SEIS

A sexta tão esperada finalmente chegou. Mas a lembrança de Ana chorando daquele jeito não saiu da minha mente. Cheguei a sonhar com ela durante a noite, me debati na cama e acordei com a minha mãe me chacoalhando, mas não lembro o que foi, só sei que foi terrível.

Depois das aulas chatas de filosofia e química, procurei as meninas. Elas estavam sentadas em um dos bancos do jardim, cada uma com um livro na mão. Me aproximei e anunciei:

— Bom, meninas eu já estou indo. Vocês também vão?

— Sim, já vamos. — respondeu Zoe, tirando os olhos do livro e olhando para mim. — vai para a casa do Edward?

— Sim, só vou dar uma passadinha em casa e avisar a minha mãe aonde vou.

— Certo. Beijos. — falou Megan, mandando beijinhos para mim. Retribuí o gesto para as duas.

♥ ♥ ♥

Resolvi ir a pé para casa, não estava com clima para ônibus, e seria bem provável que alguém me fizesse perguntas em relação a Ana e ainda não estava pronta para falar sobre isso.

Assim que bati a porta de casa, minha mãe e meu irmão Matheus olharam para mim.

— Por que chegou tão tarde? — perguntou minha mãe.

— Não estava a fim de ônibus hoje. As pessoas poderiam fazer perguntas. — falei, e pelo meu tom de voz ela sabia do que se tratava e não fez mais perguntas. — Mãe eu preciso ir a casa de um amigo fazer um projeto de biologia.

— Projeto? Com quem, irmãzinha? — perguntou Matheus, abrindo o seu sorriso malicioso.

— Com o... Edward. — balbuciei a última palavra, mas eles entenderam.

Meu irmão soltou uma risada, se contorceu e caiu no sofá de tanto rir.

— Qual é a graça? Tenho cara de palhaça? — perguntei, já com raiva.

— Claro que não, Gi, só achei engraçado você finalmente fazer alguma coisa com o seu crush. — ele disse, para logo em seguida cair na risada de novo.

— Muito engraçadinho, palhaço. E então mãe, posso ir? — perguntei, ignorando meu irmão se contorcendo de tanto gargalhar e observando a minha mãe.

— Claro, querida. Divirta-se.

— Como se isso fosse divertido. — respondi, seca.

♥ ♥ ♥

Quando cheguei na rua de Edward, meu coração novamente acelerou. Olhei no papelzinho onde tinha escrito:

Rua 56 – Número 562

Enfim encontrei a casa. Entrei na varanda, respirei bem fundo e bati na porta. Toc. Toc. Toc. Mas quem atendeu não foi Edward, foi uma mulher mais velha, mesmo assim bem bonita. Tenho certeza de que é a sua mãe, por que assim que me viu, abriu um sorriso que é igual ao dele.

— Olá... Bem, você deve ser Georgia, certo? — ela me perguntou de maneira gentil, e ela disse meu nome, o que significa que Edward falou de mim para ela.

— Sim, sou eu. É um prazer conhecê-la. — falei, estendendo a mão, mas o que ganhei foi um abraço apertado.

— O prazer é todo meu. Entre. — disse ela, gesticulando para que eu entrasse.

A casa em si era bem bonita. Organizada como a minha, exceto pelo meu quarto. E não era tão grande, como a minha que é enorme, mas mesmo assim bem confortável. A irmãzinha de Edward estava sentada no chão com o seu caderno escolar e vários livros ao seu redor, em cima de uma mesinha. Ela se parece muito com ele, e quando me viu, abriu um sorrisão.

— Visita? — ela perguntou, apontando para mim.

— Eu sou amiga do Edward, viemos fazer um trabalho juntos. — respondi, da maneira mais calma que consegui. Eu estava na casa dele.

— Ele está lá em cima, e enquanto não desce quer alguma coisa?

A mãe dele era muito simpática. Gostei dela.

— Ah, não obrigada. Estou bem.

A mãe dele subiu as escadas para chamá-lo, enquanto eu sentei no sofá perto de sua irmã.

— Você é a outra namorada dele? — perguntou ela, de maneira inocente.

— Namorada? Ah, não, não... Sou só amiga que ficou com ele como dupla na aula de biologia.

— Sei...

Pude notar pelo seu tom de voz que ela estava desconfiada de mim.

— O que exatamente você sente pelo meu irmão? Você ama ele? Já beijou ele? — ela disse, com os olhos cravados nos meus. Fiquei sem saber o que fazer, e para meu grande alívio, uma figura desceu as escadas. Edward.

— Oi Georgia. — ele me disse, para em seguida se dirigir à irmã. — Tudo bem por aqui, Vanessa?

— Tudo... Tudo ótimo, Ed. — ela gaguejou em alguns momentos.

— Então tá. Por que você não vai lá para cima, assim eu posso ficar aqui com Georgia, já que meu quarto é um pouco apertado.

— Érr... Tudo bem.

Ela juntou rapidamente seus materiais e saiu, não sem antes me fulminar com o olhar, o que me deixou com um certo medo dela.

— Não se preocupe, ela é bem ciumenta. Puxou ao nosso pai, pois ele também era assim com nossa mãe.

Era? Ele não é mais? — perguntei, inocente.

— Não, ele faleceu a alguns anos atrás. — ele disse, olhando nos meus olhos.

— Eu sinto muito, não era a minha intenção...

— Sei que não era. – ele me corta.

Fiquei de boca fechada enquanto ele arrumava a sala para ficarmos com mais espaço. Acabou que resolvemos fazer um grande projeto explicando como os fungos interagem nas florestas e se espalham.

Passamos quatro horas fazendo os experimentos, que deu certo, por incrível que pareça. Mas eu ainda estava tímida demais, e só falava quando ele falava comigo. Uma vez ou outra, eu olhava para ele, e em algumas das vezes ele me flagrava, me fazendo virar o rosto.

Duas horas depois, terminamos nosso projeto. Ficou bem bonito. Nós fizemos uma grande escultura da forma molecular dos fungos, criamos nosso experimento, e utilizamos formigas como cobaias. Foi preciso uma hora para chegar a quantidade de formigas necessárias. Mas mesmo assim, foi um sucesso.

No fim do dia, eu estava exausta, só queria minha cama, e o meu diário. Queria escrever como foi meu dia, o tempo que passamos juntos.

— E então, gostou? — ele me perguntou, me fazendo olhar para ele.

— Adorei. Ficou ótimo. — disse, dando uma risadinha.

Eu estava sentada no chão encostada no sofá, enquanto ele ia até a cozinha e voltava com dois copos de água bem gelada. Sequei o copo em dois goles.

— Calma — ele disse, rindo — assim não mata a sede.

— Eu não ligo. — rebati, sorrindo e ele sorriu também.

Passaram-se alguns minutos em silêncio até eu resolver quebrá-lo:

— É melhor eu ir embora. Já está bem tarde.

— Você considera dez horas da noite tarde? — ele me perguntou, irônico.

— Eu não, mas minha mãe sim. E se eu não chegar até as onze, ela me mata.

Rindo, ele se levantou e me ajudou a arrumar meus materiais e me seguiu até a porta.

— Foi uma bela tarde. Espero que possa vir mais vezes. — ele disse, ao cruzarmos a varanda.

— Claro. Dê adeus a sua mãe e a sua irmã por mim, e um obrigada.

— Tudo bem. Até amanhã, Gi. — ele respondeu, com um sorriso.

Gi. Ele me chamou de Gi. Quero morrer. Meus pelos do braço se arrepiaram ao ouvir meu apelido sair da boca linda dele. Tentei soar calma na resposta, mas minha voz vacilou.

— Até amanhã, Ed. — falei, rindo.

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