Capítulo 1 - A mudança

Capítulo 1 – A mudança.

O pedido de demissão de Alicia surpreendeu a todos no jornal, em especial Fábio, que apesar de negar o tempo todo, sabia que ela tinha potencial.

Tentou indiretamente fazer com que ela mudasse de ideia, nunca que daria o seu braço a torcer, e isso, fez com que ele perdesse uma de suas melhores jornalistas.

Agora, Alicia estava com sua pequena mala em uma mão, enquanto na outra segurava firmemente a coleira de Romeu, em pé ao lado de um ônibus no terminal rodoviário, esperando o próximo que a levaria direto para o Rio de Janeiro.

- Ele não pode embarcar, senhora – Alicia encarou o motorista com o cenho franzido – Desculpe, são ordens superiores.

- E o que espera que eu faça? – Apontou para o cachorro que cheirava a perna do motorista – Que vá embora dessa cidade e deixe pra trás meu único e fiel amigo? – Indignada, colocou as mãos na cintura – Ora, senhor, eu não poderia fazer isso com Romeu.

- E eu não posso fazer nada por vocês – Negou, se virando – Sinto muito, mas terá que encontrar outra forma de leva-lo, se quiser embarcar nesse ônibus.

- Senhor – Tocou gentilmente o braço dele, que se afastava – Veja, eu larguei meu emprego, devolvi meu apartamento e vendi todas as minhas coisas – Apontou para a mala, que agora estava aos seus pés, ao lado de Romeu – Isso é tudo o que me restou, Romeu sempre foi tudo o que tive nesses cinco anos que morei nessa cidade, que ao mesmo tempo que é imensa, é tão pequena e tão vazia – O motorista suspirou, olhando-a sensibilizado – Eu larguei tudo e vim atrás de um sonho, que deu tudo. Larguei meu velho pai no interior, há anos não vejo minha mãe. Não estou aqui me vitimizando, longe disso. Estou apenas pedindo que seja a única pessoa boa e gentil que conheci nessa cidade.

- Essa cidade é mesmo cruel com as pessoas – Sorriu, se compadecendo com o breve relato da mulher a sua frente – Estou quebrando todas as regras aqui, por favor, me diga que seu amigo sabe se comportar.

- Melhor do que muitos humanos! – Garantiu empolgada, olhando para Romeu, que latiu – Prometo que o senhor nem perceberá que ele está aqui. 

A passagem logo foi liberada pelo motorista, e Alicia se sentou no último banco, longe de todas as pessoas que a olhavam com a cara fechada, por estar com um cachorro em seu encalço.

Mas ela estava mais do que acostumada com olhares tortos, com caras e bocas, e com toda a arrogância dos paulistanos, isso já fazia parte do seu cotidiano e com o dia a dia, ela aprendeu a não se importar.

- A ganância vibra, a vaidade excita – Suspirou, se encostando no banco e vendo o ônibus fazer o contorno, saindo da rodoviária – Devolva a minha vida e morra afogada em seu próprio mar de fel. Aqui, ninguém vai pro céu – Negou com o rosto ao cantarolar aquela canção, que nunca fez tanto sentido a sua vida como agora – Não existe amor em SP.

Tudo o que Alicia tinha agora como bagagem era frustrações, angustias e muitas decepções. Estava cansada, desenganada e desiludida. A vida era cruel, e precisava de muita disposição para só apanhar e ainda assim, sorrir para ela. Disposição essa, que ela já não tinha mais.

Já estava cansada de simplesmente sobreviver.

Os olhos cansados das últimas noites mal dormidas, se fecharam brevemente e antes de pegar no sono, sentiu Romeu ajeitar a cabeça sobre sua perna e pedia internamente, com todo o seu coração, que ao menos tomada por um profundo sono, ainda fosse capaz de sonhar.

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