Capítulo 4

Olhei para o derredor do estábulo e meu cavalo estava pronto para montá-lo.

— Sr. Melarque. Que horas irás voltar? Harold perguntou, entregando meu casaco e minha pasta.

— Prepare um bom banquete— respondi pondo as luvas— Minha futura esposa, ficará conosco está noite.

Ele me encarou cético.

— Senhor, perdoa-me. Mas, como podes ter tanta certeza, de que a rapariga aceitará o teu pedido?

— Oras, eu sou Allan Melarque! Nenhum homem nesta província, é tão poderoso quanto eu sou— Puxei um sorriso- Sei quem eu sou e, na posição em que estou, não há tantos "não" para mim.

Eu estava convencido e puxei as rédeas do cavalo manchado. Não me importava o que a camponesa sentia ou não. Na minha cabeça, havia apenas duas opções: ela seria minha esposa por bem ou por mal.

Os rumores sobre mim correm pelas ruas de Darlan.

As pessoas sabem como eu sou frio e, ela certamente, teria ouvido algo sobre mim. Todo pai, em sua sã consciência, daria a filha para casar-se com um conde. Nos dias de hoje, sobraram poucos títulos, mas ainda sou um Conde. Nobre, sangue azul e origem exótica.

Enquanto atravessava a província, parei em uma barraca de maçã e comprei algumas para o meu cavalo. Peguei o papel que Harold me tinha dado. A cabana da selvagem estava abaixo do rio. O mesmo rio do nosso segundo encontro, onde ela mordeu-me como uma égua. 

O tempo estava suave.

As nuvens que cobriam o sol se foram, mas ainda assim, podia sentir a brisa gelada do inverno se aproximando. 

Com o inverno virá o Natal e as suas celebrações rudes. E, novamente, teria que aturar os sermões do meu pai dizendo que eu era um encosto. Meu casamento não poderia aguardar mais luas, quanto mais cedo fosse, mais fácil seria pensar em uma maneira de falir meu pai. 

Tantas vezes fui humilhado, desprezado.... Oh... Vingança... minha querida! Vingança é um prato que é comido frio.

Ao passar pela floresta, pude ouvir o som das águas do rio e. me lembrei, da primeira vez que estive lá. Aqueles olhos verdes cativantes mostravam malícia, inocência e medo. Todas essas essências misturadas em uma composição devastadora.

O chão estava escorregando.

Desci do cavalo, o amarrei em uma árvore e segui o caminho a pé. Escalei uma pedra para ver a redondeza. Quando, de repente, ouvi uma bela voz cantando. O som era doce e cativante, me fez sentir vontade de ouvi-lo de perto. Com meus pensamentos enfeitiçados, desci até o rio, onde vi a camponesa selvagem na água, batendo suas roupas em uma pedra maciça. Estava muito distraída, pois não foi capaz de notar a minha presença.

— Todos vocês... bastardos de meio sangue, andante... andante— ela cantarolava uma canção antiga.

Vi uma flor brotar no meio daquela estação e fiquei espantado. Elas tinham todas murchado, exceto aquela. Eu arranquei a flor de seu talo, andei silenciosamente e fiquei na frente dela com uma pose.

— Madame... uma flor para outra flor.

Seus olhos paralisaram.

 Foi como se ela não soubesse como reagir.

— Então, como está a garota que ousou me morder? — tentei fazer uma piada.

Em um ato rápido, ela empurrou-me para o rio e correu para a floresta.

— Menina maldita! — gritei guisado.

Eu não poderia perdê-la novamente. Levantei-me e corri atrás dela.

— Por favor, espere!!!–Eu gritei, mas ela continuou correndo. A camponesa atravessou os ramos caídos das árvores, coçando os braços e correndo em movimentos arriscados. Ela não parecia se importar, com o fato de que seus braços, estavam feridos. A garota parecia não se importar com nada ao seu redor, apenas em fugir dali.

Quando se aproximou do final da trilha, escorregou e caiu ladeira abaixo. 

Em um ato preciso, eu saltei o buraco e cai para meus pés na frente dela. As órbitas de seus olhos encontraram os meus e, me abaixei, vendo seu rosto sério e sujo de lama.

Ofereci ajuda para ela se levantar. Entretanto, a selvagem parecia orgulhosa de mais para aceitar. Ambos sabíamos como isso iria acabar. Se ela aceitasse, certamente morder-me-ia e fugiria novamente.

Com os olhos meio fechados, a garota inclinou-se contra mim e levantou-se.

O silêncio superou aquele lugar, não sabia o que dizer e ela parecia sentir o mesmo. Ainda segurando-a, pude ver suas unhas roxas de frio e seus lábios brancos.

— Está com fome? —Eu perguntei;

Ela balançou a cabeça em positivo e peguei uma maçã do saco que tinha comprado para o meu cavalo. Coloquei entre as mãos e esperei sua reação.

A camponesa admirou o fruto, vermelho, sem estragos e apetitosa. Seus pés deram para trás, mas quando seu estômago roncou, desistiu de correr. 

Com voracidade, suas mãos agarraram a maçã e seus dentes gravaram o fruto, o que a fez salivar com prazer. Perguntei-me: quanto tempo estaria sem comida? Para aceitar tão facilmente algo de um estranho? Ela mordia a pele fina, deixando o suco doce da maçã, escorrer por sua garganta. 

Sorri de leve, seus modos eram incrivelmente deselegantes. 

— Posso te dar mais, se me levar até sua casa. Você deve ter uma família, talvez estejam com fome, também.

A camponesa enxugou os lábios com as mangas de seu vestido, sem finura ou maneiras, ela cuspiu o fruto mastigado no meu rosto e levantou a voz:

— Eu sei sobre os rumores que correm sobre você e tudo o que está pensando! Você não será capaz de me tocar, até que perca um de seus órgãos!

Limpei meu rosto e, sem paciência, agarrei seus braços e a encorajei entre uma árvore.

— Você não sabe nada sobre mim, garota inútil! Então me trata com respeito...- eu sussurrei, intimidando-a.

— Me deixar ir! — Ela começou a chutar—O que te trouxe aqui?

— Casamento ...–toquei uma mecha de seu cabelo, baixando a mão até a cintura dela— Quero que você se case comigo e eu não estou disposto a sair daqui sem um sim.

— Vá para o inferno!

— Belly ... — sussurrei o seu nome e sua boca fez o formato de um Ô— É, eu sei o seu nome mocinha. Eu sei de suas necessidades e, o quanto sofre, à mercê da monarquia de Darlan. Sei basicamente tudo sobre você— tentei intimidá-la.

— Tão pouco sabe de mim! — ela gritou.

De repente, escutamos um chamado masculino: 

— Belly, onde estás?

Ela esquivou-se para baixo, conseguindo livrar-se de mim. 

—Já estou indo meu pai! — Belly gritou de volta e correu.

– Me espere, eu vou com você! - Agarrei seu antebraço.

— Não! — ela jogou meu braço para o lado–Deixe-nos em paz! Eu já tenho um noivo!

— Estás mentindo, ladra...- Sorri cínico—Sei que és solteira, aceite logo meu pedido.

— Belly, quem está aí?

A voz masculina começou a se aproximar de nós.

— Saía daqui! — Belly bateu contra o meu peito—Saia imediatamente!!!

Antes que eu pudesse me afastar, vi a imagem curvada de um cavalheiro andando com uma bengala improvisada. Era o seu pai, completamente cego.

– Belly, quem é que estás aí com você minha filha?  

Minha garganta coçou e eu disse com força:

— Sou eu! O seu futuro genro! 

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