CAPÍTULO 4: VINGANÇA

Damian entrou na casa da mãe como um furacão, gritando e derrubando tudo o que via pela frente, subiu o primeiro lance de escadas chamando Mina a plenos pulmões.

-Mas o que é isso!? O que foi que aconteceu? - Mina apareceu com uma taça de sangue pela metade, usando uma camisola fina e um penhoar por cima.

-Você deu a ordem para a retaliação Mina? - Ele parou transformado, seus grandes dentes brilhando na luz indireta das paredes da escada.

-Ordem para que? O que houve?

-Para retaliar as lobas que atacaram nosso pessoal!

-É claro que não, você disse que resolveria, eu não gastei energias com nada do que deixei para você, meu filho, por que essa raiva toda afinal? - Ela era esperta, muito mais do que se imaginava.

-Porque o combinado era que eu resolveria, e pensei que você havia me desautorizado, me desculpe a explosão.

-O que aconteceu? Markos retaliou sem autorização?

-Acredito que sim, vou me inteirar de tudo, volte ao que estava fazendo, sinto muito por lhe interromper.

-Eu vou com você.

-Não mãe! Eu preciso demonstrar autoridade, me deixa resolver essa.

-Tudo bem, mas me mantenha informada. - O olhou como se enxergasse sua alma, ele acenou e saiu depressa da casa. Mina apenas subiu novamente as escadas, pegou seu celular e fez algumas ligações, queria saber os motivos de toda aquela raiva.

Damian, saiu dali e ligou para Minerva, pedindo que o encontrasse no grande armazém onde as drogas eram distribuídas para toda a cidade, e arredores. Estava em seu carro esperando, Minerva se aproximou com mais três vampiras, mandou que guardassem o carro e entrou.

-Fiquei sabendo da morte de Markos, o que vamos fazer?

-Vamos entrar ali e destroçar quem mais soubesse dessa retaliação, depois apresentaremos as cabeças para Lucius, e então me caso com Constança.

Ela o olhou chocada, ele ia sair do carro mas o segurou pelo braço e respirou fundo antes de falar.

-Dam, o que você está fazendo? Vai matar nosso pessoal?

-Não, eu vou matar funcionários desobedientes, que armaram uma emboscada contra nossos principais fornecedores de armas, sem que soubéssemos disso. Eles tem que aprender uma lição, e eu tenho que fechar um acordo com Lucius. - Piscou um olho para ela e saiu do carro, parando com uma expressão impaciente. - Você vem, ou está esperando um convite especial?

Ela desceu do carro e fez sinal para que as seguranças os acompanhassem, depois segurou ele pelo braço falando baixo.

-Se você acabar com nossos negócios por causa de uma loba boa de cama, sua mãe vai acabar com você, entendeu?

-Ela não é uma loba qualquer, é uma alfa de sangue real, e será a esposa do dragão, por isso, mais respeito ao falar dela. - Ele a olhou erguendo o queixo e andou na direção das portas de aço do armazém.

Minerva andou ao seu lado quieta, repetindo internamente que ele era um garoto mimado e maluco, mas jamais o abandonaria.

Damian entrou sério e andou até o meio do grande espaço reservado ao carregamento das drogas, de todos os tipos, nos caminhões de sorvete, carne e cosméticos, onde passariam , incógnitas, por barreiras policiais e chegariam aos viciados da cidade. Encarou o encarregado, que veio rápido em sua direção, sorrindo e esticando uma mão pequena e fria.

-Senhor, que honra recebê-lo aqui!

-Augusto, é um prazer vê-lo. - Sorriu apertando a mão dele e olhou em volta mais uma vez. - Preciso da atenção de todos, por favor! Como sabemos, essa noite foi tragica, com atentados e mortes, muitas mais do que gostariamos. Quero informações sobre os planos de Markos e seu pessoal, quem mais estava ciente da ação desta noite? - Seu tom era tranquilo, poderia significar tanto que cumprimentaria os demais envolvidos, quanto que os culparia pela incompetência na ação.

-Senhor, eu não sabia, infelizmente. Ou teria enviado mais homens com ele, acredito que subestimaram a fúria da loba, soube que ela é muito competente, e forte. - Augusto parecia triste, Markos era seu amigo pessoal. - Mas aparentemente, além de Makos e seu pessoal, que está morto, apenas Edmund sabia dos planos.

-E ele está aqui? - Damian olhou em volta, avistou Edmund caminhando em sua direção, com expressão triste. - Por favor, venha até aqui meu caro!

-Senhor, uma honra vê-lo, lamento muito por essa noite. Markos não quis avisar ninguém, me disse que precisava de armas com munição de prata, que eu deveria manter segredo, pois ele preparava uma surpresa para o senhor e sua mãe.

-E foi você quem forneceu a munição adequada para esse ataque?

-Sim senhor, às preparei pessoalmente, adaptando para as armas que seriam usadas nessa noite. - Edmund sorriu. - Soube que a tal loba foi gravemente ferida.

-E quem mais o ajudou na confecção das munições?

-Apenas eu senhor, não confiei em mais ninguém para realizar este serviço.

-Então, fora Markos e seus homens, apenas você sabia do atentado?

-Sim senhor.

Damian sorriu, se pareceu com o pai quando fez isso, o sorriso do guerreiro sanguinário pouco antes de acabar com um inimigo. Foi apenas um segundo, e Edmund não compreendeu o perigo que corria. Sua cabeça foi arrancada pelo vampiro completamente transformado, que a apresentou para a audiência boquiaberta.

-Isso meus caros, é o que acontecerá com quem tomar atitudes temerárias e quem esconder este tipo de retaliação contra quem quer que seja, eu sou o senhor de vocês, eu comando esse negócio, não serão mais admitidos vampiros independentes em nossa organização! Eu fui claro? - Todos acenaram concordando, ele atirou a cabeça no chão e limpou as mãos em um pano que retirou das mãos de um dos mecânicos, pegou papel e caneta, escreveu um bilhete e entregou para Minerva. - Mande suas meninas entregarem para Lucius, com os cumprimentos de Damian Dracul.

Saiu dali e foi procurar Constança, sabia da existência de um hospital onde lobos feridos eram tratados, mas não sabia sua localização exata. Quando estacionou na frente de uma das lojas de armas de propriedade dos lobos, a parte legalizada do negócio deles, entrou já com as mãos para cima, apesar de conhecer o "proprietário", imaginou que sua cabeça estivesse a prêmio.

-Eu vim em paz, não será necessário ataques ou armas empunhadas. Se fosse mesmo o mandante do atentado, não estaria aqui sozinho, e desarmado. - Sorriu tranquilamente e caminhou até o fundo da loja, parando em frente a Silas, que fazia as vezes de dono da loja, e segurava uma arma calibre .12 com destreza. A loja estava vazia. - Precisamos falar, meu amigo.

-Não acredito que possamos nos chamar assim, e apenas o fato de já termos nos dado bem no passado, me impediu de atirar em você agora Damian. Pois a ordem é para arrancar a cabeça do primeiro vampiro que eu visse. 

-Não faça isso, me ouça primeiro, preciso de informações, e em breve seu chefe retirará as ordens. Eu dou minha palavra de que não sabíamos do ataque, foram atos isolados e minha maior frustração foi o fato de que Constança já matou Markos, pois minha intenção era destruí-lo pessoalmente.

-Você sabe quem ela é? Sabe que é uma alfa importante? Que todos gostamos dela, e que estamos loucos para nossa vingança se realizar logo?

-Eu partilho de todos esses sentimentos, diria que são até mais fortes do que os seus. Me diga onde ela está, quero enviar flores, prestar meus respeitos.

-Não vai acontecer Damian, você não saberá onde ela está, mesmo que quisesse lhe dizer, e acredite eu não quero, se dissesse eles me trucidariam. Lucius a ama, você sabia? Eu se fosse você não estaria andando pelas ruas dessa forma, sem seguranças, se ele te encontrar você já era!

-Ele se casará com a irmã dela, sei que deve considerá-la como da família, mas ele entenderá que não quero fazer mal a ela.

-Não, ele a considera a mulher de sua vida. - Sorriu dando de ombros. - Vai casar com a irmã porque é sua obrigação, mas jamais admitiria que alguém fizesse mal para Constança, isso foi um erro do seu pessoal.

-De fato, foi um erro, e neste momento Lucius está recebendo a cabeça do último de meus homens que sabia do atentado, os demais foram mortos pelas lobas. Este eu fiz questão de matar, para provar minhas intenções. Agora me diga, onde ela está?

Silas o olhou apertando os olhos, não era possível, mas ao que tudo indicava, o chefe dos dragões ficara com ciúmes, e estava mesmo interessado em Constança.

-Eu lamento, não posso dizer.

-Que pena, acho que vou ter que descobrir da maneira difícil. - Arrancou a arma da mão dele e sacou a sua de trás do casaco, atirou na perna do lobo e suspirou. - Agora me diga, onde devo levá-lo para que receba atendimento, meu amigo.

Constança dormia tranquila quando ouviu o som baixo perto dela, não abriu os olhos, apenas segurou a arma que estava embaixo das cobertas, e quando o som pareceu mais próximo, a encostou no responsável por produzi-lo.

-Seus reflexos são incríveis como você! - Damian sorria admirado. - Como se sente? - Se aproximou, mas ela engatilhou a arma, ele ergueu os braços. - Eu queria saber como você estava, trouxe café.

-Como você encontrou o hospital?

-Digamos que eu estava desesperado, acabei tomando algumas atitudes condenáveis, mas nada é demais ao se tratar de você.

-Eu estou bem, você precisa ir embora. - A arma ainda apontava para a cabeça dele.

Ele caminhou mais em sua direção, ainda com as mãos erguidas, sorria, e a olhava dentro dos olhos.

-Eu juro que vou atirar em você! Vai embora!

-Não, eu vou ficar, fazer companhia para você, se quiser, pode atirar em mim. Mas esta será a única forma de me tirar de perto de você.

-Mas quem você pensa que é afinal? Não pode forçar sua presença dessa forma! Não pode agir como se pudesse falar e fazer essas coisas! 

-Tudo bem, eu quero apenas saber como você está, vou parar de ser babaca. - Ele ficou sério e se afastou, puxou a cadeira para trás e sentou. - Eu pensei que você havia morrido, eu fiquei… Me desculpe se pareci forçar, mas precisava vê-la.

-Você já viu, eu estou bem, viva e me recuperando.

-Você precisa acreditar em mim, não tive nada a ver com isso. Jamais faria mal a você!

-Eu sei, já entendi que foi um ato de vingança isolado, a situação foi controlada. Lucius também entendeu, ele vai resolver isso com você.

-Por que afinal você trabalha para ele, e não o contrário?

-Como é?

-Você é uma Alfa de sangue nobre, uma das herdeiras de Lisbeth afinal de contas! Por que trabalha para ele?

Ela não respondeu, se limitou a arregalar os olhos e ficou sem respirar por alguns segundos.

-Você pensou que eu não sabia? - Ele riu acenando. - Descobri depois de nossa noite de loucuras.

-Qual a jogada? - Ele a olhou curioso e ela continuou, sentando na cama com uma expressão de dor. - O que você pretende com esse comportamento comigo? É uma vingança porque eu o recusei? Está tentando algo que me obrigue novamente ao que não quero fazer? Porque meu caro, você não será bem sucedido, se minha mãe não me convenceu a cumprir este papel sexista e antiquado, não será você com suas jogadas, quem o fará.

-E se eu quiser, em primeiro lugar, agradecer a você por ter tido a coragem de recusar o acordo, e depois… - Sorriu dando de ombros. - Conquistar você.

-Eu aceito os agradecimentos, não tem de que. Quanto a me conquistar, não vai ser bem sucedido.

-Por que? O Lucius chegou na frente e agora você o amará para sempre? - Fez uma cara de nojo, mais raiva do que queria deixar transparecer.

-Não, Lucius será meu cunhado, muito em breve. Namoramos apenas para que eu pudesse fugir de minhas obrigações com sua família. Agora sou adulta, direi apenas que não, o assunto será encerrado.

-E se eu não quiser encerrar ele? 

-Se eu realmente me casasse com você, por alguma jogada que fizesse, me obrigando a isso, te mataria na primeira noite.

-Não, você não mataria. - Levantou e segurou sua mão, ela tentou puxar mas ele a beijou aspirando o perfume. - Não farei nada para obrigar você, lhe dou minha palavra. Mas você deve admitir, nos demos muito bem em nossos dois encontros, por que seria tão ruim que ficássemos juntos?

-De minha parte, seria ótimo te encontrar e me divertir de vez em quando, mas apenas isso. Sem casamentos e compromissos, não abriria mão de nada para viver ao lado de um dragão meu bem.

-Feito! Serei seu amante então, por mim tudo bem.

-Você não entendeu, não seremos namorados, não teremos compromissos. Você compreende o que estou falando?

-Sim, podemos nos ver algumas vezes por semana, na minha casa ou na sua, ou naquele banheiro inesquecível do café. 

-Damian, você não conseguirá me convencer de nada, eu não serei…

-Minha esposa, eu entendi, já disse que aceito. Você quer que assine um contrato?

Ela o olhou de lado, erguendo o queixo e analisando as intenções dele. Não estava convencida de que ele havia compreendido o que disse.

Ele lhe deu um beijo demorado, cochichando em seu ouvido, antes de se afastar.

-Você ainda não entendeu, quero você de qualquer forma, se for apenas às vezes, tudo bem, contanto que você seja só minha, enquanto estivermos juntos. - Se afastou e entregou o café para ela. - Dessa vez prometo não interromper você e levá-la para o banheiro. Agora me diga, por que trabalha para um lobo inferior a você?

-Porque, devido a minha recusa em aceitar o compromisso, minha mãe e irmãs me baniram da administração, dos negócios e da família. Quando minha irmã assumiu depois… - deu de ombros. - Uma das condições de sua mãe para não entrar em guerra foi que eu não fosse mais considerada um membro da família real, eu deveria apenas existir, e isso já seria bondade demais da senhora Mina Dracul.

-Lamento, eu não sabia.

-Não lamente, eu detestava a pompa e seriedade. Gosto muito do que faço, porque faço apenas o que quero, essa foi minha conquista, apesar de ser banida da família, sou livre. E acredite, sou ótima em meu trabalho, devo ele a Lucius é claro, foi ele quem brigou com minha irmã para me integrar em sua equipe, quando assumiu eu virei uma de suas subordinadas, tenho minha própria equipe e bastante autonomia em meu trabalho.

-Ele é mesmo uma coisa! - Revirou os olhos e mostrou os dentes.

-Você não entendeu ainda que esse tipo de comportamento prova meu ponto, você não vai saber lidar com o que eu propus.

-Absolutamente! Sinto muito por minha demonstração de ciúmes, estou em desconstrução. - Sorriu como se desculpando. - Mas ouvi de um lobo hoje que ele a ama, e isso não sai de minha cabeça.

-Não, ele não ama. Se amasse, não teria insistido para que eu fosse encontrar você, ele me disse que eu não deveria mais atrapalhar as relações diplomáticas, que você me queria naquele café, e eu deveria ir. Ele é um amigo, um bom amigo apesar de às vezes nos odiarmos. Mas nos conhecemos desde criança, não é amor romântico, mas é amor, amizade.

Ele acenou como se acreditasse, em seu íntimo, não estava convencido. Talvez ela não amasse ninguém, mas Lucius não parecia partilhar dessa amizade sincera e sem desejo a que se referia. Seu celular tocou e ele atendeu quando viu ser Mina.

-Onde você está?

-Ocupado, o que houve?

-Venha agora, precisamos falar.

-Estou indo. - Desligou e olhou Constança levantando e andando em sua direção. - Preciso ir, posso vir amanhã? Ou isso já seria intimidade demais?

-Acho que não seria, mas já vou para casa amanhã, e minhas irmãs vão chegar, provavelmente querendo organizar tudo para o casamento, talvez eu precise ajudar.

-Você não foi banida?

-Da realeza e da administração, não de minhas funções como irmã de uma noiva.

Ele arregalou os olhos sorrindo e concordando. Lhe beijou e mordeu o lábio quando se afastou. Saindo apressado logo depois.

Lucius recebeu o “presente” de Damian assim que chegou em casa, a cabeça de Edmund veio em uma caixa de madeira trabalhada com dragões, o símbolo da casa Dracul, e um bilhete de próprio punho, do senhor deles.

“Lucius, aceite essa oferta de paz, jamais admitiria que alguém atacasse seu pessoal por um erro que, no final das contas, havia sido nosso. No caso específico de Constança, isso seria ainda mais impossível, ela será vingada, verifiquei que este era o único de meus homens a saber do atentado que ainda restava vivo. Se não acreditar em mim, pode proceder com suas próprias investigações, e terá total cooperação de minha parte. 

Espero em breve sua resposta com data e local para nos vermos e acertarmos o futuro de uma parceria que pode ser duradoura e cheia de frutos.

Seu amigo, 

Damian Dracul I.”

Lucius amassou o bilhete e o jogou sobre a mesa, controlou sua raiva fechando os olhos e respirando fundo. Já sabia as condições que ele imporia para a tal parceria, Constança estaria entre a barganha, disso tinha certeza. Seu desespero para saber sobre ela não passara despercebido. Ligou para ela, precisava alertar, pensar em um plano.

-Chefe?

-Como você está?

-Bem, não se preocupe. O que foi?

-Damian me enviou um presente. Uma cabeça de um vampiro que provavelmente estava envolvido no atentado, falou no bilhete que enviou, sobre uma possível parceria. Ele pode não saber quem você é, mas vai querer você em alguma barganha, tenho certeza.

-Ele sabe quem eu sou, e não vai insistir em ofertas de volta a negociações de casamento, não se preocupa.

-Ele falou sobre isso com você? Quando?

-Quando veio aqui me visitar, saiu há pouco. Ouça, marque uma reunião e se encontre com ele, vocês dois apenas. Sem Mina e sem minhas irmãs, resolvam tudo, diga que se ele insistir, eu aceitarei a oferta de trabalho com os demônios, ameacei e estou inclinada a fazer isso se insistirem em casamentos.

-Você recebeu mesmo uma oferta do Eduardo? Para roubar bancos! Qual é, Constança?

-Não do Eduardo, do chefe dele. Não acho que vá roubar bancos se aceitar.

-Você está pensando em aceitar?

-Não! Mas claro que não! Acontece que prefiro até isso, ser segurança do Diabo, a casar por obrigação e abrir mão de quem sou. Você me entendeu, Lucius? Em hipótese alguma isso pode passar pela sua cabeça como uma possibilidade, e se não tiver jeito, saiba que já tenho outro trabalho em vista, e que posso me afastar de nossos negócios para que não haja mais animosidades.

-Eu jamais permitiria que um acordo como esse fosse em frente! Você não vai casar e não vai precisar trabalhar para ninguém! Muito menos para ele, o que é isso Connie! Ele é perigoso, mau!

-Tudo bem, marque o encontro e ouça o que ele tem para falar, leve você também uma proposta. 

-Tudo bem, amanhã pela manhã estarei aí.

-Não, amanhã você ficará lindo para aguardar sua noiva, não quero você aqui.

-Mas eu…

-Não Lucius! - Desligou o telefone e escorou a cabeça nos travesseiros, queria dormir, se ao menos parassem de ligar e entrar e perturbar ela. Era uma mulher convalescendo afinal!

Mina teve sua noite de descanso interrompida, seu recente orgulho do filho assumindo os negócios se mostrou apenas uma jogada para conquistar uma mulher que, afinal de contas, o havia rejeitado, mas não somente a ele. Todo o clã, havia sido achincalhado por uma loba irresponsável e sem compromisso, foram subestimados na época, e agora eram mais uma vez feitos de bobo por uma maldita licantropa.

Descobriu tudo em pouquíssimo tempo, não era a poderosa chefe dos dragões à toa. Com algumas ligações ela soube da noite de bebedeira do filho, do encontro dele em um café com a tal Constança, aquela que o tinha rejeitado, e que recentemente atacara seus homens, depois o atentado e então, o desespero do filho para encontrar os responsáveis pelo ataque que ela sofrera. Imaginava as intenções dele, mas não acreditava que conseguiria se unir a ela, principalmente agora, que não possuía mais o status de herdeira, era uma simples operária na linha de frente do negócio de armas dos lobos.

Ligou para o filho depois de descobrir tudo, inclusive onde ele estava naquele momento, a visitando em um hospital. Era mesmo um idiota como o pai! Romântico e descontrolado, matava muito bem, mas planejava pessimamente. Talvez não conseguisse passar os negócios para ele nunca.

O aguardava no escritório, bebia absinto em uma taça bonita de cristal, estava sentada em um sofá confortável com o celular na mão, e uma expressão de tranquilidade em seu rosto. Sabia disfarçar muito bem sua raiva e frustração com a incompetência, para se vingar, no momento oportuno.

-Mãe? - Damian entrou sem bater, caminhou até ela e lhe beijou a testa como sempre fazia. - Michael me disse que você estaria aqui, quais as novidades?

-Me diga você, ficou responsável pela resolução deste problema. O que aconteceu?

-Resolvi de fato, enviei para Lucius um pedido de trégua e aguardo ele marcar uma reunião. Tudo se acertará.

-Você sabe quem é a loba ferida?

Ele a olhou por algum tempo, se mentisse, corria o risco de que ela já soubesse, e Mina detestava mentiras. Se dissesse a verdade, ela ficaria irritada, poderia retaliar Constança.

-Constança, a alfa filha mais nova de Lisbeth. 

-Você sabe quem ela é, em nossa vida? 

-Eu sei que ela recusou o casamento comigo, mesmo sem me conhecer, por isso não fico muito ofendido, você sabe, também não queria um casamento arranjado.

-E o que mudou agora? - Ele a olhou sem entender. - Para que vocês finalmente se conhecessem e dormissem juntos, e para que você armasse uma comédia para esconder o fato de que está envolvido com uma traidora que humilhou nossa família. - Ela falava com tranquilidade, mas seus olhos pareciam querer incendiar o filho. Precisava se manter no papel que lhe fora destinado.

-Mãe, não é bem assim…

-Você é igual a seu pai. Languido e sentimental, levou uma chave de pernas e esqueceu quem ela é, o que ela fez! Isso é trair sua família Damian, trair os Dracul! Fique ciente, eu não aprovarei um casamento entre vocês agora que ela é uma ninguém, sem absolutamente nenhuma serventia em um acordo de casamento.

-Que bom, porque não vamos nos casar. Eu não traí você, ou a família. Dormi com ela, gostei, depois descobri quem era. Ela continua contra a ideia de casar com um dragão, se esse é seu medo, desfaça-se dele. E não esqueça de que ela foi banida da família por sua causa! Sua exigência!

-Mesmo sendo uma ninguém, ela ainda não quer se casar com você? Por que?

-Porque é livre, poderosa mesmo sem ter a família por trás a amparando, ela é apenas uma mulher livre. Você gostaria dela, se tivesse oportunidade de conhecê-la. Não é comigo que ela não quer casar Mina, é com meu nome, com quem sou. 

-Ela disse isso?

-Não, ela só disse que não aceitaria um casamento por obrigação. Mas me quer, isso não pode negar.

-O que você vai negociar com Lucius?

-Tenho algumas ideias, mas prefiro planejar tudo antes. - Pareceu conformado. - Você não confia em mim, me sinto ofendido. 

-Pobre de você! Eu não confio quando não se é digno de confiança, você deveria ter me dito, ter se afastado dela. Ao contrário, foi visitá-la no hospital, fez loucuras para chegar lá. Talvez ela não o queira realmente, mas você a quer, e isso é perigoso meu filho.

-Posso ser honesto? Como nunca fui?

- Por favor!

-Eu jamais quis me casar, tinha pesadelos com o horror que me esperava sendo marido de uma maldita licantropa. Os filhos que teríamos era…. Era desesperador mãe. O dia mais feliz da minha vida foi quando ela fugiu para um final de semana de loucuras com o namoradinho, o final de semana de nosso noivado. Me lembro de pensar, que gostaria de ser amigo dessa menina corajosa e maluca! Me senti um frouxo, ela teve mais coragem do que eu, o filho do dragão! - Riu fazendo uma careta. - Agora que a conheci melhor, sei que ela seria a melhor esposa que eu poderia ter, mas ela segue sem querer casar, e eu aceito. Porque apenas compartilhar alguns momentos com esse espírito livre é o suficiente para mim, poderei aprender muito com ela, e a forma como leva sua vida. Mas quanto a casamentos e todo o resto dos compromissos que você tem medo que eu assuma, não se preocupe. Isso não vai acontecer.

Ela o olhou falar com uma expressão tranquila, jamais vira o filho daquele jeito. Algumas ideias começaram a pipocar em sua mente esperta e cheia de truques, mas ela não diria ainda, não faria nada. Apenas observaria os resultados dos próximos passos dele.

-Bem, eu passei o comando para você, se o fiz, devo confiar em sua inteligência. Faça o acordo com Lucius, mas lembre-se, ser quem você é, não lhe dá o direito de agir por impulsos, de descumprir compromissos, ao contrário. Quando se comprometer com algo, seja com Lucius ou com qualquer outro ou outra, deve se lembrar que a palavra de um Dragão é algo sério, não podemos voltar atrás depois de dá-la. 

-Eu sei, e jamais descumpriria um acordo, ou mentiria ao dar minha palavra. - Levantou e foi embora, depois de acenar com a cabeça para ela. Não confiava que a mãe ficaria mesmo de fora, mas não exigiria muito em seu acordo, apenas o essencial.

Mina sorriu pensando no quanto ele de fato gostaria de conviver com Constança, era exatamente como o pai, atraído por lobas poderosas. Suspirou e fez mais ligações, precisava se prevenir, prevenir todos do que provavelmente viria, depois que Damian iniciasse sua corte a licantropa.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo