CINCO

— E então, pode ser na sexta? — perguntou Edward, com aquela voz que faria qualquer outra garota derreter.

— Claro, vai ser ótimo. — disse, pegando o papel que ele havia escrito seu endereço para eu não me perder.

— Então, até sexta. — ele acenou para mim enquanto se afastava com Ellen. Ela o beijava durante a trajetória.

Segurei aquele pequeno pedaço de papel forte, lembrando a mim mesma que iria escrever esse endereço no meu diário, para nunca esquecer dele depois. Não via a hora de chegar sexta, meu coração já estava acelerado quando apertei o papel ainda mais, e depois pulou que nem um canguru quando eu vi ele se virando, seus olhos olhando nos meus, e então ele sorriu.

Quis pular, pois ele estava fazendo isso bem na frente da namorada dele, que não viu, graças a Deus, se não ela viria aqui me esfolar.

Guardei o pedacinho de papel no bolso do meu casaco, e fui para minha sala aturar mais uma aula de matemática — eu não sei até hoje o que as pessoas veem de legal nessa matéria. Contas, contas e mais contas, que irritante!

Encontrei as meninas na frente da sala, elas estavam conversando baixinho para que ninguém mais escutasse. Me aproximei delas e disse:

— O que aconteceu?

— Nada, Gi. Só não queremos que alguém escute. — disse Megan, sorrindo.

— Hum... Tudo bem. Vocês não viram Ana?

Elas se entreolharam por um momento, depois se voltaram para mim.

— Esse é o problema, Gi. Você não soube? — falou Zoe, baixinho.

— Soube o que? – perguntei, já preocupada.

— Ana foi expulsa da escola agora a pouco.

— O quê? — falei o mais alto que pude, e elas taparam minha boca com as mãos.

— Não sabemos bem como aconteceu. Só sabemos que ela estava conversando com o Edward depois da aula, sobre um novo projeto que ela estava fazendo em casa, e a invejosa da Amanda chegou, a mandou cair fora e falou um monte de coisas agressivas contra ela. — Zoe explica, tirando as mãos da minha boca. — Ana nos disse que não se segurou e bateu em Amanda e cortou seu rosto. Tentamos falar com a diretora, mas ela não nos deu ouvidos.

— E onde ela está agora? — perguntei, chocada.

— As duas estão na enfermaria. Estávamos indo para lá agora.

— Então vamos juntas. — disse, com convicção.

Não consegui acreditar. Ana. A doce Ana. Expulsa por bater em alguém que com certeza merecia, por ter abusado dela apenas com palavras. Será que ela está bem? Será que se machucou? Será que já chorou muito? Será? Será? Será?

Chegamos na enfermaria e batemos antes de entrar. Ela estava sentada numa beira de uma das macas, mexendo no uniforme. Assim que nos viu, começou a chorar e nós corremos para confortá-la.

— Vai ficar tudo bem, Aninha — disse, da maneira mais carinhosa possível, o que só a fez chorar ainda mais.

— Não, não vai. Acabou os meus sonhos, lutei tanto para entrar nesta escola e agora fui expulsa por me defender? Isso é tão injusto! — choramingou, o que me partiu o coração.

— O que ela lhe falou exatamente? — perguntou Megan, se aproximando para abraçá-la.

— Ela começou a me xingar baixinho, depois falou da minha família, mas quando ela falou de vocês, foi a gota d’água. Não me segurei. O coordenador estava passeando pelo jardim no momento exato e presenciou a briga, o que foi bem pior.

— Para onde ele vai m****r você? — perguntei.

— Para outra escola longe daqui. Ainda não estou acreditando nisso, meninas. Era para a Amanda ter sido expulsa, e não eu. — disse Ana, voltando a chorar muito.

Eu a abracei, passei meu braço pelo seu ombro e a puxei para mais perto de mim. Ela só sabia chorar enquanto as meninas alisavam seus cabelos e limpavam suas lágrimas. Nós sabíamos como fazer a outra feliz quando estava tudo triste, mas nesse momento sabíamos que nada adiantaria, Ana ia embora, ia conhecer novas pessoas, numa nova escola. Espero que ela faça amigos logo, mas ela é boa nisso, então se enturmará rapidinho.

— Eu não quero sair daqui, meninas. — balbuciou ela, o que nos fez a abraçar ainda mais forte, falando algumas frases de encorajamento.

— Infelizmente, não há nada que possamos fazer, Ana — disse Zoe, com lágrimas nos olhos. — Tentamos falar com a diretora, mas ela não estava nem aí para a gente.

Ana soluçava de tanto chorar, a cena me partia o coração. Tentávamos de tudo. Contamos histórias engraçadas, que até conseguiram abrir um minúsculo sorriso em seu rosto mas que um segundo depois foi substituído pela tristeza novamente, até que eu comecei a cantar.

Ela ainda estava soluçando quando comecei a cantar uma música calma, lenta e bem bonita. Aos poucos, ela ia aliviando, sua cabeça ainda apoiada em meu ombro. Continuei cantando até que ela me acompanhou em algumas notas. Dei um sorriso quando escutei sua voz cantando comigo.

Era difícil fazê-la feliz, quando estávamos quase conseguindo, a diretora entrou na enfermaria e nos mandou sair. Quando Ana ouviu essas palavras desatou a chorar e soluçar. Ela nos contou pouco tempo depois que Edward tentou protegê-la, pois Amanda também pulou para cima dela, mas ele acabou levando chutes e cotoveladas no abdômen.

Assim que saímos, comecei a chorar também. Não queria que ela fosse embora, eu amava Ana do mesmo jeito que amava as outras, como irmãs. Zoe também estava chorando quando veio me abraçar, o mesmo fez Megan.

Alguns minutos depois, a diretora saiu, e nos avisou que não queria mais ninguém ali dentro. Fiquei muito mais triste por que lembrei que Ana passaria seus últimos minutos aqui na escola sozinha. Sem a gente.

Quando voltamos à sala, Amanda estava com um sorriso malicioso nos lábios, o que me deu muita vontade de esconder aquele risinho com um soco, mas me segurei. Edward também olhou para mim, e abriu um sorriso triste, mas não retribuí o gesto, simplesmente virei e me sentei.

Megan estava ao meu lado, o que facilitou as coisas, mas ainda não havia esquecido o que tinha acontecido. Ana, vai embora hoje, e nunca mais vai voltar, mas ainda podemos nos reunir em sua casa, ainda que seja um pouco longe. Vamos fazer de tudo para manter contato, não queremos nos separar.

Enquanto pensava nela, me veio a mente o apelido que nós a chamávamos. Bebê. Ela não gostava muito dele, por que ela era a mais nova do nosso grupo, depois vinha eu, Zoe, e Megan era a mais velha. Apesar de Ana ser apenas algumas semanas mais nova do que eu, caçoava dela por conta da sua idade.

Nunca vamos esquecer os momentos que passamos juntas aqui, e espero um dia poder reencontrá-la, apesar do pequeno problema que é que ela mora em outra cidade.

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