O Encontro

Em meio a essa tempestade que assolou minha vid a, uma coisa boa aconteceu, pelo menos por um tempo: Otávio. Depois de muitas conversas e paqueras, ele fi nalmente convidou-me para sair. Eu sempre gostei dele, mas nunca havia acontecido nada.

Talvez por me conhecer desde criança — e achar que ainda era uma menina. O fato de ser oito anos mais velho só reforça isso.

Para aquele primeiro encontro, combinamos às 20h, na rua atrás da minha casa, pois não queria que meu pai nos visse.

Eu realmente caprichei no visual. Estava me sentindo linda para encontrá-lo. O coração batia mais que os sinos da igreja local. O nervosismo fazia-me tremer. Nunca havia saído assim,

em um encontro de verdade. Só aquelas coisas de menina. Nem sabia como deveria comportar-me nessa situação, ainda mais com um cara tão bonito quanto ele, que até bem pouco tempo achava que eu tinha 10 anos e ainda brincava com bonecas.

Ansiosa, despedi-me correndo dos meus pais e segui para o lugar do encontro. Otávio, é claro, não havia chegado. Enquanto esperava, os minutos pareciam intermináveis. O relógio já marcava 20h21min e nada dele aparecer. No começo fiquei tranquila, achando normal ele atrasar uns minutos.

Depois comecei a entrar em pânico, certa de que havia levado um bolo.

Certeza que ele estava brincando comigo. Eu, trouxa, pensei que estava interessado de verdade.

Irritada com aquilo, virei as costas e comecei a voltar para casa. Foi quando escutei o barulho inconfundível da moto parando logo atrás de mim.

— Estava fugindo, gatinha?

Não consegui fazer mais nada, além de sorrir. Ele estava lindo. Não, ele já era. Gostoso também. Sinceramente, não conseguia entender o que um homem daquele queria comigo.

Eu continuava ali, de pé, sendo iluminada pelo farol da moto. Otávio, sem vergonha alguma, deu-me aquela secada da cabeça aos pés e, sem dizer uma palavra, ofereceu-me um capacete. Peguei-o e coloquei na cabeça. Subi na moto e saímos dali.

Fomos a um restaurante muito popular que havia na cidade. Conversamos por quase 1h30min. Ele perguntava tudo, e mesmo que a gente se conhecesse há tanto tempo, parecíamos dois estranhos.

Contei meus sonhos, projetos e planos. Falei também das dificuldades que estava enfrentando com minha mãe. Ele lamentou por mim e parecia sincero. Sobre a vida dele, contou-me quão boa era.

Era o típico filhinho da mamãe e acabei rindo por isso. Em algum momento a conversa deu uma pausa, mas ele continuava ali, olhando-me fixamente.

— O que foi? — Fiquei sem jeito e até arrumei o cabelo castanho, meio escorrido, atrás da orelha. Rezava para que não tivesse nada grudado em meu dente.

— Sabe o que é, Lilly… estava pensando que poderíamos ir a um lugar para ficarmos mais à vontade, entende? Onde possamos ficar só nós dois.

Eu fingi-me de desentendida.

— Estou aqui te olhando e sinceramente, nem sei como consegue ficar ainda mais linda quando se arruma. Sabe, eu quero ficar com você.

Jesus, e agora? Ele é direto demais. Não me preparei para isso.

— Como assim, ficar? Para aonde vamos? — Fiquei tão nervosa com a maneira que ele perguntou aquilo.

— Ah, Lilly… Somos adultos, querida. Não precisa ter medo de mim. Só vou fazer o que você quiser.

Espera um pouco, será que entendi direito? Ele quer transar comigo? Assim, sem nem perguntar se sou virgem?

A cabeça estava em turbilhão. Tinha vontade de olhar feio para ele e perguntar: amigo, eu sou virgem, sabia? Tinha uma mãe doente em casa e antes disso estava estudando feito uma louca para o vestibular. Quando, no meio disso tudo, ele achava que tinha dado uma escapadinha para transar?

— Porque essa cara, gatinha?

Puta que pariu! Primeiro encontro e o cara já quer me levar para cama?

Naquele momento, os olhos encheram-se de lágrimas. Não sabia se era porque passei tempo demais estudando enquanto as outras garotas aproveitavam ou pela indignação da proposta que havia acabado de receber. Tudo que passava em minha cabeça era que seria ridículo chorar na frente dele.

A gente nem tinha se beijado. Que sem noção.

Senti-me uma idiota em ignorar o que ele queria isso desde o começo. Devia ter escutado a razão e saído correndo no mesmo instante. Mas não, fiquei ali parada sem reação, só ouvindo meu coração bater assustado.

— Lilly, porque esta reação? — Fiquei calada, mas era óbvio que ele tinha percebido o motivo. — Ei, já sei o que está pensando. Não quero fazer sexo com você. — Devo ter demonstrado alguma reação, já que na mesma hora ele tentou explicar-se.Espera, eu quero, mas posso esperar.

Será que estava tentando ser engraçado? Neste caso, tinha falhado.

— É a primeira vez que a gente sai. Que tipo de cara pensa que eu sou? Você é maravilhosa, nos damos bem e pensei que poderíamos conversar sem ter alguém nos olhando ou esperando que a gente saia para dar lugar a outros clientes.

Boa resposta, Otávio. Realmente o garçom parecia impaciente com nosso papo sem fim, enquanto os clientes aguardavam uma mesa.

Naquele momento, senti-me tola e constrangida sobre os maus pensamentos que tive a respeito dele.

— Desculpe, ando meio sensível por conta do que tenho passado com a minha mãe. Jesus, que vergonha! — Naturalmente coloquei as mãos sobre a boca, mas Otávio deu risada.

— Você é deliciosamente pura, Lilly. — Ele quase gargalhou e eu, toda boba, acompanhei-o.

— Sabe, Otávio, eu não tenho muitas experiências nessas coisas. Passei tempo demais estudando para um vestibular muito difícil e concorrido. Depois, minha mãe adoeceu e eu fiquei envolvida nos cuidados que ela precisa. Quase não saio.

— Pelo menos já beijou?

— Claro, né? Não sou tão bobinha assim. — Fingi estar ofendida.

— Então, o problema aqui é só não ter transado?

— Caramba, precisa perguntar assim, na frente de todo mundo?

Senti o povo todo nos olhando. Pedia para o mundo parar que eu queria descer. No dia seguinte, todos na cidade estarão falando da minha virgindade.

A risada dele e a olhada que me deu fez meu corpo aquecer. Havia admiração ali, eu sentia. Quando ele me segurou pela mão e a beijou, causou-me algo quase inexplicável. Senti uma vontade louca de pular e grudar na boca dele. Mas é claro que fiquei comportada.

— Melhor irmos, Lilly.

Saímos do restaurante, caminhamos e sentamos na praça mais à frente. Um silêncio instalou-se entre a nós, talvez até um pouco constrangedor.

— E então?

— Sim, eu sou virgem. — Resolvi acabar com as dúvidas. Sem encará-lo, é claro.

Desde quando as pessoas confessam essas coisas? Ainda mais no primeiro encontro. Senti meu rosto queimar.

— Lilly, gatinha, eu entendi isso quando falou como estava ocupada. — Precisava de um buraco para enfiar a minha cabeça. — O que me pergunto é: como uma menina tão linda como você ainda pode ser virgem? É impossível acreditar que nenhum cara tenha se interessado em te pegar de jeito.

— Havia tanta coisa acontecendo que nem tive tempo para encontrar o cara certo para mim. Quero algo especial, Otávio. Com uma pessoa especial, entende?

— Sim.

Juntos olhamos quando um pássaro noturno passou, seguindo de uma árvore para a outra. Engraçado um desses aparecer assim em uma noite tão quente.

— Espero poder um dia, quem sabe, ser esse cara para você.

Sério mesmo que ele disse isso?

Tive de olhá-lo.

Querido, você é meu sonho de consumo há muito tempo. Não entendeu ainda?

Claro que a frase toda ficou na minha cabeça. Nunca diria aquilo em voz alta.

Ele foi extremamente respeitoso. Deixou-me em casa após a nossa conversa, que seguiu do tom constrangedor para vários momentos engraçados. Falamos sobre as viagens que talvez nunca fizéssemos, sobre sonhos impossíveis e o que faríamos se aquela fosse a última noite da raça humana na Terra.

Na hora da despedida, parecia que estávamos os dois sem jeito. Ele desceu da moto e deixou o capacete sobre o banco. Eu, com os braços nas costas, fiquei balançando o corpo para frente e para trás. Ele sorriu, passou a mão no cabelo, deixou o dedo escorregar em meu rosto e olhou-me tão profundamente que senti mais uma vez meu corpo arrepiar-se por inteiro.

— Você está me deixando doido com esse seu jeitinho.

Então aproximou-se e simplesmente me beijou. Não daquela forma rápida de quem tem que sair correndo, mas de um jeito quente e carinhoso. Segurou-me o corpo, levando-me para mais perto.

Nossos corpos e línguas estavam em perfeita sintonia. Parecia que as bocas se conheciam de outras vidas, já amigas eternas, numa carícia cheia de desejo e necessidade.

Meu Deus! Acho que vou desmaiar.

Sei que seria muito idiota caso isso acontecesse, mas juro que fiquei mole nos braços dele. Calma, não cheguei a pagar mico. Mas tinha na cara, com certeza, um sorriso idiota depois que ele me soltou. Por que naquele momento senti-me importante para ele.

— Boa noite, Lilly. Durma bem e sonhe comigo, delícia — disse ao pé do meu ouvido. — Pode ter certeza que vou sonhar com você. Até amanhã!

Delícia?

Disso eu não gostei. Senti-me meio um pedaço de carne com aquilo. Talvez eu estivesse desacostumada com o linguajar carinhoso que os futuros namorados escolhiam. Vai saber.

Entrei em casa e fui direto tomar um banho frio, porque todo o meu corpo pegava fogo.

Nem sei quando foi a última vez que senti tais sensações e, para falar a verdade, se me lembrasse, provavelmente a pessoa não chegava aos pés do Otávio.

À noite, fiquei revirando-me na cama. Só que por um motivo maravilhoso. Um moreno de olhos negros e com cachos nos cabelos, além do beijo extremamente gostoso. Naquele momento, ele deveria estar pensando em mim de um jeito íntimo e delicioso.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo