A festa II

     Elisabeth e as filhas mais velhas recebiam e cumprimentavam os convidados. logo, Nicolau faz introdução a cerimônia, anuncia o nome da aniversariante e ela desce as escadas num vestido de cor champanhe, bordado com detalhes dourados, e algumas perolas,  modelo decote coração, a saia era semelhante pétalas de rosas e cobria seus joelhos... Um modelo inovador.

Renda fina passava do tórax a seus braços prendendo nos dedos do meio, feito anéis nas mãos. os cabelos presos numa trança de raiz desde a lateral direita da cabeça terminando em um coque semelhante também a uma flor, todos olhavam para Clarice deslumbrados ou espantados! Não sabia dizer ao certo. Só queria ser invisível perante tanta gente.

.....

Como esperado, papai diz  o primeiro discurso e todos aplaudem. Após começaram as valsas, para meu azar Christofer LeBlanc a pedido de meu pai foi quem iniciou dançando comigo. O motivo desse azar? Por conta das relações sociais de minha família, tive o desprazer de conhece-lo. 

Leblanc é filho de um almirante da alta hierarquia no governo, ou seja é alguém renomado com bagagem militar de gerações o que aumenta sua influência, mas extremamente estúpido, grosseiro, violento e sem o menor respeito pelos outros. Soube histórias terríveis a seu respeito.

 No Natal de 68 fomos para a propriedade dos Leblanc, eu o surpreendi quando beijava uma jovem empregada morena a força, para a sorte da moça ele a soltou ao me ver, mas estava assustada e tremula, a mandou sumir de sua vista, ela saiu correndo aos prantos... Dentre muitas outras atitudes asquerosas. Sem dúvida me é repulsivo e sempre com comentários nojentos, três minutos nunca foram tão torturantes. Dancei com papai e meus irmãos queridos.  Parecíamos realmente ser a família perfeita.

Havia muitas pessoas que não conhecia, a maioria homens, generais, majores e políticos. quando o presidente chegou, todos o aplaudiram de pé, ele me deu um presente e disse palavras gentis o que me deixou mais vermelha que os morangos da plantação particular da vovó Francisca de tanta vergonha. Havia também alguns penetras, incrível como as filhas de pessoas influentes que eu não conhecia  me cumprimentavam com tamanha intimidade, como se fossemos amigas de longa data.

— Parabéns querida! Que arraso de festa! Espero ser convidada para as próximas como esta! — Apenas sorria e os tratava com educação. 

O único momento em que não me sentia um peixe fora d'agua era quando Alésser e Alessander me faziam companhia, sem dúvida meus irmãos são os melhores em  animar-me, mesmo que não digam  palavra sequer a presença de ambos ao meu lado já é válida. 

Uma pena que tiveram de seguir carreira militar como o papai, ultimamente os tenho visto cada vez menos e como minhas irmãs não moram em nossa casa, mamãe vive viajando não  sei para onde e papai sempre com bastante trabalho, cuidando da segurança de nossa cidade, fico muito só. Se não fossem as empregadas, as rotineiras visitas da madrinha e as aulas particulares, não sei o que seria de mim.

 Cansada de perambular entre as pessoas, seus sorrisos forçados e gestos superficiais, discretamente vou para o quarto pego meu diário e uma caneta não escrevi hoje momento sequer, sento na cama e o sono me invade, penso seriamente em dormir, ou ao menos cochilar, assim que deito, a madrinha entra como sempre surgindo do nada! Certamente a mulher tem o dom de me farejar!

— O que está fazendo aqui mocinha? Já para baixo!

— Oh... Madrinha Rosamella, estou deveras fatigada.... 

— Descanse depois! Nem partimos o bolo, onde já se viu um absurdo desses? O que dirão as pessoas se notarem sua ausência?

— Não me sinto bem lá embaixo e ninguém vai reparar que sumi.

— Pare com essa bobagem Clarice! Quer envergonhar sua família?

— Isto jamais!

— Ótimo! Agora vamos antes que as pessoas comecem a falar.

Sim, o que dirão as pessoas? É só o que importa! Tenho certeza de que ninguém notaria minha ausência assim como não notam minha presença, bem parece que meu desejo foi de fato realizado.

 A madrinha arrasta-me pelo braço como costume, descemos juntas, logo nos separamos, comecei a procurar um lugar isolado para sentar e escrever, quando de repente...

— Oh Deus! Perdão senhor! 

— Sem problemas acontece. — Esbarrei num rapaz, fiz com que derramasse a bebida em seu paletó branco! — Pelo visto, comigo ocorre com bastante frequência. — Murmura para si

— Me desculpe mesmo, sou tão distraída, nossa que mancha! Não se preocupe irei lhe pagar outro.

— Calma senhorita, não foi nada de extremo, apenas uma manchinha de vinho, quase nem dá para reparar, aposto que água e algum tipo de... Sabão devem resolver isto, não há necessidade de me pagar. —  Dizia sem desviar o olhar de seu paletó.

Manchinha? Até um cego enxergaria de longe o quão a roupa estava arruinada! 

 Olho atentamente  em seu rosto.

— Um momento... Foi você! 

O Homem mira em minha face sem entender o que dizia.

—  Perdão?

— Aquele dia na praça? Sorvete? E cometi o mesmo erro, que constrangedor!

Ele sorri para mim e diz: 

— Realmente, agora que mencionou, foi mesmo a senhorita quem derramou sorvete em mim.

— Que vergonha! sinto muito de verdade.

— Não há nada para se envergonhar, mas, só por curiosidade, seu histórico de esbarrar nas pessoas é de muita frequência?

— Não! Eu juro que não sou desastrada! digo, não sou tão desastrada assim, não a esse nível, mas por algum motivo sou sempre que estou com você... Quero dizer não que algum dia eu estivesse com você exatamente.... Ah... digo... Conseguiu me compreender?

Ele ri.

— Não. mas, acho que sim. 

Nós dois sorrimos um para o outro.

Só eu sinto o clima esquisito, além de constrangedor entre nós? Não sei bem o porquê mas o brilho em seu olhar.... Desperta-me constrangimento.

— Eh... Então .... Se me der licença. — Digo.

— Claro! Toda. 

— Irei lhe pagar pelo estrago, com certeza.

— Não se preocupe, não há necessidade.

— Me desculpe novamente.

— Imagina.

Passo por ele e...

— Espere! — Algo dentro de mim gela e por fração de segundos prendo a respiração? Por quê?  — Creio que isto lhe pertence. — Ele devolve meu diário, caíra quando tombamos, não havia percebido.

— Óh! muito obrigada, que displicência minha. — Sorrio agradecida, ele também sorri e meu estômago embrulha completamente. Seria má digestão? O que há comigo?

Agora as perguntas que não calam: Por que ele está na festa? Quem será que o convidou? Tia Rosamella surtaria se nos visse conversando novamente, e se ela pensar que o convidei? ou pior! que temos um caso? Mas porque pensei num absurdo desses? Certamente não faz sentido algum! Será que ele está me seguindo?

........

O Rapaz de branco ficara totalmente fora dos padrões com aquela roupa suja, afinal quem era este tão sem modos? Pensavam. Os olhares o incomodava, mesmo que não se importasse com os julgamentos, ainda assim era desconfortável.

— Você veio a um evento de minha família, finalmente! — Diz Alessander surpreso.

—  Não creio que tenha sido uma boa ideia. — O homem elegante mira o amigo de alto abaixo e franze a testa.

— Como exatamente conseguiu realizar esta proeza?

— Uma Senhorita esbarrou- se em mim, assim que entrei neste salão.

O outro gêmeo que de longe os avistara aprochega-se.

— Ora, ora quem é vivo sempre aparece... E pelo visto lhe faz falta um babador! — Zomba Alésser aos risos, o rapaz lhe devolve um olhar gélido porém brincalhão.

— Deveria de me emprestar o seu! 

— Oh! Devo lhe dar meu lencinho senhor? Estou certo de que lhe será mais útil — Alésser faz um gesto dramático com a mão ao retirar um lenço do bolso de seu paletó. ambos riram.

— Parem Vocês dois, já estão grandes o suficiente  para essas conversas tolas. Alésser providencie algo de vestir ao convidado — Toma Alessander a palavra seriamente.

— Farei isso agora mesmo, séria consciência! — Retruca Alésser a seu irmão, que lhe mira com seriedade.

— Não há necessidade, estou bem.

— Bicho! Vai por mim, desse modo acabará sendo expulso, siga-me, pode confiar que lhe arranjarei algo de qualidade!

Mesmo receoso ele concorda.

Assim Alésser guia o amigo ao norte do salão, e Alessander segue ao sul, a fim de encontrar uma maneira de estar só quando é abordado a conversar com um capitão da marinha.

.......

Finalmente encontro um lugar menos movimentado, na verdade quase isolado. Havia uma área próxima aos corredores, com um banquinho de madeira, dava vista para a sala de jantar, há pouquíssimas pessoas ali, a maioria estava no salão de dança, ou espalhadas em partes do nosso jardim de recepção e nos demais cômodos da mansão. Seguro firme a caneta tento escrever, mas minha mão não parava de... tremer?  Por quê? Não há motivo para tamanho nervosismo! Há?

— Olha só quem eu encontrei, o que faz aqui sozinha, patinha? 

— Leblanc. — Digo nada animada. Respiro fundo, tudo o que não queria no momento era ter de lidar com esse paspalhão grosseiro... Por Deus! Me chama de patinha desde a infância!

— Não respondeu minha pergunta.

— Sou obrigada a responder tudo o que pergunta? E em fração de segundos? Aposto que é bastante "óbvio" o que estou fazendo, e como bem notado estava sozinha segundos atrás, gostaria de permanecer assim, se me der licença.

— Sempre tão arisca, criança, isso são modos de se dirigir a um soldado do governo de alta hierarquia? Deveria se sentir privilegiada por eu falar com você. 

Tento falhamente não rir... Privilegiada! Eu!. — Ele fica sério e com olhar penetrante diante do meu riso debochado.

— Ah claro! Deveria lhe pedir um autógrafo também, "vossa excelência?" 

— Clarice, Clarice, não tem mesmo noção do perigo, sorte sua que meu humor está muito bom hoje.

— Sorte minha? Por quê? Se não estivesse de bom humor, ou melhor de muito bom humor o que faria? Me levaria a tortura no quartel? Ouvi dizer que sente prazer em realiza-las.— Digo erguendo levemente o queixo, ele aperta os punhos, mas continua com a mesma expressão séria e vazia, embora fosse visível o aumento da força no olhar. 

Ele permanece em silencio, sinto um leve calafrio no estomago diante daqueles olhos penetrantes, mas não demonstraria qualquer resquício de sentimento, Para não dizer medo ou fraqueza, sabia que estava sendo grossa, mas quem sabe o que me faria caso ao menos sorrisse para ele! Tenho noção do quanto era traiçoeiro.”

— Leblanc, por favor, realmente gostaria de permanecer sozinha, por que não vai importunar alguma solteira por aí? afinal importunar e ser desrespeitoso com mulheres é o que faz de melhor, ah... sim... Especialmente as domesticas.— Digo olhando em seus olhos, claramente acusando-o de incidentes que presenciei no passado.

Agora a vez é dele de rir.

— Tem mesmo muita sorte de ser filha de quem é, mas no futuro não seja atrevida "minha querida" patinha, não garanto que terei a mesma tolerância.

Reviro os olhos, nada me dá mais asco que a frase: "Minha querida patinha" e o bendito ainda enfatiza o minha querida...

— No futuro? Ah... No futuro quero poder não precisar lhe ver a cada comemoração familiar ou em momento algum da minha vida.

 Engulo a seco. Ele demora um pouco para responder, aperta forte os punhos, ao perceber que eu reparara ele coloca os braços para trás, e por fim responde.

— Mesmo? Sabe Clarice, não sou cavalheiro, muito menos piedoso, e sim eu sinto prazer na tortura, especialmente as que são feitas a choque, mas, nada me dá mais prazer que vingança, vai pagar por essa atitude, uma pena desapontar seus planos, não sou de conceder clemencia.

— Ah Leblanc! Vossa "Excelência" me ameaça desde... Meus 7 anos de idade? Acha mesmo que tem algum efeito sobre mim? Não tenho medo de você, e sério, realmente gostaria de ficar só agora. — Isso certamente era mentira, no fundo Clarice estremecia por medo de Leblanc desde seus sete anos, quando a ameaçara pela primeira vez, todavia ele não precisava saber disso.

Sem dizer uma palavra, se retira com o maxilar trincado.

Oh Graças! Consigo escrever no diário, estava ansiosa para registrar sobre aquele rapaz dos episódios vergonhosos, aquele lindo rapaz que porventura esqueci de perguntar o nome, será que nos esbarraremos mais uma vez no futuro?.... Pode parecer insanidade, mas parte de mim ansiava que sim.

....

Christofer Leblanc estava  furioso, e cansado das afrontas daquela garotinha mimada, era como a classificava, mimada e sem senso de perigo. Tinha o dom perturba-lo, como ela ousa se dirigir a ele com tamanha petulância? Precisava aliviar sua ira, vira a pouco uma empregada muito bela, onde estaria agora? 

Mas uma coisa era certa, de algum modo a forma como Clarice o tratava era excitante, embora ele não admitisse.

— Leblanc. Algo errado? Parece inquieto. 

— Coronel Sporgihan. — Sorri, e de repente sua mente se ilumina — exatamente quem eu queria ver nesse momento, estive pensando sobre o que me dissera noutro dia, a proposta mais antiga e tenho uma contraproposta ainda melhor além de mais ambiciosa para lhe fazer, poderíamos conversar a sós?

Nicolau o encarou por alguns segundos

— Perfeitamente. me acompanhe até o escritório.

E assim ambos seguiram juntos, com olhares suspeitos ...

Afinal qual proposta seria essa? 

— Então? O que propõe?

— Admito senhor que soa estranho até mesmo para mim o que direi, mas é pura verdade e estou certo de que será benéfico para ambos...

...... 

 

E cá estou eu andando novamente após guardar o diário. Em parte querendo rever aquele rapaz interessante, por outro lado entediada, dizem que a festa é em minha homenagem, todavia as pessoas parecem se quer notar minha presença, e os poucos que comigo  falam são sempre sobre os mesmos assuntos fúteis "Quanto custou o carro novo de seu pai?" (Como se eu supervisionasse o quanto papai gasta e deixa de gastar) ou "nossa qual o preço desse vestido? vou comprar um igual" parece que a vida dessas pessoas se define por dinheiro, para elas é o bem maior desse mundo  o motivo na qual vivem. 

      Enquanto caminho com os lábios doendo de tanto sorrir, ouço algumas conversas e sim sempre centrada em o tanto que ciclano gastou, o preço que paga por mês da faculdade internacional que a filha estuda, riqueza, mais riquezas e política... 

Será que o problema está em mim? Aléssia costuma dizer que nasci com erro de fabricação, será que... Só eu me sinto inconformada com o que vejo? Somente eu sinto que deve haver algo maior e melhor na vida que apenas dinheiro, estado e poder? 

Falando em poder, o presidente fora em bora a pouco, um militar veio a sua procura, um tanto aflito, ao que parece, coisas do governo, se desculpou por não poder ficar até o fim, antes tranquilizou a todos, dizendo que não era nada sério, logo os que só estavam para vê-lo também se foram. Embora não fizera tanta diferença no número de presentes, já que eram muitos mesmo. 

Os gêmeos, não os via cerca de 40 minutos, quando vi Alésser pela última vez, estava cochichando algo no ouvido de uma bela moça, tão típico dele, Alessander conversando com uns rapazes de uniforme oficial da marinha. Fala sério? De uniforme num baile de aniversário? As pessoas gostam mesmo de exibir suas posições. Minhas irmãs, não fazia ideia onde estavam, a madrinha e mamãe conversavam com algumas mulheres elegantes, porém donas de falsos olhares.

—  Clarice. — Alguém a chama despertando lhe de seus pensamentos.

—  Papai!

—  Está do seu agrado a festa? — Pergunta com sorriso de orelha a orelha.

—  Oh, Sim! está perfeita! — Tenta sorrir o menos forçadamente possível.  

A festa em si estava mesmo perfeita da decoração ao  buffet, repleta por minhas flores preferidas, sim, mais que perfeita, sou grata por ter tido a oportunidade de tê-la, sei que muitas meninas dariam tudo para ter um aniversario assim, mas de que adianta uma festa sem ter amigos com quem compartilhar suas alegrias? Essa não deveria ser a razão das comemorações? Compartilhar as alegrias com o próximo? Família e amigos? 

Papai e eu começamos a caminhar de braços dados, e "Sorrindo" quando a conversa muda para um curso extremamente estranho.

—  Me diga querida, o que acha do filho do Grande Almirante.

— Qual almirante papai?

— LeBlanc, é claro.

— Ah, fala de Christofer? Por que me pergunta a seu respeito?

—  Por nada em especial, apenas gostaria de saber sua relação com ele, ora, se conhecem desde que... Você nasceu.

—  E? E daí que nos conhecemos desde sempre? Não tenho relação nenhuma com ele, é um concupiscente desprezível sem o menor grau de educação e respeito, ele me traz repulsa apenas por existir! É o que as empregadas classificam como um típico tremendo canalha! —  Mas é claro que Clarice não disse isso! Gostaria, seus modos e educação porém infelizmente falavam mais alto, ao invés ela disse:

— Sinceramente papai, ele não é do meu agrado, não temos exata relação de amizade, sendo sincera, não gosto mesmo do co-Almirante LeBlanc. 

— Mas por quê? é um jovem muito rico, além de excelente oficial. 

—  Ele é desrespeitoso com as pessoas papai, Não me sinto bem e à vontade em sua presença, Leblanc é o tipo de pessoa que qualquer sábio manteria distância, mas por que exatamente estamos falando sobre ele?

Nicolau sorri, um sorriso forçado, exatamente igual ao de sua filha, se havia algo em comum entre esses dois era o sorriso. Embora não pudesse compreender como a filha supostamente poderia não ter interesse no bom partido que era o filho de seu velho amigo.

— Ah... Por nada, como disse, nenhum motivo em especial, por que não vai se divertir um pouco mais com seus amigos, aproveite sua festa ao máximo, Logo, logo partiremos o bolo e nos despediremos dos convidados. 

Amigos? como se eu tivesse algum!

— Claro, com licença, pai.

Papai vai em direção a um grupo de homens que conversavam, levantaram suas taças quando o viram. 

E falando no diabo, avisto Leblanc, como Alésser sussurrava algo no ouvido de uma mulher morena, vestida em um vestido vermelho tanto curto demais, se madrinha Rosamella estivesse vendo a cena falaria horrores da moça. Ela sorria de modo muito esquisito para ele. Seus olhos cruzam com os meus e o bendito pisca, arrgs! 

Por que raios meu pai perguntou o que acho dele? É impossível sentir outra coisa além de repulsa. Reviro os olhos e vou em direção aos fundos da mansão. Precisava mesmo respirar. Se tem algo que amo na minha casa é o terreno ao fundo , parece uma floresta bem cuidada, cheia de arvores e flores, além desse gramado esplendido.  Temos também lagoa com uma ponte em forma de meia lua que leva para o nosso "grandioso jardim secreto encantado" muito estilo conto de fadas não acham? minhas irmãs e eu costumávamos brincar de princesas e bruxas ali.... 

 

vou para a Ponte olho o meu reflexo nas águas abaixo sob a luz do luar, de repente sinto uma presença atrás de mim, engulo a seco, só faltava ser o Leblanc! Me preparo para lhe dar um soco se ousasse tocar em mim, quando de repente.... De repente.... Uma rosa? 

A pessoa atrás de mim fica ao meu lado e me dá uma rosa branca, a pego então olho para ela, e adivinha, era ele novamente! Não Leblanc, credo, mas ele! Aquele Rapaz bonito! estava sem o paletó manchado. Reprimo um sorriso e digo:

— Está me perseguindo por acaso, senhor? Devo começar a me preocupar?

— Engraçado, iria lhe perguntar o mesmo.

— Como?

— Vejamos... A senhorita se esbarrou em mim na praça outro dia, então nos encontramos nessa festa, há o que? Uns... três dia? E esbarrou-se em mim novamente a pouco, quando saio para tomar um ar, lhe encontro aqui, parecendo estar a minha espera, analisados os fatos, lhe pergunto, está me perseguindo? Devo começar a me preocupar?

 

O Que? Ele veio para minha festa e sustenta essa hipótese de eu o perseguir? Ou não sabe que a festa é minha? 

Sorrio discretamente.

 

— Então culpemos as coincidências da vida por isso. —  Digo olhando para o jardim a minha frente, pode ser impressão, mas algo nele me deixa nervosa, não de um jeito ruim, mas de maneira inexplicável.

 — Parece Justo. 

 — Diga-me, não me tenha por indelicada, mas quem o convidou para essa festa? — continuo olhando para frente.

—  Alessander. Alésser também reforçou o convite por diversas vezes.

—  Ah, então você é amigo dos meus... Do... Dos irmãos da aniversariante? 

— Sim, os conheço há um tempo. E quanto a senhorita, quem a convidou? — Olho para ele por um instante, e retomo minha posição inicial. 

Oh my God!  Ele não sabe mesmo quem sou? Só pode estar de brincadeira  desci uma escada na frente de todos!

— Bem, ah.. conhece as irmãs dos gêmeos?

—  As mais velhas, conheci de vista hoje, mas não tive o prazer de conhecer a aniversariante ainda, quando nos esbarramos havia acabado de chegar. — Ele não contaria que o vinho manchou a roupa por trás do paletó e Alésser encarregou-se de  arranjar uma outra  ou estaria em constante julgamento, não que ele se importasse com o que falam a seu respeito, mas  por uma grande coincidência ou obra de gozação do Alésser, acreditava mais ser a segunda opção, a camisa que lhe arrumou era a mesma que os garçons vestiam, na verdade até sua calça era semelhante,  muitos o  confundia com um empregado pedindo-lhe que os servisse, por essa razão deixou a festa a procura de ar. Certamente não pertencia a este mundo.

— Oh! eu sinto muito... — volto a atenção para seu rosto.

— Águas passadas. — Ele sorri e mais uma vez aquele embrulho no estômago.

— An...antes que me esqueça, como se chama?  — Engulo a seco.

— Sou Demitry. E a senhorita? Como se chama? —  Ele diz com um sorriso de canto e o estômago de Clarice embrulha a um nível máster, o que a fez pensar que este era o motivo de tal desconforto.

 Afinal, Demitry era dono de uma beleza nada enjoativa, máscula e agradável. Alto, com postura de oficial, ombros largos, pele clara, cabelos negros lisos e cumpridos, não grandes demais, mas na medida certa, rosto harmonioso, olhos tão negros quanto seus cabelos, lábios rosadas e carnudos, quando sorria... Ficava ainda mais belo, seu sorriso era a perfeição, dentes alinhados, com covinhas, Por Cristo! Era mesmo imagem e semelhança de Deus! como conseguia ser tão lindo?

— Cla... Clara — Estava tão perplexa com a beleza dele, que se quer notara que havia lhe dito seu nome errado. 

— Um bonito nome, faz jus a sua beleza, senhorita Clara, se me permite. — Sorri tímida.

 — Seu nome também é muito bonito, combina perfeitamente. — Oh não! ela acabara de dizer que o achara bonito indiretamente!

—  Obrigado. — Disse sustentando aquele sorriso travesso.

Então  me estende a mão... 

 

Clarice sabia que seria loucura segurar a mão dele, afinal era um desconhecido! Porém, por maior que fosse o conflito dentro de si não conseguia dar ouvidos as vozes de sua mente,  segurando sua mão, caminharam juntos pelo jardim... 

— É Mesmo um jardim encantador. — Ele diz.

— Sim, me encanta, está repleto de rosas brancas, as minhas preferidas.

— Bom Saber disso. — Ambos param de caminhar. Demitry olha para o céu.

— A Lua está esplendida hoje.

— Concordo, e as estrelas estão magnificas também. — Diz Clarice olhando também o céu, Demitry porém a observava quando torna a falar.

— Sim, muito magnifica. — A menina volta para ele olhar.

— Admito Clara, estava detestando ter vindo nesta festa, mas fico contente que o tenha feito, ao menos a conheci. — Algo dentro de Clarice borbulha, embora não entendesse por que ele a chamara de Clara.

— Sinto que seja recíproco. 

Ambos se olhavam... Demitry segura as duas mãos dela e aproxima-se dando um passo a frente, inclina seu corpo pra mais perto e...

— Mas que pouca vergonha é essa? —  Rosamella surge furiosa. — Estive lhe procurando por toda parte Clarice! E Você? Garçom abusado! Como Ousa?

— Perdão?

A Mulher puxa menina sem dar atenção.

— Sinto muito! — Clarice diz em alto som para ele, que permanece em seu lugar, sem entender o que acabara de ocorrer.

— Ai madrinha! Está me machucando!

— É bom que machuque mesmo! E se mais alguém lhe visse de conversinha com aquele garçom sem escrúpulos?

— Como Pode dizer que ele é garçom?

— Ora! Menina tola! Não reparou no uniforme? Aquele salacraio aproveitador, ao invés de fazer o trabalho que lhe cabe estava seduzindo... Oh Meu Deus! Clarice, vá já para a sala de jantar.

— Mas...

— Vá! Sua mãe está uma pilha de nervos, já vamos partir o bolo! 

A menina obedece nada animada... Que importa se era garçom, não parecia ser desonesto e sim encantador.

 

Rosamella certificou-se de que o rapaz fosse posto para fora da festa antes de retornar ao salão de jantar para o brinde final.

 

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