6. Mal entendido

O apartamento onde Kendall vivia com sua família, não era tão pequeno como Juno descreveu. Era maior que a casa de Neelam. Uma cobertura luxuosa com a melhor vista da cidade. O pai de Kendall devia ganhar muito bem para eles viverem de forma tão confortável, imaginou Neelam. Não que sua condição financeira fosse ruim, mas perto de Kendall, ela era pobre.

Que linda sua casa, senhora Maldonado! — Disse Neelam sem jeito. Se eles achavam aquele apartamento pequeno, imagina o que pensaram da humilde casinha dela?

Oh, não precisa me chamar de senhora. Pode me chamar de Ellen. — Disse ela sorrindo.

Como a senhora quiser. — Disse Neelam.

Crianças, mostrem a casa a ela? Eu vou ver se o pai de vocês já voltou. — Disse Ellen.

Eu estou aqui, querida. — Disse um homem bonito e elegante, na casa dos quarenta se aproximando.

Querido, esta é a namorada do Kendall. — Disse Ellen.

O pai de Kendall encarou Neelam surpreso. Ela se voltou a Kendall e ele se desculpou em um sussurro, dizendo que explicara ao pai que os dois eram apenas amigos, mas ele não entendera ou não acreditara. Neelam apertou a mão de Kendall e disse em outro sussurro que estava tudo bem.

Oh, prazer. Sou Olavo Maldonado. — Disse o pai de Kendall, disfarçando.

Neelam Ferraz. — Ela sorriu sem graça.

Ken, por que você não me disse que sua namorada era tão bonita? — Falou Olavo.

Kendall deu de ombros.

Me desculpe? — Olavo disse a Neelam. — É que, quando Ken me disse que tinha uma namorada, imaginei que ela fosse diferente.

Diferente? — Repetiu Neelam.

Sei lá. Imaginei que você fosse… Enfim, não importa. — Disse Olavo.

Por favor, Olavo? Não comece? — Pediu Ellen nervosa.

Fico feliz que ao menos uma vez na vida, este garoto tenha feito uma boa escolha. — Disse Olavo.

Mesmo sem a sua aprovação, eu continuaria vendo-a. — Falou Kendall, enfrentando o pai.

Olavo lançou um olhar furioso a Kendall, mas não disse nada.

Também não precisa falar assim com o seu pai, Ken. Ele só quer o seu bem. — Disse Neelam.

Sei… — Falou Kendall.

Sua namorada está certa, Ken. Eu só quero o seu bem. — Disse Olavo.

Então, me deixe tomar minhas próprias decisões. — Falou Kendall.

Só quando você for um homem. — Disse Olavo.

Hã… Será que eu poderia tomar um copo d'água? Estou com a garganta seca. — Neelam estava tentando evitar uma discussão.

Sim. Vem comigo? — Disse Juno.

Neelam seguiu ela até a cozinha. Juno abriu a geladeira, pegou uma jarra de vidro e um copo no armário e serviu água para Neelam.

Obrigada. — Disse Neelam.

Juno sorriu.

Puxa! Você jura que realmente acha este lugar pequeno? — Falou Neelam.

Eu trocaria tudo isso só para ter a sua vida. — Disse Juno.

Eu não entendo. — Falou Neelam.

Eu amo meus pais, mas acho que eles seriam mais felizes, separados. Eles brigam o tempo inteiro e o papai cobra muito do Ken. Eu não suporto mais. — Disse Juno.

Pelo menos o seu pai está vivo. — Falou Neelam.

Deus me perdoe pelo que vou dizer, mas, seria melhor que ele estivesse morto. — Disse Juno.

Pensei que gostasse dele. — Falou Neelam.

Eu gosto, mas já me cansei de viver neste inferno. Inferno que ele cria! — Falou Juno.

Neelam ficou calada por um tempo. Depois, disse:

Sinto muito. Não sei o que te dizer. Nunca passei por isso.

Juno suspirou.

Quer conhecer o meu quarto?

Sim.

O quarto de Juno era igual aqueles quartos de adolescentes ricas que Neelam só vira nas revistas ou na televisão. Havia um altar disfarçado como decoração em um pedestal. Alguns pôsteres de seus cantores e atores favoritos, um mural com desenhos, uma escrivaninha, uma estante com livros de Edgar Allan Poe e Stephen King, e alguns livros de ocultismo.

Uau! — Disse Neelam. — Quando quiser trocar, me avise!

Juno riu.

Neelam se aproximou de um mural de desenhos que chamou a sua atenção.

São muito lindos! Foi você quem fez?

Sim. — Respondeu Juno indo até onde ela estava.

Você é boa!

Obrigada, mas ainda tenho de melhorar.

Está brincando? Se eu conseguisse desenhar tão bem assim…

Você deve ser boa em alguma coisa.

Hum, tenho um blog.

Ken me mostrou seu blog. Ele não perde um post. — Juno disse.

Ele gosta mesmo de mim. — Disse Neelam, pensativa.

Eu diria que ele te ama. — Falou Juno.

É claro que ama, sou amiga dele. — Disse Neelam.

Ele fala de você o tempo todo e, quando você liga para ele… Ele fica tão feliz! Nunca vi o meu irmão assim. — Disse Juno.

Eu gosto do Ken, mas não como namorado. — Disse Neelam.

Eu sei que o Ken não é tão bonito como os outros garotos, mas, ele não é como os outros idiotas que mentem e te deixam por outra. — Disse Juno.

Não sei se quero entregar o meu coração a quem quer que seja porque sofri quando perdi minha irmã e meu pai. Tenho medo de sentir essa dor outra vez. — Neelam disse.— Ken e eu estamos bem como amigos e não quero que isso mude.

Kendall se aproximou da porta nesse instante e ouviu o que Neelam dissera, que os dois estavam bem como amigos e que ela não gostaria que aquilo mudasse. Chateado, ele recuou.

† † †

Durante o jantar Kendall se limitou a apenas responder as perguntas que os outros lhe faziam. Ele estava triste, envergonhado e bravo.

Olavo encheu Neelam de perguntas. Ele queria saber tudo sobre ela, quem era, o que gostava e o que não gostava, como conhecera Kendall e se o namoro deles era mesmo sério, etc.

Isso depende do Ken, do quão longe ele quer levar essa relação. — Disse Neelam, indiferente e tomou um gole de seu suco.

Acho que, na verdade, é você quem está no comando dessa relação. — Falou Kendall.

Tem algum problema entre vocês? — Olavo percebeu que Kendall estava chateado com Neelam.

Não. — Respondeu Neelam, disfarçando.

Eu só estou cansado e com dor de cabeça. — Mentiu Kendall.

Que mole você. — Disse Olavo. — Sua namorada vem jantar em casa e você age assim? Será que, pelo menos, não podia fingir que se importa?

Ela não é minha namorada! — Kendall disse, irritado, e se levantou.

Ken, o que está dizendo? — Ellen ficou nervosa só de imaginar a reação de seu marido.

Não ligue para o que ele está dizendo, senhor Maldonado? — Disse Neelam, também nervosa.

Eles só tiveram uma briguinha boba. — Juno mentiu para proteger Ken.

Já chega dessa farsa! Eu não quero mais continuar mentindo! — Disse Kendall.

Ken, vá para o seu quarto. Por favor? — Falou Ellen.

Não! — Disse Kendall e encarou seu pai. — Pode dizer que sou um desgosto pra você, que me odeia e que sente vergonha de ser meu pai.

Eu não preciso dizer o que já sabe. — Falou Olavo. — Agora, peça desculpa a nossa convidada pela sua grosseria.

Não! — Disse Kendall.

Olavo saiu de seu lugar e se aproximou de Kendall.

Peça desculpa. Agora! — Falou Olavo.

Não! — Disse Kendall.

Olavo deu um tapa na cara de Kendall e ordenou:

Peça desculpa!

Kendall abaixou a cabeça e disse:

Me desculpe, Neelam?

Olavo voltou para seu lugar.

Podemos continuar de onde paramos? — Ele encarou Neelam.

Ela estava sem graça com tudo o que vira.

Que foi, o gato comeu sua língua? — Olavo riu da própria piada.

Me desculpem? Mas tenho de ir agora. — Falou Neelam, levantando-se.

Termine seu jantar, querida? — Pediu Ellen, sorrindo, nervosa.

Eu já estou satisfeita. — Falou Neelam. — Obrigada por tudo.

Eu te acompanho até a porta. — Disse Juno.

Tenham uma boa noite, todos. — Falou Neelam.

Igualmente. — Disse Ellen.

Foi um prazer te conhecer. — Disse Olavo. — Espero que não leve a sério as besteiras que o Ken disse.

Não se preocupe? Eu adoro o Ken! — Falou Neelam sinceramente e foi até onde ele estava e lhe perguntou em um sussurro: — Pode me acompanhar até a porta?

Tudo bem. — Disse ele.

Pegue a chave e leve ela para a casa. — Olavo disse a Kendall.

Vou pegar meu casaco. — Disse Juno.

Você não! Você fica! — Olavo disse a Juno e se voltou a Kendall. — Tenta não amassar meu carro.

Kendall pegou a chave e foi para o estacionamento com Neelam. Só quando entraram no carro, Neelam falou:

O que foi aquilo Ken? Por que enfrentou seu pai daquela forma?

Kendall não respondeu e dirigiu para fora do estacionamento.

Por que está me ignorando? — Neelam estava nervosa porque ele não respondia.

Acho melhor pararmos com este jogo. — Ele disse, finalmente.

Que jogo? — Perguntou Neelam.

Kendall parou o carro, tirou seus óculos e beijou os lábios de Neelam. Ela o correspondeu, mas recuou, o encarando.

O que foi? Eu beijei tão mal assim? — Disse ele, inseguro.

Neelam engoliu em seco e desviou o olhar.

Neelam… — Kendall sussurrou no ouvido dela.

Eu tenho medo, Ken. — Falou Neelam tocando o rosto dele.

Não tenha? Eu nunca machucaria você. — Kendall a encarou.

Neelam alternou o olhar entre os lábios e os olhos verdes dele, indecisa.

Só me dê uma chance? — Kendall pediu.

Neelam o beijou.

† † †

Neelam estava abrindo o portão quando ouviu risos. Ela virou-se e viu Duke, Mattew, Anderson e Merlyn sentados na calçada, conversando e rindo alto.

Ei, essa não é a Neelam? — Perguntou Anderson a reconhecendo.

Neelam virou-se de rápido e apressou-se em abrir o portão.

É ela sim. — Disse Duke.

Ei, Neelam? Vem cá! — Chamou Anderson.

Desiste cara? — Falou Duke.

Neelam entrou em sua casa.

O que você fez a ela, Duke? — Perguntou Merlyn.

Eu? Nada. — Duke deu de ombros.

Aquele não era o carro do pai do Kendall? — Disse Anderson.

Ei, é mesmo. — Falou Mattew. — Ou não?

Credo! Como vocês gostam de cuidar da vida dos outros. Parecem duas velhas solteironas. — Falou Duke.

Era ou não era o carro do pai do Kendall? — Perguntou Merlyn confuso.

Puxa! Cara, por que você não disse nada a gente que era vizinho dessa gata? — Disse Mattew.

Desde quando ela é gata? — Disse Duke rindo. — Está precisando de óculos.

Puxa! Desde quando a vi! — Falou Mattew.

Puxa! Vou quebrar a sua cara! — Disse Duke com raiva de Mattew.

Puxa! O que eu fiz? — Perguntou Mattew.

Puxa! — Disseram os outros em uníssono.

Vocês são chatos! — Disse Mattew.

Puxa! Não sabia! — Disse Duke.

Ah! Para com isso. Cabeça de tomate! — Falou Mattew.

Você viu que é chato falar “puxa” o tempo todo? — Disse Duke.

Foi mal, cara. — Falou Mattew.

E então, Duke? — Merlyn acotovelou Duke.

O que foi? — Duke elevou a voz, irritado.

O que você fez a Neelam para ela ter tanto medo de você? — Merlyn perguntou.

Nada. Eu já disse. — Falou Duke.

Não acredito em você. — Disse Merlyn.

Problema seu, então. — Falou Duke.

Puxa, caras! — Falou Mattew esfregando as mãos com frio.

Matt! — Disseram os outros novamente em uníssono.

O que foi? O que fiz? — Perguntou Mattew com cara de bobo.

Duke olhou para Anderson e Merlyn e disse-lhes:

No três… Um… Dois… Três.

Todos disseram:

Puxa!!!

Babacas! — Falou Mattew rindo, sem graça.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo