CAPÍTULO 4

“A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo:

Apaga o pequeno, inflama o grande...”

Roger Bussy-Rabutin

CHEGANDO EM SUA MANSÃO, Donovan acabou dando de encontro com a esposa de Al.

          — Bonito, hein, mocinho!!!

          — Obrigado, Gerda...

          Disse já tentando se esquivar, porém, ela entrou na sua frente com a mais natural habilidade que uma mulher daquele tamanho poderia ter e continuou:

          — Não me referi à sua beleza e sim à sua atitude, mocinho, sabe muito bem que deve comer o café da manhã que é o alimento mais importante do dia, queria só ver se seu pai estivesse aqui faria essas coisas comigo, estou muito desapontada com você.

          — Ah!!! Claro... me desculpe, tinha um ensaio muito importante e não queria me atrasar, sabe como é, tenho muitos compromissos e acabo pulando alguns...

          Ele tentou desviar-se dela novamente, mas não conseguiu mais uma vez.

          — Da próxima vez que fizer isso, terá uma conversa muito séria com sua mãe, menino, sabe muito bem que ela não está muito bem para ficar se preocupando com o senhorzinho que fica por aí sem se alimentar.

          — Então vamos deixar isso um segredo nosso, que tal?

          — Somente se o senhor não fizer mais isso.

          — Prometo!

          — Descruze os dedos atrás de você, mocinho.

          — Está bem... está bem... – prometeu com as duas mãos levantadas para o alto como se estivesse sendo assaltado – Mas não fiquei sem me alimentar, comi um negócio por aí, então está me dando bronca à toa.

          Quando conseguiu driblar a velha governanta, deu de cara com sua mãe.

          — Oi, mãe, está se sentindo melhor hoje?

          Tentou usar a mesma estratégia que anterior, mas também sem sucesso, parecia que todos ali o conheciam melhor do que ele mesmo.

          — Um pouco, mas... Porque não te vi durante o dia?

          — Tive que ir a um ensaio pela manhã, dei uma passada na casa do...

          — Ferdinand – interrompeu secamente ela, dizendo o nome dele quase que cuspindo – já não falei para evitar aquela companhia desagradável?

          — Discordo, – disse Donovan, já sabendo que seria severamente repreendido pela mãe, porém, ambos sabiam que aquela conversa não levaria a lugar nenhum – Ferdinand é um amigo e tanto, gosta muito da nossa família, e era um dos melhores amigos do papai.

          Sua mãe fez cara de poucos amigos.

          — Pode até gostar, porém não é tipo de amizade que se vá ter para o futuro, sabe muito bem disso, e seu pai sempre passou vergonha ao lado dele, é o tipo de gentalha que deveria ter se desviado e não desviava, e não desejo a mesma coisa a você, meu filho.

          Futuro... tinha sido exatamente isso o que sua amada tinha dito e agora minha mãe... todo mundo que o julga sem futuro acaba morrendo depois dele...

          — Sei que ele é uma pessoa muito especial, e me trata como alguém especial, precisa de mais do que isso?

          — Precisa honrar a memória de seu pai sendo um homem decente, como quer que as pessoas tenham uma boa imagem de você se anda com tipinhos como aquele?

          — Cada um vive como quer, mamãe – disse tentando se esquivar dela novamente sem sucesso – não estou aqui na vida na função de juiz de ninguém.

          — Filho, você é muito novo para ter sua imagem manchada, ainda mais com tipinhos como ele, já te falei...

          — Sim, já me contou a história de que ele deu em cima de você umas mil vezes depois que meu pai morreu só para ficar com toda a grana da família.

          — E mesmo depois disso ainda não consegue se afastar dele?

          — Ele é o que é, e gosto disso, diferente de vocês, não tenta mudar quem sou, simplesmente me dá conselhos maravilhosos.

          — Só falta me dizer que está seguindo os conselhos maravilhosos de Ferdinand.

          — Penso com carinho em tudo o que me dizem, talvez até seguir, mas não agora...

          Donovan abraçou sua mãe, deu-lhe um beijo na testa e conseguiu seu objetivo com um jogo de corpo.

          — Te amo, mãe, e vocês duas, parem de se preocupar com bobagens, estou muito bem, obrigado, bem e feliz.

DONOVAN TOMOU UM BANHO MUITO quente e relaxante por mais de uma hora, tocar era algo maravilhoso e fazia sua mente viajar infindáveis caminhos maravilhosos e prazerosos, mas seu corpo ficava desgastado, e para ele a melhor parte de tocar era o banho, pois o deixava curado e renovado.

          Vestiu o seu roupão logo após o banho e foi deitar-se, porém, aquela sensação gostosa continuou em seu coração até conseguiu adormecer em sua cama poucos instantes depois.

          Além de ter sido um dia maravilhoso, ainda tinha aquela sensação com a qual ele acordara...

          Como se o sol tivesse nascido de uma nova maneira... E foi incrível...

          Seus pensamentos ficaram divididos entre o ensaio e Jane, ela era uma mulher incrível, mas Donovan sentia no fundo de sua alma que ela não o completaria, não sentia um desejo ardente por ela, era algo um tanto quanto fraternal, não tinha aquela coisa selvagem que todos falam que é uma paixão ardente que alguém sente por outra pessoa, ele tinha um respeito ao tocá-la, e não era isso que buscava, precisava estar com alguém que não tinha limites.

          E foi com isso que sonhou naquela noite.

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