Capítulo 4 - Testando a paciência.

Acordo com o despertador tocando de um jeito estridente e irritante, eu praticamente pulo da cama e visto a roupa que deixei separada ontem, calço meu tênis, amarro meu cabelo em um rabo de cavalo e me olho no espelho.

— Acho que vou tirar essas tranças… — Falo sozinha e brevemente distraída com meu próprio reflexo. — Vamos lá,

Hayden. Concentração! — Dou tapinhas leves nas minhas bochechas para forçar meu cérebro a focar. — Eu não sei a rota de caminhada dele…

Sento no banco da janela me sentindo frustrada, quando de repente escuto a porta ao lado abrir e então fechar em seguida. Sorrio de um jeito travesso e dou passos cuidadosos até a minha porta, o escuto andar lentamente, uma batida suave me chama atenção, talvez ele use uma muleta ou bengala.

Coloco a cabeça para fora do quarto bem a tempo de vê-lo virando o corredor, confiro minha aparência uma última vez, pego meu celular e meus fones e o sigo para fora da casa com cuidado para que ele não me veja, acho que vai ser melhor se eu fingir que o nosso "encontro" vai ser apenas um acidente, o contrário disso vai parecer perseguição e eu realmente quero evitar esse tipo de situação… mesmo que isso seja um tipo de perseguição, mas é para um bem maior… eu acho.

Quando escuto a porta da frente batendo, corro para alcança-lo, olho pela janela e o vejo mancar em direção a lateral da casa para uma calça de pedra, então coloco meus fones – mesmo sem tocar música alguma – e começo a correr despretensiosamente em direção a ele. Mas quando eu chego mais perto, ele para de andar e olha para trás com um sorriso curioso, mas eu fico paralisada por conseguir ver seu rosto todo pela primeira vez… meu deus ele é lindo! As cicatrizes só o deixam mais sexy, definitivamente.

— Acha mesmo que pode seguir um ex-fuzileiro naval sem ser percebida? — Eu saio do meu transe dolorosamente lindo e engulo o nó na minha garganta para conseguir falar alguma coisa.

— Eu não estava te seguindo, estava prestes a fazer minha corrida matinal para começar bem o dia. — Ele solta o ar pelo nariz enquanto sorri com desdém.

— Você não deveria estar sofrendo com o fuso horário, ou algo assim? — Eu cruzo os braços e dou passos confiantes em sua direção.

— Eu sou uma pessoa resiliente, Sr. Allen. — Sorrio.

— Tanto faz, só ache outro horário para fazer sua corrida, ou use a academia, não gosto de companhia. — Dou de ombros sem deixar de sorrir e enrolo meu cabelo no dedo indicador de um jeito inocente.

— Vai gostar da minha, ainda não percebeu que eu sou um raio de sol? — Passo por ele com um sorriso travesso.

— Posso ver algo assim, sim, Chicago. — Mordo o lábio inferior e viro para ele. — Mas ainda assim, prefiro continuar minha caminhada sozinho. Sem ser seguido, de preferência. — Dou de ombros e giro os calcanhares para começar a correr.

— Tudo bem, senhor solitário.

Dessa vez coloco música de verdade e corro alguns quilômetros enquanto aproveito a bela vista montanhosa e arborizada. O ar frio bate em meu rosto mesmo com o sol brilhando e o céu limpo, respiro fundo para renovar o ar em meus pulmões.

Tudo bem, é hora de revisar o que eu sei sobre Elijah Allen. Ele é mal educado, solitário e, aparentemente, tem tendências fortes a esconder seu rosto, mesmo que se eu o tivesse conhecido em outras circunstâncias, teria lhe pagado um drink facilmente. Mas acredito que isso é só meu péssimo gosto para homens falando mais alto que eu. Porém, agora voltando ao que descobri sobre esse homem, ele deve ter pânico noturno, sequelas da guerra, acredito eu.

Sinceramente, não posso imaginar o que ele passou para ter se aposentado tão jovem, seja o que for, deve ter sido muito tenso e traumatizante. Com certeza o Sr. Allen deveria tê-lo mandado para uma psicóloga ao invés de me contratar, fala sério, sou só uma professora de artes!

Cerca de maia hora depois eu volto para a casa, vou para o meu quarto, tomo um banho rápido e visto uma blusinha fina de manga cumprida e um shorts branco de tecido leve, é um bom look de verão. Mas como está vinte e quatro graus lá fora, coloco uma meia calça quente também, calor com certeza não está.

Desço para a cozinha sentindo minha barriga roncar dolorosamente, e se torna ainda mais doloroso assim que eu chego à porta e o cheiro invade minhas narinas. Briana olha na minha direção e abre um sorriso.

— Bom dia! — Fala sorrindo e eu me aproximo da mesa linda de café da manhã que ela está montando.

— Bom dia, Briana. Você é um anjo ou algo assim? —

Ela ri.

— Não é para tanto, Hayden.

— Ah, mas é sim! — David diz entrando no cômodo com um sorriso largo. — Bom dia pessoal, conseguiu descansar, senhorita Delyon? — Eu cruzo os braços e arqueio uma sobrancelha.

— O que falamos antes, David? — Ele coça a nuca parecendo envergonhado.

— Me desculpe, eu vou ter que me acostumar a te chamar de Hayden. — Eu rio.

— E sim, consegui descansar. Mas acordei cedo para conseguir encontrar com Eli em sua caminhada matinal. — Os dois arregalam os olhos e Briana quase deixa cair um prato com uma fatia de bolo, mas David tem um bom reflexo e o pega.

— Você foi com ele?! — Diz chocada e eu nego com a cabeça.

— Não exatamente, mas pretendo. — David lhe devolve o prato e ela o coloca em uma bandeja. — Ele não vai se juntar a nós para o café, vai? — Briana nega e adiciona uma xícara às bandeja.

— É como eu disse antes, ele faz todas as refeições na biblioteca enquanto lê alguma coisa. — Ela equilibra tudo na bandeja e vem em minha direção. — Sirva-se, você deve estar com fome. — Eu até iria, mas…

— Quer saber? Deixe-me levar isso para ele. — Pego a bandeja de suas mãos antes que ela consiga desviar de mim.

— Não acho que seja uma boa ideia… — David fala baixinho, mas eu sorrio.

— Gente, ele vai ter que se acostumar com a minha presença, não pretendo ir embora tão cedo e muito menos evitar fazer o meu trabalho. — Lhes dou um sorriso convincente e saio da cozinha com a bandeja, mas paro de andar quando os escuto falarem.

— Você acha que isso vai dar certo? — Briana pergunta em um tom baixo e eu chego dar um passo para trás para ouvir melhor.

— Eu espero que sim, acho que sete pode ser nosso número da sorte agora. Hayden não parece o tipo que desiste fácil, ou se assusta fácil. — Ouço um suspiro, não sei exatamente de quem. — Só espero que o Eli não pegue muito pesado dessa vez, ela me parece uma boa garota.

— Sim, mas ela bate de frente com ele, eu só quero que eles consigam se dar bem…

Franzo o cenho e volto ao plano original: levar o café para Elijah. E que a sorte esteja comigo! Chego na porta da biblioteca e dou duas batidinhas nelas antes de abri-las com um pouco de dificuldade enquanto seguro a bandeja.

— Briana, acho que vou passar o café da manhã hoje… — Ele para de falar assim que tira a cara de um livro grosso e vê que sou eu.

Ele fecha o livro, se levanta de uma poltrona lindíssima de couro preto e vem em minha direção parecendo ainda mais alto que antes.

— Onde está a Briana?

— Ocupada. — Passo por ele e deixo a bandeja na mesa de centro às frente da poltrona. — Precisa de algo mais? — Eli enfia as mãos no bolso canguru do moletom e olha para o lado, isso é só para que eu não tenha visão do lado esquerdo do seu rosto.

— Só que você saia. — Suspiro quase frustrada, quando uma ideia surge em minha mente.

— Como quiser, senhor. — Faço uma saudação desajeitada e saio da biblioteca com um sorriso bastante suspeito. Para a cozinha saltitante e dois pares de olhos colam em mim.

— E então? — Briana pergunta parecendo ansiosa, mas eu pego um prato e começo a me servir.

— Tudo bem, ele me chamou para comer com ele, então estou voltando para lá. — Admito que é preciso muito esforço físico e mental para não rir da cara de choque deles.

— Ele… o que?! — Ela diz um pouco mais alto que seu tom normal e eu pego mais uma fatia de bolo, a empilhando na montanha de comida no meu prato.

— É isso aí. O que posso dizer, sou uma garota que não desiste facilmente. — Pisco para eles após repetir as palavras de David e saio de lá, voltando para a biblioteca como havia dito.

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