Malditos paparazzis

No dia seguinte, os tabloides e os demais veículos portadores de fofocas sobre as celebridades, estavam eufóricos com suas manchetes sensacionalistas. Eles não pouparam esforços! Não escapou ninguém que lá esteve presente, inclusive Nina e David.

Ele deslizava o dedo pela tela de seu telefone para frente e para trás, deitado em sua cama, vestido apenas em seu roupão de banho, já havia visualizado dezenas de sites que lhe foram enviados por seus assessores de imprensa. Nina, o trouxe café da manhã na cama, e apesar de  ter retribuído com um sorriso, ela não se convenceu de que aqueles dentes a amostra expressavam um sorriso verdadeiro.

— Está tudo bem?

—  Sente-se aqui um pouco, vamos tomar café primeiro.

— Nossa, agora você me deixou curiosa!

Nina pulou na cama e se acomodou ao lado dele e enquanto os dois saboreavam a deliciosa refeição leram o que podiam sobre a cobertura da noite anterior. Nina quase cospe o gole de café que tomara, quando leu algumas insinuações de que ela estaria tendo um  affair com Elo. Havia muitas fotos,  closes e ângulos de trocas de olhares entre os dois, tudo manipulado pelos fotógrafos e jornalistas.

Nina xingava os canais de fofoca, xingava todos a cada linha que lia. Estava indignada, mas sabia ser assim o mundo do qual havia se tornado parte, quando resolveu seguir seu amor, David. Ele claramente não gostou de vê-la em pé, exuberante, e um homem de joelhos aos seus pés fechando a fivela solta de sua sandália, mesmo que ele fosse a prova viva quando se tratava de mentiras publicadas na mídia— fotos tinham um poder muito grande de persuasão.

Nina observava seu queixo quadrado  se comprimindo nas laterais , ele não diria uma palavra a ela sobre o assunto, era um cavalheiro, um homem bem instruído e devoto aos direitos das mulheres, mesmo sentindo ciúmes não comentaria o assunto. Ela pelo  contrário, não sossegaria até que os dois esclarecessem tudo aquilo.

— Rich, você sabe que isso tudo não é verdade, não é? Jamais olharia para outro homem, sem chance! Seja lá quem for, até o presidente.

— Sei, sim...

— E por que está com essa cara?

— Tem que tomar mais cuidado Nina, qualquer coisa que faça pode resultar em meses de dor de cabeça. Haverá muitas coisas que poderão te tirar seu sono,  sua paz  e matérias das quais você poderá se arrepender pelo resto de sua vida. Só estou falando para ser cautelosa, diplomática e tomar mais cuidado!

— Acha que foi minha culpa?

— Não.

— Eu estava sozinha te esperando, muito tempo havia se passado e Elo me ofereceu ajuda quando ninguém mais havia o feito. Eu quase caí por causa desta bendita sandália, e graças a Deus, ele me ajudou. Essas fotos aqui, ele nunca  esteve tão próximo como nesses cliques, foram momentos de menos de um segundo, quando ele tinha que dizer algo em meu ouvido devido à da música alta... Droga de jornalistas infernais!

— Ei, relaxa. Não vamos nos deixemos levar por essas notícias e estragar nosso domingo. Estou dizendo que confio em você, sei que não daria se quer a chance de ninguém se aproximar de você de outra forma que não fosse sem intenções.

— Mesmo assim, há algo que você não diz!

— Não gostei de vê-lo tão próximo a você. Não estou falando dessas fotos, estou falando sobre o que presenciei a noite inteira.

— Elo realmente não deu em cima de mim David, nem por um momento ser quer houve  uma troca de olhar malicioso. Ele  deve ser caridoso, deve ter sentido pena de mim...

— Espero que sim. Vamos esquecer esse assunto!

— Está bem, mas  tenho outra coisa para falar. Não  ficarei trancada em casa como uma prisioneira, deixando a opinião de pessoas entranhas, hipócritas, injustas e  retrógradas, arruinar a minha liberdade e... saúde mental!

— Quer ir a algum lugar?

— Quero sim! Viajamos muito, e tudo o que fazemos é ficar em hotéis, reuniões de trabalho e encontros sociais de negócios, sempre algo formal... quero respirar um pouco, quero me sentir eu novamente.

— Vai me dizer para onde você quer ir?

— Quero andar por aí, sem planos, sem seguranças e sem hora para voltar. Só isso! Quero pegar o metrô,  comprar bilhetes,  me sentar num gramado ao ar livre e tomar  sorvete, comer algo que me dê vontade na rua, passar numa lojinha e comprar um cristal, por exemplo, comprar algo para você...

— Sabe que será fotografada por alguém, e já viu o estrago que uma simples fotografia pode causar...

— Não vou virar prisioneira da minha própria vida! — Nina falava enquanto subia em cima dele. —  Além disso, não estou pedindo para sair, estou informando, por consideração e respeito ao meu parceiro... — Ela o beijou de língua, em seguida tentou se levantar rapidamente, para deixá-lo  desejar seus lábios, mas antes que  conseguisse sair, ele a pegou apenas com um braço e logo, ela já estava embaixo dele, os dois riam dessas bobagens entre casais...

— Eu vou com você, é claro!

— Não precisa usar seu dia de folga fazendo o que quero, Rich. Você pode fazer qualquer outra coisa no mundo e para mim, está bem; pode visitar um amigo, uma amiga,  ver um jogo de futebol e dormir o dia inteiro, afinal é seu dia! Não vou ficar chateada se você quiser ficar sozinho  às vezes, gosto de respeitar o seu espaço.

— Eu não quero que você respeite o meu espaço, não quero que me deixe tão solto!

— Não começa! Lembra das nossas brigas quando nos conhecemos na Itália? Eram insuportáveis! Eu definitivamente não fico mais apaixonada depois de uma briga... Você pirava quando eu queria sair do hotel e bater perna o dia todo!

— Não, é isso! Eu vou com você porque sou mais feliz quando estamos fazendo algo juntos! Meu dia fica chato quando você não está perto, já bastam as suas horas de trabalho longe de mim nos centros de vacinação, há meses não sossega, e ainda tem as minhas intermináveis horas de trabalho nos  sets de gravações. Não ficamos tanto tempo juntos assim, se é isso que você quer dizer!

— Às vezes sinto  que, literalmente, nunca mais nos largamos desde que nos conhecemos, exceto por aqueles três meses depois que você foi embora e eu quase morri...

— Que nós quase morremos... Você está se sentindo sufocada? Quer mais tempo livre para você? Prometemos um ao outro que não teríamos jogos e nem segredos! Eu posso arrumar algo para você agora que tudo voltou ao normal, outro trabalho...

— Não é isso, David! Não estou enjoada de ficar com você! Você sempre dá um jeito de entender o contrário do que eu estou tentando dizer...

— Quer viajar para a Noruega, ficar com seus amigos? Quer trazê-los para cá?

— Isso é outro assunto para outro dia, com certeza irei encontrá-los, mas não é disso que estamos falando.

— E do que realmente estamos falando?

— Apenas fiz um comentário sobre você quase não  ter liberdade, não tem tempo para você mesmo, ou está sempre envolvido em algo de trabalho, ou está comigo! E isso é sempre! Eu não troco estar com você, por nenhum outro lugar do mundo, mas não é comigo que estou preocupada, é com você! Precisa de espaço!

— Eu quero você colada em mim!

— Mais colada que isso aqui impossível! — Risos... Nina se referia a aproximação de corpos entre eles naquele momento.

Os dois desistiram do diálogo a respeito deles passarem mais tempo longe um do outro e foram se aprontar para desfrutar o lindo dia de sol em Londres. Nina insistiu que os dois usassem disfarces, mas ele não aceitou. Eles passaram o dia inteiro aproveitando o passeio pela cidade, não havia mais como se esconder. As pessoas os reconheciam, pediam fotos, Nina o empurrava para ir e logo tomava a câmera dos fãs, fazia questão de bater as fotos nos celulares para evitar que saísse nas mesmas. Ela pedia apenas um favor aos fãs de David, que eles esperassem para postar as fotos no dia seguinte, e que não espalhassem para outras pessoas onde eles estavam, para evitar mais tumultuo e as pessoas concordavam e até prometiam.

— Só você me faz sair em plena  Londres tumultuada, para um passeio matinal num domingo... meus agentes publicitários vão me matar!

— Não se esqueça que para lhe matar, terão que passar por cima de mim primeiro! Vem, se agacha aqui, vamos sujar um pouco o meu vestido nesse gramado...

 — Além do mais, não estamos fazendo nada de errado. Apenas vivendo. O que vão postar sobre a gente? Que no dia seguinte a insinuações maléficas sobre um suposto caso que eu e Elo  pudéssemos estar desenvolvendo, nós aparecemos sendo o casal mais  fofo e comum do mundo? Um tapa com luva de pelica na cara dos fofoqueiros!

 Os dois se divertiam como nunca. Nina era um ser humano interessante, ela não dava a mínima para o sobrenome das pessoas, e muito menos para o  status financeiro das mesmas, David sempre a olhava com um olhar de fascinação. Ele gostava de ouvi-la, eram tantas teorias, tantas histórias,  era como ler um livro e viajar nas coisas que ela tinha para contar. Não faltavam detalhes, sentimentos e empolgação.

— Estou aqui pensando, Nina, quando vamos visitar a minha família? Meus irmãos, meus pais, sempre que podemos nos reunimos! Você mal os conheceu em novembro, a segunda onda  da pandemia havia tomado conta do mundo novamente e o Reino Unido foi restringido, em um total lockdown. Nada foi como deveria ter sido em meio a quarentena...

— Sua família é perfeita!  Sinto-me lisonjeada de poder estar com você quando os visita, mas  acho melhor você ir sozinho desta vez! Aproveitar cada momento, matar as saudades, ficar à vontade, sabe...?

— Não começa!

— Não, não vou começar nada! Só estou dizendo, e você tem que  aceitar porque são os meus sentimentos; sinto que quando estou junto, você não relaxa, fica cuidando de mim, preocupado se estou bem e você sabe que não sou muito social! Não gosto de me sentar e ser bombardeada de perguntas sobre a minha vida pessoal, sobre detalhes da minha família e da minha infância... Eu sou tão diferente da sua mãe! Fico nervosa perto dela!

— Minha mãe adorou você! Ela é uma mulher incrível, doce, amiga e não tem preconceitos com absolutamente nada! Ela se divertiu muito com sua cara de pau!

— Eu sei! Eu amei passar o Natal lá com eles, mas dessa vez gostaria de ter minha própria  árvore-de-natal, minha própria lareira e eu mesma quero enfeitar tudo! Por favor!

— Poderá enfeitar o local onde estivermos , mas não abro mão de estar com minha família nessa data! Agora que existe a vacina, você poderá ir ao Brasil quando quiser, se estivermos no Reino Unido você enfeita nossa casa e se estivermos em outra cidade, você enfeita o quarto do hotel, o trailer, o que for...

— Ou... no lugar de irmos para a casa de sua mãe, ela também poderá passar o Natal conosco, na nossa casa e com toda a sua família! E eu, é claro, faço  comida  tradicional e enfeito a casa toda... — David apenas respondeu que não era possível e sorriu.

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