som do toca-fitas. No mais, absoluto silêncio. Parecia que todos buscavam em seus íntimos uma resposta para o enigmático desaparecimento da equipe do Projeto INCA.

Sem tirar os olhos da estrada, Ramon baixou um pouco o som do toca-fitas.

— Se tudo continuar nessa tranquilidade, acho que chegaremos em Campo Grande um pouco antes das 23:00 horas!

Na verdade, era uma observação sem importância. Um comentário apenas para quebrar a monotonia da viagem.

Ninguém balbuciou coisa alguma. Somente Willdson balançou a cabeça ao mesmo tempo em que roía uma ponta de unha do dedo indicador.

Rodaram seguramente mais dez quilômetros quando Carlos, pela primeira vez, abriu a boca para uma pergunta.

— Significa que vamos passar a noite em Campo Grande?

— Exatamente, respondeu Willdson trocando a fita do teipe. Temos que passar no quartel em Aquidauana e o Coronel Krismmel só vai estar lá pela manhã.

O Coronel Krismmel era comandante do 9º Batalhão de Engenharia de Combate.

A expectativa era que ele tivesse conseguido algum indício do local onde se situava o Ponto M. Essa expectativa tinha um certo fundamento visto que o Coronel tinha alguns homens da mais alta confiança, e altamente treinados, que conheciam muito bem a região da Serra da Bodoquena. Constantemente interceptavam, juntamente com os federais, o tráfico de cocaína vindo principalmente da Bolívia ou até mesmo Paraguai.

Carlos ficou sem saber se devia ou não continuar perguntando. Afinal, ele não tinha acesso a certas informações antes do momento oportuno. De qualquer forma, não custava perguntar, mesmo porque, ele sabia que as coisas ficariam complicadas dali para frente e era importante estar preparado com o máximo de informações. Limpou num pigarro a garganta e, buscando a imagem de Ramon no retrovisor, perguntou:

— Como é que esse tal de Coronel Krismmel pode ter informações que a própria Central não tem?

Willdson acendeu um cigarro e ofereceu para Ramon. Enquanto acendia outro, Ramon tentou esclarecer o que, até para si próprio, era um pouco confuso.

— Pra falar a verdade, Carlão, o Coronel Krismmel sabe muito pouco a respeito. O que ele sabe foi através do Coronel Paranhos da Escola de Cadetes de Campinas.

Antes que Ramon complementasse sua explanação, Carlos interrompeu aproveitando a oportunidade para saber um pouco mais.     

— Mas e quem é o Coronel Paranhos?

— É um amigo pessoal do Fredy, interveio Willdson. Através dessa ponte de informações, ele fez uma tentativa...

— Talvez, interrompeu Ramon, ele pudesse garantir um caminho um pouco mais limpo pra nós.

— Mas tudo isso não é extremamente confidencial?

— Tenha certeza disso, Carlão.

Dando uma longa tragada no cigarro, Ramon continuou:

— O que eles sabem, não vai além disso!

Carlos recostou-se no banco traseiro do carro, fez uma pausa e murmurou, como se estivesse pensando em voz alta:

— É... pelo que eu vejo, o que nós sabemos também não vai além disso.

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