MÁFIA: Livro 1 - Muerte e a Rainha das Armas
MÁFIA: Livro 1 - Muerte e a Rainha das Armas
Por: Renata Ávila
BÁRBARA

Bárbara achava divertido se imaginar vivendo outras vidas, sendo outras pessoas, em outras famílias, onde tudo era comum e aborrecido.

Uma vida pacata, sim, como costumava imaginar que pessoas que passavam por ela nas ruas ou sentavam ao seu lado no balcão da padaria para tomar café, tinham. Um trabalho das 9 às 6, uma casa ou apartamento financiados, carro popular quando muito. Talvez um marido ou esposa, até alguns filhos, essa era a vida comum que às vezes imaginava para si. 

Ao mesmo tempo em que tinha esses pensamentos, ria de si mesma, jamais conseguiria levar uma vida comum, não com a “família” que tinha. Não, tudo o que poderia esperar em sua existência era caos e ação, turbulência incessante. Era a própria responsável por isso, quando escolheu, há muitos anos, seguir aquela vida, sabia que não conseguiria parar nunca.  

Claro, escolher não era bem a palavra correta, ela fez o que era preciso, conforme o que lhe foi oferecido, fosse pela sociedade agressiva que lhe tirou tudo o que tinha, fosse pelo que a vida lhe deu depois de não ter mais nada. De qualquer forma, não costumava se lamentar, apenas imaginava, às vezes, uma vida mais fácil.

Dito isso, é necessário esclarecer quem era Bárbara, o que fazia da vida e como fazia. Devido às particularidades de seu trabalho e do meio em que estava inserida.

Quando criança, sua mãe, filha de um poderoso chefe de máfia, foi assassinada em uma guerra que lhe tirou praticamente tudo o que tinha. Além da mãe, da avó e do avô, dois de seus tios também foram assassinados, nunca conheceu o pai, o avô não permitiu o casamento com sua mãe, e o fez entender que não era bem vindo na família nem mesmo como visitante, então talvez isso o tenha salvo. 

Apenas um tio sobreviveu, este não participava da família, fora expulso porque casou com uma mulher negra, por quem era apaixonado, a guarda da pequena Bárbara ficou com ele e sua esposa, Judith, que já tinha um filho do primeiro casamento, e mais duas meninas da união com o tio dela. 

Seu tio e tia não tinham trabalhos comuns, também eles lideravam uma organização criminosa, poderosa na venda de armas e munições. Juntaram suas experiências nas respectivas famílias das quais vieram e montaram seu negócio. Viviam em outro país, pois para provar seu total distanciamento da família, e para que seus negócios não entrassem em contato, eles se retiraram, dominando um mercado longe de seu país natal.

Todos os filhos ajudavam no trabalho, inclusive Bárbara, ao menos por um tempo, ela foi o braço direito da tia. Mas tinha outros talentos, Judith era uma mulher sábia, e viu que ninguém acertava um alvo melhor, e de forma mais discreta, do que sua sobrinha. A apresentou para as pessoas certas, e seu trabalho mudou.

Bárbara era uma assassina de aluguel, não era cruel ou gostava de sangue e morte, mas era um trabalho que precisava ser feito, ela era muito boa nele, assim como algumas pessoas são boas com números ou com outras pessoas, seguindo carreiras financeiras ou em vendas. Ela era ótima com uma arma na mão, tinha frieza e boa mira, além de ficar invisível e realizar até mesmo os trabalhos mais difíceis com agilidade e competência.

Quando seus punhos eram exigidos, também não passava trabalho, fazia parte da liga amadora de boxe de sua cidade, ganhava muitas lutas, e conseguia manter uma imagem de jovem talentosa e patrocinada, uma forma de legalizar os ganhos de seu outro trabalho.

Seu passado guardava dores, mas não falava muito sobre isso, costumava sequer pensar a respeito dele. Já não vivia mais perto da tia e do tio, voltara para seu país, seu antigo bairro, mas ainda se dava bem com eles, mudou de país para ficar mais próxima de seus melhores clientes, e os via no natal e algumas outras datas. Dizia sempre que não poderia passar muito tempo com a família, mas a tia, sábia como sempre, entendia que era doloroso para ela ficar próxima deles.

Acordou tarde naquele dia chuvoso, cerca de 7 anos depois de ter saído da casa dos tios, tinha uma luta importante, sabia que os poucos lugares das arquibancadas estariam lotados de mafiosos, não que fossem até lá para ver ela, mas sua adversária era sobrinha de um grande chefe, que tinha negócios para fechar e aproveitaria para prestigiar a sobrinha e ficar ainda mais rico e poderoso. Era normal que eles usassem eventos desse tipo para encontros com possíveis associados e até mesmo inimigos, ninguém realizaria um tiroteio ou vingança no meio de uma luta, até porque, muitos policiais também iam assistir e apostar. Era um local de trégua, respeitado por todos.

Tomou um banho demorado e ignorou as ligações de seu treinador, já havia feito a pesagem no dia anterior, e seu dia seria mais longo do que ele imaginava, vestiu calça jeans e blusa térmica, um casaco longo de couro forrado com pelos, luvas, gorro e cachecol, antes de sair foi até a parede da cozinha e apertou uma lateral no fundo de um armário aéreo, tirou uma maleta grande de metal, abriu e conferiu o conteúdo, parecendo satisfeita, a fechou e antes de passar pela porta pegou também a bolsa de academia, onde tinha suas luvas e roupa para a luta, mais uma muda de roupas extra, iria direto para a luta e talvez até tivesse outro trabalho na madrugada.

Entrou em seu carro, um Jeep antigo e potente, com pintura velha e estofado extremamente confortável, a aparência era um pouco desagradavel aos olhos, mas era um bom carro. Dirigiu até o prédio em construção, vazio aos sábados, e subiu com agilidade os degraus até o 21º andar. O treinamento no boxe e as corridas ajudavam a não chegar exausta e incapaz de respirar, foi até a janela com vidros recém instalados e abriu uma fresta, lonas escuras penduradas ali ajudariam com sua invisibilidade.

Abriu a maleta e montou com agilidade a arma de uso exclusivo de forças armadas ao redor do mundo, era bom ter traficantes de armas na família, aquela era a última geração de miras e precisão nos disparos. Se posicionou e acertou a visão, exatamente na porta do prédio na diagonal, um hotel famoso frequentado pela elite empresarial e alguns famosos em passagem pela grande cidade, ninguém a veria lá, estava em uma posição distante, quase impossível ligarem seu tiro aquela janela. 

Sentou no chão e acendeu um cigarro, pegando alguns salgadinhos de um saco já aberto em seu casaco, não deveria comer aquilo em dia de luta, mas estava com fome, e queria passar o tempo.

Cerca de uma hora depois, viu a grande limusine estacionar na frente do hotel, teria apenas alguns segundos, até que ele desaparecesse no meio de seus seguranças, precisava de apenas um segundo da cabeça disponível, para receber o tiro. Viu três seguranças descerem de um carro blindado que estacionara antes, e mais dois da limusine, todos extremamente apreensivos, uma operação de guerra apenas para descer do carro, sorriu pensando no quanto de mal ele havia feito, para ter certeza de que ainda corria riscos, mesmo cercado de brutamontes fortemente armados e tendo chegado a menos de uma hora na cidade. 

Era um traficante de pessoas, desagradando toda a classe de mafiosos do país, aquele trabalho seria uma incrível aposentadoria, se quisesse se aposentar é claro, o dinheiro arrecadado entre os maiores líderes criminosos do país e até mesmo estrangeiros foi generoso. 

Um segurança abriu a porta enquanto o outro se posicionava, de modo que eles protegeriam a cabeça do chefe, menor do que eles, com suas próprias cabeças e corpos, o homenzinho baixo e terrível desceu com agilidade, ela contava com essa agilidade para seu tiro perfeito e impossível, era agitado, o tal traficante, movia-se mais rapidamente do que os pesados seguranças, quando sua nuca ficou disponível, em um milésimo de segundo, ela fez o disparo, acertando em cheio, foi como atirar em uma melancia, com todo aquele vermelho se espalhando no peito dos seguranças e até mesmo no terno claro do gerente que se adiantava para receber o hóspede ilustre. 

-Rá! - Sorriu e recolheu a arma, guardando com agilidade, os seguranças sacaram suas armas e procuravam freneticamente apontando elas para todos os lados, uma multidão se juntava ao redor do corpo, sons de ambulância e carros de polícia. 

Ela desceu as escadas com tranquilidade, caminhou entre as pessoas que se amontoavam nas calçadas, passou no banco e sacou algum dinheiro, pagando uma conta de casa também, entrou em seu carro, ninguém notou a jovem de gorro de lã desviando dos pingos de chuva e correndo até seu velho carro, estacionado quase na frente do hotel.

-Senhora! - O policial batia no vidro com sua luva de couro.

-Pois não? - Sorriu amistosa.

-Documentos do veículo e habilitação por favor. - Olhou o interior do carro, a bolsa de academia no banco do carona, e pareceu desconfiado. - Onde a senhora estava?

-Ah, fui até o banco sacar dinheiro. - Pegou o recibo enfiado no porta luvas e mostrou para ele. - Tenho uma luta hoje e queria adiantar as coisas, sabe como é, se por acaso for parar no hospital, deixar a conta de luz paga. - Sorriu fazendo uma careta divertida.

-Bárbara Romano!? - Ele leu o nome nos documentos e abriu um sorriso. - Estarei em sua luta hoje! Estou torcendo por você, inclusive já fiz minha aposta em seu excelente trabalho.

-Ah! Que bom que o senhor vai estar lá policial! Espero não decepcionar e levar essa, mas minha adversária é bastante boa também, farei meu melhor!

-Você é muito melhor do que ela! Não duvide disso, e boa luta! - Ele estava mesmo animado de ver ela ali, piscou um olho e sorriu quase charmoso demais, eles a achavam incrível, quase não se lembravam do passado de sua família mafiosa, devolveu os documentos e fez sinal para que seguisse seu caminho. - Não vou segurar você aqui, vá e não se atrase, tire sangue dela e vença!

Ela apenas sorriu com simpatia e arrancou o carro tranquilamente, sabia que os policiais costumavam torcer para ela, por conta de algumas lutas beneficentes que realizava anualmente, ajudando causas diversas, como pagamento de tratamento médico para policiais e veteranos, ou ajuda a crianças órfãs.

Seu celular tocava pela décima vez, olhou o nome do treinador e revirou os olhos, ele deveria estar morrendo de aflição, atendeu sem tirar do suporte no painel do carro e colocou no viva voz.

-Você é insistente Gui! 

-Mas onde você está!? Estou ligando há horas, venha logo para o ginásio, precisamos fazer a foto antes da luta, sua adversária já está aqui!

-Bem, ela não tem muito o que fazer além de lutar Gui, eu por outro lado…

-Garota! Só venha logo. Conseguiu resolver?

-Claro que sim, chego aí em 15 minutos. - Desligou e acelerou, ele tinha razão, já deveria estar lá.

Desceu e abriu o porta malas tranquilamente, fumando um cigarro e ajeitando a maleta com a arma que estava embaixo do tapete do chão do carro, ninguém encontraria, a não ser que quisesse, mas não haviam revistas nos carros de ninguém ali, os policiais não queriam nem saber o que encontrariam se por acaso abrissem porta malas daqueles grandes e caros carros blindados de propriedade dos chefes da máfia. Trancou o carro e apagou o cigarro na floreira da entrada.

-Aí está ela! Pensei que não viesse mais, que tinha sido tomada pelo medo. - Fabiana, sua adversária, sorria apertando sua mão de forma amistosa.

-Sabe como é, você é boa gatinha, fiquei pensando se valia a pena vir mesmo te enfrentar.

-Não se preocupe, prometo não estragar esse rostinho lindo! - Riu e elas se abraçaram ainda apertando as mãos. - Tem muita gente, mas sabemos que não estão aqui exatamente para torcer para nós.

-Mas então, porque eles estão aqui? - Bárbara a olhou falsamente chocada e as duas riram. - Vou me vestir, antes que o Gui tenha um treco e revele sua verdadeira identidade.

-E qual é?

-Uma diva dramática, tenho certeza. - Piscou um olho e passou entre a pequena multidão que se formava, sentiu olhos grudados nela, o que não era anormal, mas dessa vez parecia diferente, uma estranha sensação de curiosidade tomou conta dela, ao ver o par de olhos azuis incríveis a acompanhando enquanto passava cumprimentando chefes de máfia e seus seguranças.

Acenou de volta quando o homem bonito de rosto delicado e olhos azuis, pele muito branca e cabelos curtos desalinhados sorriu para ela. Seguiu seu caminho sentindo os passos de Gui se aproximando, ele colocou a mão em suas costas como se a empurrasse sem força para seu destino, entrou no vestiário e começou a se trocar.

-Então? Está definitivamente aqui?

-É claro que estou treinador, eu sempre estou! - Riu e parou na frente dele falando de forma condescendente. - O que foi, apostou tudo em mim e agora está com medo de ficar pobre?

-Você me paga muito bem para que tenha esse medo, mas sabe que é uma luta importante, você é a mocinha para os policiais que estão aí, e os mafiosos também não vão se importar se você vencer, porque desconfiam que não é boa coisa. - Ele riu suspirando. - Tudo bem, você sabe os pontos fracos dela, aqueça e venha tirar as fotos.

-Gui! - Gritou quando ele estava saindo. - Quem é o cara de olhos incríveis ao lado da mulher de terninho preto?

-Menina! Se concentre na luta, pare de flertar com desconhecidos. - A olhou rindo, ela nunca perguntava sobre ninguém, aquilo era muito estranho. - É o braço direito de uma chefe nova, que está dominando parte do México e fazendo negócios ao redor do país, expandindo rapidamente um império que pode ameaçar quem ficar no seu caminho.

-Você deveria escrever roteiros de filmes, ou ao menos as propagandas e sinopses. - Soltou uma gargalhada e o olhou mais séria. - Sei quem ela é, já ouvi falar. Ele estava olhando fixamente, você acha que sabe quem eu sou?

-Ninguém sabe quem você é meu bem, ele apenas ouviu falar da Muerte, não sabe sequer que pode ser uma mulher. Provavelmente quer te pegar, não de uma forma ruim. - Piscou um olho e saiu de lá. Voltando alguns minutos depois para ajudar a colocar as faixas na mão dela.

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