Capítulo 03 

❀ Capítulo 03 ❀

— Você ouviu? Ninguém pode ir para o norte do castelo de Noord'Laren! — Kiadorov Ras ouviu aquelas palavras proferidas por um transeunte do Refúgio das Neves os jovens visitantes de Ardonaw com atenção.

Ele estava diante de uma barraca de grãos comprando sementes que nunca teria a chance de provar e algumas doces frutas secas quando ouviu a forte voz. Ao virar-se viu a figura de azul pálido e a figura de verde escuro com fios dourado, conversando.

— A Beleza das Neves é muito doente e os Reis têm medo de contaminá-la com doenças.

— A Beleza das Neves?

— Uma princesa? — Uma terceira jovem se intrometeu, com as mesmas vestes verdes escuras porém, não com a mesma pompa. Esta usava um chapéu em forma de folha amarela por cima dos cabelos castanhos, amarrado no queixo com um laço.

— Ela deve ser linda para ser chamada de Beleza das Neves. — Uma criança menor se animou.

— Su-Iss, você é uma princesa também. — O jovem disse para sua irmãzinha.

— Nunca ninguém viu para ter certeza, a Beleza das Neves vive em exílio e passou muitos anos aprendendo com Sacerdotes. Os criados que ficam no pavilhão norte dizem que tem a pele tão branquinha, como flocos de neve tocados pela luz do luar. Que é tão bela que a natureza não se incomode que pise nela e portanto, as marcas de seus pés são sempre suave. — O homem de vestes pálidas informou. — Venham, eu levarei vocês para conhecer a área permitida do castelo.

Depois de comprar um sacolete de frutas silvestres secas, bem vermelhinhas e de gosto doce, Kiadorov Ras seguiu o que parecia ser uma excursão, colocando vagarosamente de uma a uma na boca para saboreá-las. Ele reconheceu as vestes verdes como nobres do Clã de Ardonaw e pelo visto, foram agraciados com um guia turístico de Noord'Laren.

Em silêncio, apenas andando um pouco mais para trás, o filho exilado de Au-Dano apenas ouviu histórias sobre o cultivo de sementes, o nome dos ventos sagrados que protegiam a cidade e em como o Templo da Tempestade era protegido por sacerdotes de vestes brancas e olhares afiados.

— A história é bem simples, antes do Clã Benent se instalar na cidade essa era uma área inóspita habitada pelo Deus das Neves e do Frio, Klen Aurub. O Deus tinha muitos escravos, mas se apaixonou por um deles em especial.

— Se apaixonou? — A garota de folha no cabelo se animou.

— Deuses não se apaixonam por beleza nem por nada além da alma devota de um fiel e aquele escravo era senão o mais devoto. Fazia oferendas sem falhar e tinha o coração dourado e quente. Em recompensa por todo o seu esforço e fé, Klen Aurub deu ao escravo uma coroa de prata e o nomeou o Primeiro Sacerdote do Templo da Tempestade, ensinando a ele técnicas únicas de controle do clima. Por isso, Noord'Laren, apesar de fria, prospera, nunca falta caça e as árvores dão frutos e são resistentes até no inverno.

— Uau!

O guia turístico de roupa pálida e voz grossa contou sobre o festival de luzes no aniversário do Primeiro Sacerdote e em como o céu da cidade ficava lindo iluminado quando os balões prateados eram enviados em oferenda para os deuses do céu e dos ventos.

— Em Noord'Laren não é possível ver estrelas, isso porque a última descendente dos Deuses do Céu Noturno foi assassinada nas montanhas sagradas. — O guia explicou, fazendo os jovens de Ardonaw arregalarem os olhos de espanto e lançarem baixos grunhidos. — É uma história trágica sobre como essa descendente desceu de uma cidade flutuante e se apaixonou por um mortal. Ela tornou-se sua Yen, sem saber que os mortais possuem muitas esposas. Juntos tiveram um filho, mas ela enlouqueceu de ciúmes ao descobrir que ele tinha outra. Tentou matar a criança que gerou, mas acabou cercada pelos guardas.

— E a criança? — A garota de folha no cabelo perguntou.

— Sobreviveu.

— Ufa!

— Dizem que ela ainda vaga por esta terra, com olhos luminosos como estrelas e que usa uma venda para não ser reconhecida. — O discípulo disse.

— É por isso que não há estrelas no céu aqui em Noord'Laren? — A criancinha se assustou.

— É apenas uma lenda, na realidade, há muita névoa na região e o céu fica quase sempre encoberto! — O guia amenizou com um sorriso doce.

Kiadorov Ras estava interessado e tudo mais, apesar dos bocejos que saiam da boca do mais velho dos três visitantes do Clã Ardonaw denotar a morosidade na voz do guia, mas ele rapidamente perdeu som daquelas palavras quando viu um atalho de pedras em uma montanha nevada que pareciam ter pegadas frescas e, curioso como era, de espírito aventureiro, apenas guardou o sacolete de frutas secas nas vestes antes de seguir as pegadas.

Eram pegadas delicadas, que mal marcavam na neve, o que o deixou intrigado, pois a pessoa que as fez seria muito habilidosa e dominadora dos ventos, capaz de flutuar. Essa era uma técnica de grande dedicação espiritual, semelhante à de pisar sobre as águas que ele aprendeu nas Colinas da Chuva.

Foi subindo a montanha deixando marcas profundas das solas de suas botas escamosas para trás. Assim que atingiu o pico, pôde ver toda a beleza da cidade das neves tocada pelas luzes amarelas do pôr do sol. O céu se dividia em duas cores, amarelo e azul. Nenhum tom de roxo ou de rosa, como ele estava tão acostumado no Mar Alto. E realmente era impossível ver estrelas com tanta névoa.

Maravilhado com o espetáculo de cores, inspirou fundo absorvendo o perfume dos ventos gelados e um aroma doce chamou sua atenção. Um aroma que ele era incapaz de ignorar e portanto, o seguiu.

A cada passo, seu coração acelerava como se ele estivesse se aproximando de uma grande verdade. Era esquisito, certamento algo que ele nunca sentiu antes, mas poderia se assemelhar ao momento em que o noivo ergue o véu de sua noiva no dia do casamento e olha para sua bela face. Misto de descoberta e encanto.

Kiadorov Ras não sabia o que era se apaixonar, mas se soubesse, reconheceria aquela sensação e pensaria tolices de si mesmo. Ele achou que estava intrigado, quando na verdade, havia sido atraído. Ajoelhou-se perto de umas pedras, quando viu uma figura de branco segurando um guarda-chuva.

Aquela pessoa, magra e alta, definitivamente era a pessoa mais linda em quem ele havia posto os olhos um dia. Embora não pudesse ver o rosto, via sua pele bem branca como a pena de um pássaro do pico nevado e lábios vermelhos como as frutinhas silvestres.

Kiadorov Ras notou uma mancha de sangue que escorria de sua mão direita, onde apertava uma flor branca que existia apenas naquela montanha, conhecida como Dama do Despenhadeiro, pois apenas em penhascos crescia como uma trepadeira rara.

A flor mais linda da região era capaz de encantar os olhos, pois suas linhas eram quase prateadas e sua seiva, era dita possuir poderes medicinais. Ele sabia disso porque todo mundo almejava um pote de pasta de Dama do Despenhadeiro para curar suas feridas no mundo das artes marciais. Era comum guerreiros e espadachins usarem pasta feita daquela flor para curar os ferimentos.

Quem era aquela beldade de cabelos escuros como a noite? E por que precisava de uma flor medicinal? Aquela pessoa guardou a flor delicadamente em uma sacolinha e colocou por dentro das vestes brancas, apoiando a sombrinha no ombro delicado. Kiadorov Ras chegou a única conclusão que poderia chegar: aquela era a Princesa de Noord'Laren. A Beleza das Neves, como o guia havia dito.

Era real e não um boato?! Seu coração pesou! Afinal, o guia havia dito que aquela pessoa era mesmo muito doente e fraca, ao ponto que não podia sair de seus aposentos, mas estava ali, no cume mais alto, colhendo flores e aplicando remédio nas mãos, segurando apenas uma sombrinha.

Talvez por isso a cidade de Noord'Laren fosse cercada de plantas de Dama do Despenhadeiro, talvez o Rei as tivesse cultivado em abundância porque sua bela filha sempre precisava dela.

Sim, Kiadorov Ras no cume de sua ignorância e cegueira juvenil, não percebeu que a princesa delicada era na verdade um jovem príncipe.

Não resistiu ao acelerar de batidas de seu coração e deu um salto acrobático girando no ar que o levou flutuando com os ventos para o chão. Os cabelos escuros da figura de branco farfalharam e a Beleza das Neves se virou de susto, revelando o rosto escondido por baixo daquela sombrinha.

Kiadorov Ras se surpreendeu ao ver os olhos inchados, de cantos avermelhados e doentes. As íris eram tão claras que pareciam brancas e as pupilas pareciam prateadas. Será que ela era cega?

— A Beleza das Neves é real e ainda por cima é cega? — Perguntou em espanto. A figura na sua frente não disse nada e manteve a face imutável, mas lançou um olhar de "cega é sua mãe". — Desculpe, linda senhorita! Nem me apresentei e invadi o seu descanso! — Retesou o corpo e fez o Ato de Boa Fé. — Sou Kiadorov Ras, do Clã Kiadorov, vim para o Pontífice.

Um longo silêncio se seguiu enquanto a brisa do entardecer carregou folhas verdes que passaram por entre os dois.

— O que faz aqui? — A figura de branco questionou.

(continua)

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Notas da autora:

É realmente difícil distinguir um elfo das neves e seu gênero! 

Será que Ras vai morrer de frio essa noite? rs. 

E o que os guardas vão fazer ao ver que alguém andou fugindo da Ala Norte de Noord'Laren? 

Visssssssshhhhh.....

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MEUS SINCEROS AGRADECIMENTOS! 

Kiadorov Ras: Obrigado pela sua leitura!

Benent Nah: "..."

(essa vocês ainda vão entender)

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