O Parasita
O Parasita
Por: Miller Britto
PRÓLOGO

          A criatura olhava para o painel da nave verificando se todos os sistemas estavam operacionais. Tudo o que desejava era não ficar presa naquele sistema solar deprimente, de apenas um planeta habitado, e ainda mais por seres tão odiosos e pouco evoluídos. Para ele, qualquer civilização que não se credenciasse a fazer parte da Federação Universal, era digna de pena e indigna de receber a sua atenção.

“Seres asquerosos estes humanos. Com suas guerras que servem apenas para destruir a si mesmos e o planeta que deveriam cuidar e proteger. É repugnante.”

Seus olhos eram nada mais do que puro negrume, dois poços de escuridão que através das amplas janelas da nave miravam o belo planeta azul. Não tão belo quanto as luas verdes de Oxion, ou o grandioso Olho Dourado na Galáxia dos Esquecidos, mas era um belo planeta, uma joia valiosa entregue em mãos não merecedoras.  

            A criatura se levantou da cadeira frente ao painel de controles e caminhou para diante da janela panorâmica, contemplando a beleza da Terra. Seus quase três metros de altura, semi-refletidos no vidro, revelavam braços e pernas angulosos, de pele acinzentada e lisa. O rosto tinha formas ovais, com os olhos ocupando grande espaço, restando pouco para nariz e boca, uma pequena fenda quase indistinguível, que, ao longo de seu processo evolutivo, foi ficando cada vez menor na medida em que a telepatia se tornava mais comum para o seu povo.

            Seu trabalho, cruzando o cosmo, era transportar um único item. Uma caixa cujo conteúdo ele não sabia dizer qual era, tampouco lhe importava saber. Só se preocupava em findar rapidamente aquela viagem através do universo e retornar para casa.

            Distraído com a bela paisagem oferecida pelo planeta de bárbaros, não notou quando aquela coisa se instalou em sua mente, não até que o chiado ficasse alto o suficiente para chamar a sua atenção. Alarmado, ele olhou ao redor, tentando entender de onde vinha aquela frequência de comunicação que ferroava sua mente. Tentou fechá-la, tentou trancá-la usando o máximo de sua capacidade telepática, mas não pôde e o chiado só fazia crescer, lhe impedindo de raciocinar, mas quando se virou para o objeto que deveria transportar e proteger, a caixa selada sobre a mesa no centro da nave, o barulho parou por completo.

            Tentativas de olhar para qualquer lugar que não fosse a caixa, resultavam em uma dor aguda e penetrante, que prometia exaurir a sua mente. Ele caminhou em direção ao objeto. Suas ordens eram claras, não poderia abrir a caixa sob nenhuma circunstância, e apenas por lembrar-se daquilo, outra onda de dor o assolou, fazendo-o afastar aquele pensamento e substituindo-o por uma necessidade enorme de tocar a caixa e abri-la.

            A criatura estendeu seus três dedos longos e finos para o objeto. O toque de sua palma destravou todos os mecanismos de segurança e após um vapor esbranquiçado ser soprado para fora, a caixa se abriu por completo, revelando o conteúdo que se refletiu naqueles grandes olhos negros, que mal tiveram tempo para expressar qualquer pavor.

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