O SEGUNDO SOL
O SEGUNDO SOL
Por: Leca Fiterman
UM INTERIOR QUASE ESQUECIDO

Era manhã de domingo. Fazia sol, com algumas nuvens. Os pássaros cantarolavam alto. Os raios do sol inundavam as montanhas, com todo seu esplendor. Parecia um domingo como outro qualquer naquele pequeno vilarejo de dois mil e poucos habitantes. Cidadelha pacata, cercada por vastos campos e morros imponentes, aonde a economia girava em torno da agricultura e da pesca nos rios pelos arredores da comunidade.  

Bueno Verde era uma vila típica do interior, esquecida e isolada, no interior do interior do nordeste brasileiro. Todos se conheciam e conversavam na rua quando se encontravam. O dia a dia passava devagar, com as crianças brincando nas ruas, donas de casa arrumando seus jardins, sorridentes, e famílias trabalhando em suas pequenas lavouras. Todos dormiam de portas abertas e nunca nenhum morador teve problemas com isso. Um entrava na casa do outro sem a menor cerimônia. Coisa de cidade pequena.  Vida simples e pacata.

         Nos arredores da pequena vila, a paisagem era deslumbrante. Havia muitas cachoeiras de fácil acesso, morros para escalar e vislumbrar a beleza exuberante do local e uma vasta vida animal. Pássaros de diversas espécies, borboletas de todas as cores e vaga lumes de tamanho anormal enfeitavam aquela região como se fosse um verdadeiro paraíso, um lugar abençoado. A bela natureza e o solo fértil favoreciam os moradores que, embora levassem uma vida simples, jamais faltara comida em suas mesas. O ar era puro e seus moradores eram, em sua grande maioria, saudáveis e felizes.

Poucas pessoas de fora passavam por ali. Quando alguém aparecia, geralmente era parente de algum habitante ou estava perdido e bem longe de alguma rodovia importante. Paravam para pedir informação e os moradores aproveitavam para trocar conversas agradáveis. E também enchiam eles de perguntas. Quem eram. De onde vinham. Para onde iam. Como foram parar ali. Dentre outros tantos questionamentos. Coisa de cidade pequena e pacata.

Mas, as pessoas não se importavam. A maioria respondia na maior naturalidade e seguia seu caminho. Quando se tratava de familiares vindos de fora para visitar os seus, o restante da vila já ficava sabendo semanas antes quem estava para chegar. A vida em Bueno Verde sempre foi assim: calma, tranquila, devagar, como se o tempo quase parasse. Incrivelmente, a maioria da pequena população já estava ficando idosa devido a excelente qualidade de vida que aquelas poucas pessoas levavam. A alimentação era super saudável. Alimentavam – se basicamente do que plantavam. Coisa de cidade pequena e pacata.

 O único mercadinho do vilarejo vendia alguns poucos quitutes que vinham de muito longe vez ou outra. Também contavam com uma pequena farmácia, recém aberta por um estudante local que foi fazer faculdade na capital. Coisa de cidade pequena. E pacata.

         Da janela de seu quarto, em sua casa, no alto de uma colina, Júlia observava a bela paisagem que se formava diante de seus olhos desde que ela nascera. Fazia isso diariamente ao acordar, antes de descer para o café na pequena casa de dois andares em que vivia com seus pais. A vista era inebriante e fazia Julia sonhar alto. Imaginava – se morando muito longe dali, em algum lugar onde houvesse mais pessoas da sua idade, onde houvesse mais pessoas com quem pudesse conversar sobre assuntos que jamais conversaria com ninguém de sua cidade. Apesar da vida simples e isolada que levava, aquela paisagem em sua janela, o nascer do sol, os pássaros cantando, a levavam para um outro mundo. Um mundo que, em seu íntimo, ela sabia já ter conhecido algum dia. Sabia, mas não compreendia por que tinha essa sensação de já ter vivido outra vida.

Desde criança, tinha a nítida impressão de já ter morado em algum outro lugar, muito, mas muito longe de seu vilarejo miúdo. Não sabia explicar direito o que sentia e jamais comentara isso com alguma amiga – das poucas que tinha - ou com alguém da família. Ela apenas sentia, muitas vezes, como se fosse de outro planeta. Como se tivesse nascido na Terra para alguma missão importante. Como se a Terra não fosse seu verdadeiro lar.

Ali, isolada naquela vila, mesmo na época da escola, momento da vida em que mais teve amigas, sempre sentiu – se só. Quem tinha mais condições, saia de Bueno Verde e ia morar em uma cidade maior. Alguns iam morar na capital, Fortaleza. Poucos voltavam para a pequena vila.

Júlia acabou ficando com algumas poucas companheiras, com quem ia dar umas voltas vez ou outra. Suas conversas eram vazias e não faziam o menor sentido para Julia. Só falavam em casamento ou em ir embora da vila para nunca mais voltar. Queria ela poder fazer o mesmo. Ao contrário das outras meninas de sua cidade, ela gostava mesmo era de estar em contato com a natureza, fazer trilhas, escalar as montanhas dos arredores. Aproveitava ao máximo a abundante vegetação da região, na maioria das vezes, sozinha.

         Era uma bela moça de dezoito anos de idade. Cabelos negros, compridos, lisos, pele clara, olhos amendoados e um corpo escultural. Vestia – se de modo simples, mas não passava despercebida por onde passava. Sua beleza exuberante chamava atenção por onde ela passava. Já teve alguns pretendentes, mas não sentia nada por eles. Sabia que eles também não sentiam nada por ela. Queriam namorá – la apenas para mostrar aos amigos que haviam conseguido conquistá – la.

Ajudava seus pais nos afazeres da lavoura e namorava Marcos, um robusto rapaz de olhos verdes hipnotizantes, o que fez Júlia se apaixonar perdidamente à primeira vista. Marcos, assim que percebeu as olhadas tímidas de Julia e não deixando de notar sua estonteante beleza, aproximou – se dela rapidamente e logo começaram a namorar. Marcos era ciumento, e Julia fazia de tudo para não lhe dar motivos e nem lhe causar aborrecimentos. Mesmo assim, seu corpo esbelto, seus cabelos pretos, lisos e compridos, seus olhos cor de mel, faziam Marcos enlouquecer quando algum homem da cidade olhava para ela.

No decorrer de dois anos de namoro, Júlia passou a conviver com os ataques de ciúmes e a agressividade verbal de Marcos. Felizmente, ele nunca encostou sequer um dedo nela. No entanto, estava cansada de tudo aquilo. Queria fugir. Para bem longe. Talvez, inconscientemente, Julia estivesse querendo voltar para casa. Era moça de família sem grandes posses. Seus pais não tiveram oportunidade de estudar nem de lhe proporcionar bons estudos e conforto. Sempre batalharam muito na lavoura para proporcionar um pouco de conforto para eles. Julia queria poder melhorar a vida deles. E a sua também.

Era filha única e sentia que precisava ajudar seus pais. No entanto, queria que sua nova vida fosse bem longe de Marcos e de seu temperamento agressivo. Precisava descobrir o que se passava em seu coração. Não podia mais conviver com aquela agonia e aquele vazio interior que nada nem ninguém preenchia.

         Era uma noite fria e estrelada. Júlia trancou – se no quarto para mais uma noite de sono agitado e sonhos perturbadores. Costumava rezar já deitada na cama. As orações eram as de sempre: aquelas da religião a que fora criada. Orações que ela sempre repetia sem nem sequer prestar a menor atenção. Não acreditava muito no que falava, visto que não dormia bem por causa dos sonhos que tinha. Sempre acordava cansada e a paisagem em sua janela era o que salvava seu dia, revigorando seu corpo e sua alma. Não via sentido nas orações que proferia. Não sentia tocar fundo em seu coração.

Mas, naquela noite, deitada em sua cama, chorando muito, como sempre fazia antes de adormecer, Júlia levantou – se, abriu a janela do seu quarto e fez uma oração espontânea para as estrelas, com as suas próprias palavras. Com as palavras que vinham do coração. Nunca havia feito uma oração com suas próprias palavras. Vencida pelo esgotamento e sentindo – se presa em uma vida que não queria mais, suplicou aos céus:

- Queridas amigas estrelas, se realmente houver um Deus benevolente, que é nosso Pai e que tem realmente misericórdia de seus filhos, por favor, imploro que me mostre um caminho em minha vida que eu possa ser realmente feliz. Que eu consiga ajudar meus pais de alguma forma, tornando a vida deles mais confortável. Peço também, humildemente, que me proteja de Marcos. Que ele suma de minha vida. Amém!

Pediu com muita fé que pudesse melhorar a vida de seus pais e se livrar de Marcos que, a estas alturas, já a ameaçava de morte caso ela o deixasse. Estava cansada e temia por sua própria vida. Temia também que Marcos pudesse fazer alguma coisa contra seus pais. Ela nunca contou isso a ninguém.

Júlia olhou fixamente para o céu estrelado e suplicou com toda sua força que sua vida mudasse de alguma forma. Agradeceu pela vida, por sua casa, pelo seu alimento, por suas roupas e foi se deitar. Por causa das preocupações que a assolavam e do cansaço extremo, logo adormeceu.

Teve um sonho estranho naquela noite. Sonhou com seres que pareciam de outro planeta. Ao contrário dos seus outros sonhos, na maioria pesadelos, em que acordava sobressaltada e permanecia cansada o dia todo, desta vez, Júlia não teve medo e nem sentiu nenhum mal estar.

Os seres eram pequenos e não pareciam ser deste mundo. Mas, de alguma forma, ela sentia que eram amigos. Não entendeu por que não teve medo, já que seus sonhos eram quase sempre pesadelos que a amedrontavam muito. Algumas vezes, acordava extremamente cansada e mal se lembrava com o que tinha sonhado. Dos que se lembrava, eram todos sonhos agitados e difíceis de lidar. Naquela noite, foi diferente. Era como se Júlia realmente soubesse que eles eram amigos e era como se estivessem ali para ajudá – la.

Os seres apenas a observavam sorrindo, sem dizer-lhe uma palavra sequer. Júlia sorriu de volta e, então, eles simplesmente foram embora. Foi tudo muito rápido e complicado para ela conseguir assimilar esse sonho que pareceu – lhe tão leve.

         Ao amanhecer, sentiu um enorme bem estar por todo o corpo como há muito tempo não sentia. Era como se houvesse realmente descansado. Lembrou – se nitidamente do sonho que teve com os tais seres esquisitos e de aparência diferente. Ficou um tempo na cama, pensativa. Gostaria de poder ter uma amiga de verdade e de confiança com quem pudesse compartilhar tudo o que estava sentindo e o sonho que havia tido. Mas não tinha. E não poderia nem pensar em comentar sobre um sonho desses com Marcos. Tinha certeza de que ele iria ridicularizá – la, inclusive na frente de seus pais. Ele não teria a menor sensibilidade em tentar entender seus sentimentos e medos. Era incapaz de acreditar em alguma coisa que não fosse no mundo físico.

Senhor Norberto, pai de Júlia, fazia questão que ela se casasse com Marcos. Acreditava estar fazendo o melhor para sua filha, visto que Marcos era filho e herdeiro de um importante fazendeiro de uma região próxima a sua pequena cidade. No entanto, Dona Doria, esposa de Senhor Norberto e mãe de Julia, sabia que a filha não estava feliz ao lado daquele homem tão agressivo e bruto. Júlia nunca lhe contou nada, mas a mãe percebia o olhar triste da filha toda vez que Marcos estava para chegar em sua casa. E percebia também, de algum modo intuitivo, que Marcos era um homem amargurado e obcecado por Júlia. Sabia que, no fundo, ele não a amava. Que Marcos era dominado pelo próprio ego e não sabia distinguir amor de paixão.

Júlia sempre levantou cedo. Adorava ver o sol nascer recostada em sua janela. Assim que parou em frente a sua janela para contemplar o belíssimo amanhecer daquela linda e velha paisagem, presenciou uma cena que jamais esqueceria. Uma luz ofuscante vinda do espaço. Uma luz muito forte, brilhante, que praticamente a cegou. Julia não soube o que fazer. Ainda não havia amanhecido e ela não conseguia ver direito o que era e de onde vinha aquela luz.

Ficou ali, em frente a janela, completamente paralisada, mal conseguindo acreditar no que estava vendo. Tinha certeza de que não era um avião, muito menos um helicóptero. Nunca vira nenhum desses pessoalmente, visto que nunca saíra da vila. Mas viu muitas vezes essas aeronaves na pequena e velha televisão de sua casa. E aquilo que estava vendo não se parecia em nada com um avião ou um helicóptero. Tinha formato arredondado. Parecia uma esfera achatada de cor prata. Era gigantesca e quase ocupou todo o terreno do pequeno sitio de seus pais.

         Aos poucos, a luz foi se apagando. Foi então que Júlia pode olhar para o céu e ver a gigante nave arredondada com mais nitidez. Em toda sua vida naquela pacata vila, jamais imaginou que algum dia lhe aconteceria algo tão surpreendente e excitante. Nunca poderia sonhar que, no decorrer de sua caminhada simples e triste pela vida, pudesse sentir tamanha empolgação pelo desconhecido. Pelo que pôde ver, não havia mais ninguém por perto. Era cedo demais. Ou seja, somente ela havia presenciado aquela estranha aparição. Apesar de extasiada, ficou com medo. Sentiu um aperto no peito no momento em que avistou aquele objeto voador. Era como se fosse um mau pressentimento. Um aviso de que algo grande estava para acontecer. E de que não seria só com ela.

         Alguns instantes se passaram até que a porta da imponente nave começou a se abrir. Júlia estava com muito medo, mas sua excitação pelo desconhecido era maior. Sempre foi assim. Não media os riscos que poderia correr ao decidir se jogar em alguma aventura, seja ela qual fosse. E aventura era algo que não faltava em sua vida: acampamentos no meio do nada, mesmo sozinha, trilhas nunca exploradas, saltos de para quedas e algumas poucas festas com a turminha da escola, apesar de nunca ter conseguido fazer amigos de verdade. Vivia intensamente esses momentos, quase sempre sozinha.

Apesar do vazio que sentia e da entediante e vazia vida que levava, sempre procurou aproveitar a natureza nos arredores da vila. Sentia – se bem fazendo trilhas no meio da mata fechada, ouvindo o canto dos pássaros e outros barulhos que a floresta fazia e que não sabia decifrar. Desde pequena, tinha uma forte e inexplicável conexão com a natureza. A vida ao ar livre lhe proporcionava a liberdade de poder sonhar com a vida que quisesse. Seu pai sempre a apoiou em suas aventuras, comprando – lhe os equipamentos necessários para que ela pudesse aproveitar ao máximo a natureza do local.

Era forte. Sabia distrair a mente com o que havia de bom ao seu redor, já que Marcos pouco a acompanhava e ainda criticava Júlia por ela ser aventureira. Dizia que não havia necessidade de fazer nada daquilo e que era só para provocar seus pais e deixá – los preocupados. Que eles poderiam se casar logo e ela podia ir morar com ele e sua família na fazenda. Ela estremecia e logo mudava o rumo da conversa cada vez que ele tocava nesse assunto.

 Ao avistar aquele objeto misterioso, sentiu seu coração bater forte. Não sabia o que fazer. Mesmo assim, estava excitada e na expectativa de obter respostas que pudessem explicar a aparição do tal objeto. Era imenso, de cor acinzentada e aparência de velho. Parecia uma nave espacial, parecida com as que via em filmes alguns na televisão.

         Assim que a porta da nave se abriu totalmente, uma sombra apareceu. Parecia ser de uma pessoa bem alta. Não conseguia ver com nitidez. Assim que a tal sombra apareceu, uma escada saiu de dentro da nave e desceu lentamente até o chão. Com a mesma lentidão, a misteriosa sombra começou a descer pela escada. Júlia pensou em fechar a janela, mas logo desistiu, tendo em vista a altura da tal criatura. Na certa, faria algum barulho e seria vista. Além do mais, de onde estava, não podia saber se a sombra conseguiria vê – la. Esperava estar segura aonde estava. Preferiu não se mexer e deixar a janela do jeito que estava.

         A criatura continuou descendo lentamente pela escada. Olhava para todos os lados. Parecia procurar algo. Ou alguém. Parecia nervoso. Ou nervosa. Não tinha como saber. Júlia ficou realmente aliviada quando viu que estava bem escondida. Mesmo assim, continuava curiosa. Contudo, sabia que naquele momento só lhe restava ficar imóvel e observar o que estava acontecendo para tentar entender. Pensou em acordar os pais que, naquela hora, ainda dormiam, mas ficou com medo que o pai reagisse de forma violenta e as criaturas gigantes lhe fizessem algum mal.

         Enquanto observava aquela criatura caminhando pelo pasto no clarear do dia, Julia notou que uma segunda sombra, tão alta quanto a primeira, aproximou – se da porta da nave, e começou a descer pela mesma escada, indo na mesma direção em que estava a outra criatura gigante. Felizmente, nenhum dos dois a viu.

         Júlia ficou ali, paralisada, completamente atônita, sem conseguir mover um músculo sequer. Não sabia o que fazer. Não fazia ideia de como reagiriam se a vissem. Não conseguia tirar os olhos deles. Estes, por sua vez, se movimentavam lentamente pelo pasto, olhando sempre para o chão, como se procurassem alguma coisa, talvez algum objeto. Ou algum corpo igual ao deles. Ela nem sabia mais no que pensar. Estavam bem agitados e pareciam preocupados, como se tivessem perdido algo (ou alguém) bem importante.

         Os gigantes balbuciavam palavras que eram incompreensíveis para Júlia, que ficava cada vez mais nervosa a medida em que os minutos passavam. E a cada minuto que passava, eles ficavam ainda mais alterados e agitados.

         De repente, do nada, um forte e luminoso raio cinza saiu de um deles. Não conseguiu ver mais nada. Os gigantes instantaneamente desapareceram. A nave que havia pousado no terreno do pequeno sitio aonde viviam também sumiu sem deixar rastro. Júlia piscou os olhos várias vezes, incrédula. Não sabia o que pensar e muito menos o que fazer.

         Assim que se sentiu segura, fechou a janela, deitou – se ofegante e tentou dormir a fim de tentar esquecer o que vira ou com o objetivo de descobrir se aquilo não fora um sonho. Virava – se de um lado para outro, sem conseguir pregar os olhos.

- Meu Deus, o que era aquilo? – balbuciou. Ajuda – me meu Pai. Proteja – me dessas criaturas. Proteja minha família, - implorou Júlia, até que, tomada pelo cansaço, finalmente adormeceu. Teve o mesmo sonho reconfortante que havia tido na outra noite. Sonhou com as criaturas que pareciam amigas. Pediu, sem saber o motivo, proteção para as criaturas miúdas do sonho que tivera.

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