Capítulo 1

“Quando a Consciência desperta totalmente, não é algo sensacional, nem espetacular. É simplesmente uma realidade tão natural, como a de uma árvore que, lentamente, cresce, desabrocha, sem sobressaltos e coisas sensacionais. Natureza é natureza!"

Samael Aun Weor.

Como já sabem, nasci em uma pequena cidade histórica da Espanha: Topomina. Nasci no dia 07/07/1987, exatamente às 07h00min, de uma manhã quente de um verão que se iniciava. Segundo minha mãe, um arco-íris rasgava o céu, devido a uma chuva que havia acabado de molhar a terra seca, onde meu pai e irmãos mais velhos plantavam parte de nosso sustento. Eu era o sétimo filho de um sétimo filho...

Minha mãe, sendo a pessoa mais religiosa que já conheci em minha vida, dizia que sentiu algo estranho, assim que vim ao mundo. Não eram apenas as dores de um parto difícil. Era uma dor mais intensa, que brotava da alma, como se ela soubesse que aquele filho que acabara de trazer ao mundo não era como os outros. Sentimento de mãe, dizia ela. Em sua cabeça, ou eu seria muito bom, ou muito ruim, então, naquele momento, decidiu que me criaria para que eu fosse muito bom, custasse o que custasse!

Até que eu entendesse quem realmente era, ela fez isto: rezava o terço, ajoelhada, aos pés de meu berço; depois, de minha cama; e, finalmente, me levava às missas dominicais. Ensinava-me as mais diversificadas orações, que arrancavam risos de quem as ouvia, e comoção de algumas pessoas, que diziam: — Este menino é especial! Talvez, seja o nosso Papa, daqui a alguns anos!

Cresci entre orações e o banco da igreja, mas, com cinco anos de idade, já conseguia ver coisas que ninguém mais via... Eu enxergava a alma das pessoas. Não conseguia ver apenas a aparência, via mais, muito mais! E isso, na maioria das vezes, me assustava! Encolhia-me atrás de minha mãe, enfiava minha cara em sua saia e não me mexia, até que determinada pessoa fosse embora. É lógico que eu levava muitas broncas, e, várias vezes, fiquei de castigo, pela minha falta de educação. Mas falar não adiantava! Eu era completamente ignorado, e lá vinha minha mãe, com seu terço, aos pés de minha cama, pedir a Deus que afastasse de mim o que ela costumava chamar de "sangrita del demônio". Quanto mais ela rezava, mais eu crescia e mais coisas eu via.

A certa altura, entendi que não adiantava que eu falasse, ninguém acreditava que as pessoas nunca eram exatamente o que diziam ou aparentavam. Algumas eram verdadeiras, mas a maioria, carregava uma leva gigantesca de falsidade, o que modificava completamente sua aparência. Algo muito assustador, para uma criança!

Com o tempo passando e a idade chegando, comecei a pensar em uma maneira de ajudar aquelas pessoas a se transformarem em algo que fosse menos nefasto, aos olhos espirituais, pois era assim que eu me via: com "olhos espirituais". A possibilidade de me tornar padre crescia mais e mais em meu interior, apesar das dúvidas que vieram na adolescência, quando meu corpo gritava mais alto que a razão, onde a testosterona era Deus dentro de mim; e quando tentava encontrar todo o tipo de argumentos, para justificar minhas falhas... Minhas fugidas até um bordel que havia escondido entre as árvores de uma mata ainda inexplorada; meus olhares atrevidos, para aquelas bundas redondinhas e dançantes; peitos, que dirigiam seu olhar diretamente a mim...

Bem, foi uma época difícil, mas incentivado por orações e promessas mil, resolvi ir para o seminário.

Mudei-me com dezessete anos, assim que concluí o ensino médio para cursar uma faculdade. A Universidade Pontifícia Comillas, uma instituição de ensino superior, administrada pela Companhia de Jesus, com sede em Madrid, Espanha.

Tudo era novo e apaixonante. Enfiei-me de cabeça nos estudos, e por isso, comecei a encontrar livros pouco lidos e, muitas vezes, até escondidos, nas prateleiras da imensa Biblioteca, mas ao me enfiar de cabeça nos estudos, na época, foi por um simples motivo: não conseguia ter amigos. Graças ao meu dom, via perfeitamente que a maioria dos seminaristas estava lá apenas por estar. Em suas verdadeiras faces, podia ver as suas imperfeições..., mas não pensem que sou hipócrita! Via as minhas, também! E muitas vezes, me achei indigno de ser um representante da palavra de Deus. Sentia todo o peso que a carne traz consigo, ao nascermos nesta terra, e ainda, havia os benditos hormônios... Foi um dos primeiros questionamentos. Se devermos ser santos, assim como Jesus foi; pois, cresci ouvindo que Jesus era santo; por que tínhamos hormônios?

Meus questionamentos só aumentavam. Não conseguia encontrar respostas satisfatórias, às minhas questões. Tudo o que me era dito parecia superficial e sem lógica. Eram coisas como: "São os espinhos que devemos carregar, para nos purificarmos e vencermos as tentações!". Se Deus é amor, por que espinho, para nos purificar? Nascemos puros, segundo a Igreja. Somos batizados, logo que nascemos, para termos Deus sob nossas cabeças, nos direcionando... Para quê os espinhos?

Pois é... Eram questões cada vez maiores, e para poucas encontrava algumas respostas, em livros que lia escondido; aqueles que eram proibidos, dentro da Instituição de Ensino. Mas sabia que a resposta estava entranhada, em algum lugar escondido. Só não tinha certeza de onde...

Foram anos de muita luta interior, muitas transformações, olhando meu próprio reflexo, no espelho, hora límpido, como arcanjo, quando sentia minha fé fortalecida pela descoberta de alguma resposta para uma questão polêmica; hora completamente negro e deformado. Com isso, acabei concluindo que só poderia ajudar as pessoas com a descoberta de minhas próprias verdades, e assim, ajudar a encontrar as verdades pessoais de cada um. Ser padre já era um caminho!

Finalmente, fui ordenado padre; e funciona mais ou menos assim:

O sacramento da Ordem é constituído por três graus: episcopal, presbiteral e diaconal. Cada qual possui um rito de ordenação próprio, porém, o comum entre eles é a imposição das mãos e a prece de ordenação.

O segundo grau do ministério da Ordem é o presbiteral, denominado, também, por sacerdotal. Segundo o Pontifical Romano, a ordenação presbiteral é constituída por seis partes: eleição do candidato; homilia; propósito do eleito; ladainha; imposição das mãos e prece de ordenação; unção das mãos, entrega da patena e do cálice.

Como as demais ordenações, a sacerdotal é realizada dentro da Eucaristia. Logo após a Liturgia da Palavra, dá-se início ao Rito de Ordenação Presbiteral.

O diácono chama o ordenando, e no meu caso, via sua aparência... Completamente desfigurado, e sem qualquer luz a rodeá-lo, com as seguintes palavras: — "Queira aproximar-se o que vai ser ordenado presbítero". 

Em pé, o candidato coloca-se diante do bispo, como sinal de prontidão, dizendo: —"Presente". 

Em seguida, um presbítero, designado para tal, pede ao bispo para que ordene este irmão, para a função de presbítero. O bispo, então, interroga se o candidato é digno deste ministério. O presbítero responde que após ter averiguado, junto ao povo de Deus, e ouvido os responsáveis com convicção, declara ser testemunha de que este candidato foi considerado digno. Tendo esta resposta, o ordenante diz:

— "Com o auxílio de Deus e de Jesus Cristo, nosso Salvador, escolhemos este nosso irmão para a Ordem do Presbiterado". 

E todos dizem: 

— "Graças a Deus". 

Uma cena completamente ridícula, pois se contava nos dedos os que realmente tinham uma alma digna, para tal função!

Dando sequência, o bispo, brevemente, fala ao povo de Deus sobre este momento forte, na vida da comunidade; bem como sobre o sacramento da Ordem Sacerdotal. E dirige-se ao ordenado, admoestando e animando-o, acerca deste ministério, para o qual será ordenado.

Após a homilia, o eleito, em pé, responde às seguintes interrogações, feitas pelo bispo:

— Queres, pois, desempenhar sempre a missão de sacerdote, no grau de presbítero, como fiel colaborador da Ordem episcopal, apascentando o rebanho do Senhor, sob a direção do Espírito Santo?

Minha resposta positiva, e um tanto incerta, saiu quase surda!

— Queres, com dignidade e sabedoria, desempenhar o ministério da palavra, proclamando o Evangelho e ensinando a fé católica?

Novamente, queria professar a fé, mas não tinha certeza de que seria a que me foi ensinada...

— Queres celebrar, com devoção e fidelidade, os ministérios de Cristo, sobretudo, pelo sacrifício eucarístico e o sacramento da reconciliação, para o louvor de Deus e santificação do povo cristão, segundo a tradição da Igreja?

Nesta pergunta, foram muitas as interrogações, mas bastava apenas um “sim”, afinal, havia testemunhas de que estava apto para exercer a função.

— Queres implorar conosco a misericórdia de Deus, em favor do povo a ti confiado, sendo fielmente assíduo ao dever da oração?

Essa foi mais fácil. Eu realmente queria levar Deus às pessoas!

— Queres unir-te cada vez mais ao Cristo, sumo Sacerdote, que se entregou ao Pai, por nós, e ser com ele consagrado a Deus, para salvação da humanidade?

Essa também foi fácil. Já havia me entregado, só bastava encontrar o caminho certo!

O ordenando, ao responder "Quero", afirma publicamente o propósito de aceitar esses encargos. Em seguida, o eleito, ajoelhado, põe suas mãos postas entre as do Bispo, e esse interroga:

— “Prometes respeito e obediência ao Bispo diocesano, e ao teu superior?" 

—"Prometo". 

Sendo assim, o bispo conclui, dizendo: "Deus, que te inspirou este bom propósito, te conduza sempre mais à perfeição".

Essa foi difícil de engolir...

O Bispo convida o povo a rogar a Deus Pai, que derrame com largueza a sua graça sobre este seu servo, que ele escolheu para o cargo de presbítero. O eleito prostra-se, como sinal de sua total entrega a Deus. Terminada a ladainha, o bispo, de mãos estendidas, reza:

— "Ouvi-nos, Senhor, nosso Deus, e derramai sobre este vosso servo a bênção do Espírito Santo e a força da graça sacerdotal, a fim de que acompanheis, com a riqueza de vossos dons, o que apresentamos à vossa solicitude para ser consagrado. Por Cristo, nosso Senhor".

Esta parte decorrente é tida como aquela que, no silêncio do coração, o bispo e todos os presbíteros presentes pedem a Deus pelo ordenando. Esse, estando de joelhos, em silêncio. O bispo impõe as mãos sobre sua cabeça, seguido pelos presbíteros.

Depois do longo silêncio, o bispo reza ou canta a oração da ordenação, na qual são citadas as principais tarefas do sacerdote. Nessa oração, é lembrada a relação dos setenta mais velhos com Moisés. O sacerdote é descrito principalmente como colaborador do bispo, instrutor da fé e divulgador da palavra de Deus. O pedido mais importante é colocado, pelo bispo, nas palavras:

— "Dê a seus servidores a virtude sacerdotal. Renove neles o espírito de santidade. Faça, ó Deus, com que eles se atenham ao ofício que receberam da sua mão; que a vida deles seja para todo o estímulo e fio condutor. Abençoe, santifique e ordene os servidores pelo Senhor". 

A oração transpira o espírito da Primeira Carta de Timóteo. Nela, é dito que o encarregado do ministério deve manter o bem que lhe foi confiado, deve passar adiante, fielmente, o tesouro que recebeu na mensagem de Jesus, nosso Salvador. Já naquela época, o autor da Carta de Timóteo precisava exortar os encarregados pelos ministérios, a viver de acordo com seu serviço. Aquele que é ordenado sacerdote reflete algo sagrado, que oferece aos outros.

Eu sabia que tinha algo, assim como minha mãe. Só não tinha certeza se sagrado ou não, mas eu tinha!

A última parte do Rito de Ordenação apresenta alguns símbolos ricos em significado, e que indicam o ministério sacerdotal da Ordem.

Terminada a Prece de Ordenação, o eleito, com o auxílio de um ou dois presbíteros, é revestido com a estola sacerdotal e a casula. Em seguida, de joelhos, a palma das mãos do ordenado é ungida pelo bispo, com o óleo do santo Crisma. Segue-se a seguinte oração: 

— "Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem o Pai ungiu com o Espírito Santo, e revestiu de poder, te guarde para a santificação do povo fiel, e para oferecer a Deus o santo Sacrifício".

Logo após, o bispo amarra as mãos do ordenado, que é desamarrada por quem receberá a primeira bênção sacerdotal.

Em seguida, os fiéis trazem o pão na patena, e o vinho e a água no cálice, para a celebração da Missa. O diácono os recebe e entrega ao bispo, que os entrega ao Ordenado, ajoelhado diante de si, dizendo: 

— "Recebe a oferenda do povo, para a apresentar a Deus. Toma consciência do que vais fazer, e põe em prática o que vais celebrar, conformando tua vida ao mistério da cruz do Senhor".

Por fim, como sinal alegre de acolhimento ao neossacerdote, o bispo e o colégio dos presbíteros presentes o abraçam. Segue, então, a liturgia eucarística, onde o ordenado exerce, pela primeira vez, o seu ministério, concelebrando-a com o bispo e os outros membros do presbitério.

Ao término da celebração, o bispo estende suas mãos sobre o ordenado e sobre o povo, dizendo:

— Deus, pastor e guia da Igreja, te guarde constantemente com sua graça, para cumprirdes, com fidelidade, os deveres de presbítero. Amém.

— Ele te faça, no mundo, servo, testemunha da verdade e do amor de Deus e ministro fiel da reconciliação. Amém.

— Ele te faça verdadeiro pastor, que leve ao seu povo o Pão vivo e a Palavra de vida, para que cresça na unidade do Corpo de Cristo. Amém.

— E a todos vós, aqui reunidos, abençoe-vos, Deus todo-poderoso, Pai e Filho e Espírito Santo. "Amém".

Foi muito bonito..., mas estranho!

             

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