Entre homens e moleques

Capitulo 2

              Entre homens e moleques

Vitor e Mariana ainda acertavam os seus detalhes na academia. Aquela era uma conversa decisiva para seu aprendizado. Vitor precisava aprender e rápido. O seu jeito meio rockeiro, motoqueiro anti-social o impedia de ter certas conversas sobre comportamentos normais para outros.

- Quanto tempo o senhor tem até o casamento? - Perguntou ela

- Um mês mais ou menos. - Ele a olhava enquanto ela disfarçava os olhares nos bíceps dele que saltavam da camisa justa.

- Certo, você pode fazer toda segunda, quarta e sexta, podemos combinar depois. Agora eu preciso ir.

Ela se levantou e Vitor a acompanhou.

- Ok, preciso usar algo diferente?

- Calça de moletom e camiseta está ótimo. Eu realmente preciso ir.

Vitor enfiou as mãos nos bolsos.

- Se quiser posso te deixar em casa, é perigoso essa hora.

Ela sorriu.

- Onde você mora?

- Por aqui, Ipanema - Ele mentiu com um sorriso fraco

- Humm, não, eu moro em um lugar longe e feio para você.

Mariana saiu andando e abriu a porta do salão.

- Onde é? - Ele foi em sua direção

- Olha... - Ela parou e ficou o olhando pensando se seria boa ideia ser rude - Eu sou sua professora e vamos manter dessa forma, certo?

Vitor arregalou os olhos. Em seguida começou a rir.

- Achou que eu estava dando em cima de você, teacher? Eu só quis ser amigável, não sou um maníaco. Boa noite.

- Mas eu não quis...

- Ah quis... - Disse ele indo para a recepção. - Até amanhã, teacher

- Até...metido. - Ela retrucou baixinho e Vitor ouviu.

Assim que ela saiu, ele deu um sorriso cafajeste e falou com a recepcionista. Mariana desceu as escadas resmungando para si mesma.

Idiota, metido, deve ser riquinho, acha que compra todas...mas é um idiota lindo esse cara.

Vitor saiu da escola de dança com um panfleto em mãos e a viu parada no ponto de ônibus. Eles se olharam e ele fez um aceno de cabeça como se a cumprimentasse com um chapéu. Em seguida foi caminhando para a rua onde estava seu carro.

 Mariana enfrentava muitos problemas financeiros. A dançarina tinha um problema no cartão de crédito por falta de pagamento, herança dos tempos em que esteve sem emprego, portanto teve que pedir um empréstimo no banco para comprar um celular novo. Odiava aquilo, mas precisava de seus aplicativos de volta, principalmente dos exercícios que fazia em casa, em seu quarto e das corridas em volta do quarteirão. Planejava entrar em um programa de vendas online de produtos de emagrecimento e dietas e, portanto, precisava muito de um celular. Mariana era uma jovem que batalhava demais na vida para ajudar os pais. Sem irmãos, só ela era quem ajudava no sustento deles e dos remédios de pressão que tomavam. A mãe ainda fazia faxina todos os dias na casa de uma família rica de Copacabana. A família Lopes lutava com dificuldades na vida mas eram felizes. Sempre que podiam recebiam amigos do pai para jogar cartas, ver futebol na tv e fazer churrascos patrocinados pelos amigos dele.

Mariana saiu do banco e foi direto para a escola de dança começar novo turno, porém na porta da academia havia uma pessoa a esperando. Patrick era seu namorado, o que não lhe dava direito de fazer as coisas que fazia, mas ele pouco se importava em vigiar os passos da namorada que considerava bonita demais para ficar sem a supervisão dele. Mariana o avistou de longe e bufou. Já sabia o que esperar dele e estava cansada de suas perguntas insistentes e seu controle sobre sua roupa. A professora de dança vestia uma calça jeans apertada e uma camiseta preta. O cordão de bijuteria barata com sua inicial pendia entre os seios sobre a camiseta. Depois do assalto ela andava mais depressa que o normal.

- Bom dia Patrick.

- Bom dia Patrick? - Ele repetiu - Eu espero pelo menos um beijo, né?

Mariana subiu as escadas e deu um selinho em seus lábios. Ele resmungou. Patrick era o típico jovem rico, que fazia faculdade cara paga pelos pais, não fazia nada o dia todo pois não precisava e apenas seguia os passos da namorada como só um homem sem auto estima e controlador o fazia.

- Onde você estava?

- Eu fui ao banco, eu te disse que fui assaltada na porta de casa, fui pedir um empréstimo.

- Então me passa o número novo antes de entrar.

- Patrick, eu ainda não comprei e eu já estou atrasada, eu preciso entrar.

- Mariana...agora. - Ele disse em tom autoritário.

Ela bufou um pouco e deu um número qualquer a ele para que fosse logo embora. Então entrou na escola de dança, contrariada, com raiva que até a recepcionista, sua colega, reparou.

- Patrick? - Perguntou a moça.

- Sim - Respondeu passando pela catraca. - Ele acha que é meu dono. Eu estou cansada disso.

- Por que não termina? - A moça a olhava com pena.

- Eu não sei, eu tenho medo de ele fazer escândalo sabe...

- Mari, ele já fez escândalo uma vez e você continuou, você só tem medo dele.

- Eu sei  - Ela respondeu fazendo um bico com a boca enquanto prendia os cabelos em um coque - Você acha que alguém pode me ajudar?

- Amore, eu não sei, só sei que você precisa resolver isso, você não é burra, olha os casos acontecendo aí no mundo, vai esperar?

- Esperar o que? - O dono da escola de dança se aproximava ouvindo a conversa - Seu aluno é que não pode esperar mais, vai dar aula ou ficar de papo?

Mariana revirou os olhos para a colega recepcionista e entrou para o salão de dança. Assim que entrou viu que Jorge já a esperava. Aquele homem lhe dava asco. Sempre que ela ouvia suas investidas sexuais, lembrava da música de T,ina Turner, Private dancer.

Todos os homens vêm nesses lugares

E os homens são todos os mesmos

Você não olha para seus rostos

E você não pergunta seus nomes

Eu sou sua dançarina particular

Uma dançarina por dinheiro

Eu farei o que você quer que eu faça

Eu sou sua dançarina particular

Uma dançarina por dinheiro

Qualquer música velha eu dançarei

- Seu Jorge! - Ela cumprimentou alegremente - Bom dia, o que vai querer dançar hoje?

- Mambo! - Ele sorria feliz ao olhar o corpo bonito dela. - Na horizontal.

- Ah seu Jorge, infelizmente, essa dança eu não sei ensinar, que tal mambo tradicional?

Ele riu.

- Sim, minha querida, sabe que é brincadeira com você não sabe?

Mariana respondeu que sim de costas para ele mas de frente para a aparelhagem de som procurando um Mambo. Assim que achou fingiu para si mesma enfiar o dedo na goela com vontade de colocar tudo para fora com nojo. Então ela voltou o corpo para ele com um sorriso falso, mas arrebatador para o coração do velho.

- Estou ficando com dor nos joelhos, preciso treinar mais e caminhar mais também. - Disse ele

- Com certeza, o senhor já tem sessenta e oito anos, precisa se exercitar.

Ela começou a se mexer com a música “Maracaibo Oriental” de German Villareal.

- Senhor Jorge, vou lhe ensinar somente alguns passos pois temos cinquenta minutos certo?

- Certo, minha jovem.

- Então o senhor coloca a mão na minha cintura e vou colocar a mão sobre seu ombro e se deixe guiar pela música começando com o pé direito na frente de cada passo. E vamos.

A aula transcorreu sem maiores flertes da parte do senhor Jorge e Mariana ficou feliz por isso, nem todos os dias eram assim. As vezes ele deixava a mão deslizar pela lateral do corpo de Mariana e ela sempre tinha que subir sua mão sem fazer alarde e assim ia levando os mais engraçadinhos alunos. A jovem dançarina não queria perder seu emprego contando ao patrão que os alunos cometiam certos abusos porque todos tinham uma boa casa, em um bairro nobre do Rio e podiam destruir sua carreira. Ela ia com muito jogo de cintura levando seu emprego, fugindo das cantadas e abusos até a hora em que pudesse abrir sua própria academia de dança. Era um sonho antigo. Mariana amava dançar desde pequena. Só conseguiu entrar em cursos na adolescência para depois se apresentar em festas e bailes da terceira idade rica da zona sul. Aquele período foi quando recebeu o convite para ser professora. O emprego caiu como uma luva na necessidade pela qual passava sua família. Ignorava os homens como na música que mais gostava de Tina Turner e não se importava com mais nada quando a música começava. O seu corpo parecia fazer todo o trabalho sozinho, acostumado as batidas mais melodiosas. Era quando a menina dentro dela se soltava e se sentia livre e feliz em uma vida difícil. A música era tudo para ela e a dança ainda mais.

Aquela terça-feira transcorria bem demais para Vitor. O homem rico tinha chegado como sempre impecável a empresa, de terno preto e gravata cinza do Bob Esponja. Todos riam sabendo que era o jeito de Vitor tornar o seu trabalho menos pesado e um pouco mais alegre. Era irreverente, mas extremamente sério quando atendendo a empresários e sócios. Todos já conheciam seu jeito de ser e não se importavam porque sabiam que ao final do dia Vitor teria dado o melhor de si para que a empresa funcionasse da melhor maneira possível, em reuniões de licitação ou fazendo investimentos na bolsa entre outros. Os poderosos confiavam de olhos fechados em Vitor Ferreira.

Quando ele saiu de seu trabalho pelas vinte horas da noite, entrou em seu Audi na garagem do prédio empresarial e finalmente olhou as horas no celular. Estava atrasado para começar a aula de valsa com a professora. Não daria tempo de trocar de roupa em casa então foi assim mesmo. Vitor sabia que certamente encontraria engarrafamento de Leblon para Ipanema, apesar de ligeiramente próximos. Ele chegou às vinte e trinta correndo, com a janela aberta sentindo o vento frio da proximidade do mar. Ao chegar, como da primeira vez deixou o carro longe da escola de dança, porém dessa vez em um edifício garagem vinte e quatro horas. Vitor chegou a escola bufando de calor. Assim que entrou, cumprimentou a recepcionista que sorriu mais do que devia para ele. Vitor agradeceu pelo ar condicionado no máximo ali dentro. Sorriu para ela.

- A professora Mariana ainda está?

- Sim, a sortuda está lá ainda - Ela falou sorrindo se sentindo engraçada.

Vitor apontou para ela sorrindo o seu melhor sorriso cafajeste.

- Boa, garota - Ele estendeu a mão para ela e a recepcionista bateu na mão dele, depois riu muito ainda se insinuando.

Vitor a deixou rindo e se dirigiu ao salão. Ele abriu a porta devagar e isso não fez com que a porta rangesse ou fizesse qualquer barulho. Então ele flagrou Mariana rodopiando de olhos fechados enquanto tocava alto “Reggaeton lento” de CNCO, música que tocou muito há alguns anos. Mariana vestia um vestido vermelho curto de saia rodada, típico para Bolero. As coxas ficavam visíveis e as costas nuas. Vitor parou para ver a professora mover os cabelos longos no ar, enquanto girava a cabeça dançando sozinha. As coxas de Mariana eram bem torneadas, a bunda empinada, os seios na medida que ele gostava, nem tão grandes nem pequenos. Era toda bonita. Vitor nada disse, apenas ficou admirando-a dançar sozinha, aproveitando seus momentos para dançar do jeito que gostava. Mariana abriu os olhos e o viu pela parede de espelhos. Ela deu um grito com o susto.

- Meu Deus! Senhor Vitor?

- Não sei o que é pior  - Respondeu ele rindo - Você se assustar ou me chamar de senhor.

Ela foi até o som e o desligou.

- Eu estava dançando porque achei que não vinha mais. E sempre vou chamá-lo de senhor, fui ensinada assim aqui pelo dono.

- Que estranho, eu só tenho trinta e um anos e não quero ser chamado de senhor.

- Lamento, senhor, agora é meu aluno e devo te respeitar.

Mariana trocou a música e pôs para tocar “La valse de L´amour” de Patrick Doyle.

- Ah a outra estava melhor! Que coisa chata!

Ele se aproximava dela. Mariana se virou para ele.

- A menos que vá dançar reggaeton agarrado no casamento, terá que aprender valsa e essa é uma das mais lindas. - Mariana fechou os olhos. - Sinta a música, senhor, feche os olhos, veja como é linda e romântica...

Vitor ficou olhando para ela e sorrindo um sorriso debochado a achando linda.

- Verdade, é linda e romântica - Ele comentou

Mariana abriu os olhos sentindo que ele não falava da música.

- Bem, vamos então começar, senhor Vitor. Me dê sua mão, vou ensinar os primeiros passos.

- Se continuar me chamando de senhor, vai rolar um assassinato aqui.

Ela sorriu.

- Não posso fazer nada, se acostume.

Vitor deu a mão para ela e Mariana começou a explicar.

- Essa é a versão da valsa inglesa, onde os passos são mais devagar, o senhor deve começar com o pé esquerdo e eu com o direito. A minha mão esquerda vai no seu ombro e a sua direita na minha cintura. Nossas mãos direita e esquerda se seguram no ar, aproximadamente na altura do nosso ombro ....

 - Entendi - Vitor levou a mão a cintura dela e apertou mais que o necessário.

- Não é para me apertar senhor, é para segurar com suavidade, tudo na valsa é suave, é uma dança clássica.

- Eu sei  - Ele a olhava com ar safado.

Mariana parou e ficou olhando em seus olhos.

- Vamos conseguir? Ou o senhor pode escolher uma outra professora aqui.

- Se ela for gata igual você, eu aceito.

- Ela tem sessenta anos.

- Hmmm, acho que prefiro você, senhorita.

- Vai se comportar?

- Mas é claro, desculpe-me o inconveniente, não vai se repetir - Disse ele em tom clássico acompanhando o tom antigo da valsa.

Mariana riu ao finalmente reparar na gravata de Bob Esponja dele.

- O que foi? Eu sei que sou uma graça mas não precisa rir tanto.

Mariana se curvou para frente rindo.

- Acho que o senhor gosta muito do Bob Esponja!

- Ah - Ele começou a tirar a gravata - Eu esqueci que estava com ela, onde eu trabalho é muito sério e eu gosto de distrair os colegas!

- Certo, vamos continuar.

Vitor colocou a gravata no bolso da calça e continuaram. Dançavam e olhavam-se nos olhos. Mariana estava hipnotizada pela beleza dele e Vitor pela dela. Esqueceram do tempo sem dizer qualquer palavra, apenas valsando pelo salão depois que ele pegou facilmente o ritmo e os passos da valsa. A recepcionista entrou no salão e os flagrou olhando-se insistentemente enquanto dançavam.

- Mariana! A gente já vai fechar! - Gritou ela.

Os dois foram retirados repentinamente de sua hipnose sensual despertando e olhando para a moça.

- Ah sim, Denise, obrigada!

Eles riram e evitaram se olhar.

- Parece que esquecemos da hora - Disse ele.

- Sim, a música faz isso... - Respondeu ela com vergonha.

- É... - Ele retrucou enquanto esfregava as mãos  - A música...

Mariana pegou sua bolsa e foram saindo do salão enquanto ela desligava as luzes depois de desligar a música. Vitor a esperou do lado de fora.

- Então, amanhã eu volto.

- Sim, senhor - Ela olhou discretamente para a recepcionista Denise.

- Boa noite a todos. - Vitor viu que o dono da escola de dança estava ali também esperando para fechar.

Vitor saiu e notou um rapaz franzino encostado a um carro na frente da escola de dança como que esperando alguém. Eles se olharam. Vitor continuou caminhando.

- Devo lembrar Mariana que o horário com o cliente é de cinquenta minutos. - Disse o seu patrão.

- Sim, eu sei, é que ele leva muito tempo para aprender.

- Hm... não esqueceu do jantar que te convidei?

Mariana parou e pensou em como era difícil ser mulher na sociedade. Investidas por todos os lados, abusos, assédios.

- Claro que não esqueci, é que vou começar a estudar - Mentiu - Estou focada na minha faculdade, mas vou dizer o dia que vou poder.

- Aguardo você - Disse ele saindo pela porta enquanto acendia um cigarro.

Vitor caminhava mais devagar que o habitual e olhava para trás em alguns momentos. Assim que viu Mariana sair escondeu-se atrás de um poste. Mariana desceu as escadas vendo que Patrick a esperava.

- Que vestido é esse?! Ta parecendo uma puta!

- Eu sou dançarina, esqueceu? Eu preciso me vestir como uma professora de dança. - Ela retrucou.

- Entra logo no carro!

- Patrick, eu vou de ônibus.

- Mariana, não me irrita! Entra logo no carro.

Ela começou a caminhar na direção de Vitor e ele voltou a caminhar se escondendo.

- Mariana, você vai se arrepender de me desafiar!

O rapaz entrou no carro e foi embora. Vitor continuou caminhando e foi embora bastante indignado, mas planejou falar com ela sobre aquilo, só não sabia como. Mariana ficou parada no ponto de ônibus às vinte e uma e trinta quando um carro parou em frente a ela. O pavor tomou conta de seu rosto, pensou se tratar de outro assalto. O vidro se abriu e ela viu o rosto de Vitor, dando graças a Deus.

- Meu Deus, você sempre assusta as pessoas assim toda hora?

- Senhor - Repreendeu ele rindo.

Mariana cruzou os braços e ficou olhando a rua para ver se vinha o seu ônibus.

- Eu não quero te assediar, teacher, só quero dizer que pode fazer alguma coisa com relação a seu namorado abusador. Se chama polícia.

- Eu não quero me envolver com isso e eu vou terminar com ele.

- Hmmm...será mesmo? Vai esperar o feminicídio? - Vitor estava bem sério a olhando.

- Eu vou terminar, senhor, fique tranquilo, sei me cuidar.

- Bem, eu espero que saiba, a minha carona está de pé como ontem, não vou falar de seu vestido, mas alguns homens são uns escrotos mesmo. Gostaria de ajudar.

- Não, obrigada.

- Ta certo, teacher, até amanhã.

Ainda deu tempo de Mariana ouvir que Vitor aumentou o volume do seu som do carro e tocava “Too late for love”, de Def Leppard. Ela adorava rock. Vitor piscou para ela e ergueu o vidro fumê do carro, depois saiu cantando os pneus. Mariana percebeu que era um Audi.

- Ele vai de Audi para casa e eu vou de ônibus, que vida...  - Disse para si mesma.

Mariana entrou em seu ônibus e ficou refletindo sobre quem ele era. Um empresário? Um filhinho de mamãe? Um gerente de banco? Mariana ficou divagando sobre a sua identidade. Seria interessante saber quem realmente ele era.

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