Capítulo 1

Outro dia nascia na província de Darlan.

O ar gelado tinha um mau presságio. As folhas das árvores já haviam caído, os ramos estavam cobertos com uma fina camada de chuva que havia caído na noite passada.

Dezembro tinha chegado.

O Natal estava chegando, e novamente teria que assistir às festas chatas dadas pelos membros do conselho de meu pai.

Caminhei para o quarto e pedi que preparassem o meu banho. Lembrei-me dos acontecimentos do dia anterior. Eu mal conseguia acreditar na loucura que tinha feito aceitando a aposta de meu pai. Embora por impulso, sei que estava sóbrio quando disse sim a ele. Nunca considerei a ideia de me casar, sempre me senti livre e ferido. Pensar que eu tinha que me unir há uma mulher, especialmente com uma pobretona, me feria o orgulho. Seria um grande trabalho ter que encontrar uma noiva pobre, porque não bastava ela ser apenas medíocre. Eu não me contentaria em ter que me casar com uma garota feia. Ela tinha que ter um... algo a mais que chamasse minha atenção. Teria que me manter ao seu lado, sem sequer pensar em trai-la. Este último quesito, uma tarefa extremamente difícil, tenho que confessar.

Assim que terminei de lavar-me, coloquei as roupas e desci para a sala de jantar. Os criados estavam todos reunidos e alguns me rodeavam com sorrisos tolos, como se soubessem algo sobre mim.

– Senhor, essas cartas chegaram hoje de manhã. — O líder dos criados mencionou a palavra, colocando os envelopes sobre a mesa.

— Quem as trouxeram? — Eu perguntei, despejando-me um pouco de café.

— O braço direito de seu pai, disse que o senhor saberia do que se tratava. — O criado respondeu.

Notei a reação das empregadas quando me viram abrir a primeira carta.

— O que estão fazendo aí? Vocês não têm roupa para lavar? – levantei minha voz impacientemente, fixando os olhos nelas.

— Perdoe-nos, senhor— disse a loira de olhos cinzentos em voz baixa e com um sorriso— Todos nós queremos saber, se o que o amigo de seu pai disse é verdade. Queremos ouvir a confirmação de vossa boca.

— E o que ele disse? — Peguei meu pão, encarando as mesmas.

— Ele nos dissera que você, bem... vai se casar— A garota mais nova disse, tomando um beliscão de sua mãe —Mas é verdade. Foi o que ele disse, a senhora também ouviu mamãe.

Sorrio cinicamente.

— Mesmo que isso seja verdade, essa conversa não lhes diz respeito— respondi, continuando a beber meu café—Agora saiam, preciso ter uma conversa em particular com Harold.

Todas elas saíram, permanecendo apenas o meu servo de confiança, Harold.

– Madame Violeta, enviou uma nota ou alguma mensagem? —Perguntei a ele, que tirou um envelope do bolso.

— Sim, senhor.

– Tulipas ...¬ Eu sinto a fragrância de seu perfume no envelope — sussurrei. — Espero que ela tenha sido capaz de cuidar do nosso último assunto.

– Senhor, se me dá licença, gostaria de lhe fazer uma pergunta.

Harold levantou a voz.

— Prossiga ...— mexi os dedos.

— Meu caro Sr., gostaria de saber, se realmente vai se casar ... Bem, se as informações que temos são verdadeiras, aconselho a deixar Madame Violeta em paz.

Ele me entrega o jornal da manhã.

— Violeta foi casada três vezes. Os três maridos morreram de causas naturais. — ele prossegue— Este é o quarto casamento dela. Eu não acho que é bom para a sua reputação. Vou ter de enfrentá-lo, pois ela não é uma das melhores.

— Eu escolho com quem andar. Não vou deixar que me deem ordens.

— Senhor ... o Harold diz calmamente —Eu só quero te proteger. Você é um homem de grande importância para a nossa província, e um dia, cuidará de tudo o que é de seu pai.

— Já te disse: são assuntos do meu interesse!

O Harold saiu da sala e li as cartas com calma. Eram os documentos que meu pai dissera que enviaria. Depois de lê-los, guardei-os na gaveta e pensei mais sobre. Também recebi o convite do Baile, que Violeta mencionou, no nosso último encontro. Seria uma grande oportunidade para dizer adeus, porque depois daquela noite, nós não nos veríamos durante um ano.

Quando terminei meu café, fui até o escritório e pedi a Harold que me seguisse.

— Sr. Melarque. O que você deseja?

— Eu quero que vá para o estábulo e prepare o meu cavalo. Quero dar uma volta antes do anoitecer. — ordenei, endireitando as minhas roupas de montaria.

— Prevejo tudo. Você volta para almoçar, senhor?

— Não será necessário que eu almoce. — Caminhei até o espelho e admirei minha beleza — Vou cavalgar. Não me espere e diga aos criados, que preparem a casa, pois meu pai nos visitará amanhã.

— Suas ordens serão cumpridas. Vou fazer tudo acontecer como planejara.

Uma das minhas aventuras favoritas, é viajar a cavalo, pela província de Darlan.

Nessa época, as árvores não são muito amigáveis, o ar é frio e o tempo instável. Porém, é um ótimo momento, para caminhar e admirar, como os animais podem permanecer vivos na natureza. Eu geralmente caço, mas isso só acontece no Ano Novo.

Cavalgar pela redondeza me traz lembranças...

Lembro-me de minhas aventuras como um adolescente. Meus amigos e eu, tínhamos um esconderijo ao norte da floresta, e escondíamos ali, para falar sobre mulheres e fumar os charutos de nossos pais. Foi bons tempos ... Então, a idade adulta veio, e nossos pais, nos encheu de responsabilidades e casamentos arranjados. Eu sou o único solteiro em nossa classe, bem ... Pelo menos eu era... antes da aposta que fiz com meu pai

Corri através da parte norte da província, passando por vilarejos e barracas de maçãs. Fazia exatamente dois anos, desde a última oportunidade que tive, de andar a cavalo por Darlan. Antes disso, eu estava em Londres, tratando de meu negócio familiar. Eu nunca gostei do nosso ramo, fazer roupas e vender tecidos para realeza, nada disso me agrada. Mesmo assim, sempre mantive uma relação boa com o meu trabalho. Não há nada melhor, do que ver um bom vestido, em uma moça tão bonita quanto o tecido. Adoro vê-los descer sobre uma pele macia e cheirosa.

Quando me aproximei de uma área próxima ao campo, ouvi risos e alguns murmúrios no Rio. Pareciam a de uma garota, amarrei o meu cavalo, em uma árvore próxima para o caminho do riacho e segui os gritos. Havia lama no caminho e ouvi sons de ovelhas. Os murmúrios aumentaram e pude ouvir reclamações seguidos de palavrões.

– Me deixem em paz! Me deixe em paz! — Uma voz feminina gritava, como se estivesse sendo ameaçada— Vocês bastardos, saiam daqui!!!

Escorreguei na lama e fiquei admirando a situação.

Para não ser notado, escondi-me atrás de uma árvore e continuei observando.

O cabelo da moça estava totalmente lamacento e a pele e roupas muito sujas. Eu notei os olhos dela. Eram os mesmos olhos verdes. Os que havia visto, no outro dia, no beco da cidade.

Saí da árvore que havia me escondido, puxei minha arma e disparei quatro tiros para cima.

Os homens olharam para mim, deixando cair as pedras de suas mãos. A garota parecia assustada. Ela recuou, agarrando sua ovelha, que também estava presa na lama.

— Saiam todos! — Ordenei, me aproximando dos trombadinhas—Saiam antes que eu os entregue para Guarda!

Eles olharam para mim, murmurando um para o outro.

– Quem és tu, para nos dar ordens? - Um deles resmungou.

— Oras, repare em minhas roupas e saberás. Ou ainda não notou, que minha fala, minhas roupas e minha arma são melhores do que a suas? — Debochei, os cercando com um olhar raivoso.

— És um nobre? — O ladrão continuou.

– Sim, eu sou um Conde. E os entregarei a Guarda da Rainha se não deixarem essa moça em paz — Ordenei, ainda apontando a arma contra os três.

— Ela nos roubou! Dissemos, que não poderia voltar as margens do Rio, para alimentar as ovelhas e ela voltou. Só queremos que nos pague pela água que bebeu.

Me desmanchei em risos.

— O Rio não é de ninguém. Ele pertence a Darlan e a seus habitantes, qualquer um pode beber de suas águas quando bem entender.

Foi o bastante.

Os três homens se calaram, e assim, montaram em seus cavalos e nos deixaram em paz.

Caminhei até a poça de lama e estendi minha mão esquerda, a fim de ajudar a pobre camponesa.

— Venha, minha querida, deixe-me ajudá-la...

Ela franziu a testa e então respondeu:

— Eu não sou a sua querida! — disse resmungando. Os dentes dela também estavam sujos do que parecia ser lama e ela os mostrou para mim. Era uma beleza única.

Uma linda selvagem a beira de um rio. Ficar tanto tempo longe de Darlan, me fizera esquecer de que há mais selvagens no mundo, do que os nobres podem imaginar.

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