Capítulo 1

Eu odeio manhãs de segunda feira.

Pode parecer clichê e comum ouvir isso de uma adolescente, afinal, ninguém em sã consciência gosta de segundas-feiras, são cansativas e desnecessárias, é como sair de um sonho onde por ironia conseguimos conquistar algo que na vida real não conseguimos, frustrante.

Mas não era esse o motivo pela qual eu odiava com tanta voracidade a famosa segunda-feira, por mais bizarro que seja, eu denominava as mesmas como o dia do azar, segunda feira nunca carregou um peso bom na minha vida, todas as coisas mais desastrosas e desagradáveis aconteciam comigo exatamente nesses dias. E são inúmeras as vezes que coisas incrivelmente horríveis aconteciam comigo. Foi em uma segunda-feira que James terminou comigo, e também foi em uma segunda-feira que eu perdi meu posto de modelo mirim representativa da Fancy's para Scarlett Burnett, que humilhantemente perdi o concurso para ser a capitã das Cheerleaders, e são nas segundas feiras que acontecem as atualizações do jornal escolar, que por sinal, me odeia.

Mas apesar de todo esse meu desdém contra esse dia tão gloriosamente maldito da semana, eu estava com um humor bom, meus cabelos estavam mais hidratados que o normal quando acordei, e eu não parecia mais uma vampira ambulante com meus cabelos avermelhados todos bagunçados e olheiras mais profundas que a dos geeks que passam os dias na frente de um videogame. Eu não culpava James Hill pelos cinco dias que fiquei vagando desanimada pela casa como se alguém tivesse morrido, afinal, eu não sentia e nunca senti absolutamente nada por ele além de desejo carnal, o que é totalmente explicado quando se tem a visão dos bíceps de jogador que ele possuí.

Eu culpava a mim mesma por deixar que nossa relação tivesse se esfriando tão rapidamente, por deixar que os jogos sedutores de antes não fossem mais os mesmos intrigantes e divertidos, e claro, também culpava Helena Downey, que surgiu de repente com toda sua mania desastrosa e seu jeito misterioso, Helena Downey é uma nerd, não é bonita; e nem interessante; não bebe; não vai a festas, não vive a vida como nós populares, nem ao menos mente aos pais para encontrar-se com garotos em festas proibidas, e mesmo assim, conseguiu atrair James, de uma forma que, quando me dei conta já era tarde demais.

Na Swaggart Fields Academy, garotos como James Hill definitivamente não faltam, mas desde o momento que Hannah Byrd me apresentou a sua corte, como ela mesma tinha orgulho de chamar, eu já sabia que James seria meu, custasse o que custar, e eu havia conseguido absolutamente tudo, todos os meus planos e esforços para se encaixar em um mundo que não me pertencia valeram e pena, e me transformam na garota mais popular e, literalmente, bonita e desejada de todo o colégio.

E Helena Downey, não me tiraria algo que fazia parte do meu estilo de vida, e muito menos ficaria no meu caminho por muito tempo, tudo iria se ajeitar, cedo ou tarde, e eu sabia disso desde o momento que em uma nem tão amaldiçoada segunda-feira eu me olhei no espelho com uma determinação diferente, e uma sensação de que as coisas não ficarão acalmadas por muito tempo.

--- Por que você está me olhando com essa expressão de sonsa, tá dormindo ainda? -- Minha mãe colocou sua xícara de chá de lado e eu pisquei várias vezes sem me dar conta de que estava a encarando a mais tempo que o normal.

--- Não vou nem me dar ao trabalho de responder suas provocações hoje, afinal, só pelas suas olheiras já percebi que não teve uma noite muito boa, chegou tarde em casa ontem não? -- Sorri sarcástica e pelo canto do olho pude ver o desconforto do meu pai enquanto fingia estar lendo alguma coisa no jornal.

--- O que eu faço da minha vida, não é da sua conta, e eu acho bom começar a medir bem suas palavras, pelo que eu andei sabendo, você não está em muitas condições de falar de alguém aqui nessa casa -- Minha mãe sorriu com deboche e eu levei uma uva a boca sem qualquer expressão que seja.

--- Vai me dizer que seus "amigos" da empresa também tem te contado sobre minha vida, oh, me sinto honrada de ter um pouco do seu tempo dedicado a mim -- Meu pai coçou a garganta com desconforto e eu sorri encarando minha mãe com um olhar desafiador.

--- Eu não vou ficar aqui ouvindo esses tipos de desaforo -- Minha mãe se levantou da mesa jogando o guardanapo borrado com batom sobre a mesa e suspirou --- Tenham uma boa manhã.

---- Igualmente -- Sorri cínica e ela ajeitou o roupão saindo logo em seguida parecendo irritada.

--- Conseguiu Westlynn, será que algum dia eu vou conseguir me sentar sobre essa mesa, e ver minha mulher e minha filha sendo gentis uma com a outra? -- Meu pai empurrou o jornal para o lado e eu apenas dei de ombros, com certeza não.

--- Estou indo para a aula, Erick e Olivia já devem estar chegando -- Me levantei sorrindo amarelo e sai em direção a saída da sala de jantar.

Sra. Chermont e eu nunca fomos um bom exemplo de mãe e filha, algo que também nunca fiz questão de me preocupar, o ar superior e irritante dela, sempre pegando no meu pé e colocando erro em tudo que eu faço, não contribuía para a melhora da nossa relação, coisa que eu também nunca procurei, e que também pretendia não procurar. Mas por outro lado para o ilustre senhor Chermont ver a família unida sempre foi uma meta, imagino a frustração dele com o tanto de brigas e discussões que eu e minha mãe causávamos naquela casa.

Puxei minha mochila da poltrona da sala de recepções e caminhei para fora do apartamento em direção ao elevador com meus pensamentos ainda na minha relação - ou falta dela - com a minha mãe, eu não me sentia pensativa assim a muito tempo, e de fato isso era algo que me agradava.

--- Ora se não é a recém trocada por uma nerd -- Harry Mollison me encarou de cima a baixo e sorriu do seu jeito ordinário como sempre --- Pelo jeito alguém aqui superou, saiba que pode contar comigo, principalmente para vir chorar no meu colo.

--- Que nojo, eu prefiro ir de escada -- Falei revirando os olhos e saindo do elevador que se fechou logo em seguida, ótimo.

Encarei a escada e fiz uma careta já me arrependendo de ter saído elevador, estávamos na cobertura de um hotel com terríveis sete andares, descer tudo isso não seria nada fácil. Grunhi irritada e apertei o botão para chamar o elevador, eu preferia esperar do que descer toda aquela infinidade de escadas.

Puxei o celular que já tocava impaciente na bolsa e encarei o número de Olivia piscando impaciente sobre a tela, ela teria que esperar, voltei o celular para dentro da bolsa e cruzei os braços enquanto encarava a porta fechada do elevador até a mesma se abrir após o que me pareceu um século de espera.

--- Será que dá para você ser um pouquinho mais rápida Emy, estamos atrasados -- Erick murmurou assim que eu abri a porta do carona jogando minha bolsa sobre o banco recebendo um olhar entediado de Scarlett.

--- O que ela tá fazendo aqui? -- Apontei para Scarlett com o cenho franzido e ela parou de lixar a unha me encarando sem entender.

--- Eu faço parte do grupo agora, porque eu não estaria? -- Ela voltou sua atenção para as unhas e Erick coçou a garganta o que me fez ter total certeza de seu desconforto com a presença de Scarlett.

--- Ótimo vamos parar com essa enrolação toda e ir logo para a escola -- Olivia aumentou o som da música e eu passei o cinto enquanto ainda encarava Scarlett sem entender quando foi que ela se tornou tão íntima de nós, algo que eu não pretendia permitir.

Eu sabia perfeitamente que eu é quem havia aceitado a oferta de paz dela, e que também havia consentido com a junção dos nossos grupos de amigos que sempre discutiam em si pelo tão disputado primeiro lugar na lista do blog, mais eu não me imaginava sendo amiga intima de Scarlett Burnett, não novamente.

--- Almoço no Royal's hoje? -- Erick falou animado enquanto estacionava o carro na garagem escolar e eu dei de ombros já tirando o cinto e pegando minhas coisas.

--- Combinado, eu preciso daquelas batatas fritas o quanto antes -- Olivia assoprou uma mecha dos seus cabelos azuis para longe do rosto e saiu do carro com a mesma animação anormal de Erick.

--- Eu com certeza topo, a comida dessa escola tá cada vez pior -- Scarlett sorriu nos acompanhando em direção a entrada do colégio.

--- Emy, meu Deus, você precisa ver isso! -- Charlotte Clendening parou a minha frente eufórica e eu torci o nariz sem entender o motivo de tanto desespero.

--- Não me toca e fala logo o que é -- Franzi o cenho e ela deu um passo para trás me oferecendo o jornal que havia em suas mãos, puxei ele com desinteresse e passei os olhos pela matéria que ela me indicava.

Manipuladora ou Solitária?

Toda as farsas de Emy Westlynn Chermont.

Respirei fundo fechando os olhos, como sempre, maldita segunda feira.

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