O conhecer

Acordei cansada e com dores pelo corpo.

Fiz minha higiene matinal, me arrumei e fui rumo a faculdade.

Tomarei café na Lanchonete de lá, caso dê tempo.

Peguei meu celular na bolsa e chequei minhas mensagens, tinha inúmeras ligações e mensagens de Joanna. 

"Ana, você está aonde?" 

Digitei rapidamente quando parei no ponto de ônibus.

"Estou indo para a faculdade"

Joanna: A palestra começa em 10 minutos.

"Não vou chegar a tempo"

Joanna: Sabe que psicologia precisa de muito esforço.

Eu simplesmente odeio o fato dela dizer essas coisas, se eu tivesse a vida que ela leva se esforçar não iria ser o problema. Mas eu tenho uma casa para manter, uma faculdade para pagar, eu realmente vou ter que correr atrás de outro emprego para complementar a renda.

Não respondo ela e coloco meu celular na bolsa.

      O ônibus demora a chegar e com isso me atrasei mais ainda.

Dentro do ônibus fico pensando no que aconteceu ontem, o que será que aquele homem quer comigo? 

Será que ele é dono de outra boate e quer me contratar? 

Só de pensar nessa possibilidade eu fico animada um pouco, pego o cartão que eu guardei na minha carteira e disco o número. 

Vejo que ele tem o app de comunicação que eu uso então mando a seguinte mensagem.

"Olá, gostaria de saber o que você quer comigo? "

Mandei na esperança dele reconhecer a foto do perfil.

Analiso sua foto por alguns segundos antes de chegar meu ponto e desembarco.

Cheguei no auditório, pedi licença e me sentei distante da Joanna. 

Eu simplesmente não estou com bom humor para as asneiras que ela fala.

Ela é uma boa amiga mas o fato dela nunca ter precisado fazer nenhum esforço para ter alguma coisa na vida deixa ela arrogante.

     Estou cansada, é sempre a mesma coisa toda sexta-feira.

Toda vez tem reclamações da parte dela pelos meus atrasos.

Ela tem que entender que eu me sustento sozinha e não tenho ajuda de ninguém.

Meu celular vibra e eu vejo que Vicente me respondeu.

Meu corpo todo treme de nervoso e ansiedade.

Mensagem: Eu realmente  achei que não iria entrar em contato comigo.

Aceita almoçar hoje?

Li e reli inúmeras vezes até ter coragem para responder.

"Sim"

Vicente: Me manda o endereço da sua faculdade que te busco. 

Enviei o endereço e não consegui prestar atenção no restante da palestra, só de pensar em olhar naqueles olhos tão intimidadores eu fico nervosa.

O tempo está passando tão rápido e o misto de ansiedade com nervoso e empolgação está me deixando apavorada.

      Por que estou empolgada para almoçar com um estranho? Eu devo está louca, ele pode ser um psicopata ou algo do gênero.

     Joanna me tirou dos pensamentos me chamando para ir embora. 

Guardei minhas coisas correndo, eu simplesmente não vi o tempo passar.

ーVocê está distraída hoje... - Ela comentou enquanto saímos da sala.

ー Só alguns problemas mas resolverei logo. - falei sem olhar pra ela, na verdade eu estou tão nervosa que não sei como me comportar.

Preciso relaxar, é só um almoço.

Quando estávamos saindo da faculdade, aquele homem maravilhoso estava parado do lado de fora encostado em seu carro preto.

ー Nossa, quem é aquele gato? - Joanna falou e eu gelei quando ele veio em nossa direção. ㅡ Ele me lembra alguém. 

Isso não pode está acontecendo comigo.

Ele cumprimentou Joanna e eu.

Joanna ficou sem entender nada quando eu disse que iria almoçar com ele,

entramos no carro e saímos da faculdade.

Mesmo com o ar do carro ligado eu estava sentindo calor. 

Ele não falou nada e eu também não me pronunciei, tentei ao máximo não olhar diretamente para ele, mas minha visão periférica é boa.

Ele está vestindo uma camisa social branca com as mangas dobradas até os cotovelos, seus cabelos estão soltos deixando ele selvagem. 

ー Estou esperando você perguntar alguma coisa. - Sua voz rouca preencheu o ambiente.

Tentei manter a calma e formular as palavras certas mas só o que vinha na minha mente que esse homem vai me matar.

ー O que você quer comigo? - Olhei para ele que estava com um sorriso no rosto e isso me estressou muito.

ー Eu gosto de mulheres com personalidade forte. - Ele deu  um sorriso de lado.

ー Sinto te informar eu não estou aberta a qualquer tipo de relacionamento. - forcei um sorriso.

ー Eu também não estou, então isso é ótimo. - ele parou o carro em frente a um hotel e quando saímos do carro ele deu a chave ao manobrista. 

Ao entrarmos no Hotel uma mulher ruiva muito linda veio ao nosso encontro.

ー Seja bem vindo Senhor Ferri. - ela cumprimentou.

ー Obrigada Cláudia. - ele disse um pouco sério.

A mulher estava vestida elegantemente, o blazer azul marinho combinou com a blusa branca e a saia preta. 

ー Estou na minha sala, depois mandarei servir o almoço lá mesmo. Não quero ser interrompido por ninguém. - ele fala sério.

ー Nem pelo Jonathan? - ela pergunta mordendo o lábio inferior.

ー Principalmente por ele. - ele diz e começou a andar então segui ele.

Entramos no elevador e Vicente ficou me observando. 

ー Da pra parar com isso? - falei olhando nos seus olhos.

ー Não estou fazendo nada. - ele falou tentando segurar o sorriso.

ー Está me olhando descaradamente. - fiquei um pouco envergonhada.

ー Se você sabe que estou te olhando é porque você está me olhando também. - ele disse debochando.

filho da mãe!  ー Eu só te olhei porque você me olhou. - falei ficando furiosa.

ー Então não tem o que reclamar. - ele deu de ombros.

Revirei os olhos ー infantil!  -Quando me dei conta seu corpo estava colado ao meu e seu rosto a centímetros do meu ー Não me faça querer mostrar do que essa criança gosta de brincar. - ele disse de uma forma tão maliciosa que eu fiquei sem reação.

ー Sai de perto de mim. - pisei em seu pé e empurrei ele, o elevador parou na cobertura e eu saí seguida por um vicente resmungando e mancando.

Ele passou por mim e abriu uma das portas que tinha no corredor.

O hotel é bem sofisticado, se eu passar um dia nesse hotel vai dois meses do meu salário.

Entrei no escritório que é bem neutro mas bonito.

Ele sentou na sua cadeira e eu sentei na cadeira em frente a sua mesa.

ー Vou ser direto com você, eu gostei muito da sua apresentação na boate, mas o principal é que eu gostei do seu corpo. -ele começou a falar mas interrompi.

ー Eu não sou garota de programa se é isso que você quer saber. - digo rude e pronta para me levantar ㅡ eu sei que não é.  - ele falou.

Ele passou a mão no seu cabelo e soltou o ar pela boca. ー Você sabe o que é BDSM? 

Afirmei com a cabeça, eu sempre gostei de ler e assistir filmes que são relacionados ao assunto.

ーEu faço parte da comunidade, sou um Dom. - ele explicou. 

Meu coração acelerou e o friozinho na barriga me fez estremecer.

Eu nunca tive contato com alguém da comunidade, já até pensei em ir nos eventos ou em alguma boate fetichista mas nunca tive coragem de ir sozinha.

Acho que fiquei tempo demais calada porque ele se pronunciou de novo ー Eu estou recrutando uma submissa nova, você está interessada? - ele arqueou uma sobrancelha.

ー Eu nunca tive contato com o BDSM além da fantasia. - digo um pouco pensativa.  

Eu sei que tem um longo processo até eu ter minha primeira sessão.

Vou ter que conhecer ele, saber quais são as práticas dele, negociar e estudar as práticas. 

E ainda tem o porém, se eu não gostar de me submeter a ele? 

ー Não precisa me dar a resposta hoje, eu vou te treinar e se você gostar entramos no processo de negociação, o que acha? - sua voz saiu serena. 

ー Posso te dar a resposta depois? - mordi meu lábio inferior.

ー Claro, se quiser eu posso marcar uma sessão com outra submissa e você assiste. - ele estava mexendo em uma caneta dourada. 

ー Ok.

Ele me deu um sorriso espontâneo que deixou seus olhos com um brilho apaixonante, mas como sempre minha mãe dizia, o lobo vem sempre disfarçado com a pele do cordeiro. 

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