CP-03 Completamente encantado

Não sei o que fazer se essa menina começar a chorar, e ainda mais por minha culpa. Seus olhos ainda estão cheios d’água e sua feição triste então do nada começa a rir. Eu fico sem entender nada. 

— Você tinha que ver sua cara! – Camila começa a rir. – Você pensou que iria chorar, né?

Deus, ela estava fazendo isso para ver a minha reação? Fico com mais raiva ainda. 

— Você tem algum problema? Isso não se faz – falo, ainda sem acreditar no que ela fez. 

— Davi, mesmo nova, já passei por muita coisa não é um grito que vai conseguir me abalar, então pode gritar à vontade até ficar sem voz. – Ela dá de ombros rindo. 

— Você é bem maluquinha, né?! – falo e acabo rindo. 

— Você riu, então não está tão bravo assim! 

— Não, ainda estou com muita raiva. Tanto por você me chamar de playboy quanto por fingir que vai chorar. – Me viro e começo a andar. Ela vem e me acompanha. 

— Foi uma brincadeira, Davi. Só queria ver se você tinha um coração ou não. 

— Eu tenho um coração. Ele está machucado, mas está aqui – digo desanimado. 

— Foi uma decepção amorosa? – Camila questiona, olhando para mim. 

— Antes fosse. Eu fiz uma coisa errada que prejudicou muito outras pessoas. Mas não quero mais falar sobre isso, vim pra esse lugar pra me distrair. 

— Então o que acha de irmos até a cachoeira? – ela sugere. 

— Não trouxe sunga, e tenho certeza de que você também não está de biquíni — falo, olhando-a dos pés à cabeça. 

— Verdade, ão pensei nisso. Então podemos ir amanhã, o que você acha? 

— Pode ser. Não tenho nenhum compromisso mesmo. 

Continuamos a andar, até que Camila tropeça em uma pedra e para não cair se segura em mim, mas como estava distraído, não adianta muita coisa. Antes de cair por cima dela e acabar lhe machucando, consigo colocar minhas mãos no chão. Em questão de segundos, estou com meu rosto muito próximo ao dela e ficamos um tempo olhando nos olhos um do outro. Seus olhos castanhos brilha com o reflexo do sol, e isso os deixa ainda mais lindos. 

Seus olhar vai até meus lábios. Fico com muita vontade de beijar essa boca linda. Coloco seu cabelo atrás da orelha, e ela fecha os olhos quando minha mão toca o seu rosto. Sua pele é tão macia. Ela respira fundo, então me levanto antes de fazer algo inapropriado ou que me arrependa depois. 

— Eu te ajudo. – Estendo minha mão para ela, a ajudando a levantar, e posso perceber que ela ficou sem graça pelo que aconteceu. 

— Obrigada. Desculpa ter te puxado. – Começa a limpar sua roupa. 

— Imagina, foi reflexo. Você se machucou? – questiono, analisando-a com o olhar.

 

— Estou bem, não se preocupe.

Eu concordo e continuamos a andar. 

Posso ver que ela manca um pouco, então paro. 

— Você se machucou sim. – Cruzo os braços. 

— Não foi nada, Davi. Consigo andar. Só dói um pouco o tornozelo. — Chego bem perto dela, olho em seus olhos e então a pego no colo.  — Eu posso andar! – ela resmunga. 

— Eu te levo. Não vou discutir. 

— Mas são mais de cinco minutos andando, você vai se cansar – fala, preocupada, e acabo rindo. 

— Você é leve. Consigo muito bem te levar até em casa. Lá colocamos gelo no seu tornozelo.

Sorrindo, ela concorda. 

Camila envolve seus braços no meu pescoço e deita sua cabeça em meu peito, e o cheiro de seu perfume invade as minhas narinas. É um cheiro doce, mas não enjoativo; algo que envolve... Não sei explicar em palavras. 

Essa menina, querendo ou não, está mexendo comigo. Mas não posso deixar ela pensar que podemos ter algo. Daqui a pouco tempo volto para São Paulo. Não vou ficar nessa cidade. Gosto deste lugar para visitar, mas não me vejo mais morando aqui.

Assim que chegamos, a coloco sentada no banquinho da varanda, me abaixo, abro o zíper de sua bota, tiro-a e dobro um pouco a barra de sua calça jeans para avaliar como está seu tornozelo. 

— Não está muito inchado. É um bom sinal. Amanhã já deve estar melhor. Vou pegar gelo e já volto.

Camila assente. 

— Já voltou, filho? – minha mãe questiona assim que entro. 

— Sim, Camila torceu o pé. – Pego gelo no congelador e enrolo em um pano limpo que peguei na gaveta da cozinha. – Ela está lá fora sentada, vou levar isso pra ela. 

— Você acha melhor chamar Conceição? – ela questiona. 

— Não foi nada grave, mãe —  tento acalmá-la. 

— Tudo bem, se precisar de alguma coisa é só chamar. Vou me deitar um pouco e seu pai está em algum lugar pela fazenda trabalhando. 

— Ok, vai lá descansar. – Antes de sair, dou um beijo em sua cabeça.

Chegando do lado de fora, ajudo Camila a colocar as pernas em cima do banco e coloco o gelo. Ela fica segurando. 

— Muito obrigada, Davi, você foi um cavalheiro. – Seu sorriso lindo está lá estampado, me fazendo perder todo o juízo. 

— Te provei mais uma vez que tenho um coração — falo e ela ri. 

— Você não vai esquecer da brincadeira que fiz, né?

Balanço a cabeça negativamente. 

— É difícil ver uma mulher chorar, ainda mais por sua culpa. Não queria viver isso de novo. – Ela me olha confusa. – Ainda dói? – Aponto para o pé, na tentativa de mudar de assunto. 

— Está bem melhor graças a seus cuidados. – Coloca os pés no chão e me entrega o pano, onde já não há mais gelo.

Estendo o pano molhado na grade da varanda e me sento ao seu lado. Ficamos um tempo olhando para o nada. 

— Você tem quantos anos, Camila? 

— Tenho dezoito anos — responde. 

— Uma pivete!! – falo rindo, e ela olha para mim de cara feia. 

— Muito engraçadinho. E você tem quantos? 

— Eu tenho vinte e sete. Mês que vem já faço vinte e oito. 

— Nossa, você é velho! – fala, rindo. 

— Não sou nada, você que é criança demais. 

— Pensa, Davi. Enquanto eu ainda estava nascendo você já tinha quase dez anos. Já ia pra escola, já fazia tudo sozinho. E eu ainda era uma bebê fofa. – Essa última parte fala com voz de criança. 

O sol já estava se pondo. Olho o rosto de Camila, que agora ri da própria voz que havia feito, e seus olhos nesse momento parecem brilhar com a iluminação alaranjada. Ela consegue ficar ainda mais linda, mesmo não sabendo se isso é possível. 

— Por que está me olhando assim? – fala, me encarando. Aí percebo que estava ali hipnotizado novamente. 

— Nada, pivete. Só estava pensando em algumas coisas. – Me viro para a frente envergonhado por ter sido pego no flagra. 

— Não me chama de pivete, Davi! – me repreende. 

— Então você não me chame mais de playboy. Vamos fazer esse combinado? – Estendo minha mão e ela aperta, firmando o acordo. Sua mão fica na minha por tempo demais. 

— Você é muito bonito, Davi! – fala, olhando fundo em meus olhos, e aproximando seu rosto do meu. 

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