2 - Inimigos?

Como parte do pacote de férias e descontração, ver Trovar sofrendo com os campos de lama, que eram atraídos pela estática da energia criada pelo corpo dele, Athos ria alto a cada susto do companheiro. Aquela região tinha campos magnéticos instáveis, algo que dentre as anormalidades daquela região era até simples.

O planeta Key era belíssimo, tinha uma estrutura de formação vegetal incrível, grandes quantidades de água potável, quase na a mesma proporção de terra. A água salgada, os oceanos, eram pequenos e com pouca quantidade de sal. O planeta dentre os conhecidos para abrigar vida primária era dos mais perfeitos. Porém, havia uma falha geológica em seu formato que criava desníveis gravitacionais e instabilidades químicas e físicas, principalmente naquela região. Era um local tão imprevisível que, não tendo como Athos, poder de prever o futuro curto, a o risco de não sobreviver era enorme. Os outros três companheiros de Athos, Sussuro, Silency e Trovar também tinham controle maior dos elementos e ainda assim tinham dificuldades em passar por aquela travessia. Athos escolheu se isolar por um tempo, tendo em vista que no período que ficou convivendo com os elfos ou com as fadas, mesmo em sua rápida passagem na cidade dos Gigantes, sempre acabava criando inimigos, rivais. Parecia que sua presença incitava o confronto, fosse o fato dele ter asas, fosse por ser introspectivo, por ser poderoso e se esquivar das posições políticas, pras questões menores, na opinião dele, da eterna batalha entre dominantes e dominados, Athos atraia desafiantes. Quem queria sua ajuda e tinha seu pedido negado ou quem simplesmente o achava uma ameaça e tentava destruí-lo sem sequer conhecê-lo. Primeiro percebeu que deveria impor em pequenas doses, demonstrações de poder para que o temor afastasse interessados em conflito. Mas, logo, notou que aquilo atraia gente em busca de proteção e consequentemente descontentes em perderem explorados. Mas Athos precisava de tempo. Estava justamente naquele planeta por conta do tempo passar mais rápido e ainda assim era absolutamente cansativo esperar. Não podia fazer nada diferente disso: aguardar. Pensou em procurar pela herdeira, a pessoa que ele esperava, que deve ajudá-lo em seus objetivos, mas as visões eram claras e diziam que enquanto ela não se mostrasse ele não a encontraria. Exilou-se e deixou seus amigos com a tarefa de acompanhar os sinais de aparição da rainha por direito.

E agora que ela reapareceu ele terá que voltar para a comunidade dos Elfos. Ele mesmo já foi um dia um elfo. Seu planeta de origem, onde nasceu pela primeira vez tinha como vida dominante os elfos. Isso fazia ele se sentir familiar daquela comunidade élfica, mas as diferenças na contramão o deixavam confuso, algumas vezes até exausto. As lembranças de um mundo sendo exterminado, fato que ele presenciou, sendo atingido por um meteoro gigantesco, também não ajudavam. Tanto tempo, tanta coisa aconteceu, tantas mudanças, desencontros...

Eles lutavam tanto. Entravam em tantas guerras. Não se respeitavam. Tinham a mesma origem, derivaram da mesma matriz de vida, mesmo diferentes na sua evolução, eram irmãos. Não tinham consciência disso, o que era muito triste. Para ele não podia existir nada mais triste que matar um semelhante. Matar no geral já era um conceito abominável, mesmo pra ele que sabia sobre a vida após a morte por experiência própria. Tentava entender como pessoas que não tinham certeza do que viria depois da morte ainda assim ainda eram capazes de matar.

E seus pensamentos eram cortados por mais um ataque de riso, agora com uma lama mais nojenta do que todas as outras sendo atirada na cara de Trovar. Athos riu tanto que não percebeu que Trovar arremessou uma parte da gosma que o atingiu contra ele. O estalo da lama se espalhando por Athos representou o espanto de ambos que se seguiu. Alguns segundos de tensão por ele não ter tido a visão do que ia acontecer se seguiram até o riso descontrolado de ambos.

Finalmente, os dois saiam da trilha e entravam em uma estrada que acabava na entrada da cidade.

Era noite, a ausência de um satélite natural fazia com que a inexistência de luz solar naquele período causasse um total breu que, pelos elfos, foi vencido com a criação de uma cidade moderna mais iluminada do que durante o dia, com a luz do astro no céu.

A presença de Athos chamava a atenção por si só, ele não passaria desapercebido. Apesar de ter o poder de modificar sua forma física, poder esconder suas asas, Athos detestava usar esse poder. Tinha se prontificado desde o início de sua estada naquele planeta que não modificaria sua atual aparência usando poderes de ilusão artificiais. Era chato e cansativo. Porém, em pouquíssimo tempo percorrendo as ruas centrais, o comentário geral era o seu retorno. Pessoas saiam dos centros de encontro noturnos. Nas ruas, aos poucos, acumulavam-se pessoas, aglomeravam-se em grupos, seguiam. Olhou pra trás e viu praticamente um comboio.

Certamente aquilo não estava nos planos e essa dificuldade de antever seus passos, que tinha se aproximando da herdeira, não o agradava. Até que teve uma visão dos encontros que teria em seguida que o deixaram mais aliviado.

- O homem com asas voltou? - Questionava, entrando a sua frente, junto com outros elfos, Verto, que era uma espécie de líder religioso da cidade.

Athos considerava representantes religiosos, em qualquer sociedade, abomináveis, mas entendia os que faziam por desconhecimento, porém, achava ainda mais desprezíveis os que se aproveitavam da crença dos outros no desconhecido para adquiri poder. Por muito tempo lutou contra esses tipos de pessoas, até perceber que inevitavelmente são vermes que se multiplicam e nunca se extinguem, tendo em vista que a existência de hospedeiros para eles é uma infeliz reprodução em praticamente todos os planetas que conheceu. Percebeu que sua luta deveria ser contra algo que estava acima disso, contra o sistema que permitia a existência desses eternos interesses sem sentido de dominação de alguém sobre outrem.

- Reverendo, meus interesses aqui, dessa vez são absolutamente passageiros e não estão ligados de forma alguma contra os seus, como deve bem saber, não me meto nem em assuntos políticos, muito menos em assuntos religiosos. - Athos conversava com um ar muito mais sombrio, ameaçador, imponente. Parecia outra pessoa se comparado com aquele que ria de seu amigo a pouco.

- Pois é, Athos, o tempo que esteve aqui realmente nos fez entender que possivelmente essa sempre foi sua vontade. Soube também que utilizou o mesmo discurso, do outro lado do oceano, com o povo das fadas, que esteve, como aqui, tentando se fazer desapercebido. Pois bem, realmente os grandes líderes dos povos, talvez tenham apenas ouvido rumores de um Deus alado que vagava diante dos pobres e não deram muita importância enquanto não se sentiram ameaçados, mas veja, no meu caso eu lido com as pessoas que tem fé, com os mais simples. Sua presença aqui por si é uma ameaça. E, minhas fontes disseram que você busca uma pessoa, que por acaso eu sei quem é e mais por acaso ainda sei que reapareceu e onde está. E posso te dizer que, seja politicamente falando, seja religiosamente falando, seu interesse nela está diretamente ligado aos meus. -

Nesse momento, ao final da fala de Verto, espadas se ergueram ao redor de Athos e Trovar.

- Reverendo, é realmente necessário isso? Veja, vim buscar essa pessoa e sumiremos tanto eu quanto ela, tenho certeza que será um excelente negócio para sua santidade. Eu sei como isso vai acabar, mas gostaria tanto de evitar. Odeio matar pessoas desnecessariamente, ainda mais quando elas são apenas peões controlados. Mantenha seus capangas fanáticos vivos para protege-lo de qualquer assunto que possa achar importante, nada vai mudar na sua realidade... - Athos argumentava entristecido por ir percebendo que não tinha outro caminho, que seus argumentos não impediriam os resultados.

- Acabem com ele! - Gritou, o reverendo Verto e centenas de espadachins pularam  na direção de Athos.

Athos nesse momento passou a controlar o tempo de forma que ele conseguia se mover normalmente e todos a sua volta se moviam em câmera lenta. Sequer notavam seus movimentos.

Trovar começava a criar impulsos elétricos para imobilizar a todos, mas Athos sabia que isso demonstraria um poder inexplicável, atenção desnecessária, já tinham evitado que demonstrasse seus poderes tantas vezes, para perder o disfarce agora. O alado então tocou na mão direita do companheiro e inutilizou sua energia. Em seguida, sacou sua espada, que ninguém naquele planeta sequer já tinha visto em punho, e desferiu golpe sobre golpe, em um por um de cada elfo armado, em suas articulações, fosse em uma perna, fosse em um braço, ferimentos que inutilizavam o uso da espada mas preservavam a vida daquelas pessoas. Nos ultimos oponentes guardou a espada, retomou o tempo ao normal e apareceu derrubando desarmado os últimos que ainda estavam em pé, diante da surpresa de todos que estavam presentes.

- Verto, agora é sério, realmente não quero chamar a atenção, então, se possível, me leve direto a garota, realmente disse a verdade em nossa conversa, vamos desaparecer o mais rápido que podemos daqui. - Disse, Athos  para um sacerdote atônito que tremia e não sabia o que fazer, até tomar um empurrão de Trovar e entender que deveria concordar.

- Tudo bem... tudo bem... mas eu... eu acho que esse encontro de vocês... não... não vai dar certo. - A resposta gaguejante  de Verto refletia também a angústia de Athos por ter visto pela primeira vez o encontro com a herdeira, mas não saber absolutamente nada do que irá acontecer.

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