Capítulo 2

CATERINE

Alexander e eu estávamos seguindo nossa vida como se já estivéssemos casados, mas o fato de ter Mary Anne e Elisabeth na família querendo fazer um grande circo em volta da nossa união fez com que decidíssemos fugir para Vegas. Nos casaríamos em alguma capela barata e passaríamos o final de semana inteiro destruindo a cama da suíte do hotel. Estávamos evitando qualquer sexo desde o seu presente de aniversário na última semana em seu escritório, para dar alguma emoção às nossas núpcias e eu também estava querendo matá-lo por ter dado essa ideia em primeiro lugar. Desde o seu aniversário eu não sabia o que era sexo.

Ouvi a porta bater no momento em que fechei o zíper da minha mala e, como sempre, não consegui conter a euforia dentro de mim. Ele estava em casa.

— Carter? — Alex gritou da sala. Desviei das caixas alojadas pelo chão do quarto e caminhei até a sala para encontrá-lo.

— Hey, sexy! — disse me aproximando. Seu sorriso ampliou enquanto ele encurtava a distância entre nós e me pegava em seus braços. Seu cheiro era tão bom. Como casa, lar.

— Eu amo você — sussurrou em meus lábios como sempre fazia pouco antes de me dar o seu beijo de olá. — Morri de saudades. Como está o meu garoto? — Tinha virado um ritual. Ele chegava, me pegava em seus braços, dizia que me amava e que sentiu saudades, então perguntava pelo bebê.

— Eu responderei a isso se me disser que resolveu a questão da mudança — respondi travando meus lábios para não continuar o beijo. Eu estava louca para me aconchegar em seus braços e receber o maravilhoso carinho nas costas que só ele sabia fazer, mas precisava saber que tudo estava certo. Nos mudaríamos para um novo apartamento, maior e com uma área de lazer enorme para que pudéssemos passear com nosso filho quando ele chegasse ao mundo. Era mais seguro também.

— Josh cuidará de tudo. A equipe de mudança chega exatamente no dia em que partimos para Vegas e quando chegarmos só teremos que desempacotar nossas coisas.

— Ele sabe que não há necessidade de fazer tudo isso, não sabe? — Alex sentou no sofá de frente para a janela, me aconchegando em seus braços.

— Sabe, mas é a vez dele de sofrer com a mudança de móveis. Quando ele e Mary casaram, eu ajudei. — Meneei minha cabeça em negação, rindo da interação dos irmãos. Josh e Alex se amavam, mas pareciam duas crianças quando estavam juntos.

— Hum... Você deixou seu irmão saber que o restante das minhas coisas ainda...

— Ele já tem a chave do seu apartamento, baby. — Seu tom mudou para um tanto sem paciência.

— E...

— Caterine, por favor...? — Eu amava quando ele choramingava. Parecia um menino. Ele sempre precisava saber do nosso filho e o quanto eu o amava.

— Eu amo você. Muito. E nosso garoto está bem e crescendo — sussurrei finalmente e plantei meus lábios nos seus deixando que ele explorasse minha boca. Sua mão acariciou meu estômago levemente protuberante, ele não via a hora de ver a minha barriga grande, então passou para o meu braço até que subiu pelo meu pescoço e pegou firmemente os cabelos da minha nuca, aprofundando nosso beijo, nosso último beijo de frente para aquela janela. A nossa janela. A segunda chance depois da porta fechada.

O beijo se tornou mais profundo, nossas mãos ficaram mais exigentes e os gemidos começaram a ecoar pelo nosso apartamento praticamente vazio.

— Maldita hora que dei a ideia de não irmos para a cama até estarmos casados — gemeu, afastando seus lábios dos meus e parando suas deliciosas e habilidosas mãos.

— Tenho certeza que podemos esquecer essa ideia ridícula. — Puxei sua cabeça para mim e ataquei sua boca com paixão. Por um momento achei que ele se entregaria, o gemido rouco vindo da sua garganta me deu esperança de que em breve minha calcinha seria jogada longe, mas, para meu descontentamento, não aconteceu.

— Não, espertinha. Pare de tentar me seduzir — brincou, se movendo para longe de mim. — Será excitante esperarmos, nossas núpcias serão muito melhores. — Revirei meus olhos e me ajeitei no sofá. Seu sorriso dizia que ele estava satisfeito em me fazer sofrer por causa daquela regra idiota. Era até admirável que ele fosse tão forte, Alexander geralmente me dava tudo o que eu queria. Seus olhos divertidos me fitaram enquanto eu tentava segurar a minha própria birra.

— Você está sendo cruel, Alex, estou constantemente excitada. — Bufei, me levantando e o deixando para trás. Andei até a cozinha e procurei na geladeira algo para o nosso jantar, tudo em vão. Viajaríamos no dia seguinte e tínhamos somente água e iogurte dentro dela.

— Vou fazer valer a pena, baby — gritou do sofá.

— Eu espero que sim! — resmunguei pegando o telefone e o cardápio. — Vou pedir chinês para nós, se quiser tomar um banho e relaxar...

— Você vem comigo? — brincou. Coloquei minha cabeça para fora da cozinha e olhei para ele com a minha melhor cara de poucos amigos. — Desculpe, querida!

— Vá tomar um banho e relaxar, o jantar será servido em vinte minutos.

— Na janela? — Pude ouvir o sorriso em sua voz.

— Sempre.

**

Sentados na grande janela, Alex e eu jantávamos em silêncio, deixando os barulhos de Nova Iorque invadirem o ambiente. Tentei servir a Alex uma taça de vinho, mas ele negou dizendo que preferia suco. Eu sabia que ele fazia isso para me acompanhar já que eu não poderia beber. Era fofo da parte dele.

— Como foi seu dia? — perguntei casualmente, eu sentia que algo estava estranho, mas sabia que perguntar diretamente o deixaria nervoso. Não gostava de vê-lo estressado ou chateado, principalmente por minha causa.

Ugh! Temia que me fizesse essa pergunta.

Parei de mastigar imediatamente.

— O que foi? — Larguei o garfo e aguardei a sua resposta.

 Meu futuro marido estava um tanto desconcertado enquanto falava:

— Melissa teve uma crise de choro quando viu nossas passagens para Vegas em minha mesa hoje. — Passei minha língua pelos meus dentes e inflei minhas narinas, respirando fundo.  — Ela não fez na minha frente, apenas viu as passagens e perguntou: “Você vai casar ou algo assim?” acredito que meu rosto denunciou, pois se calou. Depois disso, saiu da sala e, passado um tempo, a ouvi soluçando em sua mesa. — Alex fez uma cara de dor ao contar. Sabia que estava mortificado, se sentindo mal por ela. Ele gostava de Melissa, tinha carinho por ela, mas não passava disso.

Mesmo assim, me incomodava um pouco ele trabalhar com ela. No fundo.

Eu tinha um pouco de ciúme de Melissa, mas sabia que ela era inofensiva. Ela tinha uma queda por Alexander desde antes de nos conhecermos, mas ele nunca dera qualquer abertura para ela tentar nada.

Entendia o apelo. Mesmo. Alex era assim, charmoso, educado, gentil e leal. Além de lindo. Era realmente difícil não cair de amor por ele. Mas eu não era irracional também, especialmente depois de tudo o que eu tinha passado com Michael. Se tinha algo que eu não faria era transformar a minha relação em algo tóxico.

— Bem, ela vai ter que superar, você é a minha janela. Para sempre. — Estiquei-me sobre nossos pratos e beijei seus lábios.

— E você é a minha. — Um sorriso sereno se fez em seu rosto, seus belos olhos escuros brilhavam para mim e eu só conseguia pensar: Deus! Obrigada por finalmente ter me colocado no caminho certo. Obrigada pelo presente.

**

Eu lavei e ele secou a louça. Secou da forma Alexander de ser: cuidadosamente, com um pano novo e papel toalha para ter certeza de que não pegaríamos nenhuma infecção.

Perguntei-me como ele ainda não havia surtado em meio a tantas caixas espalhadas pelo apartamento, mas eu sabia o motivo. Tínhamos um objetivo. Casar, formar um lar e uma família sublimaram sua compulsão por controle, organização e limpeza. Claro que Alex não era nenhum neurótico maluco, como o personagem de Jack Nicholson em Melhor Impossível, mas ele certamente tinha suas manias.

No início, eu me preocupava um pouco com o nascimento de Simon, o zelo excessivo de Alexander com o bebê poderia ser um problema. Crianças são choronas, bagunceiras, desorganizadas e ficam muito doentes, e constantemente tentava imaginar como ele lidaria com tudo aquilo.

Provavelmente ficando careca de tanto puxar seus cabelos.

Mas com o passar do tempo, a novidade da gravidez trouxe a ele mais paz, ele não surtou, procurou controlar seus impulsos e começou a estudar sobre cuidados com bebês, seu Kindle era recheado de livros sobre paternidade e maternidade. Sua sede para ter tudo sob controle foi convertida em dedicação para nosso filho e eu.

— Está ansiosa para a viagem? — Alex perguntou baixinho enquanto secava insistentemente um garfo, até dar brilho.

— Eu estou ansiosa para tudo, inclusive nosso novo lar. — O apartamento que havíamos escolhido na verdade era um loft de dois andares e três quartos. Foi amor à primeira vista. Não estávamos procurando há muito tempo, quando nos apaixonamos por este pequeno prédio em Tribeca, no centro de Manhattan. Alexander viu no momento em que me apaixonei pelo local, mas era muito caro para comprarmos. Manhattan era caro demais e a quantia que precisávamos para acrescentar em nossas economias era absurda, precisaríamos economizar mais dois anos pelo menos.

Era lindo, aconchegante e muito charmoso, e tinha uma grande janela que ia do teto até o chão no mezanino. Foi o primeiro local que corri para ver quando entramos no prédio. Então Alex ligou para seus pais e pediu um empréstimo e no final do dia estávamos assinando os papéis e adquirindo o nosso lar. Era um pequeno prédio, nosso loft era de frente para a rua, no andar de baixo tinha uma enorme cozinha com a sala integrada e um lavabo para os visitantes; os quartos e dois banheiros, um no quarto principal e outro no corredor, ficavam do andar de cima. Algumas paredes eram mais rústicas, trazendo um misto de aconchego com um design mais clean. Tudo era claro, aberto e com muita circulação de ar, e era até de se admirar que eu, defensora dos locais pequenos, estivesse tão apaixonada pela nova casa.

Mas eu sabia que o estava acontecendo. Não era apenas uma criança nascendo. Antes disso, ao conhecer Alexander, uma nova Caterine nasceu. Um novo Alexander também e, juntos, nós tínhamos novas perspectivas.

— No momento, eu estou mais ansioso para me casar com você, mas, sim, nossa nova casa também me deixa feliz. — Alex sorriu abrindo o pano de pratos cuidadosamente e colocando-o para secar antes de encerrarmos a limpeza da cozinha. — Venha, vamos aproveitar a vista da janela pela última vez.

Convidou esticando a sua mão para que eu a pegasse.

Olhei para ela com um sorriso, sentindo aquela overdose de paz e felicidade corriqueira, de dois anos de relacionamento. Sentindo a paixão que identifiquei no momento em que coloquei meus olhos sobre aquele homem lindo e generoso. Ele era meu, eu era dele e éramos um do outro porque queríamos, não porque precisávamos ou deveríamos.

Nós queríamos.

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