CAPÍTULO 2: O CELULAR

Damian abriu os olhos lentamente, o toque do telefone parecia desconhecido, uma música antiga sobre um psicopata assassino tocava baixo. Praguejou e esticou o braço pálido para fora das pesadas cobertas, sua cabeça ia explodir, tinha certeza. Tateou a mesa de cabeceira e atendeu.

-O que!? - A voz sonolenta e irritada.

-Constança? 

-Damian, o que você quer?

-Este telefone não pertence a você, onde está a Constança? - A voz irritada parecia ameaçadora.

-Você é o marido dela? - Um sorriso debochado, o dia começava em 220 volts.

-Sou o chefe, onde ela está? Passe o telefone para ela agora!

Damian olhou em volta, encontrou um sutiã sobre a cama e pegou ele na mão.

-Ela não está, acho que foi embora… Deve ter levado meu telefone, você pode ligar para ele e... sabe, você entendeu.

-Como é seu nome? - Mais irritação na voz, uma raiva intimidadora.

-Damian Dracul, por favor, refreie seus instintos assassinos, seja lá quem for, não é saudável.

-Damian? É Lucius, caramba!

-Lucius meu caro! Quanto tempo? E que mundo minúsculo! - Riu e deitou de barriga para cima, com o celular em uma mão, e o sutiã em outra.

-E não é? Bem, vou avisá-la e enviar alguém para fazer a troca. Desculpe se o acordei, mas tenho alguns assuntos urgentes para tratar com ela.

-Eis o que você vai fazer meu amigo, como um favor pessoal para mim. - Damian falava com calma, mas animado. - Diga a ela para ir pessoalmente, no café da rua 15, e faremos a troca.

-Receio que isso será impossível, ela precisa terminar uma missão para mim e…

-Tenho certeza, meu caro, que você entende que não quero meu celular nas mãos de mais ninguém, sabe como é, estou assumindo os negócios de minha mãe, em breve, acredito que poderemos reaver as velhas relações cordiais e parcerias, mas claro, para isso Constança deve ir me encontrar no café, pessoalmente. - Falava encostando o sutiã no nariz e respirando fundo, aquele perfume era inebriante.

-É claro, avisarei para ela com certeza.

-Você é o melhor Lucius! - Desligou e sorriu olhando o teto, lembrando flashes incríveis da noite anterior, o perfume, os gemidos e o pescoço longo e quente.

Levantou e foi tomar um banho quente, os cabelos longos estavam revirados, lembrava das mãos longas dela os puxando, de seu corpo quente, mais quente do que a água do chuveiro. O barulho da porta sendo escancarada interrompeu suas lembranças, os passos leves de Minerva entravam no banheiro.

-Que cheiro de álcool e sexo! - Sua voz era alta e debochada, tinha cabelos coloridos e curtos repicados, baixa e com braços fortes. - E esse cheiro também parece se misturar com…. Caralho Dam, você dormiu com um lobo?

-Uma linda e quente loba, o que foi, tá com inveja? - Abriu a cortina do banheiro e pegou a toalha que ela lhe alcançava.

-Depende, ela era gostosa?

-Você não faz ideia, a melhor, mais linda e mais maluca que já conheci. - Fechou os olhos colocando a mão no peito. - Ela levou meu telefone, e agora vou destrocar, vou ver ela novamente.

-Garota esperta! Ou foi você o esperto que escondeu o telefone dela?

-Nem tudo nessa vida, minha cara Minerva, é planejado, algumas vezes você está apenas muito bêbado para raciocinar… - Pegou o telefone e mostrou para ela a foto de fundo de tela.

-Não acredito! - Minerva riu com os olhos arregalados. - Você sabe quem ela é, certo?

-Constança, a linda e sexy loba que trabalha para Lucius. Você a conhece? Fale sobre ela.

-Você não sabe… ah caralho! Garoto desligado, você sempre foi assim, lento. - Riu e deitou no divã aos pés da cama. - Ela é sua prometida, meu caro. Aquela que o rejeitou, que fugiu do compromisso, causando danos diplomáticos para as famílias. 

Ele andou pelo quarto surpreso, a boca aberta, passou as mãos nos cabelos e suspirou, finalmente sentando.

-Sempre quis conhecer ela, agradecer por tomar a atitude que eu mesmo não tive coragem de tomar. Para ser sincero, se soubesse quem era minha prometida, teria insistido mais para que cumprisse a obrigação. - Olhou para Minerva, uma ideia passava por sua cabeça, ergueu o queixo e sorriu.

-Não Damian! Não é mais uma possibilidade, sua mãe odeia ela e sua família, todos foram feitos de idiota por uma garota egoísta e sem palavra, voltar a isso seria um grande erro.

-Líderes não cometem erros, no máximo, enxergam uma estratégia melhor para atingir objetivos. Minha mãe sempre diz isso, e desde que ela é a maior líder dos Dracul 's desde a fundação das famílias, acredito que não esteja errada.

-Ela vai matar você, entendeu? Vai acabar com seus planos, não faça nenhuma merda só por uma noite de bebedeira e sexo.

Ele ia responder mas seu telefone tocou, foi até a sacada de seu quarto e atendeu sorrindo. Era ela, sua futura esposa, e mãe de seus herdeiros.

-Aguardava ansiosamente sua ligação!

Minerva o observava ainda deitada no divã, garoto maluco! Ainda ia ferrar com o futuro de todos, mas tinha esperanças na tal loba, não parecia do tipo que se casa com um dragão e abre mão de sua autonomia. 

Damian entrou no café com óculos escuros, usava um casaco de pelos falsos sobre uma camiseta e calças de couro, era uma figura bonita, estilosa. Sentou no fundo, a última mesa do canto. Sua mesa de sempre, era amigo do proprietário, um dragão que costumava prestar serviços de distribuição para os negócios, pediu um expresso e aguardou, era uma rua tranquila com poucos carros passando devagar, por isso, o ronco alto do motor, e a velocidade do grande Impala vermelho chamou atenção de todos na rua e nos comércios. 

Ela estacionou rápido, sem manobrar, e desceu olhando para os lados, séria, óculos escuros e um gorro de lã cobrindo a bagunça de seus cabelos. Entrou e procurou por ele, Damian apenas observava, era durona, parecia uma gangster, linda com seu casaco longo e seu andar felino. O viu depois de alguns segundos, e se aproximou sem expressar qualquer reação.

-Damian? - Pegou o celular dele e largou sobre a mesa, esperando o seu.

-Constança, sente-se por favor. - Sorriu tirando os óculos escuros e apontando com a mão a cadeira em frente a sua. - Vamos tomar um café.

-Eu realmente tenho pressa, vamos destrocar esses telefones e outro dia marcamos um café, pode ser?

-Não… Sente-se, por favor. - A olhou mais sério.

Ela apertou os lábios, sem disfarçar a irritação, e puxou a cadeira sentando escorada de forma desleixada, com um braço sobre a mesa. Tirou os óculos e o olhou sem sorrir.

-Seus olhos, eles são incríveis.

-Obrigada, um defeito genético na realidade, mas eu gosto deles. - Deu de ombros e se virou para o garçom. - Expresso, simples e açúcar por favor.

-Um duplo para ela, e mais um para mim, tivemos uma noite longa. - Piscou um olho para ele e sorriu para Constança. 

-Não é muito educado, e com certeza é bastante sexista, mudar meu pedido e escolher o que vou consumir. - Acendeu um cigarro e puxou um cinzeiro da mesa ao lado.

-Me desculpe, mas minhas intenções são apenas passar mais tempo com você, um expresso duplo pode provocar mais tempo de conversa.

-O que provoca mais tempo de conversa é uma boa conversa. Pode me dar meu celular, por favor? - Esticou a mão e ele a segurou, beijando a palma e respirando fundo. 

-Gosto das suas mãos, principalmente quando elas estão encostando em mim. - Sorriu e beijou as falanges dos dedos, uma por uma, enquanto falava. - Acho que foi o destino que nos provocou ontem a noite, para que nos conhecêssemos, ficássemos juntos, trocássemos os celulares.

-Talvez tenha sido apenas a grande quantidade de álcool. - Ela sentia o arrepio percorrer seu corpo a cada toque frio dele. Tentou puxar a mão mas ele a segurou firme.

Eles se olharam por um tempo, ela levantou os olhos para um ponto atrás dele, o desenho universal que indicava a porta destinada ao banheiro, olhou novamente para ele e os dois levantaram ao mesmo tempo, atiraram os corpos contra a porta e entraram a trancando, se beijavam com pressa, tiravam as roupas com violência, ele mordiscou seu pescoço e ela apertou o corpo contra o dele. 

Tudo parecia sincronizado, ele a ergueu do chão e encarou os olhos lindos dela por todo o tempo, ela puxou seus cabelos. Todos os clientes ouviram os sons vindos do banheiro minúsculo. Foi rápido, mas extremamente satisfatório. 

Ela pulou para o chão e começou a se vestir, reorganizou os cabelos e esticou a mão para ele, com o celular novamente. Ele sorriu e fez um sinal com o dedo, para que esperasse, pegou o aparelho dela e enviou uma mensagem, retirando seu telefone da mão dela com rapidez. Ela mordeu o lábio e suspirou, ele não era burro realmente.

-Apenas por garantia, vai que você apagou meu número depois de me ligar. - devolveu o celular dela e se aproximou a beijando. - O que você vai fazer à noite?

-Trabalhar, aliás, já deveria estar fazendo isso. - Lhe deu mais um beijo e tentou abrir a porta.

-E depois? - Ele a empurrou contra a porta e cheirou seu pescoço.

-Depois agente vê. - Sorriu e saiu dali apressada, deixou uma nota de 20 sobre a mesa e entrou em seu carro acelerando ruidosamente.

Damian respirou fundo, sentindo o final do perfume dela, ainda presente em suas narinas e no ar a sua volta. Saiu do banheiro e foi até a casa de sua mãe, a grande Senhora Dracul o aguardava para reuniões intermináveis com aliados, ele precisava chegar no horário, e agradar o máximo que pudesse, porque exigiria o cumprimento do antigo contrato com os Licantropos aliados, isso a deixaria furiosa.

Entrou no grande castelo escondido e tirou o casaco o pendurando no cabide de ouro do hall de entrada, retirou os óculos escuros e colocou na gola da camiseta. 

-Minha mãe? - Olhou o mordomo esnobe sorrindo amistoso.

-Em seu escritório mestre Damian, vista isso por favor, ela já o aguarda. - Segurava uma camisa preta social, sem absolutamente nenhum amassado.

Ele obedeceu tirando sua camisa e fazendo uma careta quando o mordomo franziu a testa para os arranhões em seu peito e costas.

-Não seja puritano Michael.

-Perfeitamente mestre Damian, mas esconda isso, ela não gosta de quem provoca este tipo de marcas, e não está de muito bom humor hoje.

-E quando ela está? - Riu e andou lentamente, com seus passos rebolados, até o escritório. Bateu e aguardou resposta, apenas um “entre!” distante. - Mãe, como está?

Se aproximou de Mina sorrindo, ela estava sentada atrás da grande escrivaninha, com papéis à sua frente, e uma expressão carregada. Tinha olhos muito claros, cabelos negros e a pele translúcida, era alta e magra, irradiava poder.

-Meu filho! Que bom que chegou cedo hoje. - Se deixou beijar na testa por ele e fez sinal para que sentasse em sua frente. 

-Qual o problema?

-Lobos! Que outro problema poderia ser? - Atirou uma caneta de ouro sobre a mesa e se escorou na poltrona. - Ontem uma das psicopatas que trabalham para aquele moleque, Lucius, acabou com um grupo de vendedores nossos. 

Ele pareceu afundar na cadeira, lembrou dos roxos espalhados pelo corpo de Constança e fechou os olhos um momento, não poderia ser, apenas não poderia.

-Mas há uma explicação para isso?

-Deve haver, quer dizer, eles foram provocados, sei disso. Houve um incidente com o último carregamento, nosso pessoal disse que faltavam algumas caixas com munição, os lobos afirmaram que era mentira, e estavam certos, um dos nossos as roubou. Ele já foi castigado evidentemente, mas a tal garota resolveu retaliar mesmo assim, disse que ninguém chamaria suas meninas de ladras ou mentirosas. 

-Você sabe quem é ela?

-Não faz diferença quem ela é, quer dizer, ela é uma loba idiota e vingativa, me parece que já foi namorada de Lucius, será sua cunhada em breve, e possui mais liberdade do que deveria.

-Ela vai casar com aquele irmão dele?

-O irmão dele já é casado, com Antoine, você sabe disso! Não, Lucius vai casar com uma das irmãs dela. Não sei quem são e não me importa, nada naqueles animais me importa!

-O que você quer fazer?

-O que você fará, você quer dizer. Não esqueça meu filho, você resolveria os próximos problemas que aparecessem, esse foi nosso trato.

Ele escorou o queixo na mão, apertou os olhos e olhou para o nada por um tempo. Fungou e escorou as costas na cadeira.

-O que você sugere que eu faça?

-Você já formou sua opinião? - Ela o olhou surpresa, uma ponta de orgulho apareceu em seus olhos maus.

-Prefiro que você me dê uma sugestão. Vamos mãe, me diga o que tem em mente?

-Minha vontade, já há muito tempo, é retaliar de uma vez, você sabe que eles seguem nos ofendendo, ouvi seu pai na época, porque me pareceu sensato não guerrear por causa de um casamento, detesto essa história de obrigação nessas questões. Mas estávamos errados, eles se alastraram depois que viram que não reagíamos a provocações. E para ser sincera, somos seus maiores clientes, eles dependem dos negócios que fazem conosco para subsistirem. 

-Isso significa que podemos exigir o que quisermos, ou simplesmente lutar, que não perderíamos muito.

-Armas são muito em nosso negócio, e eles dominam o mercado. Mas existem outros peixes, pequenos, no lago dos contrabandistas.

-E desde que nós somos os maiores clientes, quem for nosso fornecedor, passa a dominar o mercado.

Ela alargou o sorriso, seu menino estava finalmente tomando a frente dos negócios, começava a pensar como ela. Por muito tempo pensou que ele seria como o pai, um deprimido e lânguido ser, que não possuía tino para os negócios.

-Mas é preciso ter cuidado, uma retaliação é bastante complicada com qualquer inimigo, e eles são especialmente ferozes. - Precisava manter a pose, mas sua intenção jamais seria retaliar de verdade, ela tinha mais camadas do que parecia a princípio.

-Uma conversa então, para começar tudo. Eles devem entender que não aprovamos seu modo de conduzir, podemos dar essa chance, ou apenas avaliar a força de seu atual líder.

-Ele se reporta às herdeiras de Lisbeth, talvez possamos marcar uma reunião com todos para que entendam a gravidade.

-Eu conheço Lucius, talvez possa marcar uma conversa com ele, sabe como é, de chefe para chefe. Não gostaria de envolvê-las nessa situação ainda.

-Muito bem, mas leve seguranças, ele provavelmente não irá sozinho, pode reagir agressivamente quando você encostar ele na parede.

-Então não encostarei, apenas vou mostrar o que pode acontecer, argumentar com ele. - Piscou um olho e sorriu. - Eu tenho seu telefone, marco uma conversa em local neutro, resolvemos tudo dessa forma, a não ser que eles não se comportem é claro.

-Fico feliz que você esteja entendendo como tudo funciona meu filho, e breve vai precisar se mudar para cá, deixar essa vida de loucuras noturnas, e sossegar com uma esposa. 

-Uma coisa de cada vez Mina! - Levantou e lhe deu mais um beijo na testa. - Agora vou coordenar nossos meninos da distribuição.

Ela sorriu acenando e observou ele saindo da sala, respirou aliviada pela primeira vez em muito tempo, seu menino estava virando um homem, finalmente.

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