Capitulo 2

                                                              Eventualidades

Campos?

—Campos é a cidade que cresci. Meu pai é médico e a minha avó ajudou a construir aquela cidade, mas não estou tentando me vangloriar Garcia, não pense isso, por favor...

—Continue...

—É eu estou apaixonada e tenho que saber lidar com essa novidade.

—Ele sabe do seu sentimento? Ele sente o mesmo?

—Sim, ele gosta de mim. Ele é especial e se é amor o tempo vai me dizer.

—E se não for o que vai fazer?

—Eu vou conquistá-lo.

A sinceridade de Pérola o encantou ainda mais, contudo sabia que não tinha muitas chances, só se usasse a pior das maneiras para fazer o tal efeito e assim ter uma chance com a jovem moça.

O jantar perdeu a graça e ele a deixou partir.

                                                                         ***

Estou encantado por uma mulher!

A visita de Vitor em seu apartamento era sempre alegre e contagiante, e mesmo a novidade sendo a carreira de Daniel despontando, agora havia mais uma para acrescentar na conversa.

—Sério!

Juliano preparava uma bebida para os dois, usando gim e liquidificador.

—Serio mesmo, cara e é a minha irmã não gosta da menina, sabe rincha de meninas... o Daniel agora que está aceitando melhor, mas a Mel vai para o interior estudar veterinária então estou mais tranquilo.

— Profissão legal! Bom, eu já estou me aposentando... Sigo para Paris e fecho de vez.

—Como é se sentir aposentado?

Os dois gargalharam e com os drinques seguiram para a sala.

—Eu também vou me aposentar— declarou Sartori — Já estou todo quebrado mesmo, só não quero quebrar a cabeça. Mais uns três anos e consigo abrir a minha marca.

—Vai mesmo deixar o esporte?

—Corro desde o quatorze e estou cansando Juliano e pensando melhor, escutando você e mais algumas pessoas acho que o momento está chegando.

— E onde quer montar a agência? Eu vou para o Rio.

—Vou montar em Campos, na cidade onde nasci... Vai se chamar Inovare.

—Bom, parabéns Vitor e deixa eu te contar...conheci uma moça que é dessa cidade ai...Cara é ela...

— Pérola! É sobre ela que eu queria falar...é com ela que estou ficando. Avó dela pediu para o meu pai hospeda-la em casa, no início desse ano, sabe achei estranho porque lá em Campos a família Franco coloca a banca e já tivemos atritos, o meu pai com o pai dela...nem sei como vai desenrolar, mas estamos juntos.

— Caramba! Nem poderia imaginar...parece esses contos de novela.

Juliano engoliu o líquido de uma só vez e se afastou para pegar outro, porém queria era fugir daquela conversa.

— Juliano, ela ta na minha mão... a gente sente essas coisas, já pensou eu voltando para Campos rico e ainda empresário e namorando a menina mais bela e rica da cidade.

Vitor tinha um brilho no olhar, que até nos dias de hoje Garcia não sabia identificar se aquilo era bom ou ruim.

—Cara de sorte— concluiu Garcia — A gente trabalhou junto. Fechei o meu contrato com ela que é a estrela da agência.

—Bahamas?

—Sim, sim lá mesmo.

— O Daniel a levou e buscou no aeroporto, porque eu estava fora e só agora que tivemos coragem de contar pra todo mundo.

— Legal...um brinde!?

Os copos titilaram.

— Vem ser o meu sócio – propôs Vitor

— Ah cara, não dá...tenho outros projetos e você não precisa de mim e sei que está bem encaminhado.

— Admito que através da Lívia conheci muita gente, mas a gente não rola mais. Muito sonhadora. Ambiciosa.

— Ela é como várias que conhecemos por ai...

— Não igual a Pérola que é uma gata!

Juliano escutou o amigo por algum tempo elogiando a namorada que estava nas capas de todas as revistas e comerciais.

Ali, Juliano recuou e deixou as coisas na mão do destino.

Semanas depois Vitor Sartori e Pérola Franco assumiram o romance.

                                                                 ***

Um mês depois Juliano já era um homem fora dos holofotes e se adaptava na cidade do Rio para montar a sua empresa de marketing.

A equipe levou um pouco de tempo para montar e teve muito da ajuda de profissionais que se renderam ao desafio e deixaram os seus cargos para trabalhar com na Risky.

O trabalho o absorvia de tal maneira que não tinha tempo para pensar ou procurar sobre a vida nova de Pérola, e sempre que podia fugia do amigo e encontros para conversas.

Porém, numa noite de folga foi para uma balada e ali teve uma surpresa.

—Você que já trabalhou com aquela linda morena que vai estar na capa da *Melly quer saber a minha história com ela. Super gata!

Nico Bastian, era um fotografo conhecido por gostar de tirar vantagens, mas quando queria mesmo trabalhar sabia fazer qualquer rosto brilhar.

—Digamos que não tenho muito interesse... - retrucou Juliano, enquanto paquerava e era paquerado por uma bela ruiva na pista de dança.

— Ela já passou na minha lente no ano passado — Falou o loiro com uma certa malicia no olhar.

—Vocês?

 A cara carrancuda que Juliano fez o homem recuar.

—Não! Não chegamos a tanto não... Ela era bem novinha num outra agencia com trabalhos menores e queria ousar e só depois é que fui saber que a moça é rica e que me daria dor de cabeça.

Juliano parou de flertar e deu atenção total para o que Nico.

—Diga logo o que houve?

—Ela topou tirar umas fotos pra mim...Ela e uma amiga, na verdade foi a amiga que a levou e a grana era alta, bom tenho pra mim que a nossa linda modelo queria se soltar das asas dos pais e topou aquelas fotos.

—Nico não tem esse nossa— alertou Juliano com cara de poucos amigos — E como foi tudo isso?

—Acho melhor parar por aqui.

—Nada disso começou a falar agora termine.

—Você tá afim dela? - perguntou o fotografo com interesse

—Ela namora um amigo meu.

— Olha, não foi bem isso que chegou até a mim e ouvi dizer por ai que tentou sair com ela e que levou um toco*.

—Vamos parar com isso! - cortou Juliano ríspido.

—Só tem um problema... Não posso mostrar o que tenho comigo.

—Sim você tem um problema Nico. Eu quero saber de tudo e quero que me mostre o que você fez com a Perola.

—Vamos ao meu estúdio. E fique tranquilo não vou prejudicar a sua... Amiga.

Juliano sem querer descobriu um passo em falso da vida de Pérola e através de Nico soube que ela e uma amiga a Lu Veiga que agora morava na Itália tinham aceitado fazer um book mais sensual e ousado.

Juliano que sempre viveu nesse meio e que já estava acostumado a ouvir e saber essas histórias sentiu um soco no estômago.

—E depois disso Nico?

— As fotos da Veiga vendi no ato. Agora a outra, a estrela da vez, apareceu aqui semanas depois pedindo as fotos, acho que ela pensou bem ou estava com medo de alguma agência descobrir já que as fotos que ela pousou aqui não era digamos mais... Familiares.

—E você entregou as fotos?

—Claro que não, até brigamos e ela tem uma língua afiada além dos demais atributos.

Juliano continuou se controlando para não agir com violência.

—Continue Nico...

—Até que um dia recebi a visita da avó da querida Pérola que me fez ameaças e pagou uma grana pelas fotos e um contrato de fidelidade.

Juliano ficou surpreso e inquieto também.

—Então a família sabe dessas fotos?

—Não, a velha queimou na minha frente tudo o que eu tinha fora os dois caras que mais pareciam dois armários que estavam com a velhota, varreram tudo isso aqui... Acharam e queimaram. Deve ser um segredo da avó e da neta.

—E agora você está quebrado e me contou.

—Calma... Eu estou sabendo da sua agência e queria uma oportunidade, olha na honestidade, sem armações e ainda te dou um agrado da morena.

—O quê?

—Preciso de grana e sei que você tem, até pensei em procurar o namorado dela, mas o cara é todo esquentado e não o encontro por ai com facilidade então pensei em mostrar pra você uma fotografia que sobrou da bela Pérola Franco.

—Não está tudo destruído?

—Sobrou uma...E ai tem negócio?

Juliano seguiu Nico que logo foi em busca de um 'arquivo' no velho ficheiro na última gaveta bem no fundo uma foto de Perola.

Nico nem tirou do envelope e entregou.

—Essa aqui veja como ficou linda!

A foto parecia uma pintura, Pérola de cabelos soltos molhados, sentada de frente em cima de uma cama com um lençol transparente cobrindo parte do corpo.

 Juliano olhou como uma obra de arte já para o fotografo sacana, aquela foto iria parar nos piores lugares e olhares vulgares.

Juliano engoliu seco.

—Quanto quer?

Nico abriu um sorriso de olheira a olheira.

— Não muito, para um cara rico como você.

—Dá o seu preço Nico e só tem mesmo essa foto?

—Confie em mim...Fora que assinei um acordo com a velha.

—Têm outras cópias?

—Não.

—Alguém além de mim, já a viu?

—Não.

—Nico! - Garcia tinha uma voz forte e ameaçadora.

—Juro! E que precisando mesmo de grana e ai fiquei sabendo de você e da garota.

Nico falou o valor e Juliano aceitou.

—Amanhã esteja às dez da manhã no meu apartamento que pago o valor que pediu e isso fica comigo.

—Juliano! Deixa a foto....você vai pilantra agora?

—O único pilantra aqui é você. Amanhã você pega o seu dinheiro e se tiver mais fotos dessa mulher e você não me avisou então vamos ter uma conversa mais...Direta. Espero você amanhã.

Nico não gostou mas de todo o jeito era esperar para o dia seguinte.

Juliano por sua vez pagou o valor que Nico tinha pedido e assim que o rapaz deixou o seu espaço, o ex- modelo foi olhar mais uma vez aquela fotografia.

                                                                   ***

A Risky estava pronta!

Festa!

Comemoração!

Cinco contratos e meses de trabalho árduo.

Um encontro seria inevitável no coquetel da sua empresa onde vieram Vitor e Pérola, como o casal feliz e badalado.

Foi estranho no primeiro momento, ver os dois sorrindo e ele ali sabendo de um grande segredo.

Juliano tinha que ser profissional era o dono do lugar e da festa. Mesmo um ano depois ainda não tinha esquecido aquela mulher.

Após os cumprimentos, pousaram para fotos e foi muito cordial com o casal, entretanto no auge da festa na pista de dança avistou Pérola dançando sozinha e caminhou até ela.

—Pérola! Cada vez mais linda.

Garcia fitava aquela mulher e não parava de pensar naquela fotografia. Porém, os drinques começavam a surtir efeito. Ele não deveria ter bebido.

—E você está feliz com a agência e não sente mais saudades de passarelas?

Juliano foi chegando mais perto, muito perto.

—Falando assim está mais para uma jornalista. Relaxe quando estiver comigo.

Pérola sorriu.

—Garcia...

—Um beijo.

Pérola não entendeu aquelas palavras, a música estava alta demais.

—Não entendi...

—Eu. Quero. Beijar. Você.

Se ela quisesse estava bem fácil de acontecer, os dois estavam perto demais e num lugar discreto.

—Eu namoro o Vitor. Você sabe disso.  

—E ele sabe de tudo? Por que eu sei de tudo.

Pérola ficou um tanto confusa e foi se afastando.

—Espera! — pediu Garcia — Não precisa fugir, sou seu amigo.

—Eu nem deveria ter vindo e achei que era nosso amigo.

Juliano soltou o braço da modelo.

—Você não quer saber o que eu sinto, não quer o meu beijo e ele cadê? Tem certeza que ele é o cara certo pra você?

—Garcia, acho que está bêbado.

—Eu estou— admitiu — Sou fraco para bebidas... Sou fraco com mulheres bonitas.

—Olha em volta está cheio de belas mulheres.

—Não preciso olhar em volta, o que eu quero está aqui na minha frente...

—Garcia.

—Vai Pérola. Pode ir... Não preciso da sua amizade e nem mesmo da sua piedade.

—Podemos ser amigos.

—Não. E também não seria justo com o Vitor então esqueça esse meu sentimento por você e aproveite a sua vida da melhor forma.

— Peço desculpas por não corresponder e faz tanto tempo que trabalhamos em Bahamas...Achei que tivesse esquecido...

— Esqueça essa conversa e eu vou aproveitar a minha festa.

Juliano a deixou só e com vontade de enterrar o passado.

O seu passado.

O seu amor.

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