CP-02 Provocações

Ainda me vejo encantado com a beleza daquela moça. Ela é totalmente diferente do que imaginei quando meu pai a mencionou. Seus lindos cabelos castanhos combinam com seus olhos, e ela veste uma calça jeans colada, uma bota marrom e uma blusa de alcinha azul. Leva um tempo para sair de seu encanto. 

— Filho essa é Conceição e sua filha Camila — minha mãe fala, apontando para cada uma. 

— Prazer em conhecer vocês. – Dou um breve sorriso e volto a comer meu pão. 

Camila resmunga alguma coisa que não entendi, e sua mãe a repreende. 

— Mãe vou ficar na varanda. Quando terminar você dá um grito que venho correndo. — Vou até ela, dou um beijo em sua cabeça.  

Faço um aceno breve para Camila e Conceição e saio. Assim que chego do lado de fora, me sento no banquinho de madeira, pego meu celular e dou uma olhada e nada de mensagem nova. 

— Você é metido assim naturalmente ou teve aula na faculdade? 

Olho em volta e vejo Camila de pé encostada na parede com os braços cruzados. 

— Você nem me conhece, menina, pra estar falando de mim. Vai procurar alguma coisa pra fazer! – falo rude. Ela vem e se senta ao meu lado. 

— Além de metido, é mal-humorado, o playboy. — Ela olha para mim e não consigo evitar, acabo virando os olhos. 

— Sério que nessa fazenda enorme, não tem nada pra você fazer? — Me levanto e encosto na grade da varanda. 

— Aqui está divertido.

Que audácia dessa pivete! Certeza que está testando minha paciência. Quando vou responder, escuto minha mãe chamar e vou para dentro sem olhar para trás. 

— Vamos almoçar, filho, tenho certeza que está com saudade da comida de sua mãe — meu pai fala enquanto ajuda a colocar os pratos na mesa. 

— Com certeza estou. Não existe no mundo comida melhor. – Assim que me sento, Camila se senta ao meu lado. 

Só pode ser brincadeira! 

— Convidei Conceição e Camila pra almoçar conosco pra comemorar sua volta pra casa — minha mãe fala animada. Dou um sorrisinho falso. 

Começamos a nos servir. Minha mãe havia preparado tudo o que gosto; purê de batata, um lindo peixe assado que provavelmente veio de nosso lago, um arroz colorido e uma farofa de bacon. Encho meu prato sem dó. Faz tempo que não comia direito, que não comia comida de verdade. 

— Então, Davi, o que te fez abandonar a cidade e voltar pra cá? – Camila questiona. Todos olham para mim, aguardando minha resposta. 

Nessa hora fico nervoso. Dessa “pivete” tinha que tocar logo nesse assunto? 

— Eu cansei da agitação, então decidi vir passar um tempo aqui pra relaxar, só isso. — Dou de ombros. 

— Cinco anos na agitação da cidade não deve ser fácil, ainda mais pra você que cresceu aqui, estudou fez a faculdade, tudo, nessa cidade — meu pai fala e o restante concorda. 

— Mas agora ele está de volta em casa, mesmo que por um tempo. – Minha mãe estende sua mão sobre a mesa e segura a minha. 

Após o almoço, um lindo brigadeirão é colocado no centro da mesa. Meus olhos brilham assim que o vejo. Minha mãe serve cada um, o meu pedaço sendo o maior. Ela me conhece muito bem. 

— Por que você não dá uma volta com Camila pra ver toda a mudança que fizemos na fazenda? – meu pai sugere, e eu sei muito bem o joguinho que ele está fazendo. 

— Estou cansado, pai, prefiro ficar no quarto. 

— Você não veio pra cá pra ficar preso no quarto, Davi! – minha mãe me repreende.

— Eu adoraria te levar por toda a fazenda. Você ainda se lembra como se anda de cavalo? – Camila fala. 

— É como andar de bicicleta, nunca se esquece – falo, e ela olha para mim e sorri. 

Que sorriso lindo! Que ódio! 

— Então vamos andando até às baias pra fazer a digestão. Lá cada um escolhe um cavalo. O que me diz? – Seu tom de voz soa como um desafio. 

— Vamos. Quero ver se você sabe cavalgar bem. – Faço sinal para a porta. 

Por que falei isso? Minha mente levou totalmente para o outro lado, e acho que a dela também, pois ficou corada. 

— Se divirtam! Lá tem chapéu e botas, Davi. Como você e seu pai calçam o mesmo número, pode pegar a primeira que vir.

Eu concordo. 

Caminhamos até às baias em silêncio. O lugar também está lindo. Procuro logo o meu cavalo, e assim que chego perto dele, faço um carinho em sua crina e ele relincha. 

— Ei, Garanhão, você sentiu minha falta, nê? — falo todo carinhoso. Camila me olha rindo. 

— Sua cara colocar esse nome no cavalo. — Seu sarcasmo me irrita.

— Sério, não entendo porque você está implicando tanto comigo. Você nem me conhece, não sabe nada sobre a minha vida. Muito menos o que já passei enquanto estive fora. – Lembranças vêm à minha mente. 

— Não quis ser indelicada. Me desculpa! – fala de cabeça baixa. 

— Tudo bem, esquece. Você vai montar qual cavalo? – tento mudar de assunto. 

Ela vai até a Princesa, uma égua marrom que é bem mansa. Penso em fazer uma piada, mas deixei quieto — dessa vez! Tiro meu tênis e calço um par de botas, e pego um chapéu. Camila já está colocando a sela em sua égua. Assim que termino de me arrumar, faço o mesmo e levamos os cavalos até o lado de fora. 

Camila sobe na égua com muita destreza. Dá para ver que faz isso com muita frequência. Mas também não fico para trás. Subo rapidamente e começo a cavalgar. Sempre amei o Garanhão, por ser o cavalo mais rápido de toda a fazenda. Em questão de segundos Camila já fica para trás. 

Sentir aquele vento no rosto, aquela sensação de liberdade após todo esse tempo, é sensacional. 

— Me espera, Davi! – ela grita, mas eu continuo no mesmo ritmo. 

Quando já estou bem à frente, puxo as rédeas do cavalo e espero ela me alcançar. 

— Não sabia que esse cavalo era assim tão veloz. Seu pai não deixa ninguém montar nele e agora sei o motivo. Ele é só seu. 

— Ele sempre foi meu. É meu xodó. Ganhei ainda filhote, quando fiz quinze anos – falo, fazendo carinho em sua crina. 

— Você é estranho! Uma hora parece ser carinhoso e na outra já fica emburrado de cara fechada. — Ela aproxima seu cavalo do meu. 

— Eu sou complicado, Camila, então é melhor manter distância.

Antes que ela possa falar alguma coisa, volto a cavalgar rápido, deixando-a para trás. 

Após um tempo, decido voltar para a baía. Já chega de cavalo por hoje. Desço dele, levo-o para dentro e tiro sua sela. 

— Você ainda está em ótimas condições, parabéns! – Dou um abraço nele, saio e fecho o pequeno portão. 

Coloco meu tênis de volta e penduro o chapéu de volta no lugar. Quando estou saindo da baía, Camila está entrando. Começo a andar em direção ao casarão a passos largos, e pouco tempo depois escuto ela me chamar. Ignoro-a e continuo meu caminho. 

— Ei, playboy, me espera! – ela grita, e nessa hora paro de andar, meu sangue ferve. Odeio quando ela me chama assim. 

— Pivete, você é chata pra caramba. Vê se me deixa em paz! – grito. 

Seus olhos se enchem d’água. Que droga. Só falta agora ela começar a chorar. 

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