Rumo à felicidade

”A vida é o filme que você vê através dos seus próprios olhos. Faz pouca diferença o que está acontecendo. É como você percebe que faz a diferença.”

                                        

                                          Denis Waitley

 

Felicidade

Como todo domingo, eu acordei tarde e com isso o café da manhã vira almoço; o almoço vira lanche; o lanche, jantar, e este fica para o dia seguinte. Pensei então que não faria o meu lanchinho da tarde habitual e foi quando me dei conta do prazer que tenho com ele.

Agora descobri um prazer novo, um doce de leite em barra que encontrei no mercado, tomado com um simples cafezinho que sempre me chama à tarde. Quando pensei que faria esse lanchinho amanhã me deu uma satisfação tão grande, me senti tão feliz … E comecei a refletir…

A felicidade é algo tão fácil de se alcançar, pois ela está nas coisas simples da vida. Quanto mais simples é ou está nossa vida, mais feliz estamos. Temos menos preocupações, ou quase nenhuma; e por isso mesmo com mais tempo para simplesmente sermos, o que traz realmente a felicidade: ser.

A partir dessa pequena satisfação fui sentindo que o cotidiano da  minha vida é feliz, e é isso que importa. Isto não é novidade para mim, pois geralmente sinto e agradeço por esta felicidade. Lembro-me de alguns anos atrás que uma pessoa falou para mim que achava a minha vida muito parada. Pois eu, em contrapartida, achava a vida daquela pessoa extremamente estressante.

Acho que as pessoas se esqueceram de ser. E para sermos precisamos de um ritmo mais lento e de mais simplicidade. Não é o status, o carro do ano, as roupas de grife que vão trazer a verdadeira felicidade. Muitas vezes tudo isso nem traz satisfação. Pois gera tanta exigência, tanta preocupação, que é impossível haver um verdadeiro contentamento.

Já vi casos de pessoas saindo com várias sacolas de uma boa loja de roupas e já pensando nas próximas roupas que “precisava” comprar. Não, com certeza o consumismo não gera felicidade, muito pelo contrário, ele é o reflexo da infelicidade, de não estar em si, de não saber olhar pra dentro e para a beleza da vida em sua simplicidade.

 A felicidade nada tem a ver com frisson,  euforia, muito menos com correria. A felicidade tem a ver com serenidade, centramento e uma sensação interna de grande preenchimento. É por isso que dizem tanto que a felicidade está dentro de nós, no interior, não no exterior. Pois se não temos esta felicidade interna não conseguimos nos contentar verdadeiramente com nada; não conseguimos perceber a satisfação que podemos ter com coisas tão simples do nosso cotidiano.

Percebermos os presentes que a vida nos dá no dia-a-dia é saber ser feliz. Valorizar tudo que temos é termos a sabedoria de sermos felizes. Olharmos o céu  numa noite, contemplarmos a natureza ao nosso redor, conversar com quem amamos, levarmos uma palavra de carinho a alguém, sermos mais generosos são maneiras de sentirmos a felicidade.

As  pessoas vivem irritadas, estressadas, porque estão fora de si e com isso perderam o contato com a sua própria felicidade interna. Nada vai levar a felicidade a essas pessoas sem um retorno ao Lar, isto é, sem uma volta para si mesmas, de onde nunca deveriam ter partido. Acho que não preciso falar que nada disso tem a ver com individualismo, e sim, com uma reconexão com a própria essência, que muito pelo contrário do individualismo, nos ajuda a sermos mais generosos e pacientes.

Acredito que não nos deixarmos contagiar pela irritação e agressividade que paira no ar é um grande passo para a felicidade e para este reencontro com nós mesmos. Começarmos a olhar para a vida com outros olhos,  transmutar as energias ruins e que nos aprisionam, valorizar o que de fato tem valor, são formas de sabedoria que com certeza nos reconectam com a nossa felicidade interior.

 

Deixar fluir

Quantas vezes não estamos querendo controlar tudo? Controlar os acontecimentos, as situações, os outros, os nossos estados de espírito, pensamentos e emoções… É essa necessidade de controle do homem moderno que gera a infelicidade, a ansiedade, a inquietude e a perda de oportunidades felizes. Precisamos aprender a deixar fluir, a não controlar, a darmos espaço para as energias do Universo  dançarem ao nosso favor.

Uma pessoa quer muito uma coisa, não para de pensar naquilo. No momento esperado o fato não se concretiza e a pessoa, então, fica amuada, mal-humorada, irritada. Não consegue perceber que logo ao lado o Universo lhe trouxe uma boa surpresa, o inesperado, numa situação que traria à pessoa mais felicidade. Mas ela não está aberta para receber, se fechou no sentimento negativo de que as coisas não deram certo, que nada saiu como o planejado. Aliás, este é o grande problema, estamos sempre planejando tudo. Ah! Isso serve para mim também, pois eu adoro pegar minha agenda e planejar a semana. 

Adoro fazer listas também, mesmo que já esteja com tudo na cabeça. Como dizia John Lennon: “A vida é aquilo que acontece enquanto você está fazendo planos”. Mas a questão aqui não é nem tanto essa, você pode até planejar, fazer planos (é importante termos um direcionamento), mas não fique mal se as coisas não saem como você quer. Não queira controlar tudo; é como nosso amigo diz, a vida acontece!

De modo algum o que estou falando aqui tem a ver com resignação ou destino predeterminado. Você pode e deve ser sim dono da sua vida, ter seus objetivos e tentar alcançá-los. Mas precisa estar aberto para perceber as oportunidades que chegam até você, pois elas podem se um pouco diferentes do que você imaginava. É confiar numa força maior que rege o Universo. Quando você está em sintonia com ela, as coisas fluem naturalmente para o seu bem, mesmo que pareça o contrário.

Vou dar um exemplo de uma situação corriqueira que aconteceu comigo. Uma ocasião eu estava longe de casa, cansada, com fome, acabara de dar uma aula de consciência corporal e estava doida para chegar em casa. Quando fui chegando ao ponto do ônibus, o veículo foi passando e não parou. Só havia um ônibus que servia para mim e ele não costumava passar com muita frequência. No primeiro momento, tive o ímpeto de me rebelar e lamentar, mas logo pensei: “Não era para eu pegar esse ônibus”. Senti um alívio e fiquei tranquila esperando o próximo que - ao contrário do provável - não demorou muito. A certa altura, quando já estava no ônibus, passamos por aquele que eu havia perdido. Ele estava parado e quebrado. Os passageiros se encontravam em pé na rua e assim foram, quando embarcaram no veículo em que eu estava.

Deixar fluir é estar em sintonia com a magia do Universo, pois tudo está ligado. Tudo faz parte de uma grande teia energética, por mais que você pense que não. Deixar fluir e não controlar é estar centrado, sereno e em paz, sem deixar de estar entusiasmado e apaixonado pela vida. Em compensação, você não tem sentimentos nocivos como a ansiedade, a preocupação, a irritação e o mau humor.

O excesso de controle é fruto de uma sociedade que incentiva o poder a qualquer preço. O que gera a ambição, a violência, o individualismo e a competição desenfreada entre seres que deveriam se ajudar mutuamente. Queremos controlar para termos poder, poder sobre tudo e todos, mas isso é uma ilusão, pois o que acontece é exatamente o contrário. Nós nos escravizamos agindo assim, ficamos escravos do nosso ego e nos tornamos cada vez mais egocêntricos. Já o deixar fluir nos coloca mais em contato com a nossa essência e com a nossa intuição, uma postura bem mais desapegada e sábia, além de nos deixar mais conectados com as energias criadoras do Universo.

Outro motivo para o controle é a necessidade de segurança. Quando podemos controlar temos a falsa ideia de segurança, achamos que não nos depararemos com imprevistos. Mas o imprevisível faz parte da vida e, se formos pensar bem, é ele que dá graça a ela. Precisamos nos abrir para o mistério, para o inesperado. Precisamos ser mais aventureiros e nos deliciarmos com isso. A segurança não existe, ela é uma ilusão, a qualquer momento tudo pode ruir, por mais “seguro” que você esteja. Quanto mais nos apegamos às coisas, às pessoas e às situações, mais intranquilos ficamos.

Deixar fluir é confiar na vida e em si. É confiar na abundância do Universo e no fato de que você é merecedor de suas dádivas. Estas que podem lhe trazer experiências maravilhosas, que você jamais ousou, ou, simplesmente, lhe permitir levar uma vida tranquila e agradável; é só você estar aberto e se alinhar com o fluxo dos acontecimentos.

Deixar fluir é também respeitar o fluxo e o refluxo dos sentimentos, dos relacionamentos e da própria vida. Deixar fluir precisa de atenção, já que estamos tão robotizados e programados para controlarmos tudo. No começo pode ser difícil, para mim, para você. Mas com o hábito (e acho que tudo é uma questão de hábito, o que faz com que devamos ficar mais atentos ainda) vamos pegando o jeito, percebendo a leveza e o bem estar que esta postura nos traz. É claro que existem recaídas, até porque a pressão do entorno é muito grande, mas tornemos a nos levantar e deixemos fluir…

No fluir das águas

Hoje quero fluir como a água

Deixar-me levar pela correnteza do rio

Pelo fluir das águas das fontes

Pelas ondas e marolas do mar.

Quero respirar com o oceano

E mergulhar em suas águas profundas,

Navegando por suas ondas grandes e pequenas.

Quero saborear a beleza do ir e vir

Do avanço e do recuo

Do fluxo e refluxo da morada de Manannán.

Quero deliciar-me com a leveza da chuva

Mesmo quando torrencial,

Purificando a alma e a existência.

Hoje preciso de água, água, água

Para me acalmar, serenar-me

E me limpar.

Hoje preciso do cheiro da água doce

De suas bênçãos, de sua cantiga em meus ouvidos.

Hoje preciso das graças de Oxum

Relaxando-me e me acalmando

Ensinando-me a fluir mais, bem mais.

Toca-me Mãe

Banha meu corpo e minha alma

Renova-me mais uma vez!

Introspecção

Tem dias em que nos sentimos um pouco sem ânimo, sem entusiasmo. Parece que nos aquietamos, nos deprimimos. Mas não é depressão não. É simplesmente um estado de introspecção.

O que fazer quanto a isto? Absolutamente nada. Ou melhor, tentar respeitar este momento. Tentar se animar, lutar contra isto? Nem pensar… Fique na sua. Respeite o seu ser. Por mais que você não saiba, há um bom motivo para você estar assim. Se entregue a esse momento, a esse estado de espírito mais quieto, mais introspectivo. Fique em silêncio… Muitas vezes é preciso.

Nem sempre dá para sairmos da turbulência do dia-a-dia quando estamos desta forma, e é exatamente quando mais sentimos a rotina como turbulenta. Não se desespere. Faça o que tem que fazer, mas não force a barra. O que der para deixar para depois, deixe. Diminua o ritmo e NÃO SE COBRE.

O mais importante é que você consiga um tempo só para si quando estiver assim. Isto é de vital importância porque o que você precisa nestes momentos é se aquietar e ficar sozinho. Provavelmente quando você se sente desta forma é porque está precisando digerir algo, se descarregar, se harmonizar, se reciclar. Mesmo que você não saiba o motivo, seu inconsciente sabe, e é por isso que você está desse jeito.

Não tente analisar nada, só se deixe descarregar, só se deixe levar… Não tente sentir o que você não está sentindo. Busque situações que tenham a ver com esse seu estado, algo que vai fazer você se sentir bem, respeitando a maneira como está. Logo você se sentirá melhor.  A sensação de estar deprimido vai passar e você se sentirá apenas introspectivo, o que é bem diferente. Em poucos dias você estará renovado, com pique e entusiasmo.

Esses são momentos para se trocar a televisão por um livro, músicas agitadas por músicas tranquilas. Não combina com computador, telefones, lugares cheios de gente. Quando estiver nesse estado de espírito você pode aproveitar para ficar olhando para o “nada”, pintar, escrever, meditar, contemplar a natureza, bordar, fazer artesanato, ler, ficar embaixo das cobertas, enfim, algo de que goste e o coloque mais em contato com você mesmo.

Aprenda a ouvir o seu ser e a respeitá-lo. Aprenda que você pode ter diversos estados de espírito e que todos são válidos. É o fluxo e o refluxo acontecendo em seu ser, que está sempre em movimento, que se cicla e recicla, cicla e recicla, cicla e recicla…

Contemplativa

Sou uma mulher contemplativa...

Delicio-me em meus devaneios

De onde brota  a minha criatividade

Comungo com o nada

Em uma espécie de meditação

Sinto o prazer de uma vida calma

Que apenas flui.

Gosto de levar uma vida tranquila

Comungando com a natureza e suas energias

Sentindo o pulsar da vida dentro de meu ser.

Com meu olhar vago parece que não estou nem aí

Mas estou mergulhada no mundo vasto que habita meu ser

Não, não, não vivo mergulhada em um mundo de sonhos,

Apenas tenho o prazer de viver em constante contato comigo mesma.

Não tenho necessidade de muito agito, pelo contrário

Mas de vez em quando preciso estar na multidão

E como disse o poeta, nela eu sou diferente

Então aproveito para brilhar, para exalar o calor de uma legítima filha do Sol

Mas antes da meia noite, volto sabiamente para mim mesma, Para a minha vida serena.

Respeito os meus ciclos, as minhas estações

E com isto me conheço cada vez mais

Percebendo que a essência da vida é tão simples

Que a felicidade é tão fácil.

Nunca tive a necessidade do ter

Mas sempre me importei com o ser

Ser legítima, ser eu mesma

E cada vez mais consigo ser

Pois estou em mim,

Sentindo a vida,

Contemplando...

 

O escudo

Embora uma arma de defesa, o escudo sempre foi considerado uma arma de vital importância. Assistimos a filmes passados em épocas antigas e, junto com as espadas e machados, notamos a força do escudo. Sim, precisamos nos defender quando estamos em batalha. Mas e quando essa batalha é a vida? Quando estamos armados até o topo da cabeça com uma armadura pesada e mais um escudo em nossos braços bem a frente de nosso coração, impedindo que se machuque ou mesmo que se abra?

Não me refiro apenas ao coração aberto para viver uma relação afetiva, enamorar-se, apaixonar-se, mas falo, também, de uma forma mais ampla. Falo do escudo que nos protege de tudo aquilo que no fundo queremos ser e viver. Falo do escudo que nos dá a sensação de uma vida tranquila e segura e da qual temos total controle, mas que não nos permite ousar.

Falo do escudo que não nos deixa entrarmos em contato com aquilo que mais tememos em nós, pois achamos que evoluímos, passamos para outro patamar, e certos sentimentos não mais nos pertencem. Falo de um escudo que nos impede de vivermos as experiências da vida e com elas podermos nos conhecer melhor, mesmo não gostando das partes sombrias e mesquinhas que julgamos não ter mais, enquanto sustentamos em nossa frente o poderoso escudo de proteção.

Proteção de quê? – eu me pergunto. Proteção das ilusões que criamos de nós mesmos? Proteção da nossa tranquilidade e por consequência da nossa passividade e acomodação? Proteção de nosso ego exprimido, arrogante e frágil?

Pois na vida, verdadeiro guerreiro é aquele que corre nu pela floresta sombria. Verdadeiro guerreiro é aquele que sente em suas mãos apenas a carícia do vento. Verdadeiro guerreiro é aquele que conhece o inimigo quando este realmente se apresenta desafiando-o. Verdadeiro guerreiro é aquele que sabe que cada desafio é uma oportunidade de aprimoramento e crescimento. Verdadeiro guerreiro é aquele que almejamos ser, julgamos ser, mas na verdade quase nunca somos; pois o verdadeiro guerreiro vai à luta, se expande, se permite, se entrega e não fica apenas sentado em um trono.

Queremos realmente comungar com a vida? Queremos realmente nos conhecer? Então precisamos estar cientes de que também iremos conhecer  nossas partes desagradáveis, inseguras, e medíocres. Porém só assim nos veremos inteiros! Para isto sugiro que penduremos o nosso “poderoso” escudo em nossa parede – com certeza ele servirá de uma bela decoração – e saiamos porta afora, rumo à vida, rumo ao desconhecido, de peito aberto, sem armas nas mãos, apenas com a coragem no coração, e quem sabe, entoando uma bela canção.

 

Paciência

Num mundo de corre-corre, imediatismo e estresse em que vivemos, podemos dizer que a paciência foi para o espaço. Esta preciosa virtude, pouco valorizada, até mesmo menosprezada, deu lugar à irritação. Se as coisas estão demorando, se alguém se atrasa, se não somos atendidos prontamente, em suma, se o mundo não gira ao nosso redor, ficamos irados, irritados, mal-humorados e impacientes.

Observo que muitas vezes esta impaciência tem origem na arrogância e prepotência. Aqui o ego se infla de uma maneira que nos sentimos reis e rainhas lidando com súditos. “Seja feita a minha vontade, aqui e agora!” É este o lema. Neste momento falo do ego no seu sentido negativo, mas ele não é só isto. Não aguento o costume de falarmos do ego como se ele fosse algo demoníaco, que só existe para nos causar o mal.

O ego também tem o seu lado positivo, como tudo na vida. É o ego que nos ajuda a colocar limites em vários aspectos de nosso ser e demarcar fronteiras. É ele também o responsável pela afirmação de nossa individualidade. Também conseguimos com a sua ajuda sermos objetivos, traçarmos metas e atingi-las. A questão é que devemos controlá-lo e não sermos controlados por ele. É uma questão de estar atento e não nos perdermos de nossa essência. Um bom trabalho constante de autoconhecimento nos ajuda a lidarmos melhor com ele.

Voltando à paciência – e neste caso, como já disse, o ego é muitas vezes culpado – precisamos aprender a nos desprendermos de coisas pequenas, que na ocasião parecem de extrema importância, mas não são. É apenas alguém que se atrasou para nos atender, ou uma fila que está muito grande no banco porque nós fomos até lá no momento de maior pique. Ninguém está fazendo isto para nos prejudicar, ou porque não tem consideração ou respeito para conosco. Precisamos tentar sermos mais leves e vermos as coisas de uma perspectiva mais ampla e não só a partir do nosso umbigo e dos nossos complexos e traumas.

Se nós temos dificuldade com a paciência de uma forma diferente desta, talvez ela esteja ligada ao forte componente de ansiedade que precisa ser trabalhado. Sabe aquela pessoa que está balançando o pé enquanto espera em algum lugar? Esta pessoa é muito ansiosa e precisa aprender a lidar com isto. Existem muitos exercícios para melhorar a ansiedade e algumas coisas que podemos fazer. Por exemplo, ter algo que vai nos ocupar enquanto esperamos é muito bom, pois nos dá a sensação de que não estamos perdendo tempo, o que é importante para muitos. Um livro, um jornal, caneta e papel, ou mesmo um celular, podem ser grandes aliados nestes momentos. Eu, por exemplo, tenho sempre um bloco e caneta dentro da bolsa.

Agora, podemos também aproveitar este tempo “ocioso” e ficarmos no vácuo, isto é algo como uma meditação. Ficarmos, lá, quietos, olhando para o nada, descansando a mente. Eu já fui muito assim. Ficava tranquila em um lugar, esperando, divagando em meus pensamentos. Percebi que depois que comecei a fumar (comecei aos 30 anos, mas parei depois de alguns anos), aquela coisa de acender cigarro para tudo, principalmente para esperar, foi me fazendo ficar ansiosa e eu não conseguia mais ficar esperando alguma coisa com tranquilidade.

Mas saindo desta sala de espera, a paciência não tem só a ver com o ato de esperar. Ela também está presente no trato com as pessoas e até com a nossa relação com as coisas do mundo. Ela é irmã da tolerância, e o mundo está precisando muito das duas. Eu, você, todos nós, estamos precisando de mais paciência e tolerância. Ajuda muito estar centrado e sereno para desenvolver estas virtudes. Precisamos destas energias femininas, que nem nós, mulheres, temos mais.

Que tal começarmos por nós? Recebemos aquilo que doamos. As relações são uma permanente troca de energia. Por que m****r uma energia negativa de irritabilidade para alguém, criar tumulto em nossa vida e na do outro? Estragar o dia, nosso e do outro, é isto que queremos?

Vamos tentar nos ocuparmos com o que é realmente importante e deixarmos nosso imediatismo e insensibilidade de lado. Assim como achamos que merecemos consideração, o outro também merece. Sejamos então mais tolerantes, mais pacientes, a começar com nós mesmos.

Tolerância

Depois de falar da paciência, trago agora outra virtude, sua amiga-irmã, tolerância. Sim, porque ambas são grandes virtudes, infelizmente perdidas no tempo. Mesmo assim muita gente ainda prega a tolerância, e temos visto isto acontecer muito em relação ao preconceito. Mas não ter preconceito não é ser tolerante. Não ter preconceito é aceitar, e não, tolerar. Mesmo que não sejamos, sintamos ou pensemos como o outro, nós o aceitamos, isto é não ter preconceito.

Tolerar requer um esforço maior do que aceitar. Tolerar é exatamente não aceitar, não concordar, mas apesar disto, respeitar. Respeitar o ponto de vista do outro, a forma dele agir, a forma dele ser, mesmo que não concordemos com ela. E assim como temos direito a nossa própria individualidade – onde estão contidos nossos pensamentos, sentimentos, ações e personalidade – o outro também tem direito a ela.

É claro que quando há um choque de valores a questão fica muito mais delicada, e realmente é quase impossível a tolerância. Mas se pararmos para pensar bem, veremos que sempre há motivos, justificativas, e pontos de vistas que devem ser respeitados.

Saindo desta questão delicada que é o choque de valores, vejo hoje em dia a intolerância atuar em coisas pequenas, como por exemplo, em relação à diferença de opiniões. Aceitar o outro, a diferença, é no mínimo tolerar que ele tenha opiniões diferentes da nossa. E é neste momento que a arrogância se instala, fruto de um egocentrismo muitas vezes imperceptível para a própria pessoa. Isto acontece quando ela nega a veracidade e opinião genuína do outro só porque não é igual a sua, muitas vezes, negando o outro, renegando-o ao esquecimento ou brigando com ele.

A maioria das crianças é egocêntrica, não de uma forma vil ou perversa, mas porque faz parte de seu processo de amadurecimento e construção da personalidade. A criança sente o mundo girando em torno de si por uma inocência. Agora, adultos agindo como crianças demonstram o quanto de lacunas ainda não preenchidas existem neles ao não conseguirem tolerar uma opinião diferente. Sentem a divergência como uma afronta a eles, como algo extremamente pessoal. Tudo isso fruto de seu egocentrismo ou complexos mal resolvidos, enquanto o outro estava apenas se expressando.

É claro que ninguém quer desrespeito, e isto ninguém pode tolerar, pois o desrespeito já é uma falta de tolerância do outro para conosco. Ninguém também deve tolerar maus tratos.  Mas quando não há maldade, quando o que há é apenas o direito do outro de ser e se expressar, devemos sim, se não o compreendermos ou aceita-lo, pelo menos, tolerar.

Muitas relações são desfeitas pela intolerância, muitos grupos acabam pela falta da tolerância, muito é perdido pela falta desta virtude tão importante e sábia, pois é ela que permite a convivência harmoniosa das diferenças.

 

Caminhos

Os caminhos podem ser muitos na vida. Mas também existem pessoas que percorrem apenas um caminho a vida inteira. Se for o verdadeiro caminho dessas pessoas, ele é o suficiente para fazê-las crescer, evoluir, ser feliz.

Existem vários tipos de caminhos. Desde caminhos profissionais até caminhos espirituais. Muitas vezes trilhamos vários caminhos durante nossa jornada, dos mais variados. Outras vezes não, contentamo-nos com poucos.

O importante é que a maioria dos caminhos é válida. Pois as pessoas são diferentes, têm naturezas diversas, energias distintas, destinos próprios. Um caminho espiritual, por exemplo, pode ser maravilhoso para um, mas não servir para outro. Assim como existem vários caminhos profissionais ou de estilo de vida que são válidos, assim também é na esfera da espiritualidade. É como o ditado: "Todos os caminhos levam a Roma". É claro que há caminhos que não levam, mas não estou falando desses.

Há pessoas que não seguem um caminho espiritual, mas isto já é um caminho. Ser ateu, por exemplo, é um caminho, que também deve ser respeitado. De maneira alguma ser ateu quer dizer que a pessoa não seja do bem, não tenha bons sentimentos. Muitas vezes pode até ser alguém que está num momento mais evoluído do que outros que seguem alguma religião. E estes, exatamente por isto, podem achar que têm mais conhecimento, que são seres iluminados, não percebendo os seus egos inflados e seus pré-julgamentos. Não que a religião faça isto. Mas é a própria pessoa que, muitas vezes, sem perceber, a usa para exaltar o seu ego, e muitas vezes, também, para controlar o outro.  Além de que religião não é a mesma coisa que espiritualidade. Esta última é mais interna e pessoal, ao mesmo tempo em que é mais abrangente, e independe de religião.

Respeitar o caminho do próximo, sua escolha e não julgar é muito, muito difícil. Porém, devemos tentar se queremos mesmo crescer como seres humanos. Todos nós julgamos, o ateu, o católico, o umbandista, o kardecista, o budista, o pagão, o mago, o cabalista, o evangélico, o bruxo, desculpe se esqueci de você, mas você também julga. Claro que não podemos generalizar, mas falo da maioria, inclusive de mim – poderia até  me justificar, mas não vou fazer isto, pois sempre temos uma justificativa para os nossos erros.

Sabe por que julgamos? Porque não entendemos alguém que pensa diferente de nós. Por exemplo, se somos artistas, julgamos os “engravatados”, que por sua vez nos julgam. E todos esquecem que cada um tem sua função importante na sociedade, neste mundo; que um é importante para o outro, mesmo que não se identifiquem. E é aí que está o pulo do gato: APRENDER A CONVIVER COM AS DIFERENÇAS. Acho que esta é a chave para a grande evolução. E quem sabe, ao se permitir conhecer o outro, não encontraremos grandes afinidades, independente do papel social que aquela pessoa personifica? Ou talvez, exatamente por ela ser tão diferente, ela não vai nos descortinar um mundo novo, cheio de novas e interessantes descobertas e possibilidades?

Permanecer fiel às nossas escolhas é muito importante, mas precisamos aprender a respeitar a escolha do outro também. Precisamos entender que cada um sabe de si, ou pelo menos deveria. O que é bom para nós não é necessariamente bom para o outro e vice-versa. Isso não impede a troca, mas o outro precisa querer esta troca. Ele não está errado se ele não quiser. Ele tem o tempo dele, ele tem o seu próprio universo.

Acredito que a melhor forma de colocar em prática a nossa espiritualidade é olharmos para nós mesmos e, a partir daí, fazermos nossas próprias escolhas, sem nos deixarmos influenciar, sem nos deixarmos pressionar, mas sabendo respeitar também a escolha do outro.

Meu caminho

Meu caminho, muitas vezes, é feito de versos imperfeitos

No entanto, se misturam curvas e retas na medida certa.

Percorro meu caminho com total convicção do momento presente

Nem sempre foi assim...

Erros, acertos, dúvidas, sonhos.

Ideais, confusões, certezas, incertezas...

Tudo isto é o meu caminho.

Vultos incertos, nuvens escuras, frias tempestades

Nunca foram maior do que a luz que o ilumina.

Trilhá-lo é um prazer, um desafio, uma canção

Chegar a algum lugar é apenas uma parte desta aventura

O que importa é caminhar,

Caminhar, caminhar...

O sentido do sacrifício

Nunca gostei do sentido usual da palavra sacrifício. Bem longe do seu significado original – sacro ofício, ofício (trabalho) sagrado – eu não acredito nesta palavra como é utilizada atualmente.

Quantas vezes não ouvimos frases como: “Ah, é preciso sacrifícios na vida!” “Fulano é tão bom! O quanto ele se sacrificou…” Acho o sentido desta palavra hoje em dia extremamente hipócrita.

Por mais que um ser humano se sacrifique por algo ou alguém, ele recebe algo de bom para si, nem que seja a satisfação que sente ao proporcionar felicidade para alguém. Então, não foi tanto sacrifício assim, no sentido usual da palavra. Não foi um sacrifício desinteressado, extremamente altruísta.

Quando não há nenhum tipo de ganho, e nestas ocasiões o sacrifício é feito por obrigação ou imposição familiar, social ou cultural, cedo ou tarde a pessoa vai reclamar por ele. Quantas vezes não já ouvimos? “Ah, mas eu fiz tanto sacrifício por você…”

Então, não devemos fazer sacrifícios? Bom, acho que devemos fazer escolhas, tomar decisões, saber quando abrir mão de algo, de uma forma sincera e consciente, mas tirando o significado pesado que foi atribuído,  erroneamente, a esta palavra.

 Agora, se quisermos, nós podemos trabalhar com a palavra sacrifício em seu sentido correto e original. E acredito que tudo o que fazemos, remunerado ou não, pode ser um ofício sagrado, contanto que façamos com amor, dedicação, verdade, um bom propósito, e que vá ser útil a alguém.

 Provavelmente há muitas maneiras de exercer o sacro ofício. Por exemplo, eu estava falando com uma amiga sobre dois tipos de trabalho que percebo para a evolução espiritual. Classifiquei-os em trabalho leonino e aquariano. O primeiro, o leonino, trabalha do indivíduo para o coletivo. Aqui há um trabalho individual, cada ser se trabalhando, se autoconhecendo para evoluir. Todos juntos evoluídos formam um grupo evoluído.

 O trabalho aquariano vai do coletivo para o indivíduo. É aquele que trabalha direto na conscientização das massas, afetando um grupo grande de pessoas que vão trazendo aquela conscientização adquirida para as suas individualidades.

 Não existe uma forma de trabalho melhor que a outra, e muito menos só estas. E os outros signos como ficam? Brincadeiras à parte, todas as maneiras de trabalho são válidas, desde que se saiba qual é aquela que nos pertence.

 Muitas pessoas, por exemplo, espremem seu tempo para poderem fazer um trabalho voluntário. Mas se dentro desse contexto algo importante fica capenga por conta disso – como um filho pequeno que precisa de mais atenção da mãe – acho que de nada vale este voluntariado, e ele perde o seu sentido sagrado.

Lembro-me de um livro que li da ocultista inglesa Dion Fortune, onde ela dizia que dentro da senda espiritual se a pessoa tem uma família para cuidar e ela deixa de lado para investir na sua “evolução” espiritual, de nada isto adianta. Com certeza! Não dá para trabalhar com dois pesos e duas medidas, a energia é uma só!

Quantas pessoas não estão inflando seus egos com seus trabalhos voluntários porque está na moda, ou porque é bem visto, em vez de estarem comprometidas com este ato por terem uma preocupação verdadeira e consciente? Não faz muito tempo, conversando com uma amiga que estava fazendo um curso de marketing digital pela internet direcionado à sua profissão, ela confessou-me que uma das coisas ensinadas era que deveriam fazer trabalho voluntário e divulga-lo porque aquilo era bem visto. Não foi nem por uma questão de exercer a Lei da Doação, uma das Leis Universais, que deve ser praticada genuinamente, com alegria, e não como barganha. Fiquei pasma!

Uma sociedade é formada de indivíduos que formam famílias, que formam a sociedade. Não podemos nos esquecer da base, do micro, e querer partir para o macro de uma vez. Agora, se você tem tempo, disposição interna, se não vai deixar nada  realmente importante na sua vida ficar capenga, você pode sim, exercer o sacro ofício também de uma forma mais ampla. Mas lembre-se, isto precisa ser verdadeiro e, como alguém disse há mais de dois mil anos atrás, não há necessidade de sua mão esquerda saber o que a direita faz.

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